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Aprendendo com a emergência climática na terra e na gente Gaúchas

Tal como vem sucedendo em diversas partes do mundo e no Brasil, eventos climáticos extremos vêm constituindo o novo normal, nas últimas décadas. No caso do Brasil, lembramos o que tem acontecido ora no Rio, ora em São Paulo, ora na Bahia – só para mencionar esses três casos – , deve merecer crescente atenção, de nossa parte. Mesmo no Rio Grande do Sul, o mais recente evento climático, embora bem mais grave, foi precedido de mais dois, em apenas um ano. Nas linhas que seguem, limitamo-nos a tecer algumas considerações, a título de aprendizados, somente sobre o mais recente destes eventos, ao longo das últimas três semanas. Rememoramos, de passagem, não apenas os efeitos devastadores da emergência climática, que se abatem sobre a terra e a gente do Rio Grande do Sul, mas também sua extraordinária resiliência e a densa solidariedade testemunhada por seus habitantes – com a admirável solidariedade de pessoas e grupos de outras regiões -, inclusive em relação aos demais animais, vítimas dessa tragédia. Assinalamos, não menos, alguns aprendizados que podemos extrair desta tragédia.

Este evento climático extremo tem resultado especialmente impactante por seu alcance deletério, de modo a atingir quase toda a extensão territorial do Estado, a ponto de vitimar populações inteiras, plantações, destruindo casas, edifícios, matando ou vitimando animais, destruindo equipamentos públicos, instalações elétricas, afundando centenas de automóveis, em breve, apresentando-se como um cenário apocalíptico. Os principais rios e vales da região foram profundamente alcançados pelo volume e violência das águas.

Por outro lado, as mesmas imagens televisivas ou relatadas pelas emissoras radiofônicas também mostravam o testemunho de resiliência e de bravura com que a população enfrentava os desafios. Como não nos comovemos diante de cenas de profunda solidariedade, tanto entre as próprias vítimas, quanto os gestos apresentados por diferentes grupos e pessoas de outras regiões! Impressionantes, ainda, tantas cenas de resgate de pessoas e animais… Como não nos sentirmos profundamente tocados por cenas como a de uma família quilombola, de 15 pessoas, sobrevivendo, a duras penas, a esta catástrofe, em que, mais uma vez, são os mais pobres as vítimas mais numerosas e mais vulneráveis…

Diante de tanta devastação, impacta-nos fortemente, a insensibilidade reinante entre as principais autoridades (governador, prefeitos, além do Legislativo…), que parecem anestesiados quanto à sua parcela de responsabilidade na produção desses eventos que, longe de serem puramente “naturais”, resultam em grande parte, como produto de políticas criminosas, a exemplo do que se observa em tantos entes federados, cujos gestores seguem insensíveis no que diz respeito ao zelo socioambiental.

Com efeito, dentre tantos exemplos ilustrativos desta irresponsabilidade socioambiental, basta-nos citar o sistemático desprezo e desrespeito pela observância das leis ambientais, que vêm sofrendo um crescente desmonte. Ao negacionismo, soma-se a avidez de lucro fácil por parte do agronegócio em conluio com a maioria dos legisladores e do executivo, nas diversas esferas de poder.

Neste sentido, importa avaliar seguidos retrocessos que os setores dominantes, em aliança com a maioria do Congresso e de outros aparelhos de Estado, vêm impondo, no que tange às políticas socioambientais. Fato que, sobretudo nos últimos dez anos, vem se agravando, seja pelo constante boicote ou desmantelamento dos órgãos de controle socioambiental, seja pela fúria negacionista dos setores dominantes – especialmente durante o desgoverno Bolsonaro – , seja pelo desmonte sistemático da legislação vigente. Retrocessos que se acumulam, também no Rio Grande do Sul, cujos resultados estamos a colher.

Nem o fato de o Brasil se colocar como uma das referências internacionais, na luta pela transição energética tem assegurado este compromisso, sobretudo por conta do poderio tenebroso largamente exercido pelos setores mais representativos das grandes corporações transnacionais e nacionais do grande capital. Eis por que não vislumbramos uma saída desejável, enquanto nossas organizações de base, especialmente os movimentos sociais populares, não decidirem entrar em campo para valer, animando a sociedade civil a exercer seu verdadeiro protagonismo. Isto só se faz, por meio da retomada do Trabalho de Base, de modo a articular permanentemente seus processos organizativos, formativos e de lutas.

João Pessoa 21 de Maio de 2024

Imagem: Abilio Varjão, Arka Online / As causas e consequências da tragédia no Rio Grande do Sul em 2024, 18/5/2025

Saudade das pedras de Teixeira

Um lampejo ilumina o meu pensar
E encontro no meio dos achados
Minha infância lá no Sítio Machados
No terreiro debaixo do luar
Afinada, uma orquestra a coaxar
Ali perto, no tanque do oitão
Era tempo de chuvas no Sertão
Que o meu pai o chamava de divino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão
Ainda ouço soar no vão do tempo
Zé Mosquito e orquestra ensaiando
Era o sopro da arte eternizando
Partituras... milhares num momento
Lembro bem de Ambrósio com talento
A tirar do seu sax uma canção
Ao meu lado a menina com emoção
Solfejava baixinho no meu tino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

Do passado tem vezes que sou presa
E me pego absorto, revivendo
Como se bem ali tivesse vendo
Minha vida passando com clareza
A lembrança sentada numa mesa
Com Djalma e Solon ao violão
Mais a voz de Mimosa na canção
Dando provas de seu gogó divino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

No horizonte o ocaso enrubescido
Vendo o sol sonolento se esconder
Na Igreja um anjo a bendizer
Uma ave-maria enternecido
A moçada guiada por Cupido
Para a praça acorria em profusão
E no clube de Eli e João Mamão
A vitrola a tocar Gesùbambino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

Nas paragens vernáculas de Teixeira
Donde vê-se a montanha potentosa
A minh'alma se queda, assim, saudosa
Quando o meu coração abre a porteira
As lembranças vestidas de poeira
Se sacodem na noite de São João
A quadrilha marcada no salão
Pelo nobre Ananias de Seu Nino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

Uma pedra no meio do caminho
Onde um galo acordava o novo dia
Explodiram naquela manhã fria
O progresso a teria como espinho
Ao rumar por ali para Brejinho
Vão da noite, umbral da escuridão
Vejo alguém tateando pelo chão
Cada seixo daquele desatino
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

Quando avisto essas plásticas paisagens
Com os seus elementos naturais
Penso às vezes que as pedras são bem mais
Do que seres sem vida, sem linhagens
Na verdade, elas usam de linguagens
Que só louco ou poeta entenderão
Ah, que falta de estar com Domingão
A falar do escudo cristalino!
A saudade parou no meu destino
E o futuro ficou na ilusão

Martim Assueros, abril/2024
(no mote de Adeildo Nunes)

Querida Amazônia e Povos: belezas e clamores!

Querida Amazônia e Povos: belezas e clamores!  Por frei Gilvander Moreira [1]

Avanço da extração de madeira e do impulso peculiar de desmatamento no sul do Amazonas. (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

“Do ventre da Amazônia, clamores por vida!” “Tudo está interligado com se fôssemos um, tudo está interligado nesta Casa Comum…” Atraído pelas belezas e pelos clamores da Amazônia, de 25 a 27 de abril (2024), realizamos em Humaitá, sede da Diocese de Humaitá, na beira do imponente e gigante Rio Madeira, um Encontro de Formação Bíblica e Ecologia Integral com Comunidades Tradicionais Ribeirinhas da região do Beiradão.

Ao chegar ao aeroporto de Porto Velho, por volta de 1 hora da madrugada, na noite de 24 para 25 de abril de 2024, ao descer a escada do avião, comecei a ver dezenas de policiais federais, com uniforme preto e todos com armas na mão. Um furgão do Sistema Penitenciário Federal e muitas viaturas da PF. Na saída do aeroporto também há muitas viagens policiais. Sinal de que alguma grande violência estaria sendo presa ali. “Estão pegando peixe grande”, comentaram vários passageiros.

Pela BR 319, de Porto Velho a Manaus, após 206 Km – único trecho da BR que já está asfaltado -, com um percurso de quase 3 horas de viagem, se chega à cidade de Humaitá. Este município sul-amazonense está situado estrategicamente entre as rodovias BR-319 (Manaus-Porto Velho) e a BR-230 (Transamazônica) e às margens do rio Madeira. A monocultura da soja, assim como muito gado e sedes de fazendas com muitos currais podem ser observadas entre o trecho Porto Velho e Humaitá. Além do tráfego de carretas transportadas de grãos e grandes toras de madeira da querida Amazônia. Dom Moacyr Grechi dizia: “A Amazônia tem sido um grande quintal do Brasil e do mundo”.

No início do Encontro, na apresentação, já aparecia a identidade ancestral das Comunidades Tradicionais Ribeirinhas: “ Somos ribeirinhos beiradeiros, agricultores, pes cadores, extrativistas, porque vivemos nos lagos, igarapés e paranás do Beiradão no Rio Madeira e convivemos com a Floresta Amazônica desde tempos ancestrais ”. “ Somos Povos e Comunidades Tradicionais, guardiães da Floresta Amazônica .” “ Nossa principal aliada é a igreja em saída que não fica escondida, mas nos ouve, conhece as belezas de nossa cultura tradicional ribeirinha de beiradeiros e se faz solidária com a luta pelos nossos direitos .” Estão no novo arco do desmatamento da Amazônia. Após devastarem brutalmente os estados de Mato Grosso e Rondônia, agora estão invadindo os territórios no sul do estado do Amazonas. “No sul e sudeste do Brasil tem gente ganhando muito dinheiro com o que produzimos e colhemos aqui na Floresta: açaí, castanha, óleos…, mas nós os pequenos que moramos aqui, ganhamos e protegemos a floresta continuamos empobrecidos, sem apoio do Estado brasileiro”. O sul amazonense faz parte da região da AMACRO, um plano de desenvolvimento que junta as fronteiras dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, renomeado de Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, onde em 2022 obtiveram 7.055 alertas de incêndios e 231.955 hectares desmatados, somando 11,3% da área desmatada no Brasil.

Durante o Encontro, as ribeirinhas e os ribeirinhos questionaram a política do governo federal de repressão aos garimpeiros sem políticas públicas prévias que garantiram o sustento das famílias garimpeiras e denunciaram com veemência a devastação brutal que as grandes barragens de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira , causaram e seguintes causando. Disseram: “Em 2014, após inaugurarem as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Porto Velho, em duas grandes barragens no Rio Madeira, tem acontecido com frequência mortalidade de peixes, pois as águas estão sempre poluídas. Não podemos mais plantar nas vazantes, pois não sabemos quando liberar grande quantidade de água. Já perdemos muitas colheitas com liberação de água que causam enchentes inesperadas. Pescar e caçar é cada vez mais difícil. Os dias estão quentes demais. Temos que ficar debaixo das árvores. Muito difícil trabalhar das 9 às 16 horas da tarde por causa do calor excessivo. A água do rio Madeira está preta e adoecendo peixes, animais e nós ribeirinhos.”

O Estado e os grandes empresários, com seus grandes projetos de desenvolvimento têm provocado muitas transformações socioculturais, econômicas e territoriais para todas as comunidades tradicionais ribeirinhas do Rio Madeira em seus mais de 1.000 Km, pois afetam de forma permanente o meio ambiente do ecossistema aquático e o meio ambiente modo de vida dos Povos e Comunidades dos Ribeirinhos.

Até 1980 as famílias ribeirinhas viviam sem garimpo, com a intensidade que está atualmente, mas sem o apoio dos governos e com a chegada de nordestinos que viram no garimpo uma oportunidade de ganhar dinheiro, grande parte dos ribeirinhos aprenderam a trabalhar com garimpo como um meio de sustentar uma família. No garimpo existem os pequenos garimpeiros, os médios e os grandes. “Nós pequenos compramos balsas pequenas, geralmente cobertas de palha e lona, ​​sem condições de pagar à vista, pagamos em muitas prestações. Com o garimpo ganhamos para sobreviver, mas quando vem o Governo Federal, com o IBAMA e a Polícia Federal e explodem as balsas com bombas causando para nós um grande prejuízo. Perdemos nosso meio de sustento, ficamos individualizados e pior, com os incêndios das balsas são toneladas de gás carbônico jogos no ar e nas águas do Rio Madeira são jogados mercúrio, óleo diesel, gasolina e lixo. Tudo isso causa mortalidade de peixes e arruína nossa vida.”

Por isso, é injusto querer resolver o problema do garimpo só com política de repressão. Antes da repressão, é necessário que o Estado público brasileiro busque apresentar políticas que garantam vida digna para os milhares de ribeirinhos que são os verdadeiros guardiões da Floresta Amazônica. “Precisamos de financiamento para plantarmos e colhermos. Grande parte da produção da Floresta se perde, porque não temos meios de transporte para instalar e levar para vender na cidade.” “Por que o Governo não nos paga pelo trabalho de preservação da floresta?” “Se implementassem políticas públicas para os ribeirinhos, tais como pagar pelo trabalho de proteção da floresta, saneamento básico, acesso à educação pública de qualidade, ao sistema de saúde público, ao transporte…, os jovens não optariam por trabalhar no garimpo, pois “quebra-galho”, mas chega às águas e acaba com o nosso futuro.”

Por que o Governo Federal não reprime de forma exemplar os madeireiros, os desmatadores da floresta e os grileiros? Estes são os grandes inimigos dos povos e da Amazônia.

“Ribeirinho beiradeiro não polui as águas e nem desmata. Cuidamos da floresta, que é nossa mãe. Nós não somos bois para comer capim”. 

Os ribeirinhos estão cientes das pesquisas da Universidade Federal do Amazonas que comprovaram que os níveis de metais pesados ​​nas águas dos rios da Amazônia – mercúrio, arsênio, cádmio, cobre, estanho, chumbo, mercúrio… – estão muito acima dos níveis toleráveis ​​pelo corpo humano. “Não queremos insistir com garimpo, mas exigimos políticas públicas que nos garantam viver com dignidade”, é o que os ribeirinhos beiradeiros reivindicam dos governos federal, estadual e municipal.

A floresta não é um quintal, é a casa das Comunidades e dos Povos Ribeirinhos, é casa e lar das irmãs árvores, dos irmãos pássaros e uma abundância de seres vivos que têm o direito de viver. A natureza tem direitos. Os rios não são apenas para servir a nós, os humanos, e para matar a sede dos animais. O rio é a casa dos peixes. Os rios são as nossas estradas. Os peixes são nossos alimentos e precisam procriar, viver, ser cuidados. “Na floresta podemos “garimpar” sem ter que usar mercúrio em safras infinitas, preservando a floresta. Nós podemos viver sem ouro, mas sem a floresta não podemos continuar vivendo.” A Amazônia é jardim, farmácia, liberdade, Rins, coração do mundo.

Terminamos o Encontro de Ribeirinhos beiradeiros com a certeza de que os ribeirinhos têm muitos direitos, que estão sendo violados pelo Estado, por madeireiros, por grileiros e invasores de terras. Afirmamos que a terra é de quem nela mora e trabalha, de quem está na posse. Com Deus, invocado sob tantos nomes, e com as vitórias da mãe de Jesus, seguindo defendendo o modo ancestral de viver dos Ribeirinhos/as, que cuidam da nossa querida Amazônia.

30/04/2024

Obs .: A videorreportagem no link, abaixo, versa sobre o assunto tratado, acima.

Barragens do Rio Madeira devastam a vida dos Povos e da Floresta. E os Madeireiros? Ouça os Ribeirinhos!

 

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. Autor de livros e artigos. E “cineasta amador” (videotuber) com mais de 6.000 vídeos de luta por direitos no youtube, canal “Frei Gilvander luta pela terra e por direitos”. E-mail:  gilvanderlm@gmail.com  –  www.gilvander.org.br  –  www.freigilvander.blogspot.com.br       –        www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

O germe colonialista de Igrejas Cristãs volta a atacar…

Em meados dos anos 90 do século passado, realizou-se, no Seminário Arquidiocesano, em João Pessoa-PB, um Encontro avaliativo e prospectivo, organizado pelos Padres Italianos “Fidei donum”, no Nordeste, para o qual foi também convidado o Pe. José Comblin, a fazer uma reflexão crítica sobre o evento. Antes dele intervieram duas pessoas convidadas, após o que Comblin foi instado a fazer sua reflexão. Seu primeiro gesto foi o de apagar o que estava anotado na lousa, justificando que, até ali se havia tratado no âmbito do consciente, e ele passaria a tratar do inconsciente.

Tratou, então, de questionar o que motivava os missionários europeus – sendo ele também um missionário europeu – a fazerem seu trabalho no Brasil, como se duvidasse de que o único propósito fosse apenas evangelizar. De forma direta ou indireta, sem deixar de reconhecer o legado evangélico do trabalho dos missionários europeus, ele passava  também a questionar a existência de certa pretensão colonialista, de quem vinha mais para ensinar do que para aprender com os pobres do Brasil. Supérfluo dizer de certo mal-estar produzido no ambiente, a tal ponto que o palestrante não compareceria ao encontro, na parte da tarde.

Aqui tomo a rememoração deste episódio, do qual fui testemunha, como um dos convidados, como ilustração pedagógica para uma reflexão crítica acerca do risco de reprodução ideológica, de caráter colonialista, em que podem incorrer, de um lado, missionários e missionárias não nascidos no Brasil, em sua atividade de evangelização dos pobres, na América Latina e em outros continentes, e, de outra parte, o público-alvo destas atividades, aos se portarem como meros receptáculos (portanto, passivos) da mensagem recebida. Nas linhas que seguem, tratamos de problematizar tais riscos, recorrendo à rememoração de traços históricos da ação missionária ocidental feita na América Latina e no Brasil. Em seguida, cuidamos de compartilhar alguns questionamentos que podem ser úteis, no enfrentamento permanente destes riscos.

Este episódio me vem à memória, como uma ocasião propícia para redobrar a vigilância quanto à necessidade de superação cotidiana e processual, em face dos riscos de introjeção do germe colonialista que pode sobreviver, de parte a parte, nas relações entre missionários e missionárias não-nascidos no Brasil e Cristãos e Cristãs aqui nascidos.

Como se deu a ação missionária realizada na América Latina e no Brasil?

Os povos originários, africanos e de outras regiões têm sido, após o século XVI, alvos constantes do processo ocidental de colonização. Na verdade, já três séculos antes, sob a égide dos papas em conluio com os reis, haviam autorizado, por meio de bulas a invasão, a apropriação das terras e das riquezas dos povos africanos, bem como sua escravização. É farta a literatura multidisciplinar que analisa criticamente, sob os mais diferentes aspectos e perspectivas, onde, quando e como isso se deu. Um dos traços axiais do processo colonialista se acha intimamente conectado a suas motivações econômicas –  religiosas – especialmente protagonizadas pela a cristandade.

A empreitada colonial, desde seus inícios, se deu graças à aliança entre o trono e o altar, ou seja, entre as metrópoles europeias e, depois, dos Estados Unidos, e seus respectivos chefes religiosos tanto católicos quanto protestante. Nas grandes viagens de navegação rumo às Américas (então, conhecidas como às “Índias”), estavam presentes a espada e a cruz, simbolizando os instrumentos da conquista das terras e dos povos de além-mar, tornando-se a principal estratégia de “dilatação da fé e do império”. Não é à toa, a este propósito, que o símbolo da cruz vinha afixado nas velas das embarcações ibéricas destinadas à África e à América Latina.

Sem esquecermos tantas outras fontes históricas, aqui recorremos especialmente à densa contribuição oferecida pelo Projeto da CEHILA (Comisión de la Historia de la Iglesia Latino-Americana), coordenado por uma Equipe de historiadores Latino-Americanos entre os quais Enrique Dussel, José Oscar Beozzo, Eduardo Hornet, há quem também recorremos, em seu conhecido “A História do Cristianismo na América Latina e no Caribe” (São Paulo: Paulus, 1994). Na perspectiva histórica protestante, por sua vez, nos inspiramos em autores tais como William Yoo (cf. por exemplo: “What kind of Christianity? A History of Slavery and anti-Black racism in the Presbyterian Church”, Presbyterian Publishing, 2022. – Livro que me empenho em adquirir), José Bittencourt Filho (cf. textos e vídeos, inclusive sua contribuição escrita para o livro “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro: a Conferência do Nordeste 50 Anos Depois (1962-2012)”, Editora Muad X, 2012.).

Seja na tradição missionária católica, seja na empreitada missionária protestante, o germe colonialista/escravista se achava fortemente inoculado. Em ambos os casos, era prática frequente a presença de escravos em conventos e a disposição de chefes religiosos protestantes. Convivia-se, sem escrúpulos, com os valores da escravidão, ainda que flagrantemente contrastando com a mensagem evangélica. A era constantiniana e mesmo o advento da Reforma Protestante, alimentados por valores helenísticos e pela ideologia do Império Romano, serviram de base justificativa para tal abuso. Aí estava agindo eficazmente o germe colonialista, durante séculos, na empresa missionária de igrejas cristãs, na América Latina e no Caribe.

Tanto as incursões missionárias católicas, quanto as protestantes já eram, desde seus países de origem, acometidas do germe colonialista/escravista. Para tanto, no caso da Igreja Católica uma rápida consulta ao teor de Bulas papais, tais como a “Dum diversas”, de 1452, de autoria do Papa Nicolau V;  “Romanus Pontifex” (1455), de autoria do Papa Nicolau V, e à “Inter caetera”, de 1493, de autoria do Papa Alexandre VI, nos enseja a perceber a gravidade desses documentos, ao autorizarem monarcas europeus a invasão violenta e a escravidão de povos Africanos. Importa, ainda, assinalar que tais bulas se associam intimamente ao famigerado “Dictatus Papae”, de meados do século XI, atribuído ao Papa Gregório VII.

No que toca ao legado de Igrejas Protestantes, também podemos observar a presença do germe colonialista/escravista, em suas incursões na América Latina e no Caribe. Mesmo em se tratando de Igrejas Cristãs históricas – Igreja Batista, Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Anglicana, entre outras -, há relatos colhidos de fontes credíveis, que atestam práticas escravistas (trazidas de suas respectivas matrizes, especialmente do Sul dos Estados Unidos), nestas organizações eclesiásticas, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, seja em São Paulo, etc.

Passados 5 séculos, a despeito de seus fluxos e refluxos, eis que, no cenário histórico  atual com o ascenso das forças neofascista em escala mundial podemos constatar sinais de uma pavorosa recidiva, a merecer especial atenção de quantos e quantas seguem empenhados na construção processual de um novo modo de produção e de gestão societal, ecologicamente respeitoso da dignidade de nossa Casa Comum, economicamente justo, socialmente participativo e culturalmente diverso.

Tais registros resultam relevantes, para avaliarmos o que se passa hoje, no cenário brasileiro, com o reavivamento de tendências da ultra Direita, com a qual setores de Igrejas Cristãs, católicas e protestantes se têm mostrado organicamente afinados. Manter firme a vigilância, quanto a este fato, constitui uma tarefa permanente aos grupos e pessoas que se sentem discípulos e discípulas do Movimento de Jesus, até porque, ante o alerta trazido por José Comblin, no episódio acima descrito, ninguém de nós está isento deste risco, pois, como também alerta Paulo, “Quem estiver de pé, cuide para não cair” (I Cor 10,12).

João Pessoa 11 de Abril de 2024.

 

Imagem: A Festa da Boa Morte: manifestação de uma irmandade religiosa baiana oriunda dos tempos coloniais.  Educador Brasil Escola, Rainer Sousa / Uol, s/d

A Extrema-Direita infesta o mundo Pervertendo a humana condição

 

A Extrema-Direita, em todo o mundo 

Ameaça o Planeta e os humanos 

Tênue, o fio que distingue a  Direita e Extrema

Sempre juntas, quando e como lhes convém

 

Enganosa, a alcunha de “Centrão”

Os seus atos só pendem pra Direita

 

O verniz “democrático” das potências

Só ilude quem as chama “Democracia”

 

Emblemáticos os fracassos reiterados

Para a ONU deter o genocídio

 

Os humanos são parte da Mãe-Terra

Pra Direita, ela é só mercadoria

 

Ser humano é chamado a ser mais

Pra Direita, só importa ter mais bens

 

Frente ampla, se serve, é em eleição

Na gestão, a Direita é quem mais ganha

 

Do orçamento, aos ricos o filé

Para os pobres sobram ossos e nada mais

 

Qual moloche, o Mercado exige humanos

Em ofertas, sacrifícios sanguinários

 

Os fascistas se creem supremacistas

A direita defende privilégios

 

Cultivam idolatria, falam de Deus

Mas seu Deus é o dinheiro, deus Mamom

 

Acumulam riqueza em excesso

E de fome e miséria matam milhões

 

Tem horror dos indígenas

A riqueza existente nas suas terras

 

São herdeiros diretos de escravistas

Seu projeto é voltar a escravidão

 

Igualdade de direito entre os gêneros

Prós fascistas mulheres são objeto

 

Não bastassem os covardes bombardeios

Sionistas de fome matam um Povo

 

Genocídio se faz a olhos vistos

Sob o olhar complacente da “grande” mídia

 

O massacre sionista dos palestinos

Nos remete a traços de holocausto

 

Sionismo desafia a própria ONU

“Terroristas” pra mídia é só Hamas…

 

Palestinos massacrados a céu aberto

E Tarcísio e Caiado a quem apoiam?

 

Diminui desemprego, mas o Mercado

Precariza os empregos, extremamente

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória não podemos abrir mão

 

Militares não são proprietários

Do destino da Pátria e da nação

 

A gestão só compete aos civis

Militares já têm própria função

 

Condição de armados, “ipso facto”

Já os leva para fora da Política

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória jamais abramos mão!

 

Das tragédias de golpes sucessivos

Extraiamos lições para superá-los

 

Se a gestão do Estado é dos civis

Dela distem os que lidam com as armas

 

Militares não devem ser um “gueto”

Têm que estar a serviço dos civis

 

Fora a pauta militar bem específica

Que se formem em conjunto com os civis

 

Refundar toda a pública segurança

Com critérios democráticos essenciais

 

Decisões democráticas não se tomam

Sob a mira de tanques e canhões

 

Servidores, não donos de nações

São as Forças Armadas e congêneres

 

Há civis tão somente a governança

Que a política se afasta dos quartéis

 

O Império interveio contra o Golpe

Dissuadiu os generais da intentona

 

As potências não dão ponto sem nó

E se algo oferecem, exigem em dobro

 

Infeliz da Nação, ai do Governo

Que a outro dever a sua sorte

 

Reverencia a João Pedro e companheiros

Lutadores das Ligas Camponesas

 

Homenagem a Gregório Julião,

João Targino e Zézé da Galiléia

 

João Pessoa 31 de Março de 2024


Imagem: Flickr/Creative Commons, 12/11/2018

Chuva sertaneja

A centelha de Deus no oriente
Que precede uma voz grave e ruidosa
É prenúncio da época chuvosa
Que traz vida a cada ser vivente
Faz brotar e vingar cada semente
Embalada nos braços deste chão
Amanhã, a fartura de feijão
Jerimum, milho verde e melancia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

O anum-preto cedinho anunciou
Que a invernada rondava a vizinhança
E fizera com o tempo uma aliança
Para encher cada açude que secou
As cacimbas que outrora se cavou
E os riachos e rios sem vazão
Pois não é que conforme a previsão
Tudo isso de fato ocorreria?
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

O bornal preparado pro plantio
A enxada nas costas do meu pai
Minha mãe, logo atrás, não se abstrai
Das tarefas que em casa preteriu
Logo à frente o roçado lavradio
Ansioso esperando cada grão
Pois à noite foi só sofreguidão
Bebeu água até mais do que devia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Se um dia alguém lhe perguntar
O que mais satisfaz o sertanejo?
Lhe responda assim, sem pestanejo
Sem um único medo de errar
É chegar no roçado e encontrar
A lavoura florada em botão
O açude sangrando em borbotão
E do lado da casa alguma cria
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Quase nada de coco em catolé
No angico a resina muito pouca
Cupim gordo deixando a planta oca
Na colmeia mel pela chaminé
São sinais – que aqui todos dão fé
De que agora os céus se abrirão
E as águas enfim expulsarão
Essa seca que arde o nosso dia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Tudo aqui, de repente, explode em cores
Em aromas, sabores, plena vida
A paisagem agradece enverdecida
Exibindo feliz as suas flores
Passarinhos cantando seus amores
Vejam lá um concriz, corrupião
No jardim que floresce no oitão
Borboletas colorem a folia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Martim Assueros
(no mote de Adeildo Nunes)

Imagem: Chico Sá – El Pais, 25 de fevereiro de 2018

A religião como Projeto de poder político: Notas sobre a expansão no Brasil da Teologia do Domínio

Mergulhados em tempos distópicos e tenebrosos, assistimos, perplexos, à crescente expansão, em escala mundial, da extrema-Direita, movida pela ideologia fascista, centrada em contra-valores tais como a violência, a mentira contumaz, a hipocrisia, todos promovidos, em grande parte, pela mídia hegemônica, especialmente por suas redes digitais. Neste movimento deletério dos princípios elementares que norteiam o processo de humanização, o apelo à religião tem se dado de modo abusivo, especialmente por meio de seus próceres.

Nas últimas décadas, com efeito, temos constatado avanços significativos da onda neofascista, na Europa, na América-Latina e alhures, como manifestação emblemática do desenvolvimento capitalista, em sua fase / face neoliberal, em seu potencial extremamente devastador, seja das condições socioambientais, seja das condições econômicas (com graves consequências no aumento das desigualdades sociais, seja no âmbito político, seja no âmbito cultural).

No caso específico do Brasil, salta aos olhos o recurso abusivo que seus representantes têm feito da Religião como meio privilegiado de impor uma ideologia teocrática, apelando também para os mecanismos de controle dos aparelhos de Estados. É assim que diversas denominações ditas Evangélicas, em parceria com segmentos neopentecostais católicos, têm recorrido, por diferentes estratégias, à promoção de iniciativas e eventos, com o claro propósito de proselitismo, seja em redes de televisão, de rádios, de periódicos, seja investindo maciçamente na eleição de candidatos e candidatas a cargos com mandato executivo e legislativo, tanto na esfera municipal, tanto no plano estadual, quanto na esfera federal. Também no âmbito do Judiciário, sua presença se faz notar. Importa, ainda, ter presentes suas investidas nos aparelhos repressivos do Estado.

Tal como a conhecida Teologia da Prosperidade, na qual se fundamentam ricos pastores de várias denominações evangélicas, de modo a induzirem grande número de seus seguidores a manterem e até a aumentarem sua contribuição mensal, dita “Dízimo”, sob a promessa de que Deus multiplicará seus bens e abençoará suas vidas, vem ganhando força a chamada “Teologia do Domínio”, cujos traços principais cuidamos de destacar.

Cumpre, antes de tudo, assinalar a relação  orgânica entre  a Teologia do Domínio e o movimento mundial da extrema Direita, em suas estratégias de submeter a sociedade civil ao cerrado controle ideológico dos princípios e valores totalitários que a  caracterizam. O controle ideológico constitui um pilar decisivo de suas diversas estratégias de controle total da vida social, econômica, política, cultural, subjetiva, ética, estética e espiritual.

Cada uma dessas dimensões se mostra como alvo direto ou indireto de seu projeto totalitário. Recorrendo a um exemplo ilustrativo deste projeto, podemos mencionar a recente fala feita pela ex-Primeira Dama do Brasil, quando do recente Ato público, realizado na Avenida Paulista em São Paulo, a pretexto de esclarecimentos e em defesa do ex-Presidente do Brasil. Tal Ato, em sua abertura, remetia ou lembrava, antes, a realização de um culto, cujo rito se mostrou caracterizado por forte traços da Teologia do Domínio, à medida que a ex-Primeira Dama, usando e abusando de textos Bíblicos do Antigo Testamento, em uma interpretação fundamentalista, conclamava seus ouvintes a uma batalha em defesa do Bem e contra o Mal, em que o Mal corresponde a todos aqueles que não concordam com os propagadores da Teologia do Domínio, tornando-se, por isto mesmo, perigoso inimigo a ser combatido e exterminado.

Outro traço da Teologia do Domínio é o abuso de uma hermenêutica supremacista do Antigo Testamento, com o propósito de lastrear suas teses de submissão da humanidade a dogmas supremacistas veterotestamentários, aos quais tenta submeter, inclusive, os ensinamentos do Novo Testamento e do próprio Evangelho. Trata-se da substituição do Deus-Amor pelo Deus dos exércitos, sempre pronto a combater e a exterminar todos os que não lhe prestam obediência. Ou seja, a Teologia do Domínio, em sua insensatez, persegue todos os diferentes como inimigos, sob a alegação de estarem contra Deus, o seu Deus.

O apelo abusivo ao nome de Deus só agrava o teor de uma ameaça de desfiguração da condição humana, à medida que vivencia e tenta legitimar, como se os valores fossem da condição humana, traços mais perversos da mesma condição humana, situação que se pode observar por suas posturas e atitudes não raro desumanizantes, ecocidas, misóginas, androcêntricas, racistas, xenofóbicas, aporofóbicas, islamofóbicas, homofóbicas, transfobicas, entre outras.

Seguir estudando criticamente como se estrutura e organiza a Teologia do Domínio e suas manifestações no atual cenário internacional e nacional constitui relevante tarefa, como meio de combatê-las em suas raízes. Para tanto, convém (re)visitar alguns estudos que nos fornecem elementos históricos do aparecimento e evolução deste fenômeno. Nesse sentido vale a pena (re)ler, por exemplo, um estudo feito por Delcio Monteiro de Lima em seu livro “Os Demônios descem do Norte” (Editora Francisco Alves, 1987), bem como – agora, já sobre o tema específico – o livro “Heaven on earth?: the social & political agendas of dominion theology” (1992).

No que toca especificamente ao caso brasileiro cumpre lembrar o empenho investigativo de João César de Castro Rocha e outros, a exemplo de Andrea Dip, em seu livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Editora Civilização Brasileira, 2018). Neste sentido, recomendamos acompanhar mais de perto seus escritos e entrevistas, a exemplo da concedida por João César de Castro Rocha no podcast Pauta Pública.

Nesta entrevista, podemos ler: “Em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal sobre as suspeitas de um plano de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro. Para o historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, no futuro os historiadores verão essa manifestação como um momento sintomático de algo que há muito tempo se articula nos bastidores: pela primeira vez, tornou-se explícito o projeto da teologia do domínio. No episódio 109 do podcast Pauta Pública, o professor explica as dimensões religiosas da manifestação bolsonarista. Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos e, recentemente, adotada no Brasil. Ela é a base da doutrina de várias igrejas, como a da Lagoinha, diz o professor.” (https://apublica.org/2024/03/teologia-do-dominio-e-mais-perigosa-para-democracia-que-bolsonarismo-diz-historiador/)

Um final sintomático desta investida teocrática, podemos perceber na votação prevista para esta semana, de um Projeto de Lei propondo a isenção de impostos para igrejas, a despeito de o Estado se declarar laico.

João Pessoa, 19 de março de 2024.

 

* Texto ditado pelo autor, e digitado por Elizabete Santos Pontes, Gabriel Luar Calado Bandeira e Heloíse Calado Bandeira, a quem o autor expressa sua gratidão.

Imagem: Sociovlog, Youtube, 18/10/2020