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Na África, Lula defende construção da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza

11.01.2023 – Presidente Lula durante audiência com Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula e o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Dias, chegam nesta sexta-feira (16) para a África, depois de eventos no Egito. Juntos com uma comitiva brasileira, o governo Lula tem a missão de firmar uma Aliança Global de combate à fome e à miséria, principal proposta do Brasil na presidência do G20.

Reconhecido mundialmente como protagonista na implementação do maior programa social de distribuição de renda, o Bolsa Família, o  governo Lula será recebido na capital da Etiópia, Adis Abeba, sede da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA). A comitiva do país permanece na África para debater a medida até domingo (18).

De acordo com o MDS, a entrada da União Africana (UA) como membro efetivo do G20, na cúpula de Delhi, na Índia, abriu novas possibilidades para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. O bloco reúne as nações da África, com um PIB combinado de cerca de US$ 3 trilhões.

“Os países do G20 aceitaram debater essa Aliança Global e aceitaram que, uma vez lançada essa Aliança, tivesse uma plataforma que permitisse a participação de outros países, não apenas os do G20”, afirmou Wellington Dias.

 

A incorporação da UA também está alinhada à meta de reestruturação da governança global proposta pelo Brasil na presidência do G20.

“Este momento dá ao Brasil a oportunidade de colocar no centro da agenda a erradicação da fome, a diminuição da pobreza e da desigualdade, aliadas à preservação do meio ambiente e à uma nova governança global”, afirmou o ministro.

 

Combate à fome

Prioridade do governo Lula, a ideia de formar uma Aliança Global de combate à fome e à miséria começou a ser trabalhada quando o Brasil assumiu a chefia do G20, grupo que reúne as maiores economias do planeta.

O MDS ressalta que a proposta é oferecer uma cesta de experiências exitosas de diversos países a outras nações que queiram adaptar e implementar estas políticas públicas em seus territórios.

Os mecanismos de financiamento e governança serão discutidos ao longo do ano e apresentados aos Chefes de Estado e Governo na Cúpula do G20, marcada para novembro, no Rio de Janeiro, quando deve ser pactuada a Aliança Global.

Ouça o boletim da Rádio PT:

Fonte: PT, com informações do MDS

Traços da Mãe-África: em busca de nossas raízes (XXXI)

O Congo sonhado por Patrice Lumumba. Por mais que estejamos aqui a nos remeter, com frequência, à crueldade dos processos de colonização (onde quer que tenham lugar – no caso em tela, na África), quase sempre somos surpreendidos com episódios que vamos conhecendo ou revisitando.

A República Democrática do Congo (a não confundir com o Congo de colonização francesa) situa-se na África Central, perto de Angola. Tem mais de 2.345.000 de Km2, área em que vive uma população de mais de 65 milhões de habitantes. Como tantos outros países africanos, divididos como coisa de ninguém entre os europeus, no último quarto do século XIX, o Congo (ex-Zaire) foi colonizado pela Bélgica.

Cobiçando suas riquezas naturais, o Estado belga, mancomunado com os interesses de grandes conglomerados transnacionais (inclusive dos Estados Unidos), vivia a tirar o sangue do Povo do Congo, que não encontrou outra saída, senão a luta pela sua independência, seguindo, aliás, os ventos libertários dos anos 60.

Nesse contexto, é que vai se destacar a figura de Patrice Lumumba, assim como em outros países, outras figuras revolucionárias tomam a frente do duro processo de libertação de sua Gente e do seu País. Articulando as lutas internas e buscando apoio nos países do Terceiro Mundo, filiando-se ao grupo dos países não-alinhados, o Povo do Congo consegue sua independência da Bélgica, em 1960. Na reconstrução do País, realizadas as eleições, Patrice Lumumba é eleito Primeiro-Ministro, para assombro dos inimigos. Tratava-se de alguém distante dos acordos de cúpula, e avesso a manobras de cooptação.

Arma-se, então, contra ele um complô, formado pelo Estado belga, pela CIA (no Governo Eisenhower) e as multinacionais atuando no Congo. Antes, o rei da Bélgica tinha mandado um recado. Dizia esperar que os cavaleiros que assumiam o governo do Congo fossem capazes de cumprir com dignidade suas responsabilidades… Mas, Lumumba não estava para brincadeira de mau gosto. Mantém-se fiel à sua consciência revolucionária e ao seu Povo. Resultado: organiza-se o Golpe de Estado, menos de três meses depois de governo. Patrice Lumumba é sequestrado, torturado e vem a ser assassinado em janeiro de 1961.

A República “Democrática” do Congo iria, depois, amargar uma corrupta e sanguinária ditadura protegida pelos ocidentais e seus aliados locais. Mais um capítulo trágico de democracia ocidental. Que democracia!

João Pessoa, Agosto de 2007.

Traços da Mãe África: Em busca de nossas raízes (XXVIII)

Marrocos, sua terra e sua gente. Situa-se ao Noroeste, no extremo Noroeste africano. Não por acaso, o Marrocos constitui um dos países do famoso Maghreb, palavra de origem árabe que quer dizer “o poente”.

Limita-se ao Norte com o Estreito de Gibraltar (bem ao Sul da Espanha), canal que liga o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico; ao Sul, com a Mauritânia; a Leste e a Sudeste , com a Argélia; e a Oeste, com o Oceano Atlântico. Seu nome deriva do vocábulo “Marrakech”, Marrocos [Marrocos, em Espanhol; Maroc em Francês], e é o nome de uma de suas cidades, fundada em 1062. Rabat é sua capital, sendo que Casablanca é bem maior, com mais de 3,5 milhões de habitantes.

 

Os Gregos denominavam os povos que habitavam a região onde hoje se situam Marrocos e Argélia, de “os Mauritianos”, de onde o nome de Mauritânia, atribuído ao país vizinho, ao Sul. Consta da mitologia grega a presença dos Atlantes (Atlas é o nome de uma das duas mais importantes cordilheiras do Marrocos), de onde o nome do Oceano Atlântico.

 

O Marrocos está compreendido numa área de 446.550 Km2, área que alcança 710 Km² se for somado o território do Saara Ocidental, situado ao Sul, reivindicado pelo Marrocos. Conta com uma população estimada em 33.757.000 habitantes, mais concentrada nas cidades próximas do litoral.

 

A região do Maghreb e suas gentes carregam uma história de invasões e de resistências, desde séculos. Por lá passaram Fenícios, Romanos, Bizantinos, Árabes, sem falar em colonizadores mais recentes, dos quais se destacam os Franceses. Até pela proximidade geográfica, mas também por conta de sua relação histórica, há pendências ainda não resolvidas dos marroquinos em relação à Espanha: algumas cidades que a Espanha considera suas são reivindicadas por Marrocos. Os europeus não se eximirão facilmente dessa triste marca colonialista.

 

Além do berbere e do árabe, fala-se também francês. Em bem menor escala, também o espanhol. Apesar da violência de cada um desses processos de conquista, cumpre destacar sempre a heróica resistência dos Berberes, nativos da região. Ainda hoje resistem por meio de sua densa cultura. Por mais invasivas que tenham sido, as culturas exógenas não conseguiram apagar os mais vivos traços da Cultura Berbere, não apenas por sua língua ainda falada nas regiões interioranas. Há também traços dos Beduínos. Quanto às principais religiões, predomina largamente o Islamismo (mais de 98%). O Cristianismo é seguido por pouco mais de 1% da população. Por trás e para além das estatísticas oficiais, sobrevivem as expressões religiosas nativas.

 

Do ponto de vista econômico, vale notar que o Marrocos é um dos poucos países africanos a terem auto-suficiência na produção agrícola. Entre outros produtos, cultiva trigo, batata, milho, cana-de-açúcar. É um bom produtor de carne. Possui uma indústria semelhante à de países congêneres, O turismo representa uma importante alavanca de sua economia, que tem crescido a taxas superiores a 5%, ao ano. Um dado que pode surpreender a não poucos é o fato de Marrocos ser, após a África do Sul, a Argélia, a Nigéria e o Egito, a quinta maior economia do continente, com um PIB estimado em US$ 62, 3 bilhões, com uma Renda Per Cápita estimada em US$ 4.400. (cf. dados colhidos na página da Wikipédia, combinados coma página do www.vindexmundi.com).

 

Data de 1962 a independência (a se construir) de Marrocos, cujo regime político é uma monarquia constitucional, e cuja constituição passou, desde então, por três reformas. Atualmente, o Parlamento reúne mais poderes. É bicameral, pois se constitui da Câmara dos Representantes, que conta com 325 membros, e correspondendo à nossa Câmara Federal, enquanto a Câmara dos Conselheiros, com 270 membros, corresponde ao nosso Senado.

 

Ainda importa assinalar alguns avanços conquistados, nas décadas mais recentes, por parte das mulheres organizadas em movimentos. Não é fácil, numa cultura como a delas, fazer progresso nessa direção. Claro que muito mais resta a conquistar. Mas, convém lembrar que, entre nós também, as coisas não caminham satisfatoriamente. Mesmo assim, vale sublinhar que somente com muita luta é que se consegue avançar nos direitos. Lá e cá.

 

João Pessoa, julho de 2007.

Traços da Mãe África: Em Busca de Nossas Raízes (XXVII)

O Gabão constitui, desta feita, o alvo de nossa curiosidade de incursionar pelas entranhas da Mãe África. Situa-se no extremo Oeste, na região sub-saariana, limitando-se ao Norte com a Guiné Equatorial; ao Sul e a Leste, com a República do Congo, e a Oeste, com o Oceano Atlântico. Ocupa uma área de 267.667 Km²., correspondendo a cerca de duas vezes e meia do território de Pernambuco.

 

O país se apresenta com um relevo movimentado, destacando-se a região de planaltos, ao Norte e a Leste; a faixa montanhosa, ao centro; e a região de planície, na área costeira. Seu sistema hidrográfico é composto principalmente pela bacia do Oguê, que banha mais de dois terços do território.

 

Tendo como capital a Cidade de Librevielle, o Gabão conta com uma população de 1,454,867 hab. (cf. indexmundi), apresentando uma baixa densidade demográfica. Trata-se também de uma população mal distribuída geograficamente: cerca de três quartas partes da população se acham concentradas em três cidades (Libreville, Port Gentil e Franceville). Quanto à sua composição étnica, a população do Gabão é formada por diferentes grupos étnicos, entre os quais várias tribos Bantu (Fang, Bapunu, Nzebi, Obamba), além de outros grupos africanos e descendentes dos colonizadores europeus, principalmente franceses. Ainda por conta do estigma da colonização, o Francês tornou-se a língua oficial, mas lá se falam o Fang, o Miene, o Nzebi, o Bapunu, o Bandjabi.. Seu PIB é estimado para 2007 em pouco mais de US$ 10.2 bi, sendo estimada sua renda per capita, para este ano, em US$ 7.200.

 

Como em tantos outros países africanos, o Gabão enfrenta desafios em sua economia, principalmente em sua agricultura e em sua pecuária, tendo seu ponto forte nos recursos naturais, alvo maior da cobiça dos colonizadores de ontem e de hoje. O Gabão produz petróleo, urânio, manganês, além de jazidas de outro (estimadas entre 30 e 50 toneladas) e de diamantes (cf. o site bchcbd.natualssciences.be/gabon/documentsnat/rapnat/chap1.htm

 

O drama maior do Povo do Gabão é semelhante ao que caracteriza a maior parte dos povos africanos: são as diversas formas de colonização ainda hoje presentes. As potências européias, por mais que passem uma idéia de convivência “democrática” com esses países, continuam a manter boa parte do controle das riquezas desses povos, que se batem diante de tão graves desafios, a exemplo do grau de incidência da AIDS, inclusive no Gabão. Quando se busca identificar mesmo o pensamento de representantes locais ou de seus aliados mais confiáveis, são frequentes denúncias de exploração.

 

Guillaume Menchi, em artigo intitulado “Le Monde diplomatique, champion de l’anti-impérialisme sélectif”, escrito em 29 de dezembro de 2004, no conceituado Le Monde diplomatique, afirma que “Na África, o Estado francês é um grande criminoso. Desde a outorga das independências, não parou de apoiar ditaduras e, com muita frequência, manter guerras civis ou de fomentar golpes golpes de Estado. Para a classe dirigente francesa, o obtenção de saídas vantajosas, a pilhagem de matérias primas (petróleo, gás, urânio, metais preciosos, madeira, etc.) e a influência sobre as instituições internacionais (principalmente na Assembléia Geral da ONU) são apostas consideráveis diante das quais as considerações humanistas não têm qualquer valor. Se as antigas colônias francesas se acham parcialmente, mas sobretudo formalmente independentes, o Estado francês lança mão de um complexo conjunto de laços franco-africanos que sustenta o sistema neo-colonial: bases militares garantindo a segurança dos interesses franceses (Dakar, Djibouti, Libreville, Port-Bouêt, Bangui), “ajuda” bilateral, Franco CFA, acordos de cooperação (militares, econômicos, técnicos e culturais), produção e seleção de turmas dirigentes francófilas. A situação econômica desses países, com frequência desastrosa para suas populações, reflete a nocividade desse sistema e profunda hipocrisia das declarações francesas de solidariedade Norte-Sul. Na França, essa dominação é amplamente ocultada. Os meios de comunicação franceses preferem evocar o imperialismo americano”.

 

Seja dito, de passagem, que a contundência da crítica ao próprio Monde diplomatique não impediu a publicação do texto. Seja como for, temos ainda muito chão pela frente para enfrentar e vencer os mais distintos desafios da construção de uma sociabilidade alternativa que faça justiça aos Africanos, bem como a todos os Humanos e ao Planeta.

 

João Pessoa, junho de 2007

Traços da Mãe África: Em Busca de Nossas Raízes (XXV)

África comporta um complexo mosaico de expressões religiosas. À semelhança do que se passa no campo linguístico, em que, por desconhecimento ou sob a influência da cultura ocidental, se imputam aos Povos Africanos línguas como Inglês, Francês, Português como se fossem idiomas falados “por todo o mundo”, também algo assim se passa no campo das religiões, como se o Cristianismo, em suas diferentes denominações, fosse a religião principal, secundada pelas “manifestações de animismo”…

É claro que, devido ao secular processo histórico de colonização – como, de resto, sucedeu em outras regiões do mundo, inclusive nas Américas – tanto os idiomas acima mencionados como as igrejas cristãs têm um lugar de inegável destaque. O equívoco surge, quando se pretende tomá-las como únicas ou praticadas “por todo o mundo africano”. Na verdade, nas dezenas de países que compõem o território africano, o que se observa mesmo é a presença de um complexo mosaico de línguas e de religiões.

A tal ponto, que há quem afirme que “Cada população africana desenvolve sua religião específica, que faz parte integral de sua herança cultura. Pode-se, portanto, dizer que há tantas religiões africanas tradicionais quantos são os povos africanos” (cf. página da Internet, no endereço www.academie-universelle.org/manuel/chap2/chap2a/religions/afrique.html

Com efeito, apesar da quase onipresença em terras africanas das “botas” dos colonizadores, com sua cultura, sua língua, sua religião, não se deve subestimar a capacidade de resistência dos Povos Africanos, não apenas em terras de menor controle ocidental, como ao interno das próprias áreas de sua presença hegemônica.

Como esquecer, por conseguinte, a expressiva incidência até hoje das mais tradicionais manifestações de religiosidade dos ancestrais dos Povos Africanos, difundidas até certo ponto ao longo do continente? E o quê dizer do expressivo contingente dos adeptos do Islam, seguido por enorme parcela dos Africanos, em suas mais diversas regiões? Outra área de reconhecida tradição islâmica é a de países como Argélia, Marrocos, Mauritânia… Em vários desses países, inclusive na Líbia, a incidência do Islamismo diz respeito à grande maioria da população, como na Argélia, onde chega a cerca de 97%… (afriquepluriel.ruwenzori.net/religion-generalite.htm).

Por outro lado, há também casos atípicos, como o da África do Sul, onde é forte a presença de igrejas cristãs (protestantes, em sua maioria), por fortes razões históricas. Por falar na África do Sul, tivemos recentemente em Salvador a presença alegre e solidária do bispo Desmond Tutu, que se tem notabilizado na luta pelos Direitos Humanos, não apenas em seu país.

Em parte de outras áreas, pode-se observar a presença de outras expressões religiosas, sobretudo as de caráter autóctone. Seja como for, desperta curiosidade incursionar pelo campo religioso dos Povos da África. A esse respeito, várias páginas na Internet ajudam a entender um pouco esse rico mosaico. Uma delas, em língua inglesa, fornece além de dados econômicos, políticos e demográficos, um quadro panorâmico e didático (inclusive por meio de um mapa) da distribuição geográfica das principais expressões religiosas da África (cf. o site do Christians Solidarity International: www.esi-int.org/word_map_africa_religion_php

Alguns analistas manifestam a impressão de que, entre componentes do segmento africano de jovens universitários, desenvolve-se um esforço de retorno às religiões de seus ancestrais. Esforço que enfrenta, entre os principais obstáculos, a difícil correlação de forças, em vista da relativa penetração de religiões alóctones, como resultado e expressão do processo de colonização. Não obstante, convém assinalar um traço relevante, resultante da herança da religião de seus ancestrais, que esses jovens apresentam, conforme a seguinte observação feita por analista: “A religião africana é uma afirmação (…) Seus valores essenciais são a harmonia e a união no seio da família e do clã, bem como com os mortos-vivos e os espíritos. Ela é coletiva, antes de ser individual, e os Africanos que se convertem ao Cristianismo ou ao Islam, carregam esses valores em sua nova fé.” (Olivier Bain, conforme o seguinte site acima mencionado).

João Pessoa, março de 2007

Traços da Mãe África: Em busca de nossas raízes (XVIII)

Nigéria, vasto (923.768 Km²) e complexo país africano. Banhada ao Sul pelo Golfo de Guiné, a Nigéria situa-se nos confins entre o Níger, Benin, Camarões e Tchad. Tem uma população que se aproxima de 129 milhões de habitantes, o mais populoso do continente, ocupando o nono lugar, enquanto o Egito (com cerca de 78 milhões de habitantes) vem em 15º lugar no quadro geral dos países de maior população do mundo.

Sua diversificada população falam diferentes línguas (o ioruba, o fulani, o banto e línguas mendingas, sendo o inglês língua oficial imposta pelos colonizadores, após a segunda metade do século XIX. Como se pode perceber já pelos termos acima, temos muito a ver com a Nigéria. Parte de nossas raízes culturais recebemos de lá, em razão dos africanos e africanas para aqui arrastados e escravizados.

No começo dos anos 90, à semelhança do que também ocorreu no Brasil, em 1960 (em que nossa capital passou do Rio de Janeiro para Brasília), sua então capital (Lagos) foi transferida para Abuja. Depois de décadas de colonização inglesa, a Nigéria consegue finalmente separar-se da Inglaterra, em 1960, década durante a qual vários outros povos africanos conquistariam sua independência política, nos limites do processo da chamada descolonização. Que resta a completar-se. Lá e por aqui, também.

Como tantos outros, também a Nigéria possui riquezas naturais diversificadas. Tem uma base agropecuária, sustentada por produtos primários como o algodão, o cacau, a cana de açúcar, entre outros, aos quais se acrescentam atividades extrativistas, como no caso da madeira (inclusive o famoso ébano). Mas, a Nigéria é um país cobiçado por grandes conglomerados transnacionais e seus aliados, graças principalmente aos seus recursos naturais, destacando-se gás natural, petróleo, ferro, carvão, entre outros.

Prova dessa cobiça vem estampada nas consequências sofridas pela Mãe-Natureza, também na Nigéria: acelerado desflorestamento, degradação do solo, poluição das águas, desertificação. O rápido processo de urbanização faz-se à custa da expulsão de significativos segmentos da população rural, jogados no meio da rua, sem condições as dignas necessárias, tais como saneamento, água tratada, energia elétrica, moradia digna, trabalho decente, serviços públicos essenciais.

Estrangeiros em sua própria terra, como ocorre também entre nós. Tocados pela busca de sobrevivência, um certo número resolve migrar, em busca de aventurar sua vida, na Inglaterra e outros países europeus. E lá, não é difícil imaginar o que esses migrantes acabam encontrando: enquanto uns são admitidos, em condições precárias, para fazerem os serviços sujos que os nativos rejeitam, outros tantos vivem na mais cruel clandestinidade, sendo caçados pela polícia como animais de quinta categoria.

Se é verdade que, ainda hoje, migrante continua como sinônimo de “estrangeiro”, “forasteiro” ou algo do gênero, lutamos por um mundo alternativo, por uma outra globalização, em que todos e todas se sintam em casa em qualquer parte do Planeta, onde desejem viver e trabalhar.

Nesse sentido, é muito positivo o intercâmbio que se desenvolve entre universidades públicas de distintos países, em que são firmados convênios que permitem, por exemplo, a jovens africanos estudarem em nossas universidades, como ocorre em relação à UFPB, onde estudam jovens de Angola, da Guiné, Bissau, Cabo Verde e outros países. E que a jovens brasileiros sejam asseguradas bolsas de estudo para esses e outros países africanos, do mesmo modo que já há para outros países, sobretudo para a Europa e para a América do Norte. Essa troca de experiências é muito relevante para rompermos os muros dos preconceitos e, sobretudo, para ensaiarmos uma fecunda experiência multi/intercultural, numa perspectiva de autonomia e alteridade alimentada por figuras como Amílcar Cabral e Paulo Freire.

João Pessoa, maio de 2006.

Traços da Mãe África: Em Busca de Nossas Raízes (XVII)

Zâmbia é, desta feita, o alvo de nossa atenção. Situado na região Centro-Sul da África, Zâmbia tem uma área de cerca de 752 mil Km², área maior do que a Bahia. Sua população conta com pouco mais de 11 milhões de habitantes.

Por se tratar de um país central, conta com uma fronteira vastíssima. Entre os países que se limitam com Zâmbia, estão o Congo e a Tanzânia; Moçambique, Zimbábue, Namíbia; Malawi; Angola. Tem como capital Lusaka.

A exemplo de outros, também Zâmbia é um país privilegiado pelas belezas naturais, destacando-se suas famosas cachoeiras e seus lagos, sua rica fauna. São bem cobiçados seus safáris. Quem quiser ter algumas imagens fascinantes, pode acessar o seguinte site: zambiatourism.com

Do ponto de vista econômico, conta com importantes recursos minerais, como sobre, o cobalto, urânio, ouro e prata. A presença humana na região situa-se entre um e dois milhões de anos. Que riqueza! Mas suas tribos tiveram que amargar a triste história do colonialismo e da escravidão. Sobretudo por parte dos ingleses. Não é por acaso que o inglês é lingua oficial, embora no interior das várias tribos, o que se fala mesmo é a língua de cada, é a língua própria de cada uma delas.

Ao visitar diferentes periódicos virtuais de países africanos, chamam a atenção do leitor, da leitora tanto a frequência como a virulência dos artigos – principalmente os elaborados pelas feministas africanas – dentre elas, as pesquisadoras Amanda Alexander e Mandisa Mbali – denunciando os novos métodos de dominação contra os povos africanos, utilizados pelas grandes potências e seus organismos multilaterais (FMI, Banco Mundial), com a cumplicidade dos governantes e para fortalecimento dos interesses das multinacionais. Entendem que se trata de mecanismos refinados cuja eficácia de pilhagem pode ser comparada à da época da escravidão.

Têm razão as feministas africanas. Nesses países, a concentração de riquezas e de renda se faz pari passu ao crescente empobrecimento e marginalização de amplas camadas das respectivas populações. No caso específico de Zâmbia, cuja capital (Lusaka) sediou, em 2004, a realização da África Social Forum, 20% da população tem a infecção de HIV. Ao constatarem os índices escandalosos da exploração, naqueles países, não economizam palavras para denunciar a hipocrisia dos arautos do Neoliberalismo, em sua astúcia de tentar mascarar os mecanismos de dominação, inclusive substituindo expressões antigas por novas, sem qualquer alteração do conteúdo das relações. A não ser para pior…

Como “tudo está ligado a tudo”, tal como nos ensina a Dialética, ao ler esses contundentes artigos relativos ao Fórum Social Africano, senti-me espontaneamente remetido ao caso do Brasil e da América Latina e Caribe. Fiquei pensando na crueldade que continua a ser praticada contra o Haiti e seu povo. E, desta vez, com a direta colaboração do Governo brasileiro. Tudo em nome da paz… Será que alguém honesto e com o mínimo de senso crítico vai concordar com as razões oficiais da presença militar de tropas brasileiras no Haiti como gesto humanitário? Acredite quem quiser…

Aos eventuais interessados, sugiro que visitem o site http://www.cadtm.org/imprimer.php3?id_article=1037

Valho-me da ocasião do mês de março, quando comemoramos, no dia 8, as lutas e as conquistas das mulheres do mundo inteiro, para saudar todas as mulheres que protagonizam, hoje também, a utopia de um mundo alternativo, de justiça, de paz, de solidariedade.

João Pessoa, março de 2006

Traços da Mãe África: Em busca de nossas raízes XIV

Aqui tratamos de retomar algo que iniciamos no número anterior de ABIBIMAN, acerca de SAMIR AMIN, este filho da Mãe África que tem honrado a condição humana, com sua relevante contribuição de economista, historiador e escritor a serviço da causa libertária dos oprimidos, nos quatro cantos do mundo. 

 

Nascido no Egito, há 74 anos, a trajetória de AMIN tem se revelado de uma densidade notável, pela qualidade de sua militância e pela sua contribuição de pensador. Além dos livros já destacados anteriormente, traduzidos aliás para vários idiomas, passamos a sublinhar outros textos seus, produzidos nessas últimas décadas. Os títulos quase sempre aparecem em Inglês e em Francês. Eis uma lista dos principais.

 

– O Império do Caos (L´ Empire du chaos. Paris: Ed. L’Harmattan, 1991);

– Imperialismo e Subdesenvolvimento na África (Impérialsme et sous-développement en Afrique. Paris: Anthropos, 1988);

– O Capitalismo na era da Globalização (Capitalism in the age of Globalization. St. Martin’s Press, 1986);

– O fracasso do Desenvolvimento na África e no Terceiro Mundo: uma anáfise política (La failite du développment en Afrique et dans le tiers monde: une analyse, Paris: L’Harmattan, 1989);

– Por um Mundo Multipolar (Towards a polycentric World. St. Martin’s Press, 1990);

– Economia e Sociedade no Benin (Économie et société au Bénin Paris: L Harmattan, 2000);

– O Senegal às portas do Terceiro Milênio (Le Sénégal à la veille du troisiême milênaire. Paris: L’Hermattan, 2000);

– Após Seattle: por uma construção cidadã do mundo (Aprés Seattle: pour une consIruction citoyenne du monde.Paris: Sylepse, 2001;

– Crítica do Capitalismo (Critique du Capitalisme. Paris: PUF, 2002;

– A Globalização da Resistência (Mondialisation des résistences: état des luttes, Paris: L’Harmattan, 2002.

– África: a volta da exclusão programada (Afríque: |’exclusion Programmée en renaissance. París: Maisonneuve et Larose, 2005.

 

Uma rápida e incompleta lista dos principais textos recentes de AMIN, sem incluir uma enorme série de artigos seus, pode nos sugerir uma idéia de quais são suas principais teses, bem como de sua coerente evolução como intelectual orgânico das classes populares. Fato raro, nesses tempos de “Esqueçam o que escrevi…”

 

João Pessoa, dezembro de 2005.

Traços da Mãe África: Em busca de nossas raízes XIII

Quanto mais buscamos mergulhar no universo africano, tanto mais nos impactam as descobertas, que não cessam de nos surpreender. Não deveria ser assim, não fosse a longa distância que, desde o pacto colonial, se tem cultivado entre nós.

Alegra-nos, a propósito, saber que as novas gerações terão menos dificuldade, a julgar pela recente conquista de espaço curricular nas escolas brasileiras, acerca do universo africano. A publicação do roteiro temático, publicado no número anterior, há de ser um promissor atestado do que estamos afirmando.

De fato, sob os mais diferentes prismas, a Mãe-África se mostra um precioso tesouro escondido. Aqui, vamos destacar mais um ponto desse vasto e complexo universo: a contribuição dos intelectuais africanos – mulheres e homens -, na área das ciências sociais. Tomemos, desta vez, o caso de SAMIR AMIN, cuja densa obra é conhecida nos mais distintos continentes.

Nascido no Egito, em 1931, já nos anos 50, Samir Amin começava a revelar-se um intelectual respeitado. Tem passagem relevante pelo Mali, pelo Senegal, pela Europa e outras partes do mundo. Dentre sua vasta obras, destacam-se, entre outros textos: La acumulación a escala mundial (1970), El desarrollo desigual (1973), La nación árabe (1976) y La desconexión (1986).

Ainda recentemente, em 2000, por ocasião da realização do Seminário organizado em função das comemorações dos 80 anos do economista Celso Furtado, e dos 40 anos da fundação da SUDENE, esteve em Recife, Samir Amin, juntamente com outros expositores internacionais e nacionais (além do próprio Celso Furtado, Ignacy Sachs, Francisco de Oliveira, Cristovam Buarque…). Em sua exposição, Samir Amin fez um balanço da economia política característica so século XX. De forma bastante fundamentada, passou em revista os principais desafios dos países periféricos em relação à sua emancipação social das forças do Capitalismo.

Como outros bons intelectuais, fiéis aos interesses das classes populares, Samir Amin continua a apostar na união e na organização das forças populares, em âmbito internacional. Não é por acaso, que sempre tem trabalhado como uma equipe de pesquisadores africanos, asiáticos e latino-americanos. Voltaremos a dizer algo mais sobre Samir Amin.

 

João Pessoa, novembro de 2005