Carta Pública – X Congresso Brasileiro e VII Internacional de Terapia Comunitária Integrativa

“Temos de mudar a consciência, potencializar os afetos, mas tudo isso deve ser acompanhado pela possibilidade de mudança. É antiético não fazê-lo”. (Paulo Freire)

X Congresso Brasileiro e VII Internacional de Terapia Comunitária Integrativa: A Força da Inteligência Coletiva Salvador – BA, setembro 2019

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como parte da Medicina Tradicional e Complementar, atuam no tratamento e prevenção de doenças, promoção e manutenção da saúde, priorizando a qualidade de vida.

A Terapia Comunitária Integrativa – TCI, prática de saúde genuinamente brasileira, reconhecida pelo Ministério da Saúde como uma PICS, há de mais de 30 anos contribui para a construção da solidariedade, do fortalecimento de vínculos e da promoção da saúde das pessoas, famílias e comunidades em todo o território nacional e mais 25 países da América Latina, Europa e África. Por ser uma prática democrática, com regras que garantem a liberdade de expressão sem medo de julgamento, independente de raça, credo e/ou posicionamento político-partidário, permite construir redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilizar recursos e competências de indivíduos, famílias e comunidades.

O X Congresso Brasileiro e VII Internacional de Terapia Comunitária Integrativa (11 a 14 de setembro de 2019, Salvador, Bahia) reuniu mais de 400 terapeutas, lideranças comunitárias, estudantes e profissionais das mais diversas áreas, que partilharam experiências exitosas em PICS. Durante quatro dias, aprofundaram reflexões teóricas, puseram em dúvida as certezas, fortalecemos os vínculos, renovamos nossa esperança e sobretudo despertamos para a corresponsabilidade na defesa e garantia da promoção da saúde para todos e todas.

Nós, participantes deste congresso, representando a Rede com terapeutas comunitários/as espalhados/as em todas as regiões do Brasil, cuidadores e cuidadoras da vida, aprendemos, na TCI, que “quando a boca cala o corpo fala”. Seguindo esse princípio, queremos dizer que temos consciência sobre o atual cenário político nacional que ameaça o Estado democrático de direito e muitas das conquistas do povo brasileiro, particularmente nossas políticas públicas. E, é exatamente nesse momento, que consideramos necessário compartilhar com todos/as nosso firme posicionamento em defesa do SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, O SUS, gratuito, público e de qualidade para todos/as, com oferta e acesso a uma ampla gama de tecnologias e serviços de saúde, incluindo as Práticas Integrativas e Complementares, PICS.

Salvador, 14 de setembro de 2019

Terapia Comunitária Integrativa realizou congresso em Salvador, BA

A TCI é uma tecnologia leve de cuidado que visa resgatar e reforçar a auto-estima e o poder resiliente das pessoas. Constrói e fortalece vínculos solidários. Promove a geração de sentimentos e atitudes que alimentam a felicidade, a esperança, a confiança em nós mesmos/as. Favorece uma cultura de paz em que as pessoas são vistas como potenciais colaboradores/as. Forma parte das Práticas Integrativas e Complementares (PIC’s) de cuidados em saúde. 

Assista!

 

Escrevo como respiro

Deixo-me vir para a folha como quem de fato volta ao seu próprio lugar

Eu não vou à folha, venho dela.

E neste ir e vir que é um único movimento

Me encontro e desencontro. Reencontro

Uma e outra vez o que preciso para viver e me comunicar

Criar pontes para o mundo em volta

Me trazer de volta.

Então quando saio à rua

E encontro as pessoas

E tudo que há lá

Estou em casa

É um lugar que fiz para mim

E refaço cada vez que escrevo

E também quando não escrevo

Que é quando estou matutando

Costurando

Unindo os fios do que vou lendo vendo.

Pacto das Catacumbas pela Casa Comum

Nunca faltou na Igreja,não obstante sua estrutura hierarquizada e assentada sobre a categoria do “poder sagrado”(sacra potestas), a presença constante do  carisma. Este contrabalança o poder necessário para ordenar a comunidade eclesial, trazendo-lhe inovações que nascem da força do Espírito Santo e do Ressuscitado que penetram a Igreja e o mundo. Estas inovações conferem permanente atualidade à mensagem de Jesus, o Nazareno, trabalhador, camponês mediterrâneo, que veio para nos ensinar a viver os bens que são o conteúdo de sua mensagem do Reino de Deus: o amor incondicional,a misericórdia, a solidariedade, a plena irmandade e especialmente a abertura confiada no Deus que é Pai com características de Mãe.

Uma vez mais, bispos da América e do Caribe junto com outros  que com eles se associaram, foram às Catacumbas de Santa Domitila, onde se viveu um Cristianismo martirial,humilde, igualitário, jovial mesmo dentro de uma situação de perseguição. Essa Igreja das Catacumbas é sempre visitada por milhares de cristãos que lá vão alimentar sua fé e se inspirar para viver o sonho inarredável de Jesus, crucificado e agora ressuscitado entre nós. Ele é a esperança de vida plenamente humana, já neste mundo e de vida eterna,no novo mundo, no coração do Deus Trindade.

No final do Concílio Vaticano II (1962-1965) muitos bispos do mundo inteiro inauguraram seu compromisso de uma igreja pobre, servidora e profética. Agora,em 2019 se renova este gesto profético e messiânico de uma “Igreja com rosto amazônico, pobre, servidora,profética e samaritana”.  É a partir de tais gestos simbólicos e sacramentais que se consolida um caminho novo da Igreja em nosso Continente no meio da Amazônia, o filtro do mundo e a reserva de vida para a nossa e todas as futuras gerações, privilegiando os povos originários que, com referência ao cuidado para com a floresta, são nossos mestres e doutores, como na Igreja dos primórdios se dizia dos pobres. Todos estes que fizeram este Pacto das Catacumbas pela Casa Comum  comparecem como nossos Padres e Madres, com o mesmo valor e dignidade daqueles Padres e Madres da Igreja dos primeiros séculos, que conservaram e nos entregaram até hoje o legado de Cristo e de seu Espírito.

Pacto das Catacumbas pela Casa Comum

Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana

Nós, participantes do Sínodo Pan-amazônico, partilhamos a alegria de habitar em meio a numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades desse imenso território do Planeta. Com eles temos experimentado a força do Evangelho que atua nos pequenos. O encontro com esses povos nos interpela e nos convida a uma vida mais simples de partilha e gratuidade. Marcados pela escuta dos seus clamores e lágrimas, acolhemos de coração as palavras do Papa Francisco:

“Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja.

Por eles, com eles, caminhemos juntos”.

Evocamos com gratidão aqueles bispos que, nas Catacumbas de Santa Domitila, ao término do Concílio Vaticano II, firmaram o Pacto por uma Igreja servidora e pobre. Recordamos com veneração todos os mártires membros das comunidades eclesiais de base, de pastorais e movimentos populares; lideranças indígenas, missionárias e missionários, leigas e leigos, padres e bispos, que derramaram seu sangue, por causa desta opção pelos pobres, por defender a vida e lutar pela salvaguarda da nossa Casa Comum. À gratidão por seu heroísmo unimos nossa decisão de continuar sua luta com firmeza e coragem. É um sentimento de urgência que se impõe ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista.

Diante da Trindade Santa, de nossas Igrejas particulares, das Igrejas da América Latina e do Caribe e daquelas que nos são solidárias na África, Ásia, Oceania, Europa e no norte do continente americano, aos pés dos apóstolos Pedro e Paulo e da multidão dos mártires de Roma, da América Latina e em especial da nossa Amazônia, em profunda comunhão com o sucessor de Pedro, invocamos o Espírito Santo,   e nos comprometemos pessoal e comunitariamente com o que se segue:

  • Assumir, diante da extrema ameaça do aquecimento global e da exaustão dos recursos naturais, o compromisso de defender em nossos territórios e com nossas atitudes a floresta amazônica em pé. Dela vêm as dádivas das águas para grande parte do território sul-americano, a contribuição para o ciclo do carbono e regulação do clima global, uma incalculável biodiversidade e rica socio diversidade para a humanidade e a Terra inteira.
  • Reconhecer que não somos donos da mãe terra, mas seus filhos e filhas, formados do pó da terra (Gn 2, 7-8), hóspedes e peregrinos (1 Pd 1, 17b e 1 Pd 2, 11), chamados a ser seus zelosos cuidadores e cuidadoras (Gn 1, 26). Para tanto, comprometemo-nos com uma ecologia integral, na qual tudo está interligado, o gênero humano e toda a criação porque a totalidade dos seres são filhas e filhos da terra e sobre eles paira o Espírito de Deus (Gn 1, 2).
  • Acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado: “De minha parte, vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco, aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra que convosco saíram da arca (Gn 9, 9-10 e Gn 9, 12-17).
  • Renovar em nossas igrejas a opção preferencial pelos pobres, em especial pelos povos originários, e junto com eles garantir o direito de serem protagonistas na sociedade e na Igreja. Ajudá-los a preservar suas terras, culturas, línguas, histórias, identidades e espiritualidades. Crescer na consciência de que estas devem ser respeitadas local e globalmente e, consequentemente favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, que sejam acolhidas em pé de igualdade no concerto mundial dos demais povos e culturas.
  • Abandonar, como decorrência, em nossas paróquias, dioceses e grupos toda espécie de mentalidade e postura colonialista, acolhendo e valorizando a diversidade cultural, étnica e linguística num diálogo respeitoso com todas as tradições espirituais.
  • Denunciar todas as formas de violência e agressão à autonomia e direitos dos povos originários, à sua identidade, aos seus territórios e às suas formas de vida.
  • Anunciar a novidade libertadora do evangelho de Jesus Cristo, na acolhida ao outro e ao diferente, como sucedeu com Pedro na casa de Cornélio: “Vós bem sabeis que a um judeu é proibido relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em sua casa. Ora, Deus me mostrou que não se deve dizer que algum homem é profano ou impuro” (At 10, 28).
  • Caminhar ecumenicamente com outras comunidades cristãs no anúncio inculturado e libertador do evangelho, e com as outras religiões e pessoas de boa vontade, na solidariedade com os povos originários, com os pobres e pequenos, na defesa dos seus direitos e na preservação da Casa Comum
  • Instaurar em nossas igrejas particulares um estilo de vida sinodal, onde representantes dos povos originários, missionários e missionárias, leigos e leigas, em razão do seu batismo, e em comunhão com seus pastores, tenham voz e voto nas assembleias diocesanas, nos conselhos pastorais e paroquiais, enfim em tudo que lhes compete no governo das comunidades.
  • Empenhar-nos no urgente reconhecimento dos ministérios eclesiais já existentes nas comunidades, exercidos por agentes de pastoral, catequistas indígenas, ministras e ministros e da Palavra, valorizando em especial seu cuidado em relação aos mais vulneráveis e excluídos.
  • Tornar efetiva nas comunidades a nós confiadas a passagem de uma pastoral de visita a uma pastoral de presença, assegurando que o direito à Mesa da Palavra e à Mesa de Eucaristia se torne efetivo em todas as comunidades.
  • Reconhecer os serviços e a real diaconia do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia e procurar consolidá-los com um ministério adequado de mulheres dirigentes de comunidade.
  • Buscar novos caminhos de ação pastoral nas cidades onde atuamos, com protagonismo de leigos e jovens, com atenção às suas periferias e aos migrantes, aos trabalhadores e aos desempregados, aos estudantes, educadores, pesquisadores e ao mundo da cultura e da comunicação.
  • Assumir diante da avalanche do consumismo um estilo de vida alegremente sóbrio, simples e solidário com os que pouco ou nada tem; reduzir a produção de lixo e o uso de plásticos, favorecer a produção e comercialização de produtos agroecológicos, utilizar sempre que possível o transporte público.
  • Colocar-nos ao lado dos que são perseguidos pelo profético serviço de denúncia e reparação de injustiças, de defesa da terra e dos direitos dos pequenos, de acolhida e apoio a migrantes e refugiados. Cultivar amizades verdadeiras com os pobres, visitar as pessoas mais simples e os enfermos, exercitando o ministério da escuta, da consolação e do apoio que trazem alento e renovam a esperança.

Conscientes de nossas fragilidades, de nossa pobreza e pequenez diante de tão grandes e graves desafios, confiamo-nos à oração da Igreja. Que sobretudo nossas Comunidades Eclesiais nos socorram com sua intercessão, afeto no Senhor e, sempre que necessário, com a caridade da correção fraterna.

Acolhemos de coração aberto o convite do Cardeal Cláudio Hummes para nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo nestes dias do Sínodo e no retorno às nossas igrejas:

“Deixem-se envolver no manto da Mãe de Deus e Rainha da Amazônia. Não deixemos que nos vença a auto-referencialidade, mas sim a misericórdia diante do grito dos pobres e da terra. Será necessária muita oração, meditação e discernimento, além de uma prática concreta de comunhão eclesial e espírito sinodal. Este sínodo é como uma mesa que Deus preparou para os seus pobres e nos pede a nós que sejamos aqueles que servem à mesa”.

Celebramos esta Eucaristia do Pacto como “um ato de amor cósmico. “Sim, cósmico! Porque mesmo quando tem lugar no pequeno altar duma igreja de aldeia, a Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo”. A Eucaristia une o céu e a terra, abraça e penetra toda a criação. O mundo saído das mãos de Deus, volta a Ele em feliz e plena adoração: no Pão Eucarístico “a criação propende para a divinização, para as santas núpcias, para a unificação com o próprio Criador”. “Por isso, a Eucaristia é também fonte de luz e motivação para as nossas preocupações pelo meio ambiente, e leva-nos a ser guardiões da criação inteira”.

Catacumbas de Santa Domitila

Roma, 20 de outubro de 2019

Crianças do MST visitam vigília e dão ‘boa tarde’ a presidente Lula

Crianças do 13º Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha do Paraná levaram apoio ao ex-presidente, preso desde março de 2018, ao lado de Fernando Haddad

No ‘Boa tarde’ ao presidente Lula de sexta-feira (18) ecoaram as vozes das mais de 400 crianças participantes do 13º Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha do Paraná. A coordenação do ato ficou a cargo da garotada, que agitou a Vigília Lula Livre, na Superintendência da Polícia Federal, onde Lula é mantido preso desde o dia 7 de abril de 2018, em Curitiba.

As crianças receberam o ex-candidato à presidência da República em 2018 e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que iria visitar Lula em seguida e perguntou se as crianças gostariam de mandar algum recado a ele. Entre várias respostas, uma menina gritou: “Lula, a gente ama você e quer te ver solto. A gente está te apoiando”.

Após a visita à vigília, as crianças seguiram para um passeio no Zoológico de Curitiba, última e muito aguardada atividade do Encontro dos Sem Terrinha, que iniciou na quarta e se encerra hoje. As crianças têm idade entre 6 e 12 anos, e vêm de acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Na manhã desta quinta-feira (17), uma comissão de 15 crianças já havia visitado a vigília e enviado uma carta a Lula. “Queremos agradecer a tudo que o senhor fez por nós e pelo que ainda irá fazer, nós sabemos que não está nada fácil para você e não está nada fácil pra nós também. Queremos que saiba que estaremos com vocês”, diz a carta.

Fim dos despejos

Fim dos despejos, reforma das escolas, melhoria das bibliotecas, dos espaços de lazer e das estradas, ampliação do atendimento à saúde. Foram muitos os relatos e reivindicações apresentadas pelas crianças Sem Terrinha ao superintendente de Geral de Diálogo e Interação Social do Governo do Estado (Sudis), Mauro Rockembach. O encontro ocorreu na manhã da sexta (18), no Palácio do Governo.

As crianças leram ao superintendente o manifesto produzido pelos participantes do Encontro. “Queremos do governo menos promessas e mais ações para melhorar a nossa qualidade de vida”, diz o documento. O superintendente garantiu que levará o manifesto ao governador do estado, Ratinho Júnior.

A programação do encontro contou ainda com estudo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), apresentação do manifesto à Assembleia Legislativa do Paraná em defesa de direitos, apresentações artísticas, oficinas, brincadeiras, contação de história.

Com informações da página do MST

Fonte: Rede Brasil Atual

(20-10-2019)

A obra completa de Machado de Assis para download gratuito

Por Carlos Willian Leite

Uma parceria entre o portal Domínio Público e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística (Nupill), da Universidade Federal de Santa Catarina, sistematizou, revisou e disponibilizou on-line a Coleção Digital Machado de Assis, reunindo a obra completa do autor para download.

Além dos romances, “Ressurreição” (1872), “A Mão e a Luva” (1874), “Helena” (1876), “Iaiá Garcia” (1878), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Casa Velha” (1885), “Quincas Borba” (1891), “Dom Casmurro” (1899), “Esaú e Jacó” (1904) e “Memorial de Aires” (1908), a coleção engloba sua obra em conto, poesia, crônica, teatro, crítica e tradução.

O projeto, que foi criado em 2008, também disponibiliza teses, dissertações e estudos críticos, e traz um vídeo sobre a vida do autor e sobre o contexto histórico em que ele viveu.

Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, é considerado, ao lado de Guimarães Rosa, o mais importante escritor brasileiro. Poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista e crítico literário, testemunhou a Abolição da Escravatura e a mudança política no país quando a República substituiu o Império. Morreu em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos.

“A galeria de tipos e personagens que criou revela o autor como um mestre da observação psicológica. Sua obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a complexidade do pensamento, além da desconfiança na razão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que se afaste de seus contemporâneos.”

Clique no link para acessar: A obra completa de Machado de Assis para download

Fonte: Revista Bula

A criança que fui chora na estrada

Por Fernando Pessoa

I – A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Já não sei de onde vim nem onde estou.

De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar

Um alto monte, de onde possa enfim

O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,

E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar

Em mim um pouco de quando era assim.

II

Dia a dia mudamos para quem

Amanhã não veremos. Hora a hora

Nosso diverso e sucessivo alguém

Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem

Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.

Ah, que horrorosa semelhança têm!

São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.

E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,

E, inúmero, prolixo, vou descendo

Até passar por todos e perder-me.

III

Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço

O que sinto que sou? Quem quero ser

Mora, distante, onde meu ser esqueço,

Parte, remoto, para me não ter.

Mensagem do Papa Francisco

“Ângelus”, dia 20.10.2019

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

A segunda leitura da liturgia de hoje nos propõe a exortação que o Apóstolo Paulo dirige ao seu fiel colaborador Timóteo: “Anuncia a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, adverte, repreende, exorta com toda magnanimidade e ensinamento.” O tom é sincero: Timóteo deve sentir-se responsável pelo anúncio da Palavra.

O Dia Mundial da Missão, hoje celebrado, é uma ocasião propícia para que todo batizado tome consciência mais viva da necessidade de cooperar com a anúncio da Palavra, com o anúncio do Reino de Deus, mediante um renovado esforço. O Papa Bento XV, há cem anos atrás, a fim de dar novo impulso à responsabilidade missionária de toda a Igreja, promulgou a Carta Apostólica Maximum illud. Ele advertiu para a necessidade de para requalificar, do ponto de vista evangélico, a missão no mundo, no sentido de que fosse purificada de qualquer incrustação colonial e livre dos condicionamentos das políticas expansionistas das Nações europeias.

No contexto de hoje, a mensagem de Bento XV ainda é atual e estimula a superação da tentação de qualquer fechamento auto referencial e de toda forma de pessimismo pastoral, de modo que nos abramos à novidade alegre do Evangelho. Nos tempos de hoje, marcados por uma globalização que deveria ser solidária e respeitosa da particularidade dos pobres, e, ao contrário, ainda sofre com a homologação e com os antigos conflitos de poder que alimentam guerras e arruinam o planeta, os fiéis são chamados a levarem por toda parte, como um relançamento, a Boa Nova que em Jesus a misericórdia vence o pecado, a esperança vence o medo, a fraternidade vence a hostilidade. Cristo é a nossa paz e Nele toda divisão é superada, Nele apenas reside a salvação de todo ser humano e de todo povo.

Para vivermos a missão em plenitude, há uma condição indispensável: a oração, uma oração fervorosa e incessante, segundo os ensinamentos de Jesus proclamados também no Evangelho de hoje, no qual ele conta uma parábola «sobre a necessidade de rezar sempre, de maneira incessante”. A oração é o primeiro sustento do povo de Deus aos missionários, rica de afeto e gratidão para sua difícil tarefa de anunciar e dar a luz e a graça do Evangelho aos que ainda não O receberam. Hoje também é uma bela ocasião para nos perguntarmos: eu rezo pelos missionários? Rezo por aqueles que vão longe para levarem a Palavra de Deus com o testemunho? Pensemos nisso.

Que Maria, Mãe de todos os povos, acompanhe e proteja, a cada dia, os missionários do Evangelho.

Trad: AJFC

Digitação: EAFC

¿Cuándo un gusto deja de ser un gusto para transformarse en apenas hábito?

Esta pregunta no viene de la nada. La vida no preguntada es menos vida. Me gusta tomarme una cachacita. Pero me doy cuenta de que hay veces que no la disfruto, no la estoy tomando por placer, por aquél gustito de saborear ese aroma tan especial.

¿Cuándo un gusto deja de ser un gusto para transformarse en una repetición vacía?

Me gusta regar las plantas y cuidar el jardín. Pero hay veces que lo hago a disgusto. Es cuando no lo estoy haciendo por placer sino por obligación.

Me gusta escuchar música. Pero me disgusta cuando lo hago medio ausente, sin conectarme, sin dejar que las canciones me alcancen.

Podría decir entonces que la clave es la presencia, la atención, el placer, la conexión. Algo de eso hay, pero hay algo más, que todavía no consigo alcanzar. Cuando lo alcance se los cuento.

Creo que tiene que ver con algo como la despreocupación, la confianza, la certeza de que estoy haciendo algo bueno, la desculpabilización.

¡El placer es tan vapuleado por la llamada cultura judeo-cristiana! Como si disfrutar fuera un pecado. Pecado es no disfrutar de la vida sanamente. Es mejor degustar una cachacita, disfrutar de una musiquita, que envenenarse de odio y de culpa.

No escribo estas cosas con otro afán que el de meramente ejercer este oficio de ir palabrizando la vida. Un oficio sin demasiada platea pero con mucho de satisfacción personal. Aquí y allí alguien  me trae algún retorno sobre lo que escribo.

Una de las cosas que más me gustan de las crónicas es que ellas son como la vida. Desapercibidas. Diría imprescindibles. Para que el despertar y el dormir y todo lo que hay en el medio tengan su lugar.

Así recupero una condición placentera y suave. Dejo de estar queriendo cargar piedras todo el tiempo. No es necesario transformar la vida en un fardo. “Mi yugo es leve, mi carga es ligera,” dicen que dijo Jesús.

¡Puede ser tan bueno esto de estar trayendo al papel lo cotidiano! Un ejercicio tan delicado como la caída de una flor. No quiero convencer a nadie de nada. Ya hay tanta presión para que pensemos esto o aquello, para que compremos algo, para que odiemos a quienes no conocemos.

Un poquito más acá está el mundo cotidiano, vivido, real.