Por Davis Sena Filho, do Palavra Livre
O Ministério Público Estadual entra na investigação sobre propina e superfaturamento de obras no metrô e nos trens metropolitanos de São Paulo, denunciados pela empresa alemã, Siemens, que integra o cartel, juntamente com a francesa Alstom, que confessou a distribuição de U$ 6,8 milhões, entre 1998 a 2001, a membros do PSDB paulista.
O MP pedirá às Justiças suíça e alemã cópias de depoimentos e de documentos bancários com indícios de supostos pagamentos feitos por executivos a “agentes públicos” que trabalharam no governo do Estado de São Paulo. A Siemens revelou que 7,5% do valor de contratos de 15 empresas, entre 1995 e 2010, iam para as mãos dos tucanos.
Nos EUA, recentemente importante executivo da Alstom foi preso por corrupção. A multinacional francesa também foi condenada em vários países por ter corrompido servidores públicos. Mário Covas, já falecido, José Serra e Geraldo Alckmin estão no olho do furacão.
O então genro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I —, David Zylbersztain, estava à frente da Secretaria de Energia de São Paulo e participou das negociações de assinaturas de contratos de consultoria, além de ser um dos “gênios” quando esteve no comando da Agência Nacional de Petróleo, que quiseram transformar a Petrobras em Petrobrax, com a finalidade de facilitar uma possível privatização da mais importante estatal brasileira. Andrea Matarazzo, atualmente vereador do PSDB, também participou desse processo de consultoria, bem como também foi secretário de Energia.
Enquanto isso, com exceção da revista Istoé, que deu detalhes do caso, a imprensa de mercado blinda as autoridades tucanas envolvidas em um escândalo de R$ 425 milhões, e que teve seu começo há 20 anos. Em meio às manifestações no Brasil, a alemã Siemens demite seu presidente-executivo, Peter Loescher.
A imprensa de mercado se cala, torna-se cúmplice dos que cometeram malfeitos e mostra mais uma vez que fazer jornalismo é apenas um mero detalhe, pois esconde tamanho escândalo do povo brasileiro, porque a imprensa de negócios privados tem lado, cor, partido político e ideologia. É isso aí.
Arquivo mensais:julho 2013
Tornar-se e ser
Isto é uma tortura, uma loucura. Ninguém pode ser outra coisa do que é, mas nos ensinaram que éramos ruins e devíamos ser bons, que éramos pecadores e devíamos ser virtuosos, que éramos errados e deveríamos tentar acertar.
No hinduísmo não existe a noção de pecado, mas a noção de erro. O erro, nessa visão, é você achar que é incapaz, que não pode, que é errado, que é inútil. A verdade, sempre nessa mesma perspectiva, é que você é Deus, você é Aquilo em que tenta se transformar.
O que deve ser feito, é eliminar as falsas noções que você incorporou a respeito de si mesmo, e reconhecer a divindade que você é, o seu caráter de ser divino.
Esta mesma afirmação da divindade do ser, encontra-se na mensagem de Jesus, nos escritos de Rabindranath Tagore, nas palestras que o swami Vivekananda pronunciou nos Estados Unidos, no congresso mundial das religiões.
Como podemos tornar esta verdade uma verdade vivida e não apenas enunciada? Trata-se de remover falsas crenças e descobrir a verdade. Nenhum de nós pode apontar caminhos para os demais, cada um, cada ser humano, é um caminho único.
O que me ocorre de dizer aqui, é que vale a pena tentar. Vale a pena você começar a se ver como alguém que pode, alguém que é capaz, alguém que sabe, alguém maravilhoso, único, irrepetível.
Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Documentário Vila Autódromo não se cala
Moradores da Vila Autódromo se manifestam contra as remoções
Por Camila de Araújo e Eric Fenelon
A Comunidade Vila Autódromo, ameaçada de despejo, realizou no dia 20 de julho um protesto contra as remoções forçadas feitas pela Prefeitura do Rio. Os manifestantes reivindicavam o direito à moradia e melhores condições na infraestrutura do bairro. A passeata seguiu da Associação de Moradores, onde foi a concentração, até a Avenida Embaixador Abelardo Bueno. O protesto reuniu moradores das comunidades do Horto, Providência, Ladeira dos Tabajaras Estradinha e Indiana, todas ameaçadas de remoção. Também estiveram presentes militantes sociais, ONGs e apoiadores da luta.
Os argumentos utilizados para a remoção da comunidade são variados e inconsistentes. A pressão aumentou ainda mais desde que o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar a Copa e as Olimpíadas nos próximos anos. Com a justificativa de melhorar a imagem internacional, processos de revitalização e embelezamento tomam posse do espaço público da cidade e expulsam as comunidades locais. Continue lendo Moradores da Vila Autódromo se manifestam contra as remoções
Recomeço
O caso é que, pensei, se não devo nada, nem aos outros e nem a mim mesmo, estou em paz. Veio, como digo, uma alegria muito grande. Mas veio também um vazio. E o vazio foi como uma porta, uma libertação. Se não tenho dívidas, se não devo nada e se ninguém tampouco nada me deve, tudo está como deveria ser.
Não há uma rede de cobranças e nem de exigências de mim para com os outros ou de mim para comigo mesmo, e nem tampouco dos outros com relação à mim. Zerado. Estou zerado, pensei. Acho que este exercício abre uma possibilidade. Não é que, de verdade, eu não deva nada.
Pode até ser que deva. Mas me permito pensar, por um momento, que não devo nada e que ninguém me deve. Que o mundo foi resgatado do comércio e do mercantilismo, do devo e me deves. Não devo e nem me deves. Não é melhor assim? Ao menos como exercício, como uma possibilidade.
Pensei nas pessoas todas que amo, os seres que moram no meu coração, as pessoas queridas das redes que constituem a minha vida. Durante muito tempo pensei que devia a eles, a estes seres sem os quais não concebo a minha vida. Mas isto me penalizava.
Me fazia sentir em falta, permanentemente. Eu não lhes devo nada, e nem me devem. Os amo, as amo, mas isto não estabelece obrigações de parte a parte. É gratuito. Quando fiz este exercício, de manhã, e agora que escrevo, vem uma sensação como de começo.
Uma limpeza interior. Um espaço dentro de mim. Há uma possibilidade. Não necessito das cobranças interiores, de mim para comigo mesmo. Dispenso o cobrador interno, ao menos neste momento. Quem sabe possa vir a dispensá-lo definitivamente, mas por enquanto, penso que, agora, neste instante, não devo nada. Nem a você, nem a mim, nem a ninguém.
Estou zerado. Há uma possibilidade. Sinto o recomeço da vida. Um nascimento. A minha infância. O tempo primeiro, o tempo primordial. Recomeço.
Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Gurugi
A vista das redondezas, verdes, o céu azul da tarde. Dores no braço direito, medo de perder a visão de um olho, dificuldades oriundas do diabetes. Aumento da confiança. Trabalho a pesar da dor, disse um senhor. Mas não havia na sua fala nem auto-piedade, nem afã de chamar atenção, nem tampouco um falso orgulho. Era o que ele fazia. É o que ele faz, como várias das demais pessoas que participaram da roda. Via as telhas vermelhas do teto, duas bandeirolas penduradas das traves.
Os estudantes da UFPB que tiveram a inciativa desta atividade. Hoje lembrei que eu também já fiz isso, ou faço, como tantas outras pessoas. Continuar a pesar da dor. Sabendo que no caminho as cargas se arrumam, e nova força vem. Uma roda, o apoio mútuo, canções puxadas por uma menininha. Coisas simples tem o poder de nos lembrar de quem somos. Lembrar de que nós podemos.
Doutor em sociologia (USP). Terapeuta Comunitário. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/
Participe do VII Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária Integrativa!
Contribui para o empoderamento de pessoas e comunidades. Promove a valorização da experiência pessoal e comunitária. Valoriza o resgate da identidade própria, e o reforço da auto-estima.
Não é uma solução milagrosa, mas uma ferramenta eficaz que contribui para evitar o adoecimento mental, somando com outras inciativas na base da sociedade. Este congresso é uma oportunidade para reforçar vínculos e redes, ampliar fronteiras!
Visite o site: www.congressotcipb.com.br
Direitos Humanos, Chefia? Conta outra…
Eu vi, você viu, nós vimos, numa sequência consistente e diária, na TV Globo, o assédio do povo ao governador, constante e porque não dizer merecido por suas inadmissíveis, estranhas e indesejáveis práticas, como, por exemplo, além das relações com empreiteiras, dançar em Paris (que boa escolha!), com parte de seu secretariado, no inesquecível rebolado do lenço na cabeça.
Mas e o Leblon? Ficamos todos admirados com o comportamento da polícia diante da ação de alguns manifestantes contra bancos e casas próprias do luxo comercial do elegante bairro. Não nos digam que a polícia via na ação predatória uma legítima indignação contra símbolos do capital… Pois espantem-se, companheiros, a Globo filmava, e mais, mostrava os fatos filmados como a principal e empolgante atração de sua filmoteca, e a polícia pouco fazia (na verdade alguma repressão houve) para conter aqueles que, locutores e comentaristas globais, chamavam vândalos, esses, chamados vândalos ou arruaceiros, tanto era a comodidade das filmagens, pareciam mesmo fazer pose para as tomadas…
E a polícia? Não estava bem de braços cruzados, que algumas bombas foram lançadas. Como sabemos todos, alguns até por sofrerem no corpo, polícia é polícia… Estava, sim, acomodada. Aí entrou em cena o governador, lá do seu recanto, quem sabe da aprazível Mangaratiba, preocupado apenas com o vai e vem das ondas do mar, e convocou urgente reunião de seus agentes de segurança, que, com a gravidade exigida pela ocasião, disseram a nós outros, supostamente uma plateia silenciosa e bem comportada, que a postura da polícia fora fruto de ajustes democráticos com órgãos tradicionalmente comprometidos com as liberdades públicas e direitos humanos, citando até a Ordem dos Advogados do Brasil e a Anistia internacional.
Ora, senhor autoridade, fosse este um papo de esquina, diríamos nós: conta outra, meu caro.
Mas a autoridade mesma, talvez temendo o risco de mostrar a farsa, cuidou de perfilar-se, para enfim revelar-se. Disse ela, sem dúvida falando sério, que agora ficara claro com as exibições das filmagens da TV Globo que as “boas intenções” da polícia falharam, e daí em diante estava ela legitimada para cumprir seu papel.
O que o Papa Francisco trouxe até agora de novo
1.Do inverno ecclesial à primavera: saimos de dois pontificados que se caracterizaram pela volta à grande disciplina e pelo controle das doutrinas. Tal estratégia criou uma espécie de inverno que congelou muitas iniciativas. Com o Papa Francisco, vindo de fora da velha cristandade européia, do Terceiro Mundo, trouxe esperança, alívio, alegria de viver e pensar a fé crista. A Igreja voltou a ser um lar espiritual.
2.De uma fortaleza à uma casa aberta: Os dois Papas anteriores passaram a impressão de que a Igreja era uma fortaleza, cercada de inimigos contra os quais devíamos nos defender, especialmente o relativismo, a modernidade e a pós-modernidade. O Papa Francisco disse claramente: “quem se aproxima da Igreja deve encontrar as portas abertas e não fiscais da afândega da fé; “é melhor uma Igreja acidentada porque foi à rua do que uma Igreja doente e asfixiada porque ficou dentro do templo”. Portanto mais confiança que medo.
3.De Papa a bispo de Roma: Todos os Pontífices anteriores se entendiam como Papas da Igreja universal, portadores do supremo poder sobre todos as demais igrejas e fiéis. Francisco prefere se chamar bispo de Roma, resgatando a memória mais antiga da Igreja. Quer presidir na caridade e não pelo direito canônico, sendo apenas o primeiro entre iguais. Recusa o título de Sua Santidade, pois diz que “somos todos irmãos e irmãs”. Despojou-se de todos os títulos de poder e honra. O novo Anuário Pontifício que acaba de sair cuja página inicial deveria trazer o nome do Papa com todos os títulos, agora aparece apenas assim: Francesco, bispo de Roma.
4.Do palácio à hospedaria: O nome Francisco é mais que nome; sinaliza um outro projeto de Igreja na linha de São Francisco de Assis: “uma Igreja pobre para os pobres” como disse, humilde, simples, com “cheiro de ovelhas” e não de flores de altar. Por isso deixou o palácio papal e foi morar numa hospedaria, num quarto simples e comendo junto com os demais hóspedes.
5.Da doutrina à prática: Não se apresenta como doutor mas como pastor. Fala a partir da prática, do sofrimento humano, da fome do mundo, dos imigrados da África, chegados à ilha de Lampedusa. Denuncia o fetichismo do dinheiro e o sistema financeiro mundial que martiriza inteiros países. Desta postura resgata as principais intuições da teologia da libertação, sem precisar citar o nome. Diz:”atualmente, se um cristão não é revolucionário, não é cristão; deve ser revolucionário da graça”. E continua:”é uma obrigação para o cristão envolver-se na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade”. E disse à Presidenta Cristina Kirchner:”é a primeira vez que temos um Papa peronista” pois nunca escondeu sua predileção pelo peronismo. Os Papas anteriores colocavam a política sob suspeita, alegando a eventual ideologização da fé.
6.Da exclusividade à inclusão: Os Papas anteriores enfatizaram, especialmente Bento XVI a exclusividade da Igreja Católica, a única herdeira de Cristo fora da qual corre-se risco de perdição. O Francisco, bispo de Roma, prefere o diálogo entre as Igrejas numa perspectiva de inclusão, também com as demais religiões no sentido de reforçar a paz mundial.
7. Da Igreja ao mundo: Os Papas anteriores davam centralidade à Igreja reforçando suas instituições e doutrinas. O Papa Francisco coloca o mundo, os pobres, a proteção da Terra e o cuidado pela vida como as questões axiais. A questão é: como as Igrejas ajudam a salvaguardar a vitalidade da Terra e o futuro da vida?
Como se depreende, são novos ares, nova música, novas palavras para velhos problemas que nos permitem pensar numa nova primavera da Igreja.
O autor escreveu, entre outras obras, Francisco de Assis e Francisco de Roma, Editora Mar de Ideias, Rio 2013.
Nascido em 1938, doutorou-se em teologia pela Universidade de Munique. Foi professor de teologia sistemática e ecumênica com os Franciscanos em Petrópolis e depois professor de ética, filosofia da religião e de ecologia filosófica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Conta-se entre um dos iniciadores da teologia da libertação. É assessor de movimentos populares. Conhecido como professor e conferencista no país e no estrangeiro nas áreas de teologia, filosofia, ética, espiritualidade e ecologia. Em 1985, foi condenado a um ano de silêncio obsequioso pelo ex-Santo Ofício, por suas teses no livro Igreja: carisma e poder (Record).
Saiba mais: https://leonardoboff.org