Arquivo da tag: Escrita

Conexão

O fato de podermos escrever livremente, deixando vir simplesmente o que vem vindo, sem arrumação, permite um estar aqui conectivo. Conectado. Há quem se incomode com esta possibilidade. Esta proximidade.

A realidade social está composta por interações. Papéis. No jogo da vida, esses papéis mudam. Dominado ou dominante. Dominada. As posições mudam. Você têm que se arrumar. Não vai sair assim pra rua. Não fale desse jeito. O que vão dizer!

Tem os textos arrumadinhos e os outros. Uma possibilidade de existência respeitosa das diversidades, da individualidade. Desconstruir o outro, a outra, como ameaça. Pode ser um recurso.

Ritmo

Um projeto voluntário

Uma revista no seu próprio ritmo

Seguir o nosso próprio ritmo é preciso

Preciso dizer isto mais de uma vez, para não esquecer.

Escrever como forma de guardar a vida

Conter a experiência e nos vermos na trilha do tempo

É imprescindível.

Não sei até que me leio

Me leio no que escrevo e me descrevo no que vejo

Me encontro nas suas falas e me reedito a toda hora.

E a propósito de leitura: quem pinta estes quadros?

Flores

Dores antigas me visitam

Lembranças de vivências doídas

Encaro estas recordações como um lembrete do que foi a minha caminhada

Acolho a pessoa que sou com estas marcas

Sei que o tempo leva tempo para sarar as feridas

Trato de que nasçam flores destas dores

Não me impediram de chegar até aqui nem de ser a pessoa que sou

Passo de um dia para outro nesta luta cotidiana de ressignificar o vivido

Vejo a minha trajetória, a minha história, as minhas escolhas

O que eu quero.

Já tive o sonho e ainda tenho de um dia não ter essas marcas e essas dores

Até esse dia chegar me toca esculpir e apagar, aparar

Costurar e tecer

Refazer o que sou e onde estou e como estou

Sabendo que tenho um lugar no mundo do jeito que estou, do jeito que sou

Exatamente desse jeito.

O mundo em volta não pára para ver este argentino de Mendoza

Que 46 anos depois de ter vindo pro Brasil ainda sofre com recordações de desaparecimentos e medos

Lembro de pessoas e palavras

Mães de desaparecidos

Dores infindáveis

Tortura contínua

Venho me trazendo de volta e vez por outra uns raios de luz

Me repõem num tempo anterior e benigno

Somente bom

Apenas bom

Muito bom.

Sinto-me perto dessa luz e bondade sempiternas

Alguns segundos deste tempo sem igual me animam e me atiçam

A terra prometida.

Ilustração: “Mimos do céu”

Historia

No ano 2000 eu morava em Fortaleza. Tive uma experiência que me fez tomar a decisão de voltar a ser quem eu era antes da ditadura de Videla.

Não podia continuar desse jeito. Cadáveres de desaparecidos caindo dentro de mim. Era a segunda vez que isto acontecia. Comecei a pintar e expor meus quadros.

Escrevia e publicava. Fui me trazendo de volta. Atuei na saúde mental comunitária em João Pessoa e Cabedelo e em 2004 entrei na Terapia Comunitária Integrativa.

Esta experiência está relatada em “Mosaico” e “Um Terapeuta Comunitário em busca de si mesmo” bem como também em “Libertatura.”

Já estou aqui de novo. Esencialmente já sou quase de novo aquele mesmo que nos anos 1970 amava os Beatles e sonhava com uma Argentina sem fome e sem violência.

O meu propósito é ser feliz. Ser eu mesmo. A minha permanência na TCI obedece à minha intenção de me recuperar totalmente. Essa é a minha vitória. O que me orienta.

Meu foco, meu centro e meu eixo. Atualizado. Eu tinha ficado preso ao medo de que acontecesse o que não aconteceu. Eu fui maior do que o medo mas tinha esquecido disto.

Agora lembro. Eu fui maior do que o medo. Enfrentei a ditadura. Tive medo mas fui em frente. Mesmo com medo fui em frente. Hoje lembro disto. Fui em frente.

Hoje ressignifico a minha vida. Dou mais valor a estar vivo. Cada segundo conta. Poesia e TCI.

Literatura e fé. Esporte e amor. Amizade e família. Arte. É meu foco e meu objetivo. Eu vou por aí. É o que faço para que o mundo seja melhor.

Pontos de luz

Domingo em Carapibus

Casa das Artes

Memórias me acompanham

Boas memórias

Prazer

Alegria

Partilha

Trabalhar juntos, juntas

Flores e suas cores

A ordem das flores

Pessoas que aqui estiveram

Livros pausados.

E um futuro aqui tão pertinho e nem tão pertinho

Um pouco além

Além do horizonte.

Pontos de luz.

Esperançando

Necessidade inadiável esta de vir a público.

Chegar para partilhar experiências, esperança, essa confiança na vida que nasce do cumprimento da própria vocação, bem como da construção coletiva.

Novos projetos, reavivamento de afetos, tudo isto me mantêm ativo e confiante.

Esta revista segue em frente, como uma luz que se acende mais quanto mais em volta a escuridão arrefece.

Habitar este tempo sem igual.

Esta floração de uma trajetória que inaugura um novo aprendizado do viver.

Comunidade

Notícias boas. Notícias positivas. Informação libertadora.

Projetar horizontes humanos. Humanização. Não outros são os eixos deste projeto editorial. Aqui acolhimento. Aqui coexistência. Aqui comunidade. Aqui construção coletiva. A redemocratização do Brasil, o retorno do Brasil abriu um espaço de recuperação da vida. Calçar o dia a dia nas memórias positivas. Memória da vitória. Memória da libertação. O espaço está aberto. Partilhe a sua experiência! A vida e breve. Cada minuto conta. Conte o que fez para seguir em frente. Como é que conseguiu superar o que lhe manteve derrubada ou derrubado.

Atenção

Dois livros, dois autores, ou três, me chamam a atenção nesta manhã.

Machado de Assis, in “Memórias póstumas de Brás Cubas,” e Rubem Alves, in “Ostra feliz não faz pérola”.

O terceiro, Edgar Allan Poe, no “O princípio poético” me ajudou a compreender o que eu via.

Escrever não deve ser diferente de viver. Viver, sendo um ato complexo e integrado, há de ser também uma integração, uma junção de partes que recompõem o real.

Foco

Aquilo que é substancial permanece igual ou quase igual

O que é contingente muda substancialmente

Nesta interação acontece a vida

Transcorrem os dias

A vida vivida é a substancia da poesia

A realidade como tal

O que é

Este é o objeto e o objetivo do meu existir

Não estou só

Uma vez que presto atenção extremada ao que acontece

Leio e estudo e me leio e me estudo

Investigo e pesquiso

Tento saber e sei

Saboreio o contato profundo com o que me cerca

Sol e lua

Chuva e gente

Paisagens e beleza

Me embelesa.