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Gaza: o terror da gestação, do parto e da maternidade em uma terra devastada

Por Alejandra Mateo Fano, El Salto, 21 de abril de 2024

Abortos espontâneos, ausência de medicamentos e internações, bebês traumatizados: ser mãe na Faixa de Gaza sob ataque israelense é um terror

A violência reprodutiva que tem atormentado as mulheres de Gaza desde outubro do ano passado não se limita à falta de meios e de apoio institucional para dar à luz aos seus bebês com segurança. Os efeitos fatais sobre a maternidade causados pelo genocídio palestino, que já ceifou mais de 33,8 mil vidas na Faixa – 70% delas mulheres ou crianças – começam logo no início da gravidez, pois é impossível manter o acompanhamento médico durante a gestação e até o período pós-parto, que é realizado em condições extremamente insalubres e superlotadas, sem espaços seguros onde as mães possam se recuperar física e emocionalmente após o parto.

Como é possível dar luz sem acesso à água potável, medicamentos e alimentos? Quais são efeitos do estresse provocado pelo assédio à saúde materna e, portanto, ao feto? O que ocorrerá, no futuro próximo, a todas essas gerações de bebês nascidos em meio ao caos mais absoluto? Antes de abordar todas essas questões, é necessário considerar que, em uma estrutura de colonização e opressão, ter filhos se torna, para muitos palestinos, uma forma de insubordinação e resistência anti-ocupação frente um Estado israelense que quer exterminar seu povo para satisfazer os objetivos imperialistas do sionismo. A nação palestina busca se tornar mais numerosa a cada dia, de modo que, nesse contexto, uma gravidez é praticamente um ato político de protesto.

Fernanda Vega, coordenadora da Médicos do Mundo e organizadora da resposta médica em Gaza, viu em primeira mão o horror com o qual as mulheres palestinas têm de lidar hoje. Ela fala ao El Salto sobre a jornada pela qual passam as mulheres que parem seus filhos no território semidestruído que Gaza é hoje – a maioria delas engravidou antes de 7 de outubro –, jornada que começa a partir do momento em que o acesso aos exames pré-natais é cortado devido aos ataques ao enclave. Isso significa que as crianças que estão sendo gestadas com graves deficiências nutricionais e sem nenhum tipo de suplemento não estão sendo monitoradas, o que impossibilita a detecção de qualquer patologia que os fetos possam estar desenvolvendo.

“As ONGs até enviaram scanners de ultrassom, mas há um dilema ético no sentido de que as pessoas que lidam com os scanners podem dizer ‘seu bebê tem uma doença’ ou ‘ele não está se movendo’, mas, nesse caso, o que fazer? Atualmente, não há nenhuma maneira de atenuar o que pode acontecer com esses fetos”, diz Vega. Ela também explica que há, de fato, um número muito alto, mas até agora indeterminado, de abortos espontâneos, devido ao aumento descontrolado do estresse ao qual as mães grávidas são submetidas diariamente. Mas também estão sendo relatados problemas sérios de desnutrição no nascimento, atraso na maturação, formação do sistema nervoso ou malformações em geral.

De acordo com esta médica, as mulheres em Gaza tiveram que se adaptar a um cenário de sobrevivência quase animalesco, no qual, praticamente da noite para o dia, elas passaram de uma maternidade desfrutada e compartilhada em comunidade para uma gestação forçada em condições extremas e subumanas. A ausência de controles e monitoramento é algo realmente novo para elas.

“Antes, as mulheres estavam acostumadas a fazer seus check-ups e dar à luz em instituições de saúde onde a primeira opção era sempre o parto vaginal, mas sempre havia disponível a opção de realizar uma cesárea, havia hospitais com instalações de pediatria, e agora, de repente, muitas delas se encontram em uma situação de deslocamento forçado, vivendo em tendas e sem encontrar um hospital onde possam dar à luz”, nos declarou Sofía Piñeiro, coordenadora médica dos Médicos Sem Fronteiras em Rafah.

“Posso imaginar como deve ser diferente para uma mulher que estava ansiosa pela gravidez, feliz e indo aos exames pré-natais, e que de repente se vê no terceiro trimestre sem ter para onde ir para dar à luz, e ciente de que não poderá alimentar ou proteger seus filhos quando eles nascerem”, acrescenta Piñeiro. Ela admite que, diante da gravidez, o elemento mais desfavorável é o estresse e a ansiedade pelos quais as mulheres passam, tanto pelo terror do bombardeio diário da cidade quanto pela incerteza do futuro sem esperança que aguarda seus filhos.

Dar à luz em uma cidade em ruínas

De acordo com a UNRWA, após a destruição do hospital Al-Shifa, o maior e principal centro de referência da Faixa, com 750 leitos, 26 salas de cirurgia e 32 unidades de terapia intensiva (UTI), apenas 10 dos 36 hospitais de Gaza ainda estão funcionando, e vários deles apenas parcialmente. O hospital Al Emirati é o único centro médico de maternidade em funcionamento em toda a Faixa de Gaza, de modo que as mulheres que precisam parir vão diretamente para lá, onde ocorrem cerca de 15 a 80 partos por dia. Durante os partos, as mulheres precisam dar à luz, na melhor das hipóteses, nessas enfermarias totalmente superlotadas, em locais onde duas ou três mães são colocadas por leito por falta de mais espaço, embora muitas deem à luz na rua ou em tendas. “Elas estão dando à luz sem anestesia, as que fazem cesarianas acabam com infecções causadas por feridas causadas pelo parto em locais totalmente insalubres, e essas mesmas cesarianas, como todas as outras operações, são realizadas sem analgesia. A nível mental, tudo isso é transmitido ao bebê durante o parto, afetando o vínculo com a criança”, diz Fernanda, com preocupação.

Em uma tradição cultural islâmica, em que o pudor e a privacidade assumem especial relevância, a superexposição a que as mulheres são constantemente submetidas tem repercussões diretas em seu autoconceito e em suas relações sociais, ou, como diz Sofia, “em todo o seu modo de ser, porque a cultura não é algo de que se abra mão ou que se adie por causa de uma guerra”. Para atenuar a persistente sensação de vulnerabilidade que elas experimentam, e apesar do desespero generalizado, não faltam apoio coletivo e redes de solidariedade entre as mulheres, que reconhecem que são companheiras diante da mesma adversidade. “Eu me lembro de uma imagem muito latente na enfermaria de pós-parto, éramos quase todas mulheres porque é um lugar onde se amamenta, então a presença de homens naquela enfermaria é restrita a quase zero para que as mulheres possam ficar com os cabelos descobertos e à vontade. Havia uma mulher com um pé até o tornozelo descoberto do lençol e foi a própria enfermeira que foi cobrir o pé dela, como se dissesse: eu sei que se você estivesse acordada não gostaria de sair por aí mostrando. É aí que você vê a sororidade”, conta Sofía.

A médica compara a superexposição sentida pelas mulheres muçulmanas durante este genocídio à vergonha que qualquer mulher ocidental sentiria se tivesse que sair nua para comprar pão, independentemente de haver ou não um conflito em andamento. Da mesma forma, a solidariedade histórica entre as mulheres na Palestina também se estende àquelas em situação de pobreza menstrual. No início do conflito, um grande número de mulheres começou a compartilhar suas pílulas anticoncepcionais para evitar ter de menstruar em condições que, como se descobriu mais tarde, colocariam suas vidas seriamente em risco.

Com o passar do tempo, elas deixaram de compartilhar anticoncepcionais e passaram a compartilhar absorventes higiênicos que elas mesmas fabricam à mão com tecido de tendas e barracas, pois os kit menstrual padrão fornecido por organizações de direitos humanos, como o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que inclui suprimentos essenciais de higiene menstrual, como sabonete e absorventes higiênicos, é claramente insuficiente. Conforme desenvolvido por Ammal Awadallah em seu artigo The forgotten women and girls in Gaza: a sexual and reproductive health catastrophe (As mulheres e meninas esquecidas em Gaza: uma catástrofe de saúde sexual e reprodutiva), as mulheres têm tomado comprimidos de noretisterona que são frequentemente recomendados para condições como sangramento menstrual excessivo, endometriose e períodos dolorosos. Algumas mulheres até perderam a menstruação devido ao estresse.

O próprio UNFPA informou que, somente na Margem Ocidental de Gaza, há mais de 73 mil gestações no momento, o que significa que mais de 8.120 mulheres darão à luz em maio, em meio aos combates. Esses números são um pouco mais altos do que os de novembro, apenas um mês após o início dos bombardeios, quando o número de gestações em andamento era de mais de 50 mil (aproximadamente 166 nascimentos por dia), conforme informou o El Salto em outubro passado. Sendo a precariedade absoluta e a ausência de todos os tipos de recursos técnicos e humanos uma realidade agora normal em Gaza, os membros do UNFPA consideram o acesso a um atendimento de saúde adequado para todas essas mulheres prestes a dar à luz “um desafio inimaginável” para médicos e parteiras. A organização observa em seu artigo Impossible Choices in Gaza (Escolhas impossíveis em Gaza) como as mulheres estão dando à luz prematuramente devido ao terror de que, como resultado do aumento das emergências obstétricas, poucas sobrevivam à gravidez e ao parto; e as que sobreviverem precisam voltar para abrigos superlotados e assentamentos informais que não dispõem de água potável e instalações de higiene, onde as doenças infecciosas são abundantes.

Uma geração condenada pela barbárie israelense

Uma grande incógnita é o que acontecerá com os bebês nascidos em meio ao conflito. Piñeiro ressalta que, após o período pós-parto, “as mães deveriam ficar pelo menos 24 horas no hospital para todos os tipos de check-ups, mas esse tempo foi reduzido para seis horas ou até mesmo quatro. Isso provavelmente significa que não estamos conseguindo identificar a tempo muitos dos problemas que precisam ser verificados no período pós-parto, mesmo que a mulher não tenha tido uma hemorragia ou febre, porque há patologias em bebês que geralmente aparecem pelo menos 24 a 48 horas depois.” Jaldia Abubakra, do Movimento de Mulheres Palestinas na diáspora Alkarama, denuncia ao El Salto a falta de meios para cuidar de bebês nascidos prematuramente: “Não há incubadoras para eles porque não há eletricidade e quase não há hospitais; de fato, no segundo mês da agressão a Gaza, vimos como eles desconectaram as incubadoras no hospital central”.

Sobre a questão do futuro a médio e longo prazo das crianças que têm a sorte de sobreviver aos primeiros meses de vida, Piñeiro teme, por enquanto, um aumento sem precedentes de casos de deficiência ligados a doenças que não foram tratadas a tempo ou adequadamente por não terem recebido o melhor atendimento médico, como cirurgias reconstrutivas ou internações prolongadas para manter o controle de infecções. A longo prazo, Jaldia prevê que, depois de tudo o que aconteceu, e dado o número incontável de traumas que essas novas gerações de crianças palestinas acumularão desde o nascimento, “elas precisarão de muito tratamento psicológico, muita terapia para poder lidar com tudo isso” e lembra os efeitos que o ataque israelense de 2014 – a Operação Margem Protetora – teve sobre os pequenos, o que a faz prever a magnitude dos efeitos do genocídio sobre a saúde mental deles. “Havia muitos casos de crianças com medo, com pesadelos, crianças que molhavam a cama à noite por medo e terror, gagueira, medo de sair do quarto sozinhas para ir ao banheiro, e um longo etc.”. A ativista alega que “muitas crianças perderam toda a sua família, viram horrores porque viram corpos estirados ou desmembrados na frente delas, e isso é algo que levará tempo para ser reparado”.

(*) Tradução de Raul Chiliani

Revista Opera Mundi: https://revistaopera.operamundi.uol.com.br/2024/04/21/gaza-o-terror-da-gestacao-do-parto-e-da-maternidade-em-uma-terra-devastada/

Imagem: Um bebê é tratado no hospital de Al Shifa, na Faixa de Gaza, em abril de 2008. (Foto: Kashfi Halford / Flickr)

Só as lutas contínuas dos oprimidos asseguram um futuro digno e justo 

Só as lutas contínuas dos oprimidos 

Asseguram um futuro digno e justo 

 

De 90 pra cá houve um recuo

Desde então, nossas forças não avançam

 

Quem se fia em gestão de “frente ampla”

Se limita a viver só de migalhas

 

A Necrófila Direita ganha terreno

Vai minando os espaços democráticos

 

Temerário esperar que tão-somente

O Poder Judiciário estanque  a onda

 

Quando os nossos Movimentos Sociais

Vão, enfim, despertar da letargia?

 

Glória eterna aos valentes lutadores

Nos caminhos das Ligas e lutas camponesas

 

A extrema-Direita quer tirania

Empenhando-se em minar democracia

 

Verdadeiro antídoto da Direita

Retomar o processo formativo

 

Retomar o exercício da Memória

Das conquistas e lutas populares

 

Nossas Ligas e lutas camponesas

Firmes, fortes, celebram suas conquistas

 

Não bastasse a Bolívia, vem o Brasil

A ser alvo do golpista Elon Musk

 

Com Cedilha ou dois “S”, urge cassar

Plutocratas golpista, arrogantes

 

De 90 pra cá houve um descenso

Desde então, entram em cena as frentes amplas

 

Quem se fixa em gestão de Frente Ampla

Se limita ao “menu” da burguesia

 

Nossas ligas e lutas camponesas

Firmes e fortes em nosso memorial

 

Liberdade de expressão não autoriza

Atacar as pessoas, caluniá-las

 

Liberdade de expressão no Ocidente

Nunca foi, e nem é absoluta

 

O artigo de Brian é convincente,

Parcial é o juízo do Império

https://www.brasil247.com/blog/debater-a-liberdade-de-expressao-hoje-e-uma-cortina-de-fumaca-orquestrada-pela-extrema-direita#google_vignette

 

E no caso Elon Musk fica evidente

Ele quer ofender a soberania

 

Lei do Teto de Gastos só favorece

Os setores das classes dominantes

 

Penaliza a pobreza ao proibir que

Se invista em Políticas Essenciais

 

Favorece os setores financistas:

Obrigando pagar juros da dívida

 

Pretextando liberdade de expressão

A direita ataca o Judiciário

 

Grande farsa: no poder nos imporia

A censura, a prisão, a ditadura

 

Sem qualquer referência, desfaz-se a Ética

A mentira equipara-se à verdade

A Extrema Direita assim procede

Haja vista o que diz Michael Shellenberger

Os fascistas se queixam contra a censura

Mas, combatem a ciência, as evidências

Mais e mais, cai a máscara do Império

No apoio incansável ao Sionismo

Sionismo só reúne tanta força

Com o suporte militar do Ocidente.

São os jovens, outra vez, que se insurgem

A clamarem a favor dos Palestinos

Até mesmo, ao interno do Império

Estudantes, as centenas, levantam a voz

Outro exemplo a nutrir nossa esperança:

Mil pessoas, acodem os Palestinos

Veja bem a “Flotilha da Liberdade”

Transportando alimento à Palestina

https://freedomflotilla.org/

Movimento no campo e na cidade

Continuam semeando coisas novas.

João Pessoa, 01 de Maio de 2024

 

Força e coragem aos Trabalhadores e Trabalhadoras de todo o mundo!

Foto: Sindipetro Bahia

Papa: para o Bom Pastor somos valiosos sempre, insubstituíveis

O Papa rezou o Regina Caeli com os fiéis reunidos na Praça São Pedro neste IV domingo da Páscoa, dedicado a Jesus Bom Pastor. Em sua alocução, Francisco se deteve numa frase repetida três vezes pelo Mestre: “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”.

O Pontífice recordou que ser pastor, especialmente no tempo de Cristo, não era só uma profissão, mas significava compartilhar jornadas inteiras, e também noitadas, com as ovelhas, de viver em simbiose com elas. Com efeito, Jesus explica que não é um mercenário que não se importa com as ovelhas, mas Ele as conhece, chama por nome. E mais: Jesus não é só um bom pastor que compartilha a vida do rebanho, é o Bom Pastor que por nós sacrificou a vida e, ressuscitado, nos deu o seu Espírito.

“Eis o que quer nos dizer o Senhor com a imagem do Bom Pastor: não só que Ele é o guia, o Chefe do rebanho, mas sobretudo que pensa em cada um de nós, e nos pensa como o amor da sua vida. Pensemos nisto: eu para Cristo sou importante, Ele pensa em mim, sou insubstituível, valho o preço infinito da sua vida. E isso não é um modo de dizer: Ele deu realmente a vida por mim, morreu e ressuscitou por mim, por quê? Porque me ama e encontra em mim uma beleza que eu frequentemente não vejo.”

Quantas pessoas hoje se consideram inadequadas ou até mesmo erradas, prosseguiu o Pontífice. Ou se pensa que o nosso valor depende dos objetivos que conseguimos alcançar, do sucesso aos olhos do mundo, dos julgamentos dos outros: “Hoje, Jesus nos diz que nós para Ele valemos muito e sempre. E então, para reencontrar a nós mesmos, a primeira coisa a fazer é colocar-nos na sua presença, deixar-nos acolher e levantar pelos braços amorosos do nosso Bom Pastor”.

Francisco então dirigiu algumas perguntas aos fiéis: “Consigo encontrar todos os dias um momento para abraçar a certeza que dá valor à minha vida? Consigo encontrar um momento de oração, de adoração, de louvor, para estar na presença de Cristo e deixar-me acariciar por Ele?”. E concluiu:

“Irmão, irmã, se o fizer, redescobrirá o segredo da vida: lembrará que o Bom Pastor, Ele que deu a vida por você, por mim, por todos nós. E que, para Ele, somos todos importantes, cada um de nós, todos. Que Nossa Senhora nos ajude a encontrar em Jesus o essencial para viver.”

Fonte: Vatican News

O germe colonialista de Igrejas Cristãs volta a atacar…

Em meados dos anos 90 do século passado, realizou-se, no Seminário Arquidiocesano, em João Pessoa-PB, um Encontro avaliativo e prospectivo, organizado pelos Padres Italianos “Fidei donum”, no Nordeste, para o qual foi também convidado o Pe. José Comblin, a fazer uma reflexão crítica sobre o evento. Antes dele intervieram duas pessoas convidadas, após o que Comblin foi instado a fazer sua reflexão. Seu primeiro gesto foi o de apagar o que estava anotado na lousa, justificando que, até ali se havia tratado no âmbito do consciente, e ele passaria a tratar do inconsciente.

Tratou, então, de questionar o que motivava os missionários europeus – sendo ele também um missionário europeu – a fazerem seu trabalho no Brasil, como se duvidasse de que o único propósito fosse apenas evangelizar. De forma direta ou indireta, sem deixar de reconhecer o legado evangélico do trabalho dos missionários europeus, ele passava  também a questionar a existência de certa pretensão colonialista, de quem vinha mais para ensinar do que para aprender com os pobres do Brasil. Supérfluo dizer de certo mal-estar produzido no ambiente, a tal ponto que o palestrante não compareceria ao encontro, na parte da tarde.

Aqui tomo a rememoração deste episódio, do qual fui testemunha, como um dos convidados, como ilustração pedagógica para uma reflexão crítica acerca do risco de reprodução ideológica, de caráter colonialista, em que podem incorrer, de um lado, missionários e missionárias não nascidos no Brasil, em sua atividade de evangelização dos pobres, na América Latina e em outros continentes, e, de outra parte, o público-alvo destas atividades, aos se portarem como meros receptáculos (portanto, passivos) da mensagem recebida. Nas linhas que seguem, tratamos de problematizar tais riscos, recorrendo à rememoração de traços históricos da ação missionária ocidental feita na América Latina e no Brasil. Em seguida, cuidamos de compartilhar alguns questionamentos que podem ser úteis, no enfrentamento permanente destes riscos.

Este episódio me vem à memória, como uma ocasião propícia para redobrar a vigilância quanto à necessidade de superação cotidiana e processual, em face dos riscos de introjeção do germe colonialista que pode sobreviver, de parte a parte, nas relações entre missionários e missionárias não-nascidos no Brasil e Cristãos e Cristãs aqui nascidos.

Como se deu a ação missionária realizada na América Latina e no Brasil?

Os povos originários, africanos e de outras regiões têm sido, após o século XVI, alvos constantes do processo ocidental de colonização. Na verdade, já três séculos antes, sob a égide dos papas em conluio com os reis, haviam autorizado, por meio de bulas a invasão, a apropriação das terras e das riquezas dos povos africanos, bem como sua escravização. É farta a literatura multidisciplinar que analisa criticamente, sob os mais diferentes aspectos e perspectivas, onde, quando e como isso se deu. Um dos traços axiais do processo colonialista se acha intimamente conectado a suas motivações econômicas –  religiosas – especialmente protagonizadas pela a cristandade.

A empreitada colonial, desde seus inícios, se deu graças à aliança entre o trono e o altar, ou seja, entre as metrópoles europeias e, depois, dos Estados Unidos, e seus respectivos chefes religiosos tanto católicos quanto protestante. Nas grandes viagens de navegação rumo às Américas (então, conhecidas como às “Índias”), estavam presentes a espada e a cruz, simbolizando os instrumentos da conquista das terras e dos povos de além-mar, tornando-se a principal estratégia de “dilatação da fé e do império”. Não é à toa, a este propósito, que o símbolo da cruz vinha afixado nas velas das embarcações ibéricas destinadas à África e à América Latina.

Sem esquecermos tantas outras fontes históricas, aqui recorremos especialmente à densa contribuição oferecida pelo Projeto da CEHILA (Comisión de la Historia de la Iglesia Latino-Americana), coordenado por uma Equipe de historiadores Latino-Americanos entre os quais Enrique Dussel, José Oscar Beozzo, Eduardo Hornet, há quem também recorremos, em seu conhecido “A História do Cristianismo na América Latina e no Caribe” (São Paulo: Paulus, 1994). Na perspectiva histórica protestante, por sua vez, nos inspiramos em autores tais como William Yoo (cf. por exemplo: “What kind of Christianity? A History of Slavery and anti-Black racism in the Presbyterian Church”, Presbyterian Publishing, 2022. – Livro que me empenho em adquirir), José Bittencourt Filho (cf. textos e vídeos, inclusive sua contribuição escrita para o livro “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro: a Conferência do Nordeste 50 Anos Depois (1962-2012)”, Editora Muad X, 2012.).

Seja na tradição missionária católica, seja na empreitada missionária protestante, o germe colonialista/escravista se achava fortemente inoculado. Em ambos os casos, era prática frequente a presença de escravos em conventos e a disposição de chefes religiosos protestantes. Convivia-se, sem escrúpulos, com os valores da escravidão, ainda que flagrantemente contrastando com a mensagem evangélica. A era constantiniana e mesmo o advento da Reforma Protestante, alimentados por valores helenísticos e pela ideologia do Império Romano, serviram de base justificativa para tal abuso. Aí estava agindo eficazmente o germe colonialista, durante séculos, na empresa missionária de igrejas cristãs, na América Latina e no Caribe.

Tanto as incursões missionárias católicas, quanto as protestantes já eram, desde seus países de origem, acometidas do germe colonialista/escravista. Para tanto, no caso da Igreja Católica uma rápida consulta ao teor de Bulas papais, tais como a “Dum diversas”, de 1452, de autoria do Papa Nicolau V;  “Romanus Pontifex” (1455), de autoria do Papa Nicolau V, e à “Inter caetera”, de 1493, de autoria do Papa Alexandre VI, nos enseja a perceber a gravidade desses documentos, ao autorizarem monarcas europeus a invasão violenta e a escravidão de povos Africanos. Importa, ainda, assinalar que tais bulas se associam intimamente ao famigerado “Dictatus Papae”, de meados do século XI, atribuído ao Papa Gregório VII.

No que toca ao legado de Igrejas Protestantes, também podemos observar a presença do germe colonialista/escravista, em suas incursões na América Latina e no Caribe. Mesmo em se tratando de Igrejas Cristãs históricas – Igreja Batista, Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Anglicana, entre outras -, há relatos colhidos de fontes credíveis, que atestam práticas escravistas (trazidas de suas respectivas matrizes, especialmente do Sul dos Estados Unidos), nestas organizações eclesiásticas, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, seja em São Paulo, etc.

Passados 5 séculos, a despeito de seus fluxos e refluxos, eis que, no cenário histórico  atual com o ascenso das forças neofascista em escala mundial podemos constatar sinais de uma pavorosa recidiva, a merecer especial atenção de quantos e quantas seguem empenhados na construção processual de um novo modo de produção e de gestão societal, ecologicamente respeitoso da dignidade de nossa Casa Comum, economicamente justo, socialmente participativo e culturalmente diverso.

Tais registros resultam relevantes, para avaliarmos o que se passa hoje, no cenário brasileiro, com o reavivamento de tendências da ultra Direita, com a qual setores de Igrejas Cristãs, católicas e protestantes se têm mostrado organicamente afinados. Manter firme a vigilância, quanto a este fato, constitui uma tarefa permanente aos grupos e pessoas que se sentem discípulos e discípulas do Movimento de Jesus, até porque, ante o alerta trazido por José Comblin, no episódio acima descrito, ninguém de nós está isento deste risco, pois, como também alerta Paulo, “Quem estiver de pé, cuide para não cair” (I Cor 10,12).

João Pessoa 11 de Abril de 2024.

 

Imagem: A Festa da Boa Morte: manifestação de uma irmandade religiosa baiana oriunda dos tempos coloniais.  Educador Brasil Escola, Rainer Sousa / Uol, s/d

A Extrema-Direita infesta o mundo Pervertendo a humana condição

 

A Extrema-Direita, em todo o mundo 

Ameaça o Planeta e os humanos 

Tênue, o fio que distingue a  Direita e Extrema

Sempre juntas, quando e como lhes convém

 

Enganosa, a alcunha de “Centrão”

Os seus atos só pendem pra Direita

 

O verniz “democrático” das potências

Só ilude quem as chama “Democracia”

 

Emblemáticos os fracassos reiterados

Para a ONU deter o genocídio

 

Os humanos são parte da Mãe-Terra

Pra Direita, ela é só mercadoria

 

Ser humano é chamado a ser mais

Pra Direita, só importa ter mais bens

 

Frente ampla, se serve, é em eleição

Na gestão, a Direita é quem mais ganha

 

Do orçamento, aos ricos o filé

Para os pobres sobram ossos e nada mais

 

Qual moloche, o Mercado exige humanos

Em ofertas, sacrifícios sanguinários

 

Os fascistas se creem supremacistas

A direita defende privilégios

 

Cultivam idolatria, falam de Deus

Mas seu Deus é o dinheiro, deus Mamom

 

Acumulam riqueza em excesso

E de fome e miséria matam milhões

 

Tem horror dos indígenas

A riqueza existente nas suas terras

 

São herdeiros diretos de escravistas

Seu projeto é voltar a escravidão

 

Igualdade de direito entre os gêneros

Prós fascistas mulheres são objeto

 

Não bastassem os covardes bombardeios

Sionistas de fome matam um Povo

 

Genocídio se faz a olhos vistos

Sob o olhar complacente da “grande” mídia

 

O massacre sionista dos palestinos

Nos remete a traços de holocausto

 

Sionismo desafia a própria ONU

“Terroristas” pra mídia é só Hamas…

 

Palestinos massacrados a céu aberto

E Tarcísio e Caiado a quem apoiam?

 

Diminui desemprego, mas o Mercado

Precariza os empregos, extremamente

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória não podemos abrir mão

 

Militares não são proprietários

Do destino da Pátria e da nação

 

A gestão só compete aos civis

Militares já têm própria função

 

Condição de armados, “ipso facto”

Já os leva para fora da Política

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória jamais abramos mão!

 

Das tragédias de golpes sucessivos

Extraiamos lições para superá-los

 

Se a gestão do Estado é dos civis

Dela distem os que lidam com as armas

 

Militares não devem ser um “gueto”

Têm que estar a serviço dos civis

 

Fora a pauta militar bem específica

Que se formem em conjunto com os civis

 

Refundar toda a pública segurança

Com critérios democráticos essenciais

 

Decisões democráticas não se tomam

Sob a mira de tanques e canhões

 

Servidores, não donos de nações

São as Forças Armadas e congêneres

 

Há civis tão somente a governança

Que a política se afasta dos quartéis

 

O Império interveio contra o Golpe

Dissuadiu os generais da intentona

 

As potências não dão ponto sem nó

E se algo oferecem, exigem em dobro

 

Infeliz da Nação, ai do Governo

Que a outro dever a sua sorte

 

Reverencia a João Pedro e companheiros

Lutadores das Ligas Camponesas

 

Homenagem a Gregório Julião,

João Targino e Zézé da Galiléia

 

João Pessoa 31 de Março de 2024


Imagem: Flickr/Creative Commons, 12/11/2018

Nunca mais

Tenho a minha visão própria e pessoal sobre a ditadura de Videla, bem como sobre os motivos que a moveram.

Contrariamente a outras versões, tenho a impressão de que o golpe, a ditadura e o genocídio, tinham como único e principal objetivo, cancelar definitivamente a possibilidade de um país civilizado.

A exclusão social, que contraria o projeto de país que deveria nortear a ação de governantes e atores sociais, seria sacralizada pelo genocídio perpetrado pela ditadura de 1976-1983.

Argentina seria assim uma eterna terra de ninguém. Um país sem pátria. Um espaço para a exploração sem lei e contra toda lei.

Videla e a quadrilha que perpetrou a carnificina que enluta até hoje a Argentina, foram condenados pela justiça comum.

A ‘guerra’ dos genocidas foi contra a humanidade. Foram condenados por crimes contra a humanidade.

Um povo foi crucificado e tenta ainda se recuperar das sequelas impostas pelo terror da ultradireita.

A religião como Projeto de poder político: Notas sobre a expansão no Brasil da Teologia do Domínio

Mergulhados em tempos distópicos e tenebrosos, assistimos, perplexos, à crescente expansão, em escala mundial, da extrema-Direita, movida pela ideologia fascista, centrada em contra-valores tais como a violência, a mentira contumaz, a hipocrisia, todos promovidos, em grande parte, pela mídia hegemônica, especialmente por suas redes digitais. Neste movimento deletério dos princípios elementares que norteiam o processo de humanização, o apelo à religião tem se dado de modo abusivo, especialmente por meio de seus próceres.

Nas últimas décadas, com efeito, temos constatado avanços significativos da onda neofascista, na Europa, na América-Latina e alhures, como manifestação emblemática do desenvolvimento capitalista, em sua fase / face neoliberal, em seu potencial extremamente devastador, seja das condições socioambientais, seja das condições econômicas (com graves consequências no aumento das desigualdades sociais, seja no âmbito político, seja no âmbito cultural).

No caso específico do Brasil, salta aos olhos o recurso abusivo que seus representantes têm feito da Religião como meio privilegiado de impor uma ideologia teocrática, apelando também para os mecanismos de controle dos aparelhos de Estados. É assim que diversas denominações ditas Evangélicas, em parceria com segmentos neopentecostais católicos, têm recorrido, por diferentes estratégias, à promoção de iniciativas e eventos, com o claro propósito de proselitismo, seja em redes de televisão, de rádios, de periódicos, seja investindo maciçamente na eleição de candidatos e candidatas a cargos com mandato executivo e legislativo, tanto na esfera municipal, tanto no plano estadual, quanto na esfera federal. Também no âmbito do Judiciário, sua presença se faz notar. Importa, ainda, ter presentes suas investidas nos aparelhos repressivos do Estado.

Tal como a conhecida Teologia da Prosperidade, na qual se fundamentam ricos pastores de várias denominações evangélicas, de modo a induzirem grande número de seus seguidores a manterem e até a aumentarem sua contribuição mensal, dita “Dízimo”, sob a promessa de que Deus multiplicará seus bens e abençoará suas vidas, vem ganhando força a chamada “Teologia do Domínio”, cujos traços principais cuidamos de destacar.

Cumpre, antes de tudo, assinalar a relação  orgânica entre  a Teologia do Domínio e o movimento mundial da extrema Direita, em suas estratégias de submeter a sociedade civil ao cerrado controle ideológico dos princípios e valores totalitários que a  caracterizam. O controle ideológico constitui um pilar decisivo de suas diversas estratégias de controle total da vida social, econômica, política, cultural, subjetiva, ética, estética e espiritual.

Cada uma dessas dimensões se mostra como alvo direto ou indireto de seu projeto totalitário. Recorrendo a um exemplo ilustrativo deste projeto, podemos mencionar a recente fala feita pela ex-Primeira Dama do Brasil, quando do recente Ato público, realizado na Avenida Paulista em São Paulo, a pretexto de esclarecimentos e em defesa do ex-Presidente do Brasil. Tal Ato, em sua abertura, remetia ou lembrava, antes, a realização de um culto, cujo rito se mostrou caracterizado por forte traços da Teologia do Domínio, à medida que a ex-Primeira Dama, usando e abusando de textos Bíblicos do Antigo Testamento, em uma interpretação fundamentalista, conclamava seus ouvintes a uma batalha em defesa do Bem e contra o Mal, em que o Mal corresponde a todos aqueles que não concordam com os propagadores da Teologia do Domínio, tornando-se, por isto mesmo, perigoso inimigo a ser combatido e exterminado.

Outro traço da Teologia do Domínio é o abuso de uma hermenêutica supremacista do Antigo Testamento, com o propósito de lastrear suas teses de submissão da humanidade a dogmas supremacistas veterotestamentários, aos quais tenta submeter, inclusive, os ensinamentos do Novo Testamento e do próprio Evangelho. Trata-se da substituição do Deus-Amor pelo Deus dos exércitos, sempre pronto a combater e a exterminar todos os que não lhe prestam obediência. Ou seja, a Teologia do Domínio, em sua insensatez, persegue todos os diferentes como inimigos, sob a alegação de estarem contra Deus, o seu Deus.

O apelo abusivo ao nome de Deus só agrava o teor de uma ameaça de desfiguração da condição humana, à medida que vivencia e tenta legitimar, como se os valores fossem da condição humana, traços mais perversos da mesma condição humana, situação que se pode observar por suas posturas e atitudes não raro desumanizantes, ecocidas, misóginas, androcêntricas, racistas, xenofóbicas, aporofóbicas, islamofóbicas, homofóbicas, transfobicas, entre outras.

Seguir estudando criticamente como se estrutura e organiza a Teologia do Domínio e suas manifestações no atual cenário internacional e nacional constitui relevante tarefa, como meio de combatê-las em suas raízes. Para tanto, convém (re)visitar alguns estudos que nos fornecem elementos históricos do aparecimento e evolução deste fenômeno. Nesse sentido vale a pena (re)ler, por exemplo, um estudo feito por Delcio Monteiro de Lima em seu livro “Os Demônios descem do Norte” (Editora Francisco Alves, 1987), bem como – agora, já sobre o tema específico – o livro “Heaven on earth?: the social & political agendas of dominion theology” (1992).

No que toca especificamente ao caso brasileiro cumpre lembrar o empenho investigativo de João César de Castro Rocha e outros, a exemplo de Andrea Dip, em seu livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Editora Civilização Brasileira, 2018). Neste sentido, recomendamos acompanhar mais de perto seus escritos e entrevistas, a exemplo da concedida por João César de Castro Rocha no podcast Pauta Pública.

Nesta entrevista, podemos ler: “Em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal sobre as suspeitas de um plano de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro. Para o historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, no futuro os historiadores verão essa manifestação como um momento sintomático de algo que há muito tempo se articula nos bastidores: pela primeira vez, tornou-se explícito o projeto da teologia do domínio. No episódio 109 do podcast Pauta Pública, o professor explica as dimensões religiosas da manifestação bolsonarista. Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos e, recentemente, adotada no Brasil. Ela é a base da doutrina de várias igrejas, como a da Lagoinha, diz o professor.” (https://apublica.org/2024/03/teologia-do-dominio-e-mais-perigosa-para-democracia-que-bolsonarismo-diz-historiador/)

Um final sintomático desta investida teocrática, podemos perceber na votação prevista para esta semana, de um Projeto de Lei propondo a isenção de impostos para igrejas, a despeito de o Estado se declarar laico.

João Pessoa, 19 de março de 2024.

 

* Texto ditado pelo autor, e digitado por Elizabete Santos Pontes, Gabriel Luar Calado Bandeira e Heloíse Calado Bandeira, a quem o autor expressa sua gratidão.

Imagem: Sociovlog, Youtube, 18/10/2020

‘A sabedoria do Papa Francisco’

Por Tony Neves

‘A sabedoria do Papa Francisco’ é o título de um livro, ou melhor, de uma compilação de frases inspiradoras que foram proferidas ou escritas pelo Papa Francisco, que foi eleito a 13 e entronizado a 19 de março de 2013. É uma edição bilíngue, o que constitui uma novidade editorial.

Andrea Assaf é uma jornalista especializada em assuntos vaticanos, com obra publicada em diversos órgãos de comunicação. Divide os seus dias e o seu trabalho jornalístico entre os Estados Unidos e a Itália. Acompanha os Papas desde João Paulo II, tendo grande conhecimento e experiência acumulada por algumas décadas de trabalho jornalístico especializado. Explica: ‘Há algum tempo que desejava que existisse uma obra com uma seleção de citações inspiradoras do Papa Francisco que pudesse trazer consigo nos transportes, durante o dia de trabalho ou em momentos de lazer’. Aí está.

Os textos escolhidos são apresentados sob o chapéu de grandes temas: ‘Esperança e Alegria’, ‘Fé e Oração’, ‘Igreja e Evangelização’, ‘Amor e Verdade’, ‘A Viagem da Vida’, ‘Família’, ‘Construir um Mundo Melhor’, ‘Escutar Deus’, ‘Humildade e idolatria’, ‘Perdão e Graça’, ‘Dignidade Humana, Sofrimento e Solidariedade’, ‘As Lições da Cruz’.

Ressalto algumas das frases que mais marcaram a minha leitura: ‘proteger a criação, proteger cada homem e cada mulher, cuidar deles com ternura e amor é abrir um horizonte de esperança. É deixar um raio de luz irromper por entre as nuvens negras; é trazer o calor da esperança’ (p.17). ‘Ter fé não significa não ter dificuldades, mas ter força para as enfrentar sabendo que não estamos sós’ (p.33). ‘Que a Igreja seja lugar da misericórdia e esperança em Deus, onde todos se sintam acolhidos, amados, perdoados e encorajados. A Igreja deve ter as portas abertas para que todos possam entrar. E nós temos de sair por essas portas e proclamar o Evangelho’ (p.51).

‘Prefiro uma Igreja magoada, dorida e suja porque andou pelas ruas do que uma Igreja doente porque está confinada e agarrada à sua própria segurança. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro de tudo e que acaba presa num emaranhado de obsessões e formalidades’ (p.56). ‘Um evangelizador nunca deve parecer alguém que acabou de vir de um funeral’ (p.67).

‘É isto que vos peço: sede pastores com ‘cheiro a ovelha’, fazei disso uma realidade, como pastores no meio do vosso rebanho, como pescadores de homens’ (p.70).

‘Não consigo imaginar um cristão que não sabe sorrir. Sejamos testemunhos alegres da nossa fé’ (p.86). ‘Não somos cristãos em part-time, apenas em certos momentos, em certas circunstâncias, em certas decisões; ninguém pode ser cristão desta forma – somos cristãos a tempo inteiro! Totalmente! (p.96).

‘Quero repetir estas três palavras: por favor, obrigado, desculpa. Três palavras essenciais!’. (p.125). ‘Podemos fazer muito pelo bem dos mais pobres, dos fracos e dos que sofrem, para promover a justiça e a reconciliação, para construir a paz’ (p.154).

‘A guerra arruína tudo, até os laços entre irmãos. A guerra é irracional, o seu único plano é espalhar a destruição: ela procura crescer destruindo’ (p.158).

‘Sempre que encontramos outra pessoa apaixonada aprendemos alguma coisa nova sobre Deus’ (p.167). ‘O Senhor está a bater à porta dos nossos corações. Será que penduramos um letreiro na porta a dizer ‘não incomodar’?’ (p.170).

‘Se alguém tiver a resposta para todas as questões – essa é a prova de que Deus não está com ele. Significa que ele é um falso profeta que usa a religião para si próprio’ (p.187).

‘Quando uma Bolsa cai 10 pontos em certas cidades, isso constitui uma tragédia. Alguém que morre não é notícia, mas uma quebra de 10 pontos no lucro é uma tragédia! Desta forma, as pessoas são postas de parte como se fossem lixo.’ (p.195).

‘Como o Bom Samaritano, que não tenhamos vergonha de tocar nas feridas dos que sofrem, mas tentemos sará-las com verdadeiros atos de amor’ (p.232).

‘Sede membros ativos! Entrai ao ataque! Jogai pelo campo fora, construí um mundo melhor, um mundo de irmãos e irmãs, um mundo de justiça, de paz, de fraternidade, de solidariedade. Jogai sempre ao ataque!’ (p.237).

A autora termina com um desejo: ‘Que este livro permita que levemos connosco o Papa Francisco nas nossas viagens diárias como confidente, companheiro de jornada e guia’ (p.12).

Fonte. Vatican News

A eficácia político-pedagógica da militância de Breno Altman: Notas acerca de sua exposição anti-sionista, na Paraíba

Na véspera da comemoração do natalício de Gregório Bezerra (13/03/1900-21/10/1983), admirável lutador popular, a quem prestamos nossa homenagem, cuidamos de compartilhar um registro acerca da presença de Breno Altman, na Paraíba, para lançamento do seu livro “Contra o Sionismo: Breve história de uma doutrina colonial e racista”

 

Figura de referência da Esquerda, o Jornalista Breno Altman tem-se notabilizado pela qualidade de suas análises e de suas intervenções orais e escritas, seja no plano internacional, seja no âmbito nacional. Por meio de sua participação diária, tanto em canais alternativos (ora em “Opera Mundi”, ora no canal Brasil 247 e em outras redes digitais), vem se mostrando reconhecidamente e qualificado pelas suas análises e intervenções criteriosas.

 

Apresentando-se como Judel, de espectro anti-sionista, tem-se tornado alvo predileto, sobretudo por conta de sua corajosa oposição e denúncia das atrocidades cometidas pelo Governo sionista de Israel contra o Povo Palestino, de sistemática perseguição pelas forças sionista e ultra-Direita, a exemplo da Conib (Confederação Israelita do Brasil), que lhe tem movido ação judicial por suposta posição anti-semítica.

 

Ao invés de limitar-se a mera defesa, no plano judicial, Breno Altman não tem cessado de responder, ativa e altivamente, a tal perseguição, seja por meio de entrevistas, seja pela publicação de seu recentíssimo livro “Contra o Sionismo” (Alameda Editorial, 2023), seja ainda pela fecunda iniciativa de debater a questão sionista, desde suas raízes histótica e sua evolução desssastrada, percorrendo as 27 unidades federativas do Brasil, inclusive a Paraíba. As linhas que seguem, se circunscrevem a fornecer uma breve notícia de sua recente passagem pela Paraíba.

 

Com o apoio e solidariedade de múltiplas entidades da sociedade civil (Entidades Sindicais, de Movimentos Populares, de correntes partidárias e estudantis), Breno Altman esteve também na Paraíba, no início da semana passada, tendo cumprido 6 compromissos, sendo 3 em Campina Grande (no meio sindical, com os estudantes e na UFCG) e 3 em João Pessoa (no Sindicato dos Correios, na Assembleia Legislativa e na UFPB).

 

Aqui nos limitamos a destacar aspectos axiais de sua exposição feita, na UFPB, no dia 05/03 próximo passado, encontrando o auditório 411, do CCHLA completamente lotado, especialmente por jovens. Tendo-lhe sido passada a palavra, Breno Altman, após a saudação inicial, começou por apresentar as razões de sua presença: esclarecer sobre a relevância do tema, que hoje desponta como a questão mais urgente para o mundo e a necessidade de aprofundamento dessa questão, para um enfrentamento exitoso.

 

Em seguida cuidou de enfrentar, em perspectiva histórica, os fundamentos e a evolução do Sionismo. As atrocidades, ainda em curso, cometidas pelo Sionismo contra os Palestinos, não datam de 07/10/2023, em consequência da violenta insurgência do Hamas, mas constituem prática corriqueira, há pelo menos 75 anos, ou ainda mais precisamente desde o final do século XIX, quando o Congresso sionista inspirado nas teses de Theodor Herzl (1860-1904), realizado em Basileia (Suíça). Cometendo uma fraude de interpretação histórica, assumida pelo congresso, segundo a qual, diferentemente da interpretação vigente durante séculos, de que somente a partir da chegada do Messias, o Povo Judeu cuidaria de retornar ás suas origens geográficas, Herzl contra propunha a tese de que se deveria começar já os preparativos para a chegada do Messias, promovendo desde ja o retorno dos judeus ás suas origens geográficas, disperssados que haviam sido pelo mundo, principalmente na Europa após as antigas diásporas.

 

Desde então, seguiram-se, sobretudo no período pós-Primeira Guerra (1914-1918), sucessivas e crescentes investidas dos sionistas contra a terra e a gente Palestinas. Contando com o poderoso financiamento de tropas bem armadas a invadirem aldeias, a expulsarem os palestinos de sua terra, as centenas de milhares, com o apoio do Reino Unido, dos Estados Unidos, da França e de outras potências europeias, os Sionistas foram apropriando-se a força de grande parte das terras palestinas, ao tempo em que promoviam o retorno de euro-judeus a estas terras, para ocupá-las e civilizá-las ao arrepio dos direitos mais elementares do povo palestino.

 

Após a segunda guerra mundial, em virtude de grande comoção suscitada pelo holocausto (do qual foram vítimas 6 milhões de judeus), a recém-fundada ONU acabou consentindo uma partilha de territórios  profundamente injusta para com os Palestinos, na qual estes que antes ocupavam a enorme parte do território, tiveram que perder suas propriedades para os novos colonizadores. Pacto evidentemente a que se opuseram os palestinos, com a solidariedade dos povos Árabes.

 

Desde então, há mais de 7 décadas, sucedem violentos conflitos, opondo, de um lado, os colonos invasores (os sionistas) e, por outro lado, a resistência árabo-palestina, dos quais os mais atrozes ocorreram em 1967, quando da chamada “Guerra dos Sete Dias “, o de 1973 e o atual genocídio, que ja dura 5 meses, perpretado pelo Gorverno de Israel contra os Palestinos na Faixa de Gaza.

 

Em sua exposição, Breno Altman destaca que tal genocídio não teria lugar, sem a cumplicidade dos Estados Unidos, da Grã-Betânia e das potências imperialistas do Ocidente, que lhe fornecem pesados armarmentos, combustível e apoio logístico. Breno Altman, ao final de sua fala, fez questão de reconhecer a relevância da corajosa denúncia feita pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva das atrocidades cometidas pelo Governo de Israel contra o Povo Palestino, parte expressiva do qual formada por vítimas inocentes, principalmentes crianças e mulheres.

 

Pelo exposto, podemos observar, não apenas a qualidade da fala do expositor, como também a eficácia de sua militância política, inspirando-nos a seguir adiante, em uma resistência proativa, especialmente no tocante às nossas organizações de base solidariedade ao Povo Palestino.

 

João Pessoa, 12 de Março de 2024

Imagem: Editora Alameda / Divulgação Lançamento do livro de Breno Altman – Opera Mundi Redação Opera Mundi, 12 de dezembro de 2023