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Ideología, humanidad, realidad

Escribo para vivir.

Esto ya lo saben quienes me leen, y también quienes me apoyan con sus sinceras palabras.

Aquí me veo mejor, veo mejor el mundo, si es que este mundo se deja ver, de tan extraño que es.

Y de esto es que quiero hablar ahora.

¿Qué mundo es este en el que vivimos?

Las redes sociales y la internet han cambiado radicalmente la naturaleza del mundo en que vivimos.

He asistido a una clase virtual de la filósofa Marilena Chauí, de la Universidade de São Paulo, Brasil, sobre “¿Qué es la ideología?” (O que é a ideologia?), en YouTube: https://youtu.be/C3wv_vpRjzk

Confieso que el impacto de lo que ví y sentí al escuchar a esta profesora, me ha traído al mismo tiempo consuelo y un cierto espanto.

Vengo estudiando el tema de la ideología desde mis tiempos de estudiante de sociología en la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Hasta el día de hoy, no había visto una actualización tan viva del concepto de ideología tal como fue formulado por Karl Marx.

Marilena Chauí me ayudó a traer la visión del pasado al presente. Cómo es que en los días de hoy, las modernas tecnologías digitales usadas por los regímenes autoritarios y el neoliberalismo, han creado una falsa realidad.

El tiempo y el espacio se han compactado, perdiendo sus cualidades originarias. Parece que estuviéramos viviendo en el mejor de los mundos, cuando en realidad estamos más solitarios/as, aislados/as y desesesperanzados/as que nunca.

No es un panorama pesimista o negativo el que presenta la profesora. Es solamente un llamado de alerta, para la reconstrucción del tejido social que permita que siga existiendo una sociedad que se pueda llamar “humana.”

Os 23 ativistas do RJ serão julgados amanhã por “associação criminosa armada”, embora não haja arma, nem crime, nem associação.

Confesso que nunca havia ouvido o nome de Gregório Duvivier até a Folha de S. Paulo publicar nesta 5ª feira (29), na seção Tendências/Debates, seu emocionante artigo Eles lutavam por todos nós. Foi o título, claro, que chamou minha atenção.

Acabo de dar uma olhada na Wikipedia. Fiquei sabendo que se trata de “ator, humorista, escritor, roteirista e poeta brasileiro”, “um dos criadores do canal Porta dos Fundos” (que não tenho a mínima ideia do que seja) e filho da cantora Olívia Byington (agora, sim!).

Em 1974, quando o cenário musical brasileiro (e tudo o mais…) parecia terra arrasada, fiquei sabendo de um grupo de rock acústico (!) carioca que tinha pontos de contato com o trabalho de Egberto Gismonti (!!) e acabara de lançar o disco de estréia. Apesar da capa ridícula, parecendo desenho de criança, comprei, escutei, gostei. Ouvi a faixa “Brilho da noite” até riscar o vinil.

 Quatro anos mais tarde, A Barca do Sol lançou um excelente LP em conjunto com a Olívia. Seus trinados de soprano casaram-se às mil maravilhas com as canções sofisticadas dos barqueiros. É um cult para mim.

Mas, não foi só esta a lembrança que o texto do Duviviem me evocou. Sua indignação sincera e algo ingênua me fez recordar o primeiro artigo político que escrevi na vida.

Muito inferior ao do Duvivier, até porque ele tem 28 anos e eu tinha 16. Mas, com forte simbolismo para mim, por ser o passo inicial nas duas linhas-mestras da minha trajetória: a militância revolucionária e a profissão de jornalista.

Saudosismo à parte, sua publicação na íntegra se justifica por estar protestando contra uma terrível injustiça das otoridades policiais e judiciais do Rio de Janeiro, que são a negação viva dos brasileiros cordiais e tudo fazem para tornar horrorosa aquela que o mundo inteiro via como cidade maravilhosa


Trata-se de mais uma grotesquerie da extemporânea caça às bruxas que desencadearam quando a mocidade voltou em junho/2013 à praça que era do povo como o céu é do condor, mas agora é dos repressores do povo e os condores estão ameaçados de extinção.

Last but not leastCONCLAMO OS COMPANHEIROS DO RIO DE JANEIRO E OS CIDADÃOS COM ESPÍRITO DE JUSTIÇA A COMPARECEREM EM PESO AO JULGAMENTO, LEVANDO SUA SOLIDARIEDADE AOS PERSEGUIDOS POLÍTICOS E DEIXANDO CLARO QUE A CIDADANIA SE IMPORTA, SIM, COM O CERCEAMENTO DO DIREITO DE LIVRE MANIFESTAÇÃO

Será nesta sexta-feira (30), provavelmente a partir das 13 horas, na av. Erasmo Braga, 115 – sobreloja 712 – lam II, no Centro. Maiores detalhes com a Secretaria, pelo fone (21) 3133-3453, ramal 3453; ou pelo e-mail cap27vcri@tj.rj.gov.br.

Eis o artigo do Duvivier, que tem minha total aprovação: 

Ninguém está falando sobre isso, mas 23 ativistas estão sendo processados por associação criminosa armada –embora não haja arma, nem crime, nem associação. Além da ausência de antecedentes criminais, os ativistas têm em comum apenas o fato de terem participado das manifestações de junho e, no ano seguinte, dos protestos contra a Copa. Só. A maioria se conheceu na cadeia.

Duvivier qualifica o juiz Itabiana de “notável reacionário” 

Não se sabe qual o critério escolhido para prendê-los, já que milhões de pessoas protestaram entre junho de 2013 e junho de 2014 (dentre as quais eu), mas o critério parece ter sido o fato de serem, em sua maioria, professores.

Depois de meses de escuta telefônica em que até os advogados de defesa foram grampeados (isso, sim, é crime, senhor juiz) nada pode ser dito, de fato, contra os manifestantes.

Em um dos telefonemas, Camila Jourdan, professora da UERJ, pergunta se o amigo vai levar os “livros” e as “canetas”. O código poderia ter passado desapercebido, mas a polícia fluminense, que anda vendo “Sherlock” demais na HBO, descobriu se tratar de uma mensagem cifrada. “Livros” seriam bombas e “canetas”, armas.

Imediatamente após decriptar a intrincada linguagem anarquista, a polícia, sem mandado de busca e apreensão, invadiu e revistou a casa dos ativistas. Não encontrou nada.

Aliás, encontrou. Livros e canetas. Mas não só. As casas tinham uma quantidade suspeita de camisetas pretas. Em algumas, máscaras de gás e, em uma delas, encontraram uma garrafa de gasolina (aquele líquido usado para abastecer carros e geradores). Mesmo assim, sem flagrante, foram presos –para, algumas semanas depois, serem soltos.

Sininho, que os reaças do Rio adoram perseguir, é ré.

A mesma sorte não teve o único preso que é analfabeto, Rafael Braga. Ele está preso até hoje por ter sido encontrado portando uma garrafa de desinfetante Pinho Sol. Mesmo soltos, os manifestantes tiveram seus direitos políticos cassados. Enquanto aguardam julgamento, não podem participar de nenhuma reunião pública nem abandonar sua comarca.

O julgamento ocorre nesta sexta (30) e, apesar de não terem cometido crime algum previsto no Código Penal, tudo indica que os manifestantes serão condenados pelo juiz Flávio Itabaiana. Notável reacionário que se orgulha de nunca ter absolvido alguém, Itabaiana tem em mãos um processo de 7.000 páginas.

A grande peça no tabuleiro de Itabaiana é a opinião pública. A mesma mídia que condenou as manifestações e que logo depois passou a festejá-las, voltou-se novamente contra elas quando da morte trágica do cinegrafista Santiago Andrade. (Não há qualquer ligação entre os 23 processados e a morte de Santiago.)

Graças ao investimento de parte da mídia que queria a reeleição de um governador, manifestar virou sinônimo de matar cinegrafistas e eis que o gigante adormeceu –a golpes de reportagens tendenciosas e manchetes repulsivas. Resultado: a polícia desceu o pau, a classe média aplaudiu e o Brasil voltou a ser aquele país sem revolta.

A muita gente interessa a calmaria: na calada da noite de Ano Novo, aumentaram a passagem de ônibus em R$ 0,40. Se houve uma guerra, a máfia do ônibus saiu vitoriosa.

Vale tentar conscientizar de novo essa mesma opinião pública e lembrar que os 23 ativistas processados estavam lutando por nós. E querem continuar lutando –dando aulas, lendo livros, usando canetas. O aumento vertiginoso das passagens prova que a gente precisa deles, mais do que nunca.

PM x USP, autoritarismo e barbárie

Outros tempos, outro mundo é o título de uma coletânea de contos  sci-fi de Robert Silverberg, lançada em 1970.

 

Menos valorizado que Asimov, Bradbury e K. Dick, ele é autor de uma indiscutível obra-prima, Mundos fechados (1973).

 

Mas, não é propriamente de Silverberg que eu quero falar, mas sim da sensação que tive ao ler a coluna desta 5ª feira (10) de Carlos Heitor Cony, O abuso das algemas, sobre Conrad Murray, o médico que querem jogar numa prisão porque Michael Jackson morreu:

Ele foi condenado em primeira instância porque estava ausente do quarto onde o cantor, já devidamente dopado, tomou uma overdose do remédio que o matou. Que houve culpa do médico é evidente: sabendo da situação, ele deveria estar junto ao leito do artista ou ter retirado o remédio de seu alcance.

 

Daí a acusação de homicídio culposo. Tudo bem, a justiça foi feita, pelo menos em sua primeira etapa. O que não compreendi foi o ritual dos guardas logo após a leitura da sentença: algemaram o médico.

 

Em nenhum momento ele ameaçou fugir, agredir quem quer que fosse, não tinha antecedentes criminais e estava sendo julgado por homicídio não qualificado, com direito a apelação.

 

Compreende-se a condenação, mas não a violência das algemas. Se mais tarde for absolvido, ele terá sido vítima de um ritual judiciário-policial, completamente desnecessário no caso dele.

Cony é, como eu, de outro tempo e de outro mundo.

 

Do tempo em que ainda havia brasileiros cordiais e do mundo no qual ninguém considerava justificável virar uma universidade pelo avesso porque três jovens fumavam maconha sem prejudicarem a ninguém exceto, talvez, a eles mesmos.

 

Hoje, há um clamor popular por repressão e truculência, repulsivamente insuflado e maximizado pela indústria cultural. Não se quer justiça, quer-se linchamento (moral ou real) em público.

 

Cada telespectador, convenientemente adestrado pelos Big Brothers do pós-1984, sente-se aliviado ao desempenhar, ainda que imaginariamente, o papel de juiz e carrasco. A catarse lhe é provida pela indústria cultural, para que continue funcionando a contento numa sociedade desumanizada.

 

Então, bem-vindas as vozes que ainda alertam contra a escalada do autoritarismo!

 

Mesmo que o façam timidamente, pois não é só o uso de algemas que está errado no caso em questão, mas sim o caso inteiro: o médico não pretendeu cometer crime nenhum, foi apenas incompetente. Merece ser privado do direito de exercer a profissão, mas não da liberdade.

 

Tanto quanto a enfermeira que injetou leite na veia de um recém-nascido e lhe causou a morte. O que mais havia a fazer-se, além de a demitir? Por maior que seja nossa dor, não podemos clamar por vingança quando inexistiu intenção dolosa.

 

É outra que jamais vai exercer de novo tal ofício e, espero, sofrerá com a lembrança de como provocou o próprio infortúnio e o de coitadezas obrigados a recorrerem à saúde dos pobres na rica São Paulo.

 

A devastação que sofremos é outra, mas caem como uma luva as palavras do dirigente esportivo chileno Carlos Dittborn quando, às vésperas do Mundial de 1962, a infra-estrutura com que seu país contava para sediar a Copa do Mundo de 1962 foi seriamente comprometida por forte terremoto: “Porque nada tenemos, lo haremos todo!”

 

Nosso mundo foi reduzido a nada, neste tempo em que a selvageria do capitalismo está sendo introjetada nos espíritos e devolvida na forma de hostilidade, preconceitos, grosserias, agressões — várias facetas da barbárie que, paradoxalmente, recrudesce quando estamos no auge de nosso desenvolvimento científico e tecnológico.

 

O que nos obriga a reconstrui-lo por inteiro, tendo a igualdade, a harmonia e a felicidade dos homens como referenciais e valores supremos.

La cultura de la muerte en la Argentina autoritaria (Villa Soldati)

Hace años que no vivo en Argentina, pero no deja de preocuparme lo poco que se ha avanzado en la construcción de ciudadanía en mi país. La vida sigue no valiendo nada, la gente es como una cosa que se usa y se tira a la basura cuando no sierve.

El estado, un feudo de las clases dominantes, divididas en facciones unidas en la única meta común de someter y sacarle el jugo a las personas que trabajan. En la bases, movimientos sociales que tratan de construir espacios de autonomía, y que pagan el precio de la vida muchas veces, como en este caso, y en tantos otros casos que se repiten con metódica cronicidad, cuando tratan de afirmar el derecho a la vida.

Bolivianos, paraguayos, villeros, sea quien sea, la vida la han recibido y la merecen. Merecen un lugar bajo el sol, no bajo las balas de policías y fuerzas represivas que mataron ya tanta gente, que nadie puede ya dudar de para qué han sido creadas. La cuestión social en Argentina viene siendo tratada como caso de policía y ejército, de fuerzas de represión, desde que el país fue creado.

Balas en los obreros, balas en los manifestantes, balas en los trabajadores, balas en los estudiantes, balas en los vecinos, balas en quien ose disputar un lugar bajo el sol amenazando la hegemonía de las clases dominantes. La Argentina no se cansa de matar a su gente. Un día será un país, pero ese día me parece muy lejano.

SP: Prefeitura descumpre acordo e leva tensão para Vila Itororó

Ameaçados de despejo, moradores reclamam de pressão e descaso por parte do poder público. Por Patrícia Benvenuti, da Agência Brasil de Fato.

A tensão entre a Prefeitura de São Paulo e os moradores da Vila Itororó, no centro de São Paulo, tem ficado mais forte neste ano. Erguida durante os anos 20 pelo tecelão português Francisco de Castro, a Vila Itororó é a vila urbana mais antiga da cidade, e a extravagância de sua construção rendeu-lhe, na época, o apelido de “Casa Surrealista”. (leia A história do palacete “surrealista” que virou a casa de gente simples)

A Prefeitura tem planos de transformar a vila em um centro cultural, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura. Para isso, no entanto, pretende remover as 250 pessoas que habitam no local. Os moradores, porém, reclamam da falta de diálogo por parte da Prefeitura e acusam a Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) de descumprir um acordo já firmado.

Acordo

O acordo ocorreu em 30 de novembro do ano passado, durante uma reunião entre a Associação de Moradores e Amigos da Vila Itororó (AMAVila) e o secretário de Habitação, Elton Santa Fé Zacarias, para discutir o futuro das famílias.

O acordo estabelecia que uma equipe técnica nomeada pela Prefeitura poderia iniciar as medições da vila, que daria subsídio ao projeto de reurbanização do local. Foi acertado, no entanto, que seriam realizadas apenas as medições externas, de todas as áreas comuns da vila. Já as medições internas, dentro das casas, só poderiam ser autorizadas depois de uma reunião com todos os moradores.

Em contrapartida, as famílias permaneceriam na vila durante o período de medições, estimado em um ano e oito meses. No final, os moradores seriam encaminhados para unidades habitacionais construídas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) em um prédio na rua Conde de São Joaquim, localizado próximo à vila.

Medições

No final de janeiro, uma equipe da empresa de consultoria Diagonal Urbana, contratada pela Secretaria Municipal de Cultura, iniciou as medições externas, que duraram entre 15 e 20 dias. Em seguida, os técnicos passaram a pressionar para fazer as medições internas, mesmo sem o consentimento dos moradores.

A coordenadora da AMAVila, Antonia Souza Candido, conta que chegou a ser procurada por um dos técnicos, que pediu a chave de uma das casas para realizar a medição. A atitude, de acordo com ela, contraria o que foi combinado na reunião. “Estão desrespeitando um acordo que fizemos dentro do órgão”, afirma.

Antonia relata que as casas dos idosos são as mais visadas pelo grupo responsável pelas medições. De acordo com ela, os técnicos, acompanhados por uma assistente social, chegaram a ameaçar com força policial os moradores que não permitissem seu ingresso nas residências. Os moradores também foram “avisados” de que não ganhariam casas da CDHU caso impedissem a entrada da equipe. “A gente quer contribuir, mas não desse jeito, por meio de ameaças”, diz o morador Edivaldo Santos.

Pressa

A equipe técnica informou à Associação de Moradores que pretende realizar a medição de quatro casas por dia. Como a vila é composta por 37 casas e um palacete, a tendência é de que os trabalhos sejam concluídos muito antes do período de um ano e oito meses inicialmente previsto. “Nós estamos vivendo um terror psicológico. A falta de respeito está imperando, e a pressa é absurda”, afirma.

A pressa dos trabalhos, para Antonia, é justificada pelo interesse em desocupar rapidamente a vila para dar início às obras do centro cultural. Apesar da pressão e das dificuldades, Antonia garante que os moradores continuam dispostos a lutar e que só sairão com moradias garantidas. “O que fortalece é a nossa resistência e a certeza de que estamos certos”, destaca.

Os moradores reivindicam agora uma nova reunião com a Sehab , mas pedirão que o encontro seja realizado na própria vila, a fim de que todas as famílias possam participar, e não apenas uma comissão.

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultura divulgou apenas que está trabalhando em um projeto de restauração da vila, junto com o arquiteto Décio Tozzi, que participou do primeiro plano de reurbanização da área em 1976. Segundo a pasta, o projeto deve ser finalizado até agosto deste ano, e as obras estão previstas para começaram no início do ano que vem. A Secretaria frisou, contudo, que os prazos dependem das negociações para remoção das famílias.

Já a assessoria de imprensa da Secretaria de Habitação informou que segue em conversação com as famílias, mas ainda não há prazos para a saída dos moradores.

Polícia catarinense prende líderes do MST em “ação preventiva”

Com mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que se realizava uma reunião pública. Por Elaine Tavares, de Florianópolis, SC, no eteia.blogspot.com (via Agência Brasil de Fato).

Um dos coordenadores estaduais do MST em Santa Catarina, Altair Lavratti, foi preso na noite desta quinta-feira (28) em Imbituba numa ação que lembra os piores momentos de um estado de exceção. Com uma força de mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que ele realizava uma reunião pública, num galpão de reciclagem de lixo da cidade. A acusação é de que Lavratti, junto com outros sindicalistas e militantes sociais preparava uma ocupação de terras na região. Foi levado sob a alegação de “formação de quadrilha”.

Segundo informações divulgadas no jornal Diário Catarinense, que estava magicamente no ato da prisão ao lado da polícia, os integrantes do MST estavam sendo monitorados desde novembro depois que um integrante do Conselho de Segurança Comunitária de Imbituba passou informações sobre a organização de uma suposta ocupação em terras do estado. Outras duas pessoas também foram presas, sendo que uma delas, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural, está grávida. Ela teve a casa cercada na madrugada de sexta-feira e foi levada para Criciúma. Outro militante, Rui Fernando da Silva Junior, foi levado para a cidade de Laguna.

Integrantes do MST, advogados e um deputado estadual estiveram procurando por Lavratti durante a noite toda, mas não haviam conseguido contato até a manhã de sexta-feira, quando souberam que de Imbituba ele havia sido levado para Tubarão.

Ainda segundo informações da polícia, o juiz Fernando Seara Hinckel autorizou gravações telefônicas e determinou a intervenção do Ministério Público. Também teria havido a participação de P-2 (policiais a paisana, disfarçados) infiltrados nas reuniões dos militantes sociais da região de Imbituba.

Usando de um artifício já usado contra o Movimento dos Atingidos das Barragens, que foi o de prender “preventivamente” integrantes do movimento alegando “suspeita de invasão”, o poder repressivo de Santa Catarina repete a dose agora contra o MST. Para a polícia e para o poder público, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e sendo assim, passíveis de serem interrompidas com prisão. Só para lembrar, este é um tipo de ação agora muito usado nos Estados Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que envolva movimentos sociais. Conversar e organizar a luta por uma vida melhor passa a ser coisa de “bandido”.

A acusação de formação de quadrilha não encontra respaldo uma vez que é pública e notória a preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem sistematicamente tendo que abandonar a zona rural em função da falta de apoio à agricultura familiar, enquanto o agronegócio recebe generosa ajuda governamental. A reunião na qual estava Lavratti justamente discutia esta situação e levava a solidariedade do movimento às famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem parte do cotidiano do MST. A ação do governo se deve ao fato de em Imbituba ter sido criada uma Zona de Processamento e Exportações que tem engolido fatias consideráveis de dinheiro público sendo, portanto, considerada estratégica para os empresários da região.

Para o MST, as prisões foram descabidas, e só reflete a forma autoritária como o governo de Santa Catarina tem conduzido a relação com os movimentos sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de realizar a luta por uma vida digna. Já para dar respostas aos atingidos pelo desastre em Blumenau, ou aos desabrigados pelas chuvas que tem caído torrencialmente este ano em Santa Catarina, não há a mesma agilidade estatal. Como bem já analisava o sociólogo Manoel Bomfim, no início do século vinte, ao refletir sobre a formação do estado brasileiro: “desde o princípio o Estado foi um aparelho de espoliação e tirania, feroz na opressão, implacável na extorsão. É um parasita”.

Sempre aliado aos donos do poder e da riqueza, o Estado abandona as gentes e só existe para o mal do povo. É por conta disso, que, conforme Bomfim, “a revolta contra as autoridades públicas é o processo normal de reclamar justiça” já que as populações são sistematicamente abandonadas pelo Estado e pela Justiça enquanto a minoria predadora dos ricos e poderosos tem seus interesses defendidos, inclusive com o uso do dinheiro e do patrimônio que é de todos.

Como exemplo disso, basta trazer à memória o escândalo da Moeda Verde, quando ricos empresários locais fraudaram laudos ambientais para a construção de grandes empreendimentos na cidade de Florianópolis. Presos sob a luz dos holofotes, não ficaram um dia sequer na cadeia e o governador do Estado segue frequentando suas festas e dizendo ao país inteiro, através da televisão, que os empreendimentos construídos a partir da fraude são os mais bonitos da cidade e necessitam ser conhecidos e consumidos.

Outro caso emblemático e atual, que não recebe a mão pesada do poder público, é o que envolve o vice-governador Leonel Pavan, enredado em escândalo de corrupção, e que também muito pouco interesse provoca na mídia. Não precisa ir muito longe para observar que Manoel Bomfim está coberto de razão: “Os estadistas devem inquirir das condições sociais, indagar se as populações se sentem mais felizes e as causas dos males que ainda as atormentam, para combatê-las eficazmente”. Mas, em vez disso, lutadores do povo são presos e os direitos coletivos se perdem diante do interesse privado de uma minoria.

Israel prende coordenador da campanha “Stop the Wall”

Israel prende coordenador da campanha "Stop the Wall". Da Agência Carta Maior. Foto: Eduardo Seidl

Jamal Juma foi preso por soldados israelenses, dia 16 de dezembro, em sua casa. Os soldados disseram a esposa de Juma que ela só voltaria a ver o marido quando houvesse uma troca de prisioneiros.

Desde então, ele permanece preso e proibido de falar com um advogado ou com a família, sem nenhuma explicação oficial para a sua prisão, denuncia a Stop the Wall.

Jamal, de 47 anos, dedica a vida à defesa dos direitos dos palestinos. Ele esteve este ano no Brasil, participando do Fórum Social Mundial, em Belém.

Da Agência Carta Maior. Foto: Eduardo Seidl

O governo de Israel prendeu, dia 16 de dezembro, Jamal Juma, coordenador da Campanha Stop the Wall, que luta pela derrubada do muro construído no meio do território palestino. Segundo informações do site da campanha, militares israelenses convocaram Juma para um interrogatório à meia-noite do dia 15 de dezembro. Horas depois, levaram-no de volta para sua casa. Juma foi mantido algemado, sob os olhos da esposa dos três filhos pequenos, enquanto soldados revistaram sua casa durante duas horas. Na saída, os soldados disseram a esposa de Juma que ela só voltaria a ver o marido quando houvesse uma troca de prisioneiros. Desde então, Juma permanece preso e proibido de falar com um advogado ou com a família, sem nenhuma explicação oficial para a sua prisão, denuncia a Stop the Wall.

Jamal, de 47 anos, nasceu em Jerusalém e dedicou a sua vida à defesa dos direitos humanos dos palestinos. Ele esteve este ano no Brasil, participando do Fórum Social Mundial, em Belém. Na ocasião, defendeu o boicote econômico a Israel como uma das armas prioritárias para defender os direitos do povo palestino. O foco principal do trabalho de Jamal é a capacitação das comunidades locais para defenderem os seus direitos em face de violações provocadas pela ocupação israelense. Ele é membro fundador de várias ONGs palestinas e redes da sociedade civil. Também é coordenador da Palestina Grassroots Anti-Apartheid Wall Campaign desde 2002. É muito respeitado pelo seu trabalho e foi convidado para numerosas conferências de entidades e da ONU.

Ainda segundo a Stop the Waal, Jamal Juma é o preso de mais alto escalão no quadro de uma campanha de intensificação da repressão da mobilização popular contra o muro e os colônias israelenses em território palestino. “No início, foram presos ativistas locais das aldeias afetadas pelo muro. Agora, estão sendo presos defensores dos direitos humanos internacionalmente conhecidos, como Mohammad Othman e Abu Abdallah Rahmeh. Mohammad, um outro membro da campanha Stop the Wall, foi preso há quase três meses, no regresso de uma palestras na Noruega. Após dois meses de interrogatório, as autoridades israelenses não conseguiram encontrar provas para acusa-lo e, por isso, emitiram uma ordem de detenção administrativa. Abdallah Abu Rahma, uma figura importante na luta não violenta contra o muro em Bil’in, foi levado de sua casa por soldados encapuzados no meio da noite, uma semana antes de Jamal ter sido preso, denuncia ainda a organização.

Na avaliação dos ativistas companheiros de Jamal, com estas detenções, Israel pretende quebrar a sociedade civil palestina e sua influência na tomada de decisões políticas em nível nacional e internacional. Eles fazem uma convocação:

“Este processo claramente criminaliza o trabalho dos defensores dos direitos humanos palestinos e a desobediência civil palestina. É crucial que a sociedade civil internacional se oponha às tentativas israelenses de criminalizar defensores de direitos humanos que lutam contra o muro. A política de Israel de atacar os organizadores que apelam à responsabilização de Israel é um desafio direto às decisões dos governos e organismos mundiais como o Tribunal Internacional de Justiça para responsabilizar Israel pelas violações do direito internacional. Este desafio não deve ficar sem resposta”.