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Jean Wyllys e Lula: reflexões sobre política externa, a esquerda e um líder ‘tóxico’

Por Vitor Nuzzi
Ex-deputado do Psol apoiou decisão do ex-presidente de não assinar manifesto. Petista fala por que negou entrevista a jornal e critica Moro
Em uma conversa que muitas vezes resvalou mais para o lado pessoal do que político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Jean Wyllys conversaram via Instagram na tarde de ontem (10), a convite do ex-deputado, sobre as transformações no cenário brasileiro. O ex-parlamentar pelo Psol decidiu deixar o país depois de receber ameaças e recear o mesmo destino que a vereadora carioca Marielle Franco, colega de partido, assassinada em 2018. Lula explicou sua decisão de não conceder entrevista ao jornal O Globo e voltou a criticar o ex-juiz e agora também ex-ministro Sergio Moro.
Os dois usaram camisas vermelhas. Lula chamou o ex-deputado de “inovador”, enquanto Jean destacou as transformações que o país teve durante seus governos. “O exercício da democracia está no reconhecimento das diferenças”, disse o ex-presidente.
Boa parte da conversa foi sobre a política externa brasileira no governo Lula, liderada pelo ex-chanceler Celso Amorim. O Brasil construiu “relações internacionais poderosas”, disse Jean, citando os Brics e a imagem sólida consolidada naquele período.

Fórum Social x Davos

Lula lembrou que, em janeiro de 2003, no início de seu primeiro mandato, discursou tanto no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, como no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), blocos antagônicos. “Eu conversava com o Celso Amorim que nós tínhamos de mudar a geografia política do mundo. Não era possível as Nações Unidas terem a mesma estrutura em 2003 (em relação à criação da ONU, em 1945, após a 2ª Guerra Mundial).
“Eu achava que era possível mudar isso”, prosseguiu Lula. “Primeiro, fortalecer o Mercosul e mandar a Alca embora. Criar uma instituição multilateral na América do Sul (Unasul), na América Latina (Celac). Eu não desrespeitava os Estados Unidos. Um chefe de Estado não tem que gostar das pessoas, tem que lidar com outro chefe de Estado, pensando numa relação que seja boa para os dois países. (O Unasul) não era um bloco anti-americano, era pró América do Sul.”
O ex-presidente cita um exemplo de comércio internacional. Segundo ele, quando assumiu, as transações com a Argentina somavam US$ 7 bilhões. Ao deixar o governo, US$ 39 bilhões. Lula lamentou a postura do atual governo de manter uma relação de animosidade com o país vizinho. “Tem muita ignorância nessa decisão”, afirmou.

Israel e Palestina

Jean Wyllys observou que os dois têm posição semelhante em relação ao Oriente Médio. “Defendemos a existência de Estados autônomos, que se respeitem”, disse, referindo-se a Israel e Palestina e lembrando que ambos abominam o antissemitismo. Mas, apesar disso, sentiu tratamento diferente dentro do próprio campo progressista.
“Eu fui duramente atacado pela esquerda, cara, por ter essa postura”, queixou-se Jean, lembrando do fato de ser homossexual. “Setores da esquerda fizeram uma campanha difamatória contra mim, por fazer palestra em Israel, na Universidade Hebraica. Acho que você foi poupado das críticas por ser homem heterossexual”, disse a Lula, que apontou a existência de “incompreensão em vários setores da esquerda”.
O ex-presidente observou que seu governo defendia a existência tanto de ambos os estados, judeu e palestino. “Fui na Palestina inaugurar uma rua chamada Brasil, fui no parlamento de Israel fazer discurso em defesa do Estado da Palestina e pela paz no Oriente Médio. Se você não coloca todos os que têm adversidade numa mesa de negociação, você não quer a paz. Por isso, trabalhamos muito para mudar o Conselho de Segurança da ONU”, afirmou.

Racismo estrutural

Jean lamenta que a Presidência seja ocupada atualmente por um “sujeito tóxico, racista, que tem postura de vassalagem em relação ao Trump”. Citou o levante nos Estados Unidos, após a morte de George Floyd por um policial, um movimento que para ele remete à luta pelos direitos civis. E observou que, apesar de políticas de promoção da igualdade feitas no governo Lula, o Brasil segue tendo um racismo “estrutural, sistêmico”. “E me parece que há uma dificuldade da esquerda de colocar o racismo como elemento central da desigualdade”, aponta.
Lula lembrou da tentativa de mudar o currículo educacional. “Tentamos incluir um currículo oficial na educação básica, a obrigatoriedade de história e cultura afro-brasileira. A gente só vai mudar isso (racismo) quando começar a ensinar a história africana na escola brasileira.”
Ambos lembraram ainda, da escolha de Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal, primeiro ministro negro no STF. O ex-presidente citou dado do IBGE segundo o qual pela primeira vez pretos e pardos (classificação usada pelo instituto) se tornaram maioria no ensino superior público. E identificou represálias por causa dessas políticas inclusivas.

“Golpe social”

“Acho que essas coisas motivaram uma raiva contra a Dilma. Desde aquela época (do impeachment), antes de ser preso, eu tinha noção de que aquele processo era para mim. Acho que foi um golpe social contra a inclusão do povo negro e do povo pobre. Eu não tinha noção da perversidade da elite brasileira.” Em seguida, ressaltou a “dignidade e decência” do então deputado Jean Wyllys em seu discurso contra o impeachment, em 2016.
Logo em seguida, Lula comentou a decisão de negar pedido de entrevista feito pelo jornal O Globo. “Não posso dar entrevista enquanto as Organizações Globo não pedirem desculpas pela mentiras que contaram a meu respeito. Não posso fingir que não aconteceu nada comigo (…) Tentaram destruir a minha biografia. E não vão conseguir. Não tenho raiva, tenho caráter.”
O ex-deputado do Psol defendeu o direito de Lula não assinar manifesto de frente ampla “que ignora os trabalhadores e as políticas neoliberais que estão atacando os direitos dos trabalhadores e vulnerabilizando as pessoas”. Em relação à imprensa, mesmo manifestando respeito ao veículo, afirmou que muitas vezes as Organizações Globo “trabalharam no limite da fake news contra você e contra o PT”.
Lula disse que não queria “polemizar” a respeito do manifesto, que segundo ele não trazia críticas diretas a Bolsonaro e nem fazia menção ao impeachment. Procurou não se estender sobre o assunto, concentrando-se sobre o comportamento da imprensa tradicional, que teria ignorado as denúncias da chamada Vaza Jato, feitas pelo Intercept, mas sempre garantiu espaço ao ex-juiz da Operação Lava Jato. “O Moro nunca se comportou como juiz do meu caso, mas como canalha, mentiroso, algoz. Como é que eu posso respeitar um homem desse? As pessoas me ofendem, invadem a casa do meu filho (…) Pra mim, não passou.”
Ele encerrou sua participação falando de direitos humanos. Lembrou que conversava com o jurista Hélio Bicudo, então no PT, que o tema não poderia ser visto apenas como uma questão de presos políticos, por exemplo. Deveria incluir temas como a fome e a educação. “Não tem maior violência aos direitos humanos do que uma pessoa não ter o que comer, o que estudar.”

“Três vidas negras”

Jean Wyllys dedicou a live a João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, garoto morto recentemente no Rio de Janeiro, Miguel Otávio Silva, de 5 anos, que morreu ao cair do nono andar de um prédio em Recife, e Gabriel Rodrigues, ativista de 19 anos que morreu há dois dias. “Três vidas negras que se foram cedo.”
Edição: Helder Lima
Fonte: Rede Brasil Atual
(11-06-2020)

Roger Waters pede boicote a Israel. Caetano e Gil ignoram.

Gulliver…

Roger Waters, que foi letrista, baterista e co-vocalista do conjunto britânico de rock progressivo Pink Floyd, não é melhor do que Caetano Veloso e Gilberto Gil apenas como artista (o álbum conceitual The Wall, que foi por ele concebido, coloca-o num patamar inalcansável para os baianos): também vale muito mais do que eles como ser humano e como homem político.

Waters faz parte do movimento global BDS (boicote, desinvestimento e sanções), que pressiona Israel a devolver ao povo palestino os territórios que tomou e mantém manu militari. Neste sentido, enviou carta a Caetano e Gil, exortando-os a não se apresentarem num dos piores transgressores de direitos humanos do mundo atual, país genocida e réprobo (pois suas bestialidades foram condenadas um sem-número de vezes pela ONU). 

…e os liliputianos.


Por meio das respectivas assessorias, ambos fizeram saber que são bem diferentes do que davam a entender em suas composições.


Gilberto Gil prefere engordar sua conta bancária do que “ficar em casa/ (…) preparando/ palavras de ordem/ para os companheiros/ que esperam nas ruas/ pelo mundo inteiro/ em nome do amor” (Questão de ordem).

E do Caetano Veloso nunca mais poderemos esperar que nos ajude a “derrubar as prateleiras/ as estantes, as estátuas/ As vidraças, louças, livros, sim” (É proibido proibir). Ele quer mesmo é empilhar maços e mais maços de novos shekels, a moeda israelense.

Há uma página no Youtube dedicada ao assunto: Tropicália não combina com apartheid. Recomendo.

Clique aqui para acessar a carta de Waters, na íntegra. 

Ela é irrespondível, o que explica a falta de resposta por parte dos habitualmente tão loquazes Veloso e Gil. Já devem estar arrependidos da capitulação à “força da grana que ergue e destroi coisas belas” (Sampa). Inclusive reputações…

Com medo de vinculação com genocídio em Ruanda, Estado de Israel nega acesso a informações

O genocídio mais rápido de toda a Humanidade, Ruanda, é comumente visto como uma tragédia em que as nações de todo o mundo nada fizeram para evitar.

Essa é a visão que interessa a muitos governos que forneceram armas e equipamentos para os assassinos – incluindo, conforme mostra uma reportagem do jornal israelense Haaretz, o governo de Israel.

Em uma corte em Tel Aviv, um grupo de pessoas tenta obter documentação tida como sigilosa para apontar responsáveis.

Foto: Fanny Schertzer (Wikimedia Commons)

A Corte Distrital de Tel Aviv recebeu no mês passado um pedido pouco divulgado e, pelo seu teor, é curiosa essa omissão. Trata-se de uma petição apresentada pelo advogado Eitay Mack para obter documentos relativos à exportação de armas israelenses para Ruanda durante o genocídio neste país há 20 anos. A informação é do principal jornal israelense, o Haaretz.

Os solicitantes – um professor que lidera a petição e o advogado – falram ao juiz presente sobre o “peso da história repousava sobre os ombros”, usando expressões como “audiência histórica” e “momento histórico”. Às vezes, a juíza do caso, Orna Levy, parecia um pouco surpresa com a magnitude do caso. A pequena sala de audiências e o número de pessoas presentes – cerca de 10 – criaram uma imensa lacuna entre o cenário da audiência e o assunto.

Apesar de a petição – de número 3767-10-14 – ter sido apresentada com base na Lei de Liberdade de Informação, o tema obteve um alcance muito maior. A resposta à petição veio de seis funcionários do departamento de inspeção da agência israelense de controle de exportação de defesa, do próprio Ministério da Defesa e do funcionário encarregado de executar a Lei de Liberdade de Informação. Sentaram-se em dois bancos, três homens e três mulheres, todos em silêncio, ao lado do advogado Limor Ron.

O único que parecia mais experiente entre todos estes funcionários tinha, descreve o Haaretz, uma “expressão séria e um pin em forma de emblema do estado, a menorá de sete braços. Ele e seus colegas não disseram uma única palavra durante a segunda parte da audiência, que foi aberta ao público. Alguns deles ocasionalmente tomava notas. Além de dois representantes dos peticionários e um repórter, o público em geral consistia em três estudantes. Um deles disse que pertencia a um departamento de estudos africanos.

Durante a primeira parte da audiência, fechada a apenas um dos lados – para desgosto dos peticionários –, os representantes do Estado deveriam mostrar ao juiz material classificado provando que a publicação dos documentos poderia pôr em perigo a segurança do país e/ou de seus cidadãos, uma menção ao Estatuto 9A da Lei de Liberdade de Informação. Depois de meia hora com a juíza a portas fechadas, a sala se abriu aos peticionários. Além de algumas observações técnicas do advogado Ron, o Estado não se dignou a pronunciar uma palavra durante a audiência.

O mais rápido genocídio da História humana

De acordo com funcionários da ONU, quase 1 milhão de homens, mulheres e crianças foram massacrados em Ruanda no espaço de cem dias. Nesse ritmo, uma média de dezenas de milhares de pessoas foram mortas diariamente – em uma velocidade maior, lembra o Haaretz, do que a aniquilação dos judeus da Hungria durante os últimos anos do Holocausto. “É, aparentemente, o ritmo mais rápido de genocídio da história humana”, diz o jornal israelense.

Os assassinos eram membros da tribo hutu, o grupo majoritário no pequeno e empobrecido país centro-africano de Ruanda. As vítimas eram em sua maioria membros da tribo tutsi, o grupo minoritário. Os pesquisadores acreditam hoje que o genocídio poderia ter sido evitado. Foram os primeiros sintomas; depois vieram os relatórios das atrocidades. Mas as nações do mundo nada fizeram. E pior ainda: muitos Estados forneceram armas e equipamentos para os assassinos.

Os assassinos em Ruanda não usaram câmaras de gás ou bombardeios – usaram facões e armas leves. Eles obtiveram rifles e balas, e às vezes granadas, de traficantes internacionais de armas.

“Israel era uma fonte”, confirma o Haaretz. O governo israelense forneceu balas de 5,56 milímetros aos hutus, bem como rifles e granadas capturados durante a Guerra do Yom Kippur (1973). Evidências têm sido acumuladas ao longo dos anos, algumas reunidas por israelenses que visitaram Ruanda durante o massacre ou pouco depois. “O motivo foi a ganância pura, com uma pitada de justificativas macabras”, diz o jornal.

O advogado Mack terminou sua declaração com uma citação de um traficante de armas israelense que apareceu em um relatório sobre as atrocidades, de Sara Leibowitz-Dar. O traficante de armas expressou orgulho por suas ações depois de uma visita ao “vale da morte”, porque suas armas ajudaram a fazer com que as vítimas morressem rapidamente – uma bala na cabeça, em vez de cortes de um facão. “Na verdade eu sou um médico”, disse ele.

Nos últimos anos, Mack, um jovem idealista que usa um quipá (aquele chapeuzinho dos judeus), tem realizado um enorme esforço para revelar informações sobre o tráfico de armas israelenses. “Não há sentido em continuar com esta ocultação”, disse ele. “Isso só vai fortalecer a sensação de imunidade dos respondentes. Precisamos pôr a nu os capítulos sombrios de exportações de defesa de Israel.”

Quando Mack concluiu sua fala, o representante dos peticionários, o professor Yair Auron, recebeu permissão para falar. Ele pediu desculpas por estar “emocional”; com certeza, diz o jornalista do Haaretz, o relator da audiência também teve dificuldades para lidar com a informação. “Eu vejo essa luta como uma espécie de missão. Somos membros do povo judeu. Tenho lidado com o holocausto e o genocídio desde o dia que eu poderia pensar por mim mesmo, por 35 anos”, iniciou.

“Eu também quer dizer aos respondentes aqui presentes: enviar armas para um país onde o genocídio está ocorrendo é como enviar armas para a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Nós fornecemos armas à Sérvia durante o embargo, e fornecemos armas para o governo de Ruanda, que estava a cometer um assassinato”, completou Auron. (Uma observação importante: Israel foi igualmente o último país a manter relações comerciais com a África do Sul do apartheid, conforme amplamente documentado, inclusive por mim, leia clicando aqui.)

A juíza Levy interrompeu Auron por um momento para corrigir o taquígrafo: “Ruanda, e não Uganda. Ela o interrompeu várias vezes para se certificar que as declarações seriam citadas precisamente. “Milhões”, disse ela – lentamente para o taquígrafo – enquanto Auron repetia o número de vítimas. Em outra ocasião, ela corrigiu o taquígrafo na ortografia do termo hebraico para o genocídio, retzah am.

Os respondentes ouviram impassíveis as descrições de Auron. Eles representavam o funcionalismo burocrático, que por natureza é necessário para ajudar os regimes a realizar o moralmente inconcebível. Auron não facilitou as coisas para eles. “Eles estão pedindo à juíza para ajudá-los a encobrir a verdade”, disse ele.

Rabin e Peres

Após a audiência, o repórter do Haaretz perguntou se algum deles poderia explicar a posição do Estado de Israel – eles não teriam seus nomes citados. “Afinal de contas, era difícil imaginar como revelar tal informação poderia prejudicar a segurança nacional, além da grande vergonha – e, claro, da responsabilização dos envolvidos”, diz o repórter do Haaretz, que lembra que, a partir de 1948, ano em que o Estado de Israel foi estabelecido, a perpetração e cumplicidade do genocídio foram definidos no direito internacional como crimes contra a humanidade. “Como esperado, ninguém me respondeu. Mas eles eram apenas tecnocratas. Eles não eram a história real”, diz o jornalista.

Naqueles dias, Yitzhak Rabin era tanto o primeiro-ministro quanto o ministro da Defesa. Shimon Peres era ministro das Relações Exteriores. Eles estavam profundamente envolvidos nos esforços de paz no âmbito dos Acordos de Oslo. Os peticionários afirmam que as armas não poderiam ter sido enviadas a partir do Aeroporto Internacional Ben-Gurion sem o seu conhecimento e aprovação.

Claro, tal afirmação exige a prova. Mas não há nenhum argumento sobre uma coisa: o governo israelense, em um ato de ironia histórica que Auron fez questão de mencionar no tribunal, foi o primeiro país do mundo a enviar um hospital de campanha para Ruanda para tratar as vítimas do massacre.

No final de seu discurso, em um momento típico de um seriado jurídico norte-americano, Auron virou-se para os respondentes e disse em voz alta: “Que tipo de argumento de segurança pode possivelmente haver aqui? Não há fim para o cinismo? Nós cometemos crimes, crimes terríveis.”

O advogado Ron, um jovem e confiante representante do Estado, falou. Observou que “por uma questão de ordem correta” os peticionários basearam a sua posição sobre o “Estatuto 9B da Lei de Liberdade de Informação, mas estamos no Estatuto 9A”.

Quando Auron concluiu, a juíza Levy disse, bem baixinho: “A decisão será enviada às partes”. Para um observador externo, parecia que os respondentes estavam um pouco preocupados. Para o advogado Mack, parecia que eles haviam deixado rapidamente o local para uma reunião sobre o próximo desafio que teriam de enfrentar – uma petição semelhante sobre o envolvimento de Israel na venda de armas à Sérvia durante o massacre na Bósnia.

Levy emitiu sua decisão naquele dia. Baseando a sua decisão no material classificado que os respondentes a mostraram, ela rejeitou a petição. Mack disse que o texto mostrou que Levy passou, na verdade, a matéria para o Supremo Tribunal. As partes se reunirão lá quando o recurso for apresentado.

Se os juízes da Suprema Corte tiverem a paciência, eles também ouvirão a explicação de Auron sobre como a “venda de armas israelenses para os governos que cometeram genocídio profana a memória das vítimas do Holocausto e a memória do Holocausto em si. Ninguém tem o direito de fazer tal coisa, e isso vale para nós, especialmente”. O Estado, por sua vez, irá invocar o Estatuto 9A.

A matéria em inglês na íntegra, contendo as informações, está disponível clicando aqui. Um vídeo do Tribunal Internacional para Ruanda, abaixo.

Genocidas de Israel continuam exterminando crianças

“Não há palavras para expressar adequadamente minha raiva e indignação”, disse um comissário da ONU, a respeito de mais um ataque do exército israelense contra escola palestina.
Nem a minha. Nada que eu pudesse escrever superaria o impacto da simples leitura dos dois textos que transcrevo abaixo.
A presidenta Dilma Rousseff foi cautelosa, disse que estamos diante de massacres, não de um genocídio.
Decidam os leitores se trata-se ou não do “extermínio sistemático de pessoas tendo como principal motivação as diferenças de nacionalidade, raça, religião e, principalmente, diferenças étnicas”.
Eu não hesito um segundo para afirmar: É GENOCÍDIO, SIM. DOS MAIS BESTIAIS!

“CRIANÇAS FORAM MORTAS ENQUANTO DORMIAM AO LADO DE SEUS PAIS”

O chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNWRA) classificou de “vergonha universal” o ataque israelense nesta quarta-feira (30) contra uma escola mantida pelo organismo no campo de refugiados Jabaliya, na faixa de Gaza, onde centenas de palestinos haviam se refugiado. Ao menos 19 morreram e 90 ficaram feridos no ataque.
“Ontem à noite, crianças foram mortas enquanto dormiam ao lado de seus pais no chão de uma sala de aula em um abrigo da ONU em Gaza. Crianças mortas enquanto dormiam; isso é uma afronta para todos nós, uma fonte de vergonha. Hoje o mundo está em desgraça”, afirmou em nota Pierre Krähenbühl, comissário-geral da UNRWA.
“Não há palavras para expressar adequadamente minha raiva e indignação”, afirmou.
Segundo Krähenbühl, este ataque foi o sexto contra uma escola mantida pela UNRWA em Gaza. “Nossos funcionários estão sendo mortos. É um ponto de ruptura.”
O Exército de Israel não confirma o ataque contra a escola da ONU — e diz que militantes estavam disparando do local.
Mas, na nota, a UNRWA afirma não ter dúvidas de que o ataque foi realizado por Israel.
“Visitamos o local e coletamos evidências. Analisamos fragmentos, examinamos as crateras e outros danos. Nossa avaliação inicial é de que foi a artilharia israelense que atingiu nossa escola, em que 3.300 pessoas haviam se refugiado. Acreditamos que houve ao menos três impactos”, afirmou.
Ainda de acordo com a nota, a localização da escola e a informação de que estava sendo ocupada por refugiados foram comunicadas ao Exército israelense 17 vezes, a última delas horas antes do bombardeio.
O Exército israelense, em uma primeira resposta à morte de  20 palestinos em uma escola administrada pela ONU em Gaza nesta quarta-feira (30), disse que militantes próximos à instalação atiraram bombas de morteiro e as forças israelenses foram obrigadas a revidar. (UOL, com despachos das agências internacionais)

“NÓS AINDA ESTAMOS ANALISANDO O INCIDENTE”

“Mais cedo nesta manhã, militantes atiraram projéteis de morteiros contra soldados [israelenses] a partir dos arredores da escola da UNWRA em Jabalya [um campo de refugiados]. Em resposta, os soldados atiraram em direção à origem dos disparos, e nós ainda estamos analisando o incidente (!!!)”, disse um porta-voz militar israelense. (Agência Reuters)

A tragédia do Oriente Médio

Era uma vez o Oestemocinho de branco e bandido de preto.
Os folhetins, o cinema e a TV nos acostumaram a observar os complexos dramas das pessoas, povos e nações a partir de uma ótica simplista: heróis-vilões-vítimas.
Ou, simplificando mais ainda, a acreditarmos que quem causa sofrimento às vítimas são os bandidos e quem as defende, os mocinhos.
No fundo, trata-se do velho e obtuso maniqueísmo, a que os pensadores marxistas contrapuseram a dialética: Bem e Mal não existem como instâncias metafísicas que, desde os píncaros do paraíso celestial ou das profundezas do inferno, teleguiam a práxis humana, mas sim como resultado das decisões e ações adotadas pelos homens em cada situação.
No primeiro caso, alguns encarnam o Bem absoluto e o Mal absoluto, sem nuances: os mocinhos são sempre mocinhos e os bandidos, eternamente bandidos.
Na análise marxista, os papéis vão sendo assumidos a cada instante, de forma que o mocinho de ontem poderá ser o bandido de hoje, e vice-versa.
A esquerda mundial até hoje não se recuperou do pesadelo stalinista, que, como Isaac Deutscher bem assinalou, foi um amálgama do pensamento sofisticado dos revolucionários europeus com a religiosidade primitiva da Santa Mãe Rússia.
A esquerda retrocedeu ao maniqueísmo
E a História, infelizmente, favoreceu essa perda de densidade crítica por parte da esquerda. O nazifascismo parecia mesmo encarnar o Mal absoluto, colocando os que o combatiam na condição de cruzados do Bem absoluto.
Veio a guerra fria e a estreiteza de visão se consolidou definitivamente, de ambos os lados. A política mundial se tornou um mero western daqueles tempos em que os mocinhos se vestiam sempre de branco e os bandidos só usavam trajes negros.
Então, desde a década de 1950, quando os EUA se colocaram como protetores de Israel e os soviéticos se compuseram com o líder egípcio Gamal Abdel Nasser, ficou estabelecido que a única forma progressista de encararmos os conflitos do Oriente Médio era beatificando os árabes e satanizando os judeus.
A questão no Oriente Médio é muito mais complexa.
Em primeiro lugar, temos um povo (o judeu) milenarmente perseguido, não só devido à maldade intrínseca dos poderosos de todos os tempos, mas também a uma certa vocação para o martírio: nunca quis misturar-se aos outros povos e conviver harmoniosamente com eles, fazendo, pelo contrário, questão de preservar sua identidade cultural/religiosa e de ostentá-la aos olhos de todos.
Então, mais do que a outros povos, fazia-lhe imensa falta um território próprio. Constituindo uma colônia minoritária em outros países e segregando-se rigidamente dos naturais desses países, neles despertava previsível hostilidade.
Ademais, os judeus eram invejados pelos gênios da cultura e da ciência que produziam (Marx, Freud, Einstein e tantos outros) e por seu êxito nas finanças, além de despertarem a hostilidade dos governos pela participação marcante que tinham em movimentos libertários/revolucionários.
É sintomático, aliás, que a esquerda hoje esqueça ou omita a importantíssima contribuição do Bund (União Judaica Trabalhista da Lituânia, Polônia e Rússia) para a gestação do movimento revolucionário russo, no início do século passado.
Gueto de Varsóvia: vítimas ontem, algozes hoje em Gaza.
HOLOCAUSTO – Ao buscar um inimigo comum contra o qual unir a nação alemã, Hitler não precisou pensar muito: os judeus eram a opção óbvia.
Finda a II Guerra Mundial, a indignação que o Holocausto provocou na consciência civilizada fez com que a ideia de um lar para os judeus passasse a ser vista com simpatia generalizada.
Foi quando estes cometeram seu maior erro de todos os tempos: aceitando a liderança espúria de fundamentalistas religiosos/terroristas sanguinários, implantaram seu estado nacional numa região em que se chocariam necessariamente com outros fundamentalistas religiosos/terroristas sanguinários.
A Inglaterra, império decadente, bem que tentou impedir este desvario, em vão. E as pombas desnorteadas, judeus imbuídos dos melhores ideais, acabaram aderindo em massa ao projeto sinistro dos falcões.
Então, uma das experiências socialistas mais avançadas que a humanidade conheceu, a dos kibbutzim (comunidades coletivas voluntárias israelenses), acabou sendo tentada num país que logo viraria campo minado – e, melancolicamente, foi definhando, até quase nada diferir hoje em dia das cooperativas dos países capitalistas.
As nações árabes só não exterminaram até agora o estado judeu porque jamais o enfrentaram juntas e disciplinadas, sob um verdadeiro comando militar. Mesmo quando vários exércitos combateram Israel, como na guerra dos seis dias, atuaram praticamente como unidades independentes, em função das querelas e disputas de poder entre os reis, sheiks, sultões, califas, emires, etc., de países cuja organização política e social ainda é feudal.
Kibbutzim: os belos ideais se foram, o militarismo ficou.

Os israelenses, por enquanto, têm compensado sua inferioridade numérica com a superioridade de seus quadros e equipamentos militares, bem como com a repulsiva prática de promover massacres intimidatórios, reagindo de forma desproporcional e freqüentemente genocida aos ataques que sofre.

Os movimentos fundamentalistas/terroristas árabes agem como provocadores: sabem que jamais conseguirão enfrentar de igual para igual Israel, mas atraem retaliações contra seus povos, na esperança de que isto acabe trazendo as nações para o campo de batalha. Querem ser o estopim de uma guerra santa e não hesitam em sacrificar os seus em nome dos desígnios de Alá.
Os governantes feudais árabes, entretanto, têm mais medo de serem desalojados dos seus palácios do que ódio por Israel. Sabem que, da mobilização contra o inimigo externo, as massas podem evoluir para o questionamento da desigualdade gritante e dos privilégios odiosos dos tiranetes de seus países. Preferem preservar o status quo, ao preço de fecharem os olhos a atrocidades como as cometidas contra os palestinos em Gaza.
Não se trata de nenhum filme de mocinho-e-bandido, pois só há vilões entre os atores políticos; ninguém que mereça nossa simpatia e aplauso.
Hoje, é esta a ‘contribuição’ de Israel à humanidade…

Quanto às vítimas, estas sim são indiscutíveis: os civis que, desde 1948, têm sido abatidos como moscas, devido à cegueira e (sejamos francos) imoralidade monstruosa desses atores políticos.

No fundo, a solução sensata seria o estabelecimento dos judeus noutro território qualquer – quantos países paupérrimos não lhes cederiam terras e autonomia administrativa, em troca de recursos e cooperação para seu desenvolvimento?
Mas não é a sensatez que rege o mundo e sim, como Edgar Allan Poe notou, o horror e a fatalidade.
Então, os Hamas da vida seguirão semeando ventos e os israelenses desencadeando tempestades. E os civis que não estão em guerra com ninguém, inclusive velhos, mulheres e crianças, deverão continuar sendo os mais atingidos, para horror do mundo civilizado, até que surja um novo T. E. Lawrence e consiga levar à vitória a guerra santa sonhada pelos fundamentalistas/terroristas árabes.
Em sua arrogância míope, cada vez mais desumanizados, os israelenses esquecem a frase lapidar de Napoleão Bonaparte: “Com as baionetas pode-se fazer tudo, menos uma coisa: sentar-se sobre elas”. Ao tornarem o estado judeu um bunker, predispuseram-no ao destino habitual dos bunkers. Mais dia, menos dia, acabam sendo tomados pelos inimigos. Quantos morrerão até lá?
O que temos no Oriente Médio é, portanto, uma tragédia: os acontecimentos marcham insensivelmente para o pior desfecho e nada podemos fazer, exceto atenuar, tanto quanto possível, os banhos de sangue.

POSTS RECENTES DO BLOGUE NÁUFRAGO DA UTOPIA (clique p/ abrir):

Ministro das Relações Exteriores de Israel diz que devastação em Gaza foi uma 'coisa boa'

O ministro da Economia já havia dito que iria obstruir “qualquer acordo por um cessar-fogo”. Mais de 1.100 palestinos e 3 civis israelenses foram mortos.

Avigdor Liberman, ministro das Relações Exteriores de Israel. Foto: Jonathan Klinger/Creativa Commons

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, disse que o exército israelense continuará suas operações militares na Faixa de Gaza após o fim do cessar-fogo, e descreveu as imagens da devastação em Gaza como uma “coisa boa”.
Em declarações ao jornal “Yedioth Ahranoth”, o político disse que o governo deve garantir a segurança dos cidadãos de Israel, não importa quantas horas e dias sejam precisos. “A trégua vai acabar à meia-noite e eu não tenho nenhuma dúvida de que o exército vai continuar as suas operações com toda a força, e depois vamos ver os resultados.”
Quando perguntado sobre as cenas de destruição em massa que foram transmitidas a partir da Faixa de Gaza, disse que “nossos soldados fizeram um bom trabalho”. Os militares, acrescentou, tem “plena autoridade” para alcançar as metas estabelecidas pelo gabinete israelense.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Naftali Bennett, disse que iria obstruir qualquer acordo por um cessar-fogo, acrescentando que o objetivo da campanha militar é desmantelar foguetes do Hamas e destruir os túneis. Ele ressaltou que a pressão deve ser aumentada até que esses objetivos sejam realizados. “Vai levar um mês para destruir os túneis do Hamas completamente, e não dois ou três dias”, disse o ministro da Defesa, Moshe Ya’alon, na semana passada.
Ministros israelenses e membros do partido Likud expressaram sua oposição a qualquer acordo de cessar-fogo com as facções palestinas em Gaza. Segundo o ministro da Administração Interna, Gideon Sa’ar, “Israel deve rejeitar qualquer pressão para prolongar o cessar-fogo e deve continuar a campanha militar e expandi-lo para minar a infraestrutura do Hamas”. Suas opiniões foram compartilhadas por vários de seus colegas.
Mais de 1.100 palestinos foram mortos, com 3 fatalidades entre civis em Israel.
(Com informações do Middle East Monitor)

Federação israelita posta vídeo no Youtube para justificar massacres

A Federação Israelita de São Paulo postou no Youtube um vídeo repulsivo (vocês podem assisti-lo e/ou repassá-lo utilizando este link), no qual compara o estado judeu a um menino mais forte que um espertinho mais fraco provoca sem parar.
Aí, quando o forte dá um murro no fraco, este abre o maior berreiro e todos ficam indignados com o agressor.
Tem lá sua graça, até porque atirar aviõezinhos de papel é mais ou menos o que o Hamas faz.
O final da animação, contudo, peca pela falta de verossimilhança: o simbolismo mais apropriado seria o forte não somente esmurrar o fraco, mas também o matar, esquartejar o cadáver, jogar gasolina, botar fogo e espalhar as cinzas. Aí, sim, se daria uma boa ideia do quanto a reação é desproporcional à ação.
E a mensagem dos patrocinadores, invocando o direito de defesa, esquece os números, que não mentem jamais: na atual temporada genocida, os óbitos palestinos já passam de mil, civis em sua grande maioria, enquanto Israel admite que 40 de seus soldados e dois civis foram mortos. A proporção macabra, desde o início da carnificina, gira em torno de 25 palestinos para cada israelense. Uma escola e um hospital já sofreram bombardeios de Israel.
Nem em comédias de humor negro os assassinos seriais alegam estarem se defendendo de suas vítimas.

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