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Dimensão política na obra de José Comblin

O grupo Kairós-Nós Também Somos Igreja, promove debates como parte da sua atividade de formação permanente.

Assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=CM5iHW2sZxc

O sacerdote e missionário José Comblin deixou uma herança viva que anima e promove a construção do reino de Deus.

Foto: Padre José Comblin

PT vai recorrer da cassação de vereadora de Santa Catarina que denunciou saudação nazista

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que o partido irá recorrer da cassação da vereadora Maria Tereza Capra após ela ter denunciado saudação nazista de bolsonaristas que protestavam contra o resultado das eleições em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Única parlamentar da legenda na Câmara daquela cidade, ela perdeu o cargo nesta sexta-feira (3), por 10 votos a 1. Para os vereadores que votaram por sua cassação, ela teria espalhado “fake news” ao criticar em suas redes sociais, em novembro passado, gesto dos apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em ato antidemocrático.

“Nossa companheira Maria Tereza Capra, vereadora de São Miguel do Oeste (SC), sofre perseguição política e foi cassada por questionar saudação nazista feita por bolsonaristas. Ameaçada, ela teve que deixar a cidade. PT vai recorrer contra esse absurdo. Todo o nosso apoio, Maria”, declarou Gleisi, por meio de uma rede social.

 

 

 

Saudação nazista em ato na frente de quartel

A manifestação denunciada pela vereadora ocorreu em frente a um quartel do Exército naquela cidade do oeste catarinense em 2 de novembro. Eram os primeiros dias em que bolsonaristas ocupavam esses espaços em várias partes do país mostrando desrespeito pela democracia, negando-se a aceitar a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pedindo intervenção militar para impedir a posse.

“Nas redes sociais e nos grupos fui chamada de lixo. Além da cassação, ainda tinha gente que pedia minha eliminação. Achavam que nunca seriam flagrados. As pessoas que estão me julgando estiveram em um ato e agradaram alguns, mas não a outros”, disse Maria Tereza ao repórter Camilo Mota, da TVT.

O gesto criticado pela parlamentar, que viralizou nas redes sociais, mostra os participantes, todos de camisa amarela da seleção brasileira de futebol, com os braços estendidos à frente. A interpretação da saudação como nazista foi praticamente um consenso. Exceto os manifestantes e seus simpatizantes, que a atribuíram a um momento “místico”.

Segundo a versão dos golpistas de São Miguel do Oeste, eles teriam estendido os braços em direção aos militares e da bandeira do Brasil “para emanar energias positivas”. O Ministério Público de Santa Catarina endossou a versão, no mínimo fantasiosa, que constou da conclusão do inquérito.

“Nazistas merecem punição”, diz Boulos

O deputado federal Guilherme Boulos protestou contra a cassação. “ABSURDO! Quem merece punição são os nazistas, não quem os denuncia! Toda minha solidariedade à vereadora Maria Tereza Capra, que teve seu mandato cassado arbitrariamente por denunciar Bolsonaristas fazendo saudação nazista nos atos golpistas em São Miguel do Oeste/SC”

 

 

 

 

O PT divulgou nota de solidariedade a Maria Tereza, “vítima de um processo ilegal e ilegítimo de cassação de seu mandato popular” e de um “tribunal de arbítrio, movido pelos que patrocinam atos antidemocráticos golpistas e acobertam células neonazistas ativas no município”.

O partido lembra que a apuração dos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) mostrará quem são os criminosos de São Miguel D’Oeste, “suas conexões políticas e empresariais, e que vereadores de fato transgrediram o decoro parlamentar nesses meses de golpismo e conspiração”. “Nazismo é crime! Não ficará impune! Maria Tereza, continue contando conosco em sua luta. Ela será vitoriosa!’

Leia a íntegra da nota do PT

O PT manifesta novamente sua total solidariedade à vereadora Maria Tereza Capra, do PT de São Miguel D’Oeste, vítima de um processo ilegal e ilegítimo de cassação de seu mandato popular consumado ontem pela maioria da Câmara Municipal desse Município.

Para esconder os próprios crimes, a direita de São Miguel D’Oeste, SC, vexame internacional pela militância neonazista, cassa a vereadora petista num festival de cinismo e hipocrisia.

Nesse tribunal de arbítrio, movido pelos que patrocinam atos antidemocráticos golpistas e acobertam células neonazistas ativas no município, a vereadora Maria Tereza Capra defendeu com dignidade e coragem seu mandato e sua trajetória de defesa dos direitos humanos e da luta das mulheres e da classe trabalhadora.

Nesta semana, a companheira Maria Tereza foi incluída no programa de proteção de defensores e defensoras de Direitos Humanos em razão das graves ameaças que ela, familiares e assessoria receberam ao longo dos meses que nos separam daquele ultrajante ato de saudação nazista à bandeira brasileira em frente ao Quartel da guarnição do Exército em São Miguel D’Oeste. Foi recebida em quatro ministérios, por parlamentares e dirigentes partidários. Essa decisão não ficará assim!

A apuração dos inquéritos no STF mostrará quem são os criminosos de São Miguel D’Oeste, suas conexões políticas e empresariais, e que vereadores de fato transgrediram o decoro parlamentar nesses meses de golpismo e conspiração. Nazismo é crime! Não ficará impune! Maria Tereza, continue contando conosco em sua luta. Ela será vitoriosa!

Fonte: Brasil de Fato

(06/02/2023)

Aprendizaje

¿Quién dice que no se aprende con las hijas e hijos?

Yo aprendo, y mucho.

A compartir, a convivir, a aceptar las diferencias

A saber que padre es para siempre

No es un título descartable

Ni una posición condicionada ni condicionante

Es una referencia fija, en medio de todos los cambios

Una de las cosas que también estoy aprendiendo, es a leer lo que mis hijas o hijos leen

A nivel crecer con las novedades

En este sentido, les cuento que leo Todo sobre el amor, de Bell Hooks, que mi hija Natalia me regaló como regalo de Navidad

Me hice quien soy leyendo y sigo leyendo

Leo a mi manera y ya les cuento que esto me anima, me alegra y me airea

No les voy a contar lo que dice esta autora, feminista negra, así la leen también

Sólo les voy a decir que es alguien que escribe con el alma, valorizando el amor como una acción, una práctica (además de un sentimiento), y un movimiento cultural, para el cual son necesarias políticas.

Oportunísimo escuchar esto.

Creía que sabía mucho sobre el amor, pero veo que es bueno que siga aprendiendo. La autora me refuerza en el sentido de saber que los hilos afectivos que componen la familia extensa, así como la comunidad, son de un valor incalculable, a la hora de afianzarnos y enriquecernos como personas.

Sobre todo en estos tiempos en que se planta tanto odio desde las llamadas redes sociales, y tanto anonimato masificador!

Con mi hija Carol leo García Márquez en los intervalos. Con mi hijo Leo me leo en jardines. Y con mi hijo Rodrigo me leo en la lectura cotidiana de la vida.

Participação: um convite à reconstrução do Brasil

Por André Leirner* e Milena Fransceschinelli**

Desde o fim da ditadura militar (1964-1985), o Estado brasileiro estabeleceu políticas para comunidades indígenas, de atenção ao idoso e de reconhecimento e proteção da população LGBTQIA+ envolvendo atores desses próprios grupos em sua formulação. Esses são alguns exemplos indicativos de quanto a transição democrática foi capaz de produzir canais aptos a assegurar a participação, para além dos partidos políticos, de múltiplos atores sociais, na elaboração de políticas públicas1. Tais direitos permitiram a emergência e a constituição de mecanismos de controles democráticos não eleitorais, formas pelas quais cidadãos, direta ou indiretamente, por intermédio de instituições que fazem parte do arcabouço do Estado, incidem no curso de determinada ação de política pública.

Os conselhos e as conferências são exemplos emblemáticos de como a sociedade tem contribuído para o funcionamento democrático do Estado para além do ciclo eleitoral (Mezarobba 2020). O período 2003 – 2016 foi marcado por um crescente de conferências municipais, estaduais e nacionais, chegando aos milhares. Quatro mil pontos de cultura foram implantados no período2. Alguns conselhos estão presentes em 98% dos municípios brasileiros. Até recentemente tínhamos entre 60 e 65 mil conselhos no Brasil: há mais conselheiros da sociedade civil do que vereadores.

Essa maior diversidade e potência de mecanismos de controle social e, no geral, de mecanismos de responsabilização são indicativos da qualidade da democracia. Impulsionado pelo sucesso da implementação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), a ação participa.br realizada pela secretaria de governo do governo federal chegou a contar com 119 comunidades, 102 trilhas de participação, 13,5 mil usuários cadastrados, 400 mil comentários e mais de 6 milhões de acessos (Peixoto 2015), marco inédito na história participativa do país e caso exemplar no cenário da democracia. É desse período ainda o Sistema Nacional de Participação Social, Decreto 8243/2014, marco regulatório do setor, fruto de pressões por ganhos organizacionais e de gestão por parte de movimentos sociais e de setores do Estado, rejeitado na Câmara em 28/10 do mesmo ano3 e revogado em definitivo em 2019.

Apesar desse florescimento democrático, algo inclusive reconhecido no mundo, é necessário admitir que do ponto de vista pragmático esse movimento foi mais institucional do que popular. As representações institucionais conquistadas nesse período careceram, em sua maioria, de uma maior participação dos coletivos que davam sustentação a estas cadeiras, algo que contribuiu com o quadro de fragilidade política e institucional que ensejou a inflexão autoritária que se viu em 2016. Havia uma “forte” participação, mas isso não se refletiu em força política ou em representação legislativa. O impeachment de Dilma Rousseff (2016) é prova disso.

A asfixia de conselhos e a caça aos órgãos de participação social colegiada

Realizado o impeachment, o primeiro ato de Michel Temer na presidência foi a acabar com a Comissão da Verdade, responsável por investigar os abusos cometidos na ditadura. Ato contínuo, atacou-se a base de contato do governo com as comunidades. Primeiro, eliminou-se o Ministério da Cultura, e com ele, do programa de pontos de cultura. Ato contínuo, a base de dados contendo nome, entidade, e-mail, telefone e o mapa de articulação de interesses dos ativistas que participaram do participa.br foram capturados pela ABIN4. Depois, na frente institucional, esvaziou-se o Conselho de Cidades5, o Fórum Nacional de Educação 6 e o conselho da Empresa Brasileira de Comunicação – EBC7. 2019 viu a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA)8 e de dezenas de colegiados não previstos em lei, mas que operavam normalmente9. O Conselho de Meio Ambiente perdeu 18 de suas 22 cadeiras da sociedade civil e dezenas de decretos foram ainda emitidos instituindo mudanças em 52 colegiados de áreas as mais diversas 10 e 55 colegiados ligados à Casa Civil11. Atos ainda alteraram o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas12 e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esses são alguns dos principais atos de desmonte de órgãos colegiados de representação da sociedade civil, uma lista mais completa desses atos encontra-se no fim desse documento[1].

A substituição incremental de canais participativos pelas ouvidorias de governo eletrônico

Concomitantemente ao desmonte de políticas participativas, foi implementado um novo marco legal de governo eletrônico no país. Nesse novo marco, os canais de controle social de políticas públicas passaram a ser regulados a partir de um novo repertório participativo, característico do campo tecnológico, em substituição ao repertório anterior, de cunho histórico-político13. As técnicas recomendadas de escuta social nesse contexto são os “minipúblicos” e o emprego de inteligência artificial para a lida da massa de dados.

Minipúblicos são reuniões qualitativas realizadas com uma amostra estatística da população. Ainda que efetivos, descartam padrões históricos de lutas por direitos e oferecem um expediente circunstancial à participação, haja vista que não mantém qualquer mobilização dos sujeitos participantes, ou comunidades as quais pertencem, após a escuta. A inteligência artificial, por sua vez, relega a programadores e tomadores de decisão, sejam eles públicos ou privados, o critério de análise e avaliação de dados, de modo unilateral. Tipos de participação em que cidadãos são destituídos de espaços regulares e reconhecidos de encontro e representação, locais estabelecidos para o exercício do debate e concertação frente ao dissenso e a divergência. Uma opção participativa que tem como efeito uma democracia superficial, esvaziada de qualquer natureza pedagógica, ausente de oportunidades de construção de consciências autônomas e de sujeitos sociais historicamente reconhecidos.

A emergência da comunicação de massa politicamente orientada e a disputa pela voz popular

O período 2016-2022 é também um período de “crise da democracia” aqui e no mundo (Levitsky e Ziblatt 2019; Landemore 2020). A eleição americana de 2016, o Brexit (2016-2020) e a ascensão de democracias iliberais (Zakaria 1997, 2007) são exemplos desse fenômeno. O Brexit e a eleição americana de 2016, em especial, oferecem aspectos peculiares dessa crise, encontrados também no Brasil a partir de 2017 e 2018.

Nesses episódios, observamos um novo modelo de conexão entre o poder político e apelo popular por uso instrumental de mídias sociais e cultivo de comunidades circunscritas a bolhas de informação. Essas bolhas constituem mundos apartados de um contexto social e institucional mais amplo, fenômeno alcançado pela veiculação reiterada de mensagens de descrédito e ressentimento à organismos de controle, sistemas formais de checagem de fatos (jornais e universidades) e meios institucionalizados de representação política. Medidas que encontram sucesso junto a camadas dotadas de ressentimento social e baixa confiança em instituições, pessoas cuidadosamente colhidas por meio da inteligência analítica de mídias sociais14, que passam a adotar e compartilhar comportamento antipolítico e a viver, por meio das mídias sociais, uma ilusão de proximidade entre seus iguais. Essa perspectiva de anti-poder encontra ressonância com uma perspectiva de ação pública antissistema que os representa. Possuem impressão de que compõem um coletivo dotado de uma força antissistema quando, na realidade, são objeto de manipulação por sofisticados mecanismos de circulação de conteúdo ideológico controlados por grupos políticos específicos.

O caso da Cambridge Analitica, as estratégias de Steve Bannon e do seu site alt-right, são exemplos conhecidos desses procedimentos (Grassegger e Krogerus 2017; Cadwalladr 2018). O caso brasileiro do gabinete do ódio não é exceção15. Esses mecanismos de circulação ideológica (indústria cultural) inicialmente descritos por Adorno e Horkheimer e utilizados durante a ascensão do nazismo (Cook 1996; Adorno e Horkheimer 2002), voltam a baila no século XXI fortalecidos por tecnologias sociais e técnicas de economia do comportamento (Sunstein 2013, 2017), compondo estratégias de manipulação e controle social em larga escala (Bond et al. 2012; Zuboff 2015; Zubbof 2019).

O resultado dessa prática é um cenário de disputa por legitimidade do apelo popular. Processos participativos tradicionais, ainda que excepcionalmente relevantes do ponto político, se mostram tímidos em termos de capilarização social e número de participantes envolvidos quando comparados à processos massivos de circulação de conteúdo ideológico por meio de mídias sociais. Processos participativos e de incidência política comunitária tradicionais ecoam de maneira débil no tecido social comunitário, quando comparados a campanhas de comunicação de massa politicamente orientadas, perdendo relevância. A ausência de pontos de cultura e a presença de cultos pentecostais agravam esse cenário. O movimento escola sem partido é um exemplo desse tipo de estratégia. Uma coalizão formada de maneira rápida, a partir de uma campanha, pôs em cheque o sistema participativo do sistema de educação.

A pandemia de covid-19 (2020) teve ainda papel preponderante nesse quadro uma vez que encontros presenciais se tornaram impraticáveis, o que comprometeu a realização de atividades participativas, quando aconteciam, como previstas em lei. Por sua vez, a participação por meio digital por não ser previsto na legislação, e quando aconteceu, muitas vezes não foi reconhecida legalmente.

De modo específico, observou-se um anacronismo no modo de comunicação política por parte das esquerdas. A falta de traquejo nas redes sociais isolou membros de conselhos de suas comunidades, deixando-as à mercê de forças políticas que se organizaram e que, com uso de mídias sociais, tomaram o debate público e por consequência, a dimensão cotidiana da comunicação nessas comunidades.

Os fatos acima mostram que a participação está inscrita atualmente em um novo contexto. O campo da comunicação política adquire centralidade e o tema da legitimidade do processo participativo passa a ser um campo de disputa. O marco legal mostra-se defasado frente aos desafios atuais do engajamento político-popular e há um vácuo institucional dentro do campo civil no que toca a esse tema. Esses pontos são desenvolvidos de maneira sucinta, a seguir

A centralidade da comunicação política

Como advento das mídias sociais, o modo pelo qual a informação flui entre o governo e a sociedade foi alterado. A comunicação política passa a ser objeto de ação permanente e não restrita aos períodos eleitorais e adquire ainda maior centralidade no processo político. Mídias sociais se tornam redes de advocacybidirecionais e conectam bases diretamente com centros de poder de maneira dinâmica, enfraquecendo a relevância de canais institucionalizados de comunicação. A resposta governamental passa a ser direta, por mídia social, by-passando instâncias representativas e canais institucionais. Advocacy e influência dentro das redes e afinidades pessoais ganham peso e muitas vezes substituem a participação institucionalizada. Por sua vez, métricas das redes sociais passam a expressar a “vontade popular”, disputando legitimidade com processos participativos tradicionais. Não há controle social desse processo, uma vez que esse processo se intitula o “novo controle social”. O território – pontos de cultura, igrejas e locais de encontro e socialização – opera como lócus de reafirmação e correção das diretrizes comportamentais propagandeadas em rede.

No que toca à centralidade dos processos de comunicação política, portanto, o desafio que se apresenta é reinserir a participação social no circuito de circulação de conteúdos ideológicos de maneira relevante e bidirecional – em diálogo permanente com a população. Por sua vez, isso implica em estruturar e constituir uma indústria cultural – coleta, produção, circulação e registros sistemáticos de informações – para fins democráticos, constituindo uma memória do processo de luta por direitos.

Diferentemente da direita, que construiu sua indústria cultural atrelada a cultos evangélicos, academias militares e grupos empresariais, a esquerda não tem conseguido proporcionar espaços para vínculos de pertença como fez no passado com as comunidades eclesiais de base, pontos de cultura, sindicatos e associações.

Nesse contexto, é importante reconhecer a luta pela afirmação de identidades sociais realizada por minorias – mulheres, negros, LGBTQIA+, indígenas, etc. e seu protagonismo na recente articulação e comunicação política e reconhecer sua potência. O desafio reside em ampliar a influência do campo progressista para além do arco ideológico das esquerdas e em desenhar estratégias agregadoras, que operem além da defesa de nichos identitários de interesse e criem novas perspectivas de identificação e pertencimento.

A disputa pela legitimidade participativa

Nesse novo quadro, de comunicação de massa politicamente orientada, a legitimidade participativa passa a ser campo de disputa. De um lado, instrumentos instituídos legalmente, mas com pouca oxigenação popular. Do outro, campanhas de comunicação de massa politicamente orientadas, dotadas de ferramentas tecnológicas de reconhecimento, classificação e mobilização customizada de indivíduos e grupos de interesse, e com grande capacidade de mobilização popular. Não é preciso dizer que a baixa oxigenação popular dos instrumentos constituídos tem levado ao questionamento tanto da legitimidade desses espaços quanto das agendas discutidas nessas arenas participativas16. Temos observado, ainda, grupos de interesse que se contrapunham aos processos participativos institucionalizados criarem movimentos de mobilização política para ocupar os espaços de participação institucionalizada, que ora criticavam17.

Fica claro, portanto, que a conexão com a base popular é hoje elemento estratégico e fundamental para sustentação de agendas em espaços participativos, e a ausência dessa conexão tem colocado em xeque a legitimidade desses espaços. O desafio que se apresenta, nesse quesito, é implementar metodologias e tecnologias sociais que possam superar a anemia participativa e motivar o engajamento político pedagógico popular – cultura plural, viva e participativa, aderente à realidade do cidadão (paradigma freireano). Tal iniciativa já se encontra em implementação dentro do campo conservador18, e de extrema direita, e ainda não se observa uma implementação de maneira sistemática dessa natureza dentro do campo popular democrático.

A fragilidade normativa do controle social

A facilidade com que o campo participativo democrático foi desmontado na história recente do país demonstra a fragilidade normativa da atividade participativa para o controle social no sistema político brasileiro. A ausência de um marco regulador integrado favorece a profusão de atos normativos no setor, e cria um quadro de multiplicação e fragmentação de instâncias participativas e de relacionamento entre cidadão e o Estado. A legislação participativa setorial, de ouvidoria, de acesso a informações, de transparência e de controle social operam em paralelismo e com baixa integração. Resulta desse panorama uma arquitetura verticalizada da contribuição social, cuja gestão apresenta custos elevados – financeiros e de oportunidade – para o Estado e, especialmente, para o cidadão. O que se observa é um cenário participativo complexo e com pouco apelo a oxigenação e a contribuições de camadas mais extensas da população.

Não há, tampouco, um setor estatal responsável pela gestão de dados ou métrica estabelecida para a aferição da qualidade e transparência participativa. Essa lassitude metodológica e procedimental encontra par na baixa capacidade deliberativa dos conselhos. Apesar de suas atribuições regimentais de aprovações de contas e de controle de fundos públicos, operam mais como mecanismos de coalizão para fins políticos do que instâncias de governança propriamente ditas, apesar de estarem atrelados regimentalmente ao Executivo. Contudo, tampouco encontramos relações estabelecidas de contribuição entre conselhos e o legislativo municipal.

Consequentemente testemunha-se, por um lado, heterogeneidade metodológica na coleta de informações e dados cidadãos, métodos participativos em disputa e um panorama de fragmentação na gestão de dados dificultando a elaboração de diagnósticos sociais amplos e integrados. Por outro, lassitude metodológica e procedimental e baixa capacidade de influência e deliberação, seja junto ao Executivo ou ao Legislativo, nas três esferas federativas.

Nesse quadro, o desafio que se impõe é (i) estabelecer, na legislação constitucional brasileira, a garantia de existência dos conselhos populares; (ii) realizar uma consolidação normativa do marco legal para a participação social e a aprovação de um Sistema Nacional de Participação Social19; (iii) instituir e estruturar uma área de governo para essa finalidade, relacionada à área de transparência e gestão de dados, com representação dos conselheiros em postos estratégicos de governança20; (iv) consolidar uma visão metodológica de meios de coleta de informações cidadã, (v) implementar uma métrica e um prêmio nacional de qualidade para o controle social e para a participação, (vi) integrar órgãos de controle – tribunais de contas, controladorias, ministério público e defensorias – nos procedimentos participativos de modo a fortalecer o controle social de políticas publicas, inclusive nas etapas de guarida e gestão de dados; (vii) restabelecer e superar lógicas setoriais de participação e controle social nas políticas públicas – implementação de lógicas “orientada a objeto” (metas multissetoriais compartilhadas) e de base ambiental e territorial21 e (viii) incrementar capacidade deliberativa e de gestão de conselhos, consolidando seu papel contributivo junto ao Legislativo – criando pontes qualificadas entre a produção legislativa e a sociedade, e deliberativo junto a Executivo.

O personalismo e a baixa oxigenação na operação dos processos participativos

É fato que processos participativos tradicionais têm tido baixa oxigenação junto à sociedade civil quando comparados à campanhas de comunicação de massa politicamente orientadas. A seção acima, sobre centralidade da comunicação fala um pouco desse tema. É preciso admitir, contudo, que essa baixa participação não se deve somente à falta de recursos e insumos de comunicação nesses processos, mas também à concentração de poder. É notório que há uma renovação excepcionalmente baixa dos quadros participativos e que inexistem linhas de capacitação continuada para o controle social. Nos conselhos, perdura ainda uma visão personalista de representação, com foco em lideranças históricas que, na ausência de protocolos de uma memória histórica da participação, se tornam testemunho pessoal de um percurso heroico de luta por direitos. Observa-se que tampouco há um regime de governança organizada do setor de participação e controle social. Como consequência, além de baixa oxigenação, observamos uma lacuna de memória institucional desse setor. Os registros existentes são peças normativas, de cunho legal e estudo acadêmicos que pouco apelam ao diálogo com as necessidades cotidianas das populações. Nesse sentido, o desafio que se impõe é criar linhas de formação continuada para a participação e o controle social22, e fortalecer a classe dos conselheiros por meio da constituição de uma rede nacional. Essa medida poderá, inclusive, conferir maior segurança jurídica à atividade participativa.

Esses desafios, uma vez reunidos, formam uma agenda para uma nova participação e controle social no Brasil.

*Milena Fransceschinelli é artista plástica e está presidente de Rede Brasileira de Conselhos (www.rdc.org.br).

**André Leirner é arquiteto e está vice-presidente de Rede Brasileira de Conselhos (www.rdc.org.br).

As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato.


Bibliografia:

Adorno, Theodor W., e Max Horkheimer. 2002. The culture industry. na.

Bond, Robert M. et al. 2012. “A 61-million-person experiment in social influence and political mobilization”. Nature 489(7415): 295–98.

Cadwalladr, Carole. 2018. “I created Steve Bannon’s psychological warfare tool’: Meet the data war whistleblower”. The Guardian 17.

Cook, Deborah. 1996. The culture industry revisited: Theodor W. Adorno on mass culture. Rowman & Littlefield Publishers.

Grassegger, Hannes, e Mikael Krogerus. 2017. “The Data That Turned the World Upside Down”. https://motherboard.vice.com/en_us/article/big-data-cambridge-analytica-brexit-trump.

Landemore, Hélène. 2020. Open democracy: Reinventing popular rule for the twenty-first century. Princeton University Press.

Levitsky, Steven, e Daniel Ziblatt. 2019. How democracies die. Crown.

Mezarobba, Glenda. 2020. “Estudo sobre mecanismos de controles não eleitorais revela caráter inovador da experiência brasileira”. : 3.

Peixoto, Abner Da Costa. 2015. “INSTRUMENTOS DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA”: : 53.

Sunstein, Cass R. 2013. “Nudges. gov: Behavioral economics and regulation”. Forthcoming, Oxford Handbook of Behavioral Economics and the Law (Eyal Zamir and Doron Teichman eds.).

———. 2017. Human agency and behavioral economics: Nudging fast and slow. Springer.

Zakaria, Fareed. 1997. “The rise of illiberal democracy”. Foreign Aff. 76: 22.

———. 2007. The future of freedom: illiberal democracy at home and abroad (Revised Edition). WW Norton & company.

Zubbof, Shoshana. 2019. “The Age of Surveillance Capitalism”. The fight for a human future at the new frontier of power.

Zuboff, Shoshana. 2015. “Big other: surveillance capitalism and the prospects of an information civilization”. Journal of information technology 30(1): 75–89.


Notas:

1 A Constituição Federal de 1988 estabelece o direito ao exercício de poder por parte dos cidadãos, permitindo aos mesmos peticionar junto aos Poderes Públicos a defesa de seus direitos (Art. 5º – XXXIV), obter certidões em repartições públicas (Art. 5º – XXXV), fiscalizar as contas municipais (Art. 31º, § 3º), denunciar irregularidades ou ilegalidades (Art. 74º, § 2º), participar dos conselhos de gestão de saúde (Art. 198º – III), assistência social (Art. 204º – II), e educação (Art. 206º – VI), cooperar por meio de associações no planejamento municipal (Art. 29º – XII), receber informações das autoridades (Art. 5º – XXXIII), promover ações judiciais e representações (Art. 5º – LXXIII). Da mesma forma, o Decreto-lei n.º 201/67 autoriza o cidadão à denúncia do prefeito e a Lei de Responsabilidade Fiscal nº 101 de 2000 (Art. 48º e Art. 49º) assegura à população o acesso à prestação de contas, aos planos e diretrizes orçamentárias e demais instrumentos de transparência vinculados à gestão fiscal.

https://www.revistamuseu.com.br/site/br/noticias/internacionais/6430-03-05-2019-pontos-de-cultura-levam-o-brasil-a-outros-paises.html#:~:text=Previstos%20na%20Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de,4%20mil%20registrados%20no%20Brasil

https://assecor.org.br/2014/10/31/camara-derruba-decreto-da-politica-nacional-de-participacao-social/

https://theintercept.com/2016/12/05/abin-tem-megabanco-de-dados-sobre-movimentos-sociais/

5 decreto 9.076/2017

6 decreto 9.076/2017

7 Portaria Nº 577, de 27 de abril de 2017

8 M.P. 870 de 1/1/ 2019

9 decreto 9.759/2019

10Por exemplo, a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. Data desse período também o desmonte do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, realizado por meio da exoneração de peritos do Mecanismo Nacional e alteração de sua composição de membros participantes (Decreto 6085/2019). Ver https://cjt.ufmg.br/brasil-desgovernado-o-desmonte-da-politica-nacional-de-prevencao-e-combate-a-tortura/

11 decreto 9.784/2019

12 Decreto 9.926/2019

13 Já apresentamos esse histórico em detalhe aqui, em outra publicação. Para mais detalhes ver https://outraspalavras.net/movimentoserebeldias/por-novo-quarto-poder-o-popular/

14 Ver https://www.technologyreview.com/s/601214/how-political-candidates-know-if-youre-neurotic/

15 Ver https://brasil.elpais.com/brasil/2020-08-20/os-lacos-do-cla-bolsonaro-com-steve-bannon.html

16 Muitos casos exemplificam esse percurso, por exemplo, o próprio movimento escola sem partido, que se estabeleceu a revelia dos conselhos de educação municipais, estaduais e federal.

17 A recente disputa pelo conselho municipal de habitação em São Paulo exemplifica isso. De maneira inédita, o conselho teve 50% de suas cadeiras ocupadas por membros de uma chapa de extrema direita estranhos ao processo político tradicional, que possui bases em associações de bairro ou de classe.

18 Ver https://www.politize.com.br/

19 Nesse quesito, importante garantir existência dos Conselhos por força de lei e dotá-los previsão orçamentária permitindo o financiamento de iniciativas de formação e capacitação, comunicação social, participação em seminários, congressos e conferências nacionais e internacionais.

20 Cuidado especial deve ser conferido a esse ponto para que essa instituição não se torne um órgão policialesco, mas sim um espaço de gestão social compartilhada.

21 Ver Sistema Publico De Relacionamento Cidadão Governo Do Estado Do Ceará – Banco Mundial. Critérios de apoio ao desenvolvimento do novo sistema de relacionamento cidadão do governo do Estado (2017) -Relatório II.

22 Instrumentos permanentes e gratuitos de capacitação e formação em cidadania, planejamento governamental, normatização legal, história, organização e funcionamento administrativo e operacional de Conselhos.

Fonte: Brasil de Fato

(25/12/2022)

Elecciones

Las elecciones son momentos de decisión.

Es la hora en que tenemos que decir de qué lado estamos.

No hay neutralidad.

Puntos de vista son la forma como nos situamos en el mundo

No son meramente la manera como vemos las cosas

Es la manera como somos, como estamos, como actuamos

Yo no puedo ver la política desde un punto de vista abstracto, porque esto sería desdecirme, anularme como persona

Sería borrar mi camino, desparecer como persona

Por eso opto, y opto claramente

Opté siempre, desde mi más temprana edad, por el lado del pueblo

El derecho a la vida cuando la dictadura mataba estudiantes y obreros

El derecho a la educación cuando querían que la universidad fuera para una élite

Ahora sigo optando por las posibilidades de vida para el conjunto de la población

No me olvido de dónde vine ni me olvido de quien soy

Comprendo que es necesario mantenernos leales a nuestros principios y valores

Sin esto, somos hojas al viento

Sin noción de quiénes somos, somos mero juguete de quienes dominan la sociedad, la economía y la política

Por eso le doy firme a la poesía y a la literatura

Los libros y el arte

El arte de ser feliz enfrentando las circunstancias adversas

Esa es mi política, esa es mi religión, mi ciudadanía y mi fe

Ese es mi camino, mi verdad y mi vida

Así he ido aprendiendo que las revoluciones se hacen desde adentro y desde abajo

No me omito ni me escondo

Mi lugar está a la luz del día.

Apoyo Lula y Alckmin y el Proyecto de Reconstrucción Social y Nacional de Brasil

“Uma guerra mundial em pedaços”

No dia 29 de junho do corrente ano de 2022 aconteceu a Cúpula de Madrid dos países que compõem a Organização do Tratado  do Atlântico Norte  (Nato) à qual pertence como ator  principal os USA. Aliás a relação entre estes países europeus e os USA é de humilhante subordinação.

Nesta Cúpula se estabeleceu um “Novo Compromisso Estratégico” que de certa forma vai além dos limites europeus e recobre todo mundo. Para reforçar esta estratégia globalista se fizeram presentes também o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia. Ai declarou-se algo extremamente perigoso e provocador de uma eventual terceira guerra mundial. Reafirmou-se  a Rússia como o inimigo direto e a China como inimigo potencial de amanhã. A Nato não se apresenta apenas defensiva, passou a ser ofensiva.

Introduziu-se a perversa categoria do “inimigo” a quem deve-se enfrentar e derrotar. Isso nos  remete ao jurista  nazi-fascista de Hitler Carl Schmitt (1888-1985). Em seu O Conceito do Político (1932, Vozes 1992) diz: “a essência da existência política de um povo é sua capacidade de definir o amigo e o inimigo”(p.76). Definindo o inimigo,combatê-lo,”tratá-lo como mau e feio e derrotá-lo”, isso  instaura a identidade de um povo.

Novamente a Europa se faz vítima de seu próprio paradigma da vontade de poder e do poder como dominação sobre os outros inclusive sobre a natureza e a vida. Este paradigma fez com que só no século XX se fizessem duas grandes guerras com 100 milhões de vítimas. Parece que ela não aprendeu nada da história e muito menos da lição que o Covid-19 está duramente dando pois caiu como um raio sobre o sistema e seus mantras.

Sabe-se hoje que por detrás da guerra que ocorre na Ucrânia está se dando o confronto entre os USA e a Rússia/China  no sentido de quem detém o domínio geopolítico do mundo. Até agora vigorava um mundo unipolar com a predominância completa dos USA sobre o curso da história não obstante as derrotas sofridas em várias intervenções militares,sempre brutais e destruidoras de antigas culturas.

O nosso mestre em geopolítica Luiz Alberto Moniz Bandeira (1935-2017) em seu minucioso livro A desordem mundial: o espectro da total dominação (Civilização Brasileira,RJ 2016) apontou, claro, os três mantras fundamentais do Pentágono e da política externa norte-americana: (1)um  mundo- um império (USA); (2) full spectrum dominance: dominar todo o espectro da realidade, na terra, no mar e no ar com cerca de 800 bases militares distribuídas no mundo inteiro;(3) desestabilizar todos os governos dos países que resistem ou se opõem a esta estratégia. Não mais via golpe de estado com tanques na rua, mas mediante a difamação da política, como o mundo do sujo e do corrupto, destruição da fama das lideranças políticas e uma articulação político-midiático-jurídica para afastar os chefes de estado resistentes. Efetivamente isso ocorreu em Honduras, na Bolívia e no Brasil com o golpe desta natureza contra Dilma Rousseff em 2016 e posteriormente com a injusta prisão de Lula. Agora o Novo Compromisso Estratégico da Nato obedece a esta orientação,imposta pelos USA, valendo para  todos sob a pretexto de segurança e estabilidade do mundo.

Ocorre que o império norte-americano está à deriva por mais que ainda se apele ao seu excepcionalismo e ao “destino manifesto”  segundo o qual os USA seriam o novo povo de Deus que irá levar para as nações a democracia, a liberdade e os direitos (sempre entendidos dentro do codigo capitalista).  No entanto, a Rússia se refez da erosão do império soviético, armou-se com armas nucleares potentes, com  misseis inatacáveis e disputa um forte espaço no processo de globalização. Irrompeu a China com projetos novos como o camino da seda e como uma potência econômica tão potente a ponto de, dentro de pouco,  ultrapassar a norte-americana. Paralelamente a isso surgiu no Sul Global, um grupo de países do BRICS do qual o Brasil participa. Em outras palavras, já não há um mundo unipolar, mas multipolar.

Este fato exaspera a arrogância dos norte-americanos especialmente os supremacistas neocons que afirmam ser necessário continuar a guerra na Ucrânia para sangrar e eventualmente  arrasar a Rússia e neutralizar a China para confrontá-la numa fase posterior. Desta forma – esta é a pretensão neocon – se voltaria ao mundo unipolar.

Eis aqui postos os elementos que podem gerar uma terceira guerra mundial que será suicida. O Papa Francisco em sua intuição clara tem falado repetidas vezes que estamos já dentro da “terceira guerra mundial em pedaços”. Por esta razão conclama em tom quase desesperado (mas sempre pessoalmente esperançoso) de que “estamos todos no mesmo barco; ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”(Fratelli tutti n.32).Não denuncia outra coisa e com frequência o  eminente intelectual Noam Chomsky. Enfaticamente afirma que há suficiente loucos no Pentágono e na Rússia que querem essa guerra que pode colocar um fim à espécie humana.É a razão tornada irracional e enlouquecida.

Desta forma se reforça o letal paradigma do dominus(senhor e dono) da modernidade e se debilita a alternativa do frater (irmão e irmã),proposto pelo Papa Francisco em sua encíclica Fratelli tutti, inspirado no melhor homem do Ocidente, Francisco de Assis. Ou nos confraternizamos todos entre nós e com a natureza ou então estamos,nas palavras do secretário da ONU António Guterrez, cavando a nossa própria sepultura.

Por que se optou pela vontade de poder e não pela vontade de viver dos pacifistas Albert Schweitzer, Leon Tolstói e Mahatma Gandhi? Por que a Europa que produziu tantos sábios e santos e santas escolheu  este caminho que pode devastar todo o planeta até fazê-lo inabitável? Acolheu como orientador o mais perigoso dos arquétipos, segundo C.G.Jung, aquele do poder,capaz de nos auto-destruir? Deixo aberta esta questão que Martin Heidegger levou sem resposta à sepultura.Pesaroso deixou escrito para ser publicado na pós-morte:”Só um Deus nos poderá salvar”.

Pois é nesse Deus vivo e fonte de vida que colocamos nossa esperança. Isso ultrapassa os limites da ciência e da razão instrumental-analítica. É o salto da fé que também representa uma virtualidade presente no processo global cosmogênico.A alternativa a esta esperança são as trevas. Mas a luz tem mais direito que a trevas. Nessa luz cremos e esperamos.

(10/07/2022)

A política de ódio e o assassinato do indigenista Bruno e do jornalista Dom

O assassinato do conhecido indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips comoveram o país e o mundo. Esse crime  só é compreensível no quadro de uma política de ódio e perseguição que o atual governo estabeleceu como política normal, atingindo principalmente os povos originários, os negros, os de outra opção sexual e os pobres em geral.

Só no tempo no nazifascismo se instalou tal prática política. Ela é expressão de barbárie, quando se passa por cima do contrato social que inaugura relações civilizadas entre os cidadãos.

Esse assassinato precisa ser investigado até o fundo e ter em conta a atmosfera de ódio e de violência estimulada de cima que tomou conta do país.Quem tem afirmado que a revolução de 64 errou em torturar pois deveria ter matado, quem explicitamente declara que se precisaria fuzilar 30 mil esquerdistas e faz aberta apologia de um notório torturador, não está isento da atmosfera que propiciou o bárbaro crime cometido no Vale do Javari amazônico. Por que a PF suspendeu as investigações? A mando de quem? As instituições jurídicas estão submetidas à prova.Devem atuar.

Apesar desta verdadeira desgraça nacional não queremos perder a esperança de que tudo virá à luz e os culpados diretos e indiretos sejam punidos. O país irá encontrar o seu verdadeiro destino. Inspira-nos o legado de um dos maiores pensadores do Ocidente,o africano Santo Agostinho (354-430). Dizia: jamais percam a esperança porque sua alternativa é o suicídio. Mas confiem nela pois ela possui duas formosas irmãs: a irmã Indignação e a irmã Coragem. A indignação para rejeitar tudo que é mau e perverso. A coragem para mudar  esta situação em benéfica. Nesse momento sombrio de nossa história temos que enamorarmo-nos da irmã indignação e da irmã coragem.

A irmã indignação

Indignam-nos contra um governo que se propôs como tarefa destruir todo nosso passado cultural e impor outro modelo que  pretende nos conduzir a tempos obscuros de outrora. Subserviente  aos interesses norte-americanos, aliou-se ao  mais atrasado e reacionário existente naquele país.

Indignamo-nos por um chefe de estado, que por sua alta função, deveria  viver valores e virtudes que gostaria que o povo também vivesse. Ao contrário, se excede nos maus exemplos. Tem difundido a partir de cima uma onda de ódio, de mentiras, de violências e de fake news como política de estado. Tal atitude insuflou na sociedade e nos órgãos policiais  situações de barbárie com uso indiscriminado da violência dirigida contra os mais desvalidos. Mostrou-se absolutamente irresponsável em questões ambientais,de modo particular quanto à Amazônia e ao Pantanal.

Indignamo-nos por ter-se aliado ao Covid-19,negando sua importância, tentando impor a imunização de rebanho,sacrificando com isso centenas de pessoas, e prescrever medicinas sem qualquer efeito imunizador. Negou a eficácia das vacinas a ponto de, a seu tempo, recusar  a sua aquisição. Ele é responsável de parte dos mais de  660 mil vitimados pelo Covid-19 quando poderia tê-lo evitado. Nunca mostrou empatia e solidariedade com as famílias enlutadas.

Indignamo-nos por desprezar as leis e a Constituição, atacar o STF e o TSE, ameaçar com um golpe de estado e claramente afirmar que reconhece nas eleições apenas um único resultado, a sua reeleição. Caso contrário haverá convulsão social, manipulando sua base fanatizada e armada.

Indignamo-nos por ter traído a si mesmo e ao povo brasileiro, retomando inescrupulosamente a velha política que queria superar, aliando-se a grupos políticos oportunistas e conservadores com os quais articulou vergonhosamente um orçamento secreto, fonte de alta corrupção.

Indignamo-nos, por fim, por ser corrupto no sentido originário da palavra: ter um coração (cor) corrupto (corruptus). Pior que a corrupção monetária existente no atual governo mas impedida de ser investigada ou colocada sob sigilo, é a corrupção de sua mente e de seu coração. Ele é visivelmente tomado pela pulsão de morte, pelo descuido que mostra da vida das pessoas e da natureza. É desta corrupção fundamental que nasce seu ódio, sua boçalidade, as palavras de baixo calão, as mentiras  e a distorção da realidade. Como pode dizer que tem Deus no coração?

A irmã coragem

Encorajam-nos a oposição e a resistência de políticos ligados aos interesses gerais da nação, especialmente dos movimentos sociais populares do campo e da cidade e de vários estratos maltratados por seu governo como os artistas e atrizes, cultores da cultura,  os negros,os quilombolas,os indígenas e os pobres.

Encorajam-nos os meios de informação e de opinião alternativos seja impressos, seja pelas mídias virtuais que mantém viva a consciência crítica e denunciam os desmandos governamentais e parlamentares.

Encorajam-nos os vários manifestos de professores e professoras, de intelectuais, artistas, gente dos movimentos sociais e do povo organizado contra as reformas que desmontaram conquistas históricas de direitos dos trabalhadores e de aposentados, entre outros.

Encoraja-nos a consciência nacional e coletiva em defesa de  nossa democracia representativa que embora não seja de alta intensidade, comparece com o grande instrumento político para a manutenção de um estado de direito, da vigência e respeito à constituição e às leis, sendo o  espaço das liberdades de opinião e da elaboração dos consensos.

Encorajam-nos  as iniciativas populares e dos movimentos sociais, a despeito da falta de apoio dos órgãos oficiais, de viverem concretamente a ética da solidariedade em tempos de pandemia, ofecendo toneladas de alimentos orgânicos e milhões de quentinhas aos milhares e milhares de desempregados e afetados pelo Covid-19.

Encorajam-nos os centenas de encontros virtuais, via LIVES, promovidos por grupos ou organizações sobre temas atuais, reforçando o engajamento e a esperança. Cabe enfatizar o alto valor civilizatório do Instituto Conhecimento Liberta (ICL) fundado pelo ex-banqueiro Eduardo Moreira e seu grupo,oferecendo, virtualmente, 145 cursos, ministrados pelas melhoras cabeças nacionais e internacionais, atingindo mais de 60 mil alunos a preço se um sanduíche (42-49 reais) podendo  por esse preço seguir todos os cursos. Centenas recebem bolsas gratuitas de estudo.

Encoraja-nos a possibilidade de elegermos representantes políticos desde as assembleias estaduais e do parlamento que poderão dar sustentação a um eventual governo de resgate da democracia, dos direitos perdidos e de uma soberania ativa e altiva com repercussão internacional.

Encoraja-nos  o apoio internacional às nossas forças democráticas, contra o autoritarismo, a barbárie social e resgatando nossa importância conquistada nas relações internacionais, especialmente pelas políticas de combate à fome e pelas demais políticas de inclusão social, técnica e universitária.

Encoraja-nos, por fim, a relevância que nosso país possuí, devido à sua privilegiada situação ecológica, no equilíbrio dos climas, na manutenção do sistema-vida e do sistema-Terra em beneficio nosso e de toda a humanidade.

Estamos convencidos de que nenhuma sociedade se constrói sobre o ódio ou sobre a pulsão de morte,mas sobre a convivência pacífica entre todos, no cuidado de uns para com os outros e da  grande Casa Comum,a natureza incluída, especialmente a Amazônia, bem comum da humanidade.

(20/06/2022)

Lula anuncia acordo PSD e PT para as eleições em Minas

O PSD apresentará Alexandre Kalil ao governo de Minas e o senador Alexandre Silveira à reeleição, enquanto o PT apresentará o deputado estadual André Quintão para candidato a vice-governador, diz a nota de Lula

Com grande alegria informo que hoje, em reunião com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), o presidente do PT-MG, Cristiano Silveira, e o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes, consolidamos o acordo político para a nossa unidade nas eleições de outubro.

O PSD apresentará Alexandre Kalil para o governo de Minas e o senador Alexandre Silveira para a reeleição, enquanto o PT apresentará o deputado estadual André Quintão para candidato a vice-governador. A campanha Lula-Kalil será coordenada por Reginaldo Lopes e pelo presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PSD).
Juntos, vamos trabalhar pela vitória em Minas e no Brasil, para que nosso povo volte a ter esperança numa vida com dignidade e direitos, com emprego e renda, com desenvolvimento e justiça social, num país soberano e democrático.

Vamos Juntos, por Minas e pelo Brasil.

Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo, 26 de maio de 2022

Fonte: PT

(26/05/2022)

Curtindo a vida adoidado

Por Gustavo Conde

Enquanto o Brasil atravessa sua mais grave crise econômica e social, o presidente da República desfila com seu jet ski debochando da dor de um país inteiro

Enquanto os problemas sociais, políticos, econômicos, ambientais e institucionais do Brasil crescem de maneira exponencial, o presidente da República desfila com seu Jet Ski em tom de deboche e de eternas férias.

Aliás, há um equívoco fundamental no parágrafo acima. Não são os problemas do país que “crescem”: é Bolsonaro quem cuida diligentemente para que eles cresçam e tomem ares de dramaticidade.

Nunca a população brasileira sofreu tanto com desemprego, inflação, desemprego e violência política.

O desalento não é dos desempregados que não procuram trabalho, mas de um país inteiro que não tem perspectiva de nada, a não ser de uma eleição que permita dar o início da restauração da dignidade.

A única dimensão que nos dá esperança neste momento é justamente o alvo principal do presidente da República. Bolsonaro ataca as eleições como a mais terrível ameaça à “estabilidade” nacional, um processo repleto de fraudes e ilegalidades.

Enfraquecido, o presidente já não bota mais medo em ninguém, mas o estrago que ele articula será o maior vexame da nossa história, bem no nervo do Bicentenário (e até onde posso ver, nós merecemos).

Bolsonaro enlameará a vitória espetacular de Lula e terá o beneplácito do nosso jornalismo de cativeiro nesse intento: os grandes veículos de comunicação já deixaram claro que irão contribuir para eclipsar da impressionante vitória lulista que se avizinha.

A notícia da noite de 2 de outubro, mesmo com a vitória de Lula, será Bolsonaro e seu miserável talento para atrair os holofotes cúmplices de uma imprensa que o tem como santo padroeiro (se não sabiam, saibam: São Bolsonaro é o santo padroeiro do jornalismo convencional brasileiro).

Teremos de amargar mais essa: vencer as eleições e ter de assistir Bolsonaro e jornalões emporcalhando a vitória da democracia.

Se serve de consolo, será o início da virada de página. Levando-se em conta o grau de delinquência de nossas elites brancas, já é muita coisa.

Fonte: Brasil 247

(16/05/2022)