A equipe de Organização da Semana Teológica Pe. José Comblin, agora em sua 13ª edição, já realizou seus primeiros encontros deste ano no Centro de Formação Pe. José Comblin, em Café do Vento, município de Sobrado- PB, nos dias 05/02 e 05/03, com o objetivo de empreender os primeiros passos na organização da XIII STPJC.
Dando sequência aos trabalhos da primeira reunião, os membros da Equipe da Organização, vinculados a vários grupos (Kairós, CPT, Grupo Comblin, Teologia Nordeste, CEBs, Egressos da Escola de Formação Missionária de Mogeiro/Santa Fé, CEBI, Coletivo Feminista, entre outros). Todos bem acolhidos pelo Pe. Herminio Canova, trataram de definir o tema geral e os temas conexos da XIII STPJC, além de compartilharem diversas informações, notícias, relatos de experiências, tendo iniciado com o momento habitual de espiritualidade, refletindo sobre a Transfiguração, com base no Evangelho do II Domingo da Quaresma, sobre a narrativa da Transfiguração. Sempre com o apoio do ofício Divino das Comunidades, após o momento da Recordação, foram partilhadas valiosas experiências individuais e comunitárias, associadas ao tema da transfiguração.
Contando com a presença e a participação de Pe. Hermínio, Edna, Andreza, Tânia, Elenilson, Elinaide, Glória, Maria José (responsável pelo saboroso almoço) e Alder, tratou-se de compartilhar informações diversas, dentre as quais:
Os preparativos da próxima Romaria celebrativa do centenário do Pe. José Comblin, a acontecer no Santuário de Santa Fé (Solânea-PB), nos dias 24, 25, e 26 de março;
Os passos que estão sendo dados para a realização em Rondonópolis;
MT, em julho próximo, do XV intereclesial das CEBs;
A publicação pela Editora Paulus do livro Póstumo de Comblin, “O Espírito Santo e a Tradição de Jesus” (terceira versão), a sair nos próximos dias;
A programação dos cursos de formação para membros da CPT (Regional nordeste 2).
Acerca dos preparativos para a próxima Romaria Missionária, celebrativa do centenário do Pe. José Comblin, importa conhecer parte da programação prevista para o dia 25/03:
Serão oito grupos com um assessor e uma secretária em cada grupo, na qual terá as seguintes temáticas:
1. Igreja – Povo de Deus João Batista(coordena) Magal (secretaria)
2. A Missão e Igreja em Saída Pe. Hermínio (coordena) Anunciada (secretaria)
3. Os Pobres no centro do Evangelho Pe. Isaías (coordena) Milena (secretaria)
4. A Ação do Espírito Santo Monica (coordena) Marta (secretaria)
5. Viver na Esperança Helvídio (coordena) Aline(secretaria)
6. Seguindo o Caminho de Jesus Frei Roberto (coordena) Valnice ( secretaria)
7. Vocação para a Liberdade Ana Claudia (coordena) Valberto (secretaria)
8. O anúncio do Reino no mundo presente Glaudemir (coordena) Paulinho (secretaria)
E para a grande plenária e síntese geral: Alder Júlio.
Passando em seguida, para a discussão da pauta principal – a organização das Jornadas Comunitárias e da Sessão de Encerramento da XIII STPJ – , Pe. Hermínio rememorou temas e passos refletidos, na reunião precedente. Após a roda de conversas entre os participantes da reunião, chegou-se a um consenso sobre o tema central e os temas conexos da XIII STPJC. Ficou acordado como tema central “2023, 100 anos de Pe.José Comblin (1923-2011): Profeta da Liberdade”, a ser refletido quando da sessão de Encerramento, marcada para o dia 23 de setembro próximo, com a participação de um convidado, cujo nome será divulgado oportunamente, após os contatos com o mesmo.
Com relação aos temas conexos, locais, datas e convidados/convidadas, chegou-se ao seguinte entendimentos:
Ficou combinado o tema conexão “A trajetória itinerante do Missionário Pe. José Comblin” tema a ser vivenciado na primeira Jornada Comunitária, a ser realizada na Casa Jardim dos Sonhos, em Várzea Nova, no próximo dia 10 de junho, tema para o qual está sendo contactada uma pessoa com larga experiência no assunto, cujo nome divulgaremos, oportunamente.
A segunda Jornada Comunitária está prevista para ser realizada, em Santa Rita no dia 15 de julho próximo, sobre o tema conexo “Pe. José Comblin, um Educador Popular” oportunamente, serão conhecidos o local preciso e a pessoa convidada a ajudar a refletir sobre o tema.
A terceira Jornada Comunitária versará sobre a dimensão profética do Pe. José Comblin, a ser realizada em Bayeux (em local a ser conhecido em breve), para o que também contaremos a participação especial de um amigo de Comblin, a ser brevemente confirmado.
Após a definição dos temas da XIII STPJC, as pessoas participantes foram convidadas pelo Pe. Hermínio, nosso anfitrião, após um brinde, a nos servirmos de um saboroso almoço preparado por Maria José.
Não foram vocês que Me escolheram, mas fui Eu quem os escolheu e os enviei, para que vocês vão e dêem fruto e este fruto permaneça (Jo 15, 16)
Ao longo desses mais de cem anos – e mesmo bem antes deste período -, nossas gentes têm contado com o anúncio do Evangelho, no chão da diocese de Pesqueira, graças a dedicação, de ontem e de hoje, de muitos missionários e missionárias. Dentre os anunciadores da Boa Nova – homens e mulheres -, na experiência missionária vivenciada em nossa região, incluem-se discípulos e missionários não nascidos no Brasil, vindos de diferentes países, que se inculturaram na realidade do nosso povo, em especial os mais pobres.
Cada qual à sua maneira, esses missionários e missionárias, tendo deixado sua terra, sua família e seu povo, responderam generosamente à vocação de anunciar testemunhar a Boa Nova, doando-se à causa do Reino de Deus, enfrentando sucessivos desafios econômicos, políticos, culturais, psicológicos, inclusive ao interno da própria Igreja. Rendendo um tributo a esses missionários e missionárias inculturados na vida eclesial de nossa Diocese e em outras comunidades vizinhas, rememoramos figuras de missionários e missionárias de várias Congregações Religiosas (masculinas e femininas): Oratorianos, Franciscanos, Doroteias, Redentoristas, Padres ’’fidei donum’’, sem esquecermos também a contribuição oferecida por irmãos e irmãs de outras confissões,como os Menonitas, só para citar alguns exemplos, a título de ilustração.
Justamente neste ano,estamos a comemorar também os 50 anos do profético Documento’’ Eu ouvi os clamores do meu Povo’’, assinado por 11 Bispos nordestinos e 8 Superiores Religiosos do Nordeste. Dentre os signatários do mesmo texto, figuravam Dom Hélder Câmara, Dom José Lamartine Soares (respectivamente Arcebispo e Bispo Auxiliar de Olinda e Recife), Dom Antônio Batista Fragoso (Bispo de Crateús -CE), Dom José Maria Pires (Arcebispo da Paraíba), Dom Francisco Austregésilo de Mesquita (Bispo de Afogados de ingazeira), Dom Severino Mariano de Aguiar (Bispo de Pesqueira), além de outros signatário Bispos e Superiores religiosos do nordeste. Acerca deste Documento, já tivemos a oportunidade de escrever algumas linhas (cf. https://textosdealdercalado.blogspot.com/2016/07/eu-ouvi-os-clamores-do-meu-povo-um.html) . Dadas as circunstância Históricas da época-em plena Ditadura Civil Militar, em seu período mais tenebroso, sob o General Médici-, este texto de 24 páginas comporta uma corajosa denúncia profética,por meio de uma análise percuciente das condições de emprobremesimento da maioria da população nordestina, agravadas pela sistemática perseguição, numerosas prisões e torturas de parcela de significativa de nordestino e brasileiros. Rememorar este Documento constitui também um dos objetivos de nossa proposta.
Retornando ao foco de nossa Proposta-celebrar a memória de Missionários e missionárias inculturados à nossa realidade-,e não podendo, nestas breves linhas, rememorar detalhadamente cada um – cada uma – desses discípulos missionários, tratamos pelo menos de destacar aspectos dos que nos impactam pela sua notória contribuição e testemunho da causa libertadora do povo dos pobres, em nossa região.
Em meados dos anos 60, por exemplo, contamos com a presença profética de Pe. Joseph Servat (o querido Pe. José Servat), dedicado missionário que cumpriu um denso serviço profético junto aos trabalhadores e trabalhadoras do campo em todo o Nordeste, inclusive da Diocese de Pesqueira. Francês de nascimento, ele chega ao Brasil, dirigindo-se ao Nordeste a convite de Dom Helder Câmara, em nome da Arquidiocese de Olinda e Recife. Notamos que nesta época, o Brasil estava impactado pela desventura do golpe de Estado perpetrado por forças empresarial-militares, inaugurando a tenebrosa Ditadura empresarial-militar que infelicita o Brasil durante longos 21 anos. Justamente em 1975, quando a ditadura militar recém-instalada havia desmontado, pelas perseguições e prisões, diversos membros da Ação Católica Especializada (JAC, JEC, JIC, JOC, JUC), é que Pe. Servat recebe a incubencia que, junto com alguns Padres, a exemplo do Pe. José Maria da Silva, da Diocese de Pesqueira, que estava respondendo a um IPM (Inquérito Policial Militar) perseguido que estava sendo pelo seu trabalho de Assistente da Jac (Juventude Agrária Católica), de prosseguir aquele trabalho de resistência, por outra via. É assim que, com o trabalho perseverante e conjunto com trabalhadores e trabalhadoras do campo, em várias Diocese do Nordeste, o Pe. Servat se empenha, com persistência, em semear novas sementes de resistência à Ditadura Militar, por meio de um plano de atividades organizativas, formativas e de mobilização dos camponeses e camponesas, especialmente na zona canavieira, mas também em várias microrregiões do Nordeste.
A respeito de Padre José Servat vale a pena conferir uma longa entrevista que ele concedeu ao Professor Antônio Montenegro que,reunindo mais outras quatro entrevista sobre missionários ”Fidei Donum” que atuaram no Nordeste,fez publicar no livro intitulado “ Travessia” (pela Companhia Editora de Pernambuco).
Outra figura veneranda de Missionário atuante na Diocese de Pesqueira foi o Padre Armando Biehl. Ele atuou em nossa Diocese, na Paróquia de Jataúba, desde 1973, durante vários anos. Ele veio da França, onde havia acumulado longa experiência de Missionário e de peregrino,tendo feito peregrinação (a pé), da França a Palestina. Vindo para o Brasil, trabalhou inicialmente na zona canavieira de Sergipe, onde travou conhecimento com um jovem casal de agricultores da região: Paulo Carlos de Sousa e Nadja de Sousa – a quem adotou como filho. Nos inícios dos anos 70, a convite de Dom Severino Mariano de Aguiar, então Bispo Diocesano de Pesqueira, chegaram a Jataúba Padre Armando, Paulo (primeiro Diácono Permanente de nossa Diocese,ordenado em 1973), Nadja e seus primeiros filhos.
A principal marca da ação Missionária de Padre Armando como também de Paulo e Nadja – foi sua profunda inserção na organização e formação de dezenas de Comunidades do campo, na área rural de Jataúba, bem como de sua integração nas ações pastorais conjuntas das Comunidades das Dioceses de Pesqueira, Caruaru e Garanhuns. Com efeito, desde meados dos anos 70/inícios dos anos 80, graças ao trabalho conjunto de coordenação das comunidades de Caruaru, Garanhuns e Pesqueira, por meio de distintas atividades organizativas e formativas, em especial por meio dos encontros anuais mais conhecidos como “o Natal das Comunidades” dos quais entre as figuras de referência destacamos o Pe. Pedro Aguiar (Caruaru), Frei Juvenal (Garanhuns) e Pe. Reginaldo Mazzon (Pesqueira).
As comunidades rurais de Jataúba, além da sede da Paróquia, ainda hoje dão testemunho do denso legado do Pe. Armando Biehl, que em conjunto o Diácono Paulo e sua esposa Nadja, percorriam frequentemente todas essas comunidades, seja em função dos trabalhos litúrgicos, seja em função do acompanhamento de suas organizações populares e sindicais. Não surpreende, a este propósito, o depoimento prestado pelo Prof. Francisco de Assis Batista, da UEPB/Campina Grande, ao revelar que, em suas andanças pelo Cariri paraibano, em especial por São João do Tigre, teve acesso a um livro de Atas do Sindicato Rural de São João do Tigre, na qual consta Assinatura como visitante do Pe. Armando Biel. Vários outros testemunhos foram igualmente prestados pela gente pobre daqueles sítios, a exemplo do depoimento prestado pelo missionário leigo Zé Duda, que destacava a capacidade de serviço e de humildade do Pe. Armando, contando até que o Pe. Armando, ao visitar o seu sítio, se dispunha a fazer a limpeza dos ambientes da casa,inclusive recolhendo os penicos e jogando fora o conteúdo.
Dentre tantos Religiosos e Religiosas e Missionários que atuaram em nossa Diocese – Franciscanos, Doroteias, Redentoristas e de outras Congregações-, os redentoristas, Congregação à qual também pertence Dom José Luiz Salles, atual Bispo Diocesano de Pesqueira, tiveram um papel relevante, valendo lembrar a atuação de vários deles: Os holandeses Pe. Jaime, Pe. Estevão, Pe. Antonino, Pe. Gabriel, Pe. Frederico, os últimos dos quais com atuação em Garanhuns e nos vizinhos municípios paraibanos São Sebastião do Umbuzeiro, Camalaú, São João do Tigre, sempre com notável dedicação profética à causa libertadora dos empobrecidos. Ainda dentre estes, cumpre ressaltar a atuação missionária específica de Pe. Estevão, que se ocupava do trabalho missionário, de formação e de promoção dos Direitos Humanos, tanto nas comunidades rurais, quanto nas comunidades da periferia urbana da Paróquia de São Cristóvão em Arcoverde.
Acerca da atuação Missionária de Pe. Estevão, em conjunto com Pe .Jaime, vale destacar pelo menos duas de tantas iniciativas por eles protagonizadas:
– O bom uso das instalações paroquiais especialmente do Salão dedicado, inclusive a formação e à oferta de cursos e análises da conjuntura socio-eglesial;
– O funcionamento regular, por anos a fio, do Boletim “O’Redentor Informa’’, utilizado não apenas para a circulação de notícias das comunidades Paroquiais, mas também como espaço de análise e reflexão crítica sobre a realidade socio-eglesial;
– A animação permanente das comunidades rurais da Paróquia;
– A colaboração e a solidariedade prestadas ao Centro de Defesa dos Direitos Humanos – CDDH -, inclusive em defesa do povo Indígena Kapinawá, no Município de Buíque – PE, bem como em apoio aos trabalhadores e trabalhadoras rurais ocupantes da fazenda caldeirão, no Município de Pedra – PE.
Diversos Padres “Fidei Donum” que atuaram em nossa Diocese, desde meados dos anos 60. Dentre eles: Padre Giovanni Toniutti, Pe. Bruno D’Andrea, aqui chegados em 1965, seguidos por outros, inclusive pelo Pe. Mario Marangon. Mas, pelas razões acima apresentadas queremos destacar a figura do Pe. Reginaldo Mazzon, que continua até o presente, já contando com 59 anos de trabalhos missionários no Brasil, entre a Bahia (Diocese de Feira de Santana – BA, por exemplo), e em nossa Diocese desde inícios dos anos 70, sempre acompanhando as Comunidades Eclesiais de Base.
Pe. Reginaldo, hoje com seus bem vividos 87 anos, estará completando, no próximo dia 30 de junho, 60 anos de ordenação presbiteral, dos quais 59 anos a serviço do povo nordestino, especialmente na Diocese de Pesqueira, onde atuou como Pároco-Vigário em várias Paróquias: Paróquia de São Pedro (Belo Jardim), Paróquia de Nossa Senhora da Conceição (Sertânia), Paróquia de (Poção), Paróquia de Mimoso, e atualmente a serviço das CEBs diocesanas sempre em trabalho conjunto com as CEBs da Diocese de Caruaru e a Diocese de Garanhuns. Ele também segue atendendo a múltiplos convites de serviço sacramental, em especial para o Sacramento da Penitência, convite feito por diversos colegas Padres, inclusive junto ao Santuário da Divina Misericórdia, em Serra das Varas (Arcoverde -PE), pelos Franciscanos, na Paróquia da Imaculada Conceição, em Pesqueira, e pelo Pároco da Catedral. A seguir, cuidamos de destacar seu trabalho específico junto às CEBs. Desde o início de sua atuação missionária, empenhou-se em participar ativamente dos trabalhos de organização das CEBs. Ainda nos anos 70, juntou-se ao esforço interdiocesano (Caruaru, Garanhuns e Pesqueira) de caminhada das CEBs, por meio da realização de diversas atividades, das quais vale ressaltar.
Em tempos de grande estiagem como durante o período de 1969-1983, já a serviço das CEBs compôs a equipe que foi participar, em Caucaia – CE, de um relevante Seminário organizado pelo Regional Nordeste da CNBB, em busca de pistas de enfrentamento da grande estiagem. Da caravana participante deste Seminário fizeram parte,além do Pe. Reginaldo,também Pe.Pedro Aguiar, Irmã Maria Emelia Ferreira, entre outros;
A Participação e a animação do Natal das Comunidades,celebrado há mais de 40 anos pelas comunidades pertencentes às Dioceses de Caruaru, Pesqueira, Garanhuns, iniciativa que consta de um programa realizado,ao longo do ano,por essas comunidades,do qual a Novena do Natal constitui uma das atividades centrais. Novena elaborada em mutirão pelas equipes das três Dioceses;
Pe.Reginaldo acompanhado de nossa Coordenação diocesana de CEBs,têm comparecido, com frequência, aos encontros interdiocesanos,geralmente realizados no Santuário das Comunidades,no Sítio Juriti,a 5 km de Caruaru;
Juntamente com os demais membros da Coordenação Diocesana das CEBs, Pe.Reginaldo anima presencialmente as reuniões e os encontros,desde sua preparação, seja em Pesqueira,seja em Belo Jardim, seja em Jataúba,seja em Sertânia, etc;
Também constam da agenda de nossas CEBs os preparativos e a participação nos Encontros Intereclesiais das CEBs, inclusive para o próximo:XV Intereclesial, a acontecer, em julho próximo, em Rondonópolis – MT.
Nunca é demais lembrar nosso reconhecimento e gratidão,não apenas a estas figuras aqui destacadas,como também a tantas pessoas anônimas que têm dedicado sua vida ao Reino de Deus e sua justiça, em nossa Diocese e em nossa Região.Por meio desses Missionários e Missionárias inculturados no meio do nosso Povo,nosso objetivo é o de fazer memória do Discipulado e da Missão, em meio aos pobres de nossa Região.
O fraterno encontro do lançamento do mais recente livro do nosso querido Pe. José Comblin, A Profecia na Igreja (São Paulo: Paulus, 2009), no Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero, em meio à calorosa acolhida da Comunidade de Tibiri, me inspirou compartilhar com vocês algumas impressões que guardei da leitura deste abençoado e fecundo livro.
Gostaria, pois, de partilhar com vocês os pontos que mais me tocaram do livro. E achei melhor faze-lo em forma de versos de nossa poesia sertaneja.
Para tanto, em recente viagem a Aracaju, aproveitei bem o tempo, na ida e na volta, e tratei de escrever esses versos que seguem.
Participando de um mutirão, como o que o encontro do lançamento do livro nos favorecerá, teremos oportunidade de dizer e de ouvir de tantas pessoas suas impressões acerca do mesmo livro.
Tratei de intitular esses versos “Na Igreja atualmente / Como anda a Profecia?” Nessa troca fraterna, estou desejoso de ouvir os testemunhos de muitos, de muitas de vocês. Permitam, então, que lhes conte em versos o que senti acerca do livro do Pe. José.
Nas veredas libertárias do Nazareno: Apontamentos acerca do livro de José Comblin. “O Caminho: Ensaio sobre o seguimento de Jesus”. São Paulo: Paulus, 2004.
Como lhe sói acontecer em suas obras, também em “O Caminho”, José Comblin dá sobejas provas de uma atualidade e vigência impactantes. Com efeito, 18 anos após a publicação deste Ensaio, não há como o leitor/a leitora não ficar profundamente mexido/mexida pela acuidade analítica do autor. Não foi por acaso que o grupo Kairós, que se tem empenhado na leitura e reflexão atentas da obra de Comblin, decidiu reler “O Caminho”. Nesta ocasião, ao ser avisado por Elena de que, ao final do livro, eu havia escrito 5 páginas de anotações sobre o livro. Surpreso, tomo a liberdade de compartilhar estes apontamentos a partir daqueles registros.
Já em sua introdução, ao brindar-nos com uma síntese panorâmica do ensaio, Comblin trata de situar historicamente o que, durante séculos, os teólogos abordam deste tema. Sem mencionar a figura de Joaquim de Fiore (1135 – 1202), Comblin comenta que a Igreja da Baixa Idade Média punha no amor o núcleo primeiro no Seguimento de Jesus. Com efeito, o que o Monge calabrês Joaquim de Fiore definia como tendo chegado a Idade do Espírito Santo (precedida pela Idade do Pai, caracterizada pela obediência, e pela Idade do Filho, marcada pela misericórdia), cuja principal marca é o amor, assim o Povo de Deus passava a viver sob este signo, o da liberdade, o da criatividade. A Idade Moderna, por sua vez, graças à ação reformadora de Lutero e seus seguidores, bem como a reação da Hierarquia Católica, passava a reger-se pela Fé, entendida como o cumprimento formal dos preceitos, dos princípios, das regras, do magistério eclesiástico, ao qual todos os demais setores da Igreja Católica deviam rígida obediência, distanciando-se assim, do Espírito do Evangelho. Enquanto isso, sublinha Comblin, a Idade Contemporânea é caracterizada pela vigência da Esperança
Nos capítulos que seguem, tratamos de esboçar um resumo aproximativo do que propõe o autor. Como já dito, Comblin começa pela Esperança.
A proposta bíblica é fundamentalmente escatológica, o ser humano sempre é caminho . O papel pedagógico dos profetas no Reino de Deus. A mensagem cristão é mensagem e esperança, sobretudo para os pobres: Importa ir à galileia. As 3 opções dos vencidos diante dos opressores: Submissão integradora, fuga ao passado ou resistência na esperança. Enjaulamento no medo das autoridades de falar, de reivindicar. Quem espera o reino trabalha para que ele comece a acontecer na sociedade pq (cf. 21-38)
Esperar é poder afirmar a necessidade de mudança radical. O sentido da revolta é destruir as opressões, elas são diferentes da esperança como expressão secularizada do advento do Reino, as revoluções ajudam a mudar. Revolução é preparada por um grupo mais dinâmico, não conta com a participação de todos. Após destruir inimigo, desafio maior é prestar atitude alternativa. Somente os pobres podem mudar, somente eles tem esperança (cf. 40-44)
Dirigentes partidários, não raramente, vivem longe do povo. Os cristão são protagonistas do movimento dos pobres Os novos movimentos valorizam a subjetividade, a mística. A esperança abrange a totalidade da vida (cf. 47-49)
Quem não age tem saudade. Jesus protagoniza mudança radical sem suprimir mudanças ulteriores. A teologia escolástica suprime de mudança para a cristandade, missão é para conquistas não para mandar. O Reino de Deus não é estrutura instalada definitivamente na história. Importa buscar sempre pois os limites do possível podem ceder. A figura de Francisco sugere que Jesus começa pelo corpo. Por isso era peregrino, caminhando peregrino aprende a aproveitar tudo sem se apegar a nada. Torna-se livre. O peregrino aprende a ser mais a cada dia. Na peregrinação nunca se caminha só, há todo um povo em movimento. A Esperança da vida eterna procede da esperança vivida do dia a dia. Não há esperança sem profeta. Este lembra da vocação da liberdade.Todos os cristãos são chamados a ser profetas. (cf. 50-72)
O segundo capítulo do livro versa sobre a fé.
Fé é diferente de representação intelectual. A fé primitiva dos primeiros cristãos repousa na simplicidade, foi a hierarquia que não aceitando a divergência de interpretação criou a ortodoxia. A condenação das CEBS e da Teologia da Libertação são um exemplo.O Espírito inquisitorial fez grandes estragos, inclusive na América Latina, recorrendo a imposição do pensamento único, a estratégia dos hierarcas consistia em deformar ao máximo o pensamento dos seus adversários, e imputar lhes autoria dos “erros”. De tão a frente a fé incorporou reis e imperadores. Reduzindo-se o entendimento da fé, forjando uma interpretação supostamente baseada na carta aos romanos, a partir daí, estabeleceu-se separação entre reino e mundo. Diante da posição protestante a Igreja Romana adota o sacramentalismo, o ritualismo, esquecendo o Amor descrito em 1 Cor 13. Nasce daí o enquadramento religiosos da vida clerical, só escaparam os beatos e benzedores, porque eram desprezados por serem analfabetos. A fé como iluminação que transforma a vida. Neste caso a fé é a porta de entrada para a esperança, e sem esperança pode se viver como ser biológico, mas não como ser humano (cf. 79-96)
A fé implica mediação, o olhar do outro.A fé provoca mudança, em alguns casos, mudança radical, a exemplo de Paulo e Francisco. Fé implica ação, por longo tempo reduziu-se Cristo a cruz, esquecendo-se ou omitindo-se a vida de Jesus. A fé implica renuncia ao poder: é a lição que extraímos do próprio Jesus (cf.Fp 2). Caminho é o nome que as comunidades cristãs primitivas davam à Jesus. Libertação é protagonismo dos pobres, não vem como dádiva dos poderosos. Seguir o Caminho implica seguir a verdade, ao contrário do que pleteia a lógica do marketing, de “dourar a pílula” para obter lucro. A tendência à institucionalização do Reino contrapõe-se ao movimento profética de afirmação da pobreza (cf.97-115)
A ressurreição de Jesus é o início da história, prova de sua efetiva presença por meio dos discípulos e discípulas. Mais do que venera-lo Jesus pede mesmo é que O sigamos. Libertando-nos de todas as dominações. Talvez por isso não se tenha chamado filho de Deus. Olhando a vida de Jesus pode-se sempre entender Deus. O Espírito Santo é a presença de Jesus, nos discípulos e discípulas, também acusados pelo mundo (os Poderosos). Quando todos calam, os discípulos levantam a voz, a exemplo dos que fazem os mártires. O pretenso monopólio de Roma sobre o Espírito: O Espírito quer a diversidade ele segue as possibilidades históricas. Importa aprender a caminhar no escuro. O Vaticano II preferiu usar linguagem metafórica: invés de se impor um sistema de conceitos sobre quem é Jesus, importa procurar saber o que ele fez e queria, o grande problema reside nos descaminhos trilhados sobretudo pela hierarquia. (cf. 116-136)
Aceitação intelectual de todos os dogmas não é garantia de fé, a fé a porta da Esperança contra toda esperança (Rm 4-18). É o fundamento da nossa verdadeira vida, o edifício é o amor, a conversão é amorosa, opção pelo essencial que o convívio com os pobres favorece. O amor sustenta o mundo por estar sendo vivido na realidade dos pobres, confiar na transformação social pelo Estado é confiar na lei. O capitalismo é uma imposição dos poderosos. O amor que vem de Deus pode estar presente nas experiências humanas, inclusive na dimensão erótica e do Ághape. Deus não quer receber coisas, quer que amemos com o amor que Dele procede (cf. 1JO 4). O amor se realiza corporalmente, cabeça, mãos, pés, etc. A excelência de MT 25-35-36 como critério principal. Aquele que fez a pergunta a Jesus sobre qual era o maior mandamento, já sabia que era o Amor, mas só intelectualmente, precisava da prática, isto é da relação Deus-próximo (cf. 138-145)
O amor aos pobres é o núcleo do Cristão, ambos desaparecidas do cenário católico desde o século XIV, perseguição aos Espirituais. São Gregório Nazianzeno, o amor aos pobres não é opção é obrigação. São João Crisóstomo dizia que o começo e a raiz da riqueza é sempre uma ofensa à justiça. Importa perceber a força profética do olhar do outro: os pobres nos denunciam, nos anunciam. Formas de exclusão e inclusão dos pobres que deixaram de ser tratados como sujeitos históricos (cf. 146-151)
Em geral são minorias que lutam pela libertação. Apoiadas por lideranças proféticas o MST tem essa característica. Importa contar com lideranças autênticas próximas do povo e fiés ao mesmo. A compaixão leva a um compromisso coletivo e não individual, não considera a miséria uma fatalidade, sofrer com os excluídos. A compaixão de Jesus virou indignação contra os chefes.Testemunhos da indignação: Montesinos e Bartolomeu de las Casas. A indignação dos profetas da América Latina não é qualquer indignação. O fazer como critério da verdade vivida por Jesus. Importa combater a uniformização do pensamento único via televisão. Tecnologia a serviço de quem? O Capital converte o trabalho em produtos e o trabalhador em produtos e consumidores. Precedidas pelos neo pentecostais, as Igrejas a exemplo da sociedade transformam seus fiéis em consumidores de bens religiosos voltados para interesses imediatos e individualistas (cf. 158-201)
203 É de se lamentar que o que identifica o católico não é a prática do evangelho, mas os sinais exteriores. A verdadeira cultura cristã é a dos pobres. As democracias ocidentais defendem mesmo é a propriedade privada. Estamos numa época de trevas, num túnel que parece não ter fim. Jesus não deixou uma religião pronta, mas uma crítica a religião. O sacrifício já não é o que os homens oferecem a Deus, mas o que Deus oferece aos homens, o verdadeiro culto a Deus é oferecer-se para a prática da justiça. A ideologia do sacrifício requer um templo, os que seguem o movimento de Jesus hoje, atua lá onde estão os pobres e necessitados. Oração é aceitação do dom de Deus, é a missão.Na contemporaneidade observa-se o surgimento de nova religião fundada na emoção e gestos corporais. É um desafio para o Seguimento de Jesus usar a religião para anunciar o Evangelho.
Eis um breve resumo do livro de Comblin. Ao elaborá-lo, nosso objetivo é o de incentivar os leitores e leitoras a beberem na própria fonte.
O fundamentalismo religioso, presente no Brasil e na América Latina, protagonizado pelas igrejas neopentecostais, inclusive em sua versão católica, segue fazendo profundos estragos nas esferas sócio-políticas e culturais. Há mais de meio século tendo descido dos Estados Unidos (cf. o célebre livro de autoria de Delcio Monteiro de Lima. “Os Demônios descem do Norte”. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1988), diversas igrejas foram criadas, desde então para difundirem, também, pela televisão, sua doutrina que, falando em nome de Deus, comove parcelas significativas da população.
Constituem alvo preferencial os segmentos mais vulneráveis pelas precárias condiçoes de vida, ao tempo que as convertem em presas fáceis para esquemas de arrecadações de dinheiro, por meio da cobrança de dízimo e ofertas a tais igrejas, vulpinamente controladas por pastores inescrupulosos, fortemente condenados pelos profetas (cf. Isaias, Jeremias, Amós, Oséias, Miquéias, entre outros).
Outro traço espalhado pelo neopentecostalismo (que alguns autores preferem chamar de pós-Pentecostalismo) se manifesta pela sua obsessão de tornar uma teocracia, uma corrente política obcecada pelo poder político, investindo sem cessar no comando direto dos três poderes (no executivo, no legislativo e no judiciário). Para tanto, suas principais lideranças não hesitam em apoiar o golpe midiático institucional de 2016 para a deposição da presidenta Dilma Roussef, resultando no governo golpista de Temer e no desgoverno de Bolsonaro, marcado pelo desmonte das políticas públicas, pelos crescentes ataques ambientais, pela desastrosa condução no enfrentamento da crise sanitária da Covid-19, pela sistemática perseguição aos povos originários, comunidades quilombolas e tradicionais, comunidade LGBTQIA, aos direito das mulheres, etc.
Mas o que isto tem a ver com a leitura popular da bíblia, método trabalhado pelo Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI)? O CEBI compõe uma extensa rede de instâncias do que se costuma chamar de “Igreja na Base” (as CEBs, CIMI, Pastorais sociais, serviços eclesiais tais como a Comissão Justiça e Paz, Comunidades Religiosas inseridas no meio popular, centros de defesa dos Direitos Humanos, além da Teologia da Libertação).
Note-se que, antes, durante e depois da fundação do CEBI, tem lugar uma significativa confluência de iniciativas e experiências ecumênicas, por parte de distintas Igrejas Cristãs, em especial os integrantes da Congregação Evangélica do Brasil, criada por diversos membros evangélicos, afastados de suas respectivas Igrejas, em razão de sua firme oposição ao golpe empresarial-militar implantado no Brasil, em 1964. Importa, igualmente, ressaltar a contribuição ecumênica que, a partir de 1982, a Igreja Católica Romana passaria a exercitar com outras Igrejas Cristãs, reunidas no CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs): Igreja Católica Romana, Igreja Católica Ortodoxa Siriana, Igreja Cristã Reformada, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Metodista, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e Igreja presbiteriana Unida (IPU), envolvendo, além da Igreja Católica, relevantes parcerias, desde meados dos anos 60, com a participação de membros evangélicos.
Uma leitura atenta à realidade social, da qual partem os membros destas Igrejas cristãs, deve ser especialmente destacada nas linhas que seguem em virtude das fecundas experiências e iniciativas por elas protagonizadas, seja no campo de uma nova interpretação comum da Bíblia, seja em seu posicionamento e de seu compromisso com a causa libertadora dos oprimidos, seja ainda no campo da Educação Popular.
Neste sentido, começam a prosperar trabalhos investigativos e formativos com perspectiva ecumenica, tais como:
Desde meados dos anos 60, um grupo de teólogos e teólogas (José Comblin, Juan Luis Segundo, Segundo Galileia, Gustavo Gutierrez, Gilberto Gorgulho, Ana Flora, Anderson, entre outros) tomou a iniciativa de se reunir, a cada ano: primeiro em São Paulo em 1964; em 1965 estes teólogos realizaram seu encontro em Cuernavaca (México), acolhidos que foram por Ivan Illich; em 1966, reuniram-se no Chile, acolhidos por, Segundo Galileia; no ano seguinte, no Uruguai, na companhia de Juan Luis Segundo… E assim, esses teólogos e teólogas, sempre partindo de uma leitura concreta da realidade social, trataram de trabalhar temas bíblicos e a compartilhá-los, exercitando uma leitura popular da Bíblia, desde então;
Aquela iniciativa também inspirou, nos anos seguintes, a realização de Congressos Ecumênicos de teologia, organizados por teólogos e teólogas do terceiro mundo. É assim que se realizaram o I Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, na Tanzânia; o II Congresso foi realizado em Gana; o III Congresso em Sri Lanka, enquanto o IV Congresso teve lugar em São Paulo em 1980. Em consequência, da realização destes Congressos, nasce a iniciativa de elaboração e publicação, por teólogos e teólogas de distintas Igrejas Cristãs, de comentários biblicos, com base numa leitura popular da Bíblia. Graças a cooperação entre a editora vozes (Petrópolis-RJ), da Editora Sinodal, em São Leopoldo – RS, vinculada a Igreja Luterana e a editora metodista, de São Paulo, foram publicados diversos textos bíblicos, dos quais uma meia dúzia, de autoria de José Comblin.
Outra densa experiência que também se revelou seminal como antecedente do CEBI foi a apresentada pelo CEI (Centro Evangelico de Informação), criado entre 1964 e 1965, por um conjunto de membros evangélicos que se afastaram de suas respectivas igrejas em virtude de sua discordância da posição dominante nestas igrejas com relação ao sentido do golpe civil-militar de 1964. Estes membros passaram a integrar a confederação evangélica do Brasil. Um de seus primeiros trabalhos foi o de criar um informativo de caráter crítico propositivo, e difundido pelo Brasil. Passou-se, desde então, a chamar-se Centro Ecumênico de Informação, a partir de 1968, quando acolheram militantes católicos ao seu empreendimento. Poucos anos depois, o CEI passa a denominar-se CEDI (Centro Ecumênico de Documentação e Informação), uma relevante fonte alternativa de informação e reflexão crítico-transformadora da realidade brasileira e latino-americana.
Com efeito, o CEDI, assim chamado desde 1974, passa a protagonizar uma sucessão de empreendimentos criativos de relevante alcance sócio-eclesial. Disto dão testemunho as seguintes experiências. A criação de um periódico de alcance nacional, intitulado CEDI, por meio do qual informações relevantes, seja no âmbito nacional, seja no âmbito internacional, eram divulgadas e sobretudo analisadas por intelectuais de reconhecida contribuição. O CEDI, de fato, tem um amplo reconhecimento, principalmente nas igrejas progressistas, tanto no meio evangélico, quanto no meio católico. Além do CEDI, outra importante contribuição que circulou, no Brasil e na América Latina, foi a revista “Tempo e Presença”, reunindo artigos de intelectuais cristãos, muito influenciados pela pedagogia freireana, e que trouxe ao debate trabalhos de grande contribuição à crítica e ao esforço organizativo das forças da Igreja na Base, tanto no que diz respeito ao seu compromisso interpretativo da realidade, quanto no seu empenho de semear alternativas de transformação desta realidade. Na animação de reverendas figuras como a do pastor Jether Pereira Ramalho, como já escreveu um de seus conhecedores, “uma presença no tempo”, e com a ajuda de tantos outros e outras, entre os quais, Carlos Mesters, Milton Schwants, Sebastião Armando Gameleira Soares, Francisco Orofino, Pastor Henrique Pereira (do qual recomendo recentíssimo vídeo feito com Padre Júlio Lancelotti (https://www.youtube.com/watch?v=bPzD1n2yBC0), Irmã Agostinha Vieira de Melo, Pastora Odja Barros, Marcelo Barros, Eduardo Hoornaert, José Oscar Beozzo, que contribuíram densamente para este projeto, a revista tempo e presença passa a ser considerada a principal revista ecuménica latino-americana.
O CEDI, pela sua própria natureza propositiva, constituiu-se em um sujeito coletivo que não mediu esforços para trabalhar em conjunto outras experiências similares, postura da qual brotaram parcerias significativas com vários outros organismos semelhantes, tais como o Centro Ecuménico de Salvador; o próprio CEBI, o Centro de Evangelização e Educação popular em São Paulo (CESEEP), Instituto Superior de Ensino das Religiões (ISER), Comisión de Estudios de la História de la Iglesia Latinoamricana (CEHILA), entre outros. O CEDI também se desdobra em outras iniciativas, tais como o periódico “Aconteceu”, bem como tantas outras iniciativas que ainda hoje perduram, com reconhecida contribuição no campo dos estudos sócio eclesiais, tais como o organismo chamado Koinonia.
Tais iniciativas convergiram principalmente para uma busca comum, de se fazer uma leitura da Bíblia do ponto de visto histórico, crítico, particularmente atenta à realidade brasileira e altino-americana. Nesse sentido começa a prosperar um frutuoso trabalho investigativo, com perspectiva ecumenica:
– Em consequencia inclusive dos 4 congressos ecumenicos internacionais de teologia, (o da Tanzânia, o de Gana, o de Sri LanKa, e o de São Paulo) em 1980, com inspiração nos quais nasceram um projeto ecumênico de CEBI e publicação de comentários bíblicos ecumênicos, no Brasil e na América Latina, com o apoio conjunto da editora Vozes (editora católica de Petrópolis – RJ), da editora Sinodal (editora de São Leopoldo – RS, vinculada à igreja luterana) e a editora da igreja metodista, em São Paulo.
Deste projeto ecumenico resultaram algumas desenas de comentários bíblicos ecumenicos, do Antigo e do Novo Testamento. Só de livro do teólogo José Comblin foram publicados 6, versando sobre Atos dos Apóstolos, I Carta aos Coríntios, Carta aos Filipenses, Carta ao Filemom, entre outros.
A partir de 1964, com a iniciativa do teólogo Leonardo Boff e outros teólogos da libertação, nasceu o projeto editorial assumido pela Editora Loiola, de São Paulo, com apoio explicito de uma centena de Bispos católicos latino americano, de publicação de cerca de cinco dezenas de livros (das quais só saíram em torno de 35 livros), versando sobre uma gama de temas da Teologia Cristã (Cristologia, Missiologia, Pneumatologia, entre outros)
Outro projeto relevante nascido ainda nos anos 80, na América Central, em El Salvador, conhecido como “Mysterium Liberationis”, do qual foram protagonistas duas grandes figuras da Teologia da Libertação: Jon Sobrino e Ignácio Ellacuría.
Ainda no âmbito da América Central vale ressaltar o alcance da proposta investigativa e formativa do Departamento Ecumênico de Investigación (DEI), que vem assegurando uma diversidade de iniciativas de pesquisa bem como a oferta de cursos de formação teológica, na perspectiva da teologia da libertação
Neste elenco de fecundas experiencias investigativas e formativas, cumpre destacar o extraordinário papel cumprido pela revista de investigação bíblica latino-americanas (RIBLA). É nesta dinâmica de estudos e pesquisas bíblicas latino-americanas que se deve reconhecer a contribuição especifica do CEBI.
Remontam a meados dos anos 70 os primeiros passos apontados na direção de uma iniciativa de articulação mais orgânica das mais diversas experiências ecumenicamente vivenciadas de estudos bíblicos animadas por várias lideranças de igrejas cristãs: pastores, presbíteros, religiosos, leigas e leigos, graças inclusive a uma profética geração de Bispos Católicos, comprometidos com a causa libertadora dos oprimidos: Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Ivo Lorscheider, Dom Aluísio Lorscheiter, Dom Antônio Batista fragoso, Dom Pedro Casadáliga, Dom Tomás Balduino, Dom Cândido Padim, Dom José Maria Pires, Dom Mauro Morelle, entre outros.
Aspectos característicos do CEBI:
Considerando a fecundidade ecumênica das experiências acima mencionadas, importa aí situar o surgimento do CEBI, desde o início, em diálogo fraterno e sororal com toda uma série de iniciativas protagonizadas pela igreja na base. O CEBI, dando sequência a estas iniciativas, foi oficializado em julho de 1979, perseguindo uma dezena de objetivos. Destes fala explicitamente um de seus fundadores, que segue sendo uma das mais reconhecidas referências, Frei Carlos Mesters, por ocasião da celebração, este ano, dos 43 anos do CEBI. Vale a pena recordar os objetivos que ele citou. Recomendamos conferir sua exposição: https://podcasts.apple.com/dk/podcast/03-03-frei-carlos-mesters-43-anos-do-cebi/id1557729371?i=1000571396170 .
Neste sentido, cumpre destacar, entre outros, os seguintes elementos:
Tal qual a plantinha que vai crescendo pouco a pouco, o CEBI passa a expandir-se por todo o país, por meio de diferentes iniciativas, todas voltadas para o exercício comunitário da leitura bíblica.
Vão sendo criadas coordenações regionais, estaduais, sempre trabalhando de modo coletivo, comunitário, buscando enraizar a proposta do CEBI:
Comunitários cuidam de organizar uma agenda de estudos bíblicos e de formação, oferecidos a um número crescente de pessoas e comunidades do povo dos pobres;
Em sua agenda organizativa, ocupam um lugar central um círculos bíblicos, sempre voltados a uma leitura orante da bíblia, com a porte de estudiosos e do conjunto de participantes dos círculos bíblicos;
Na dinâmica organizativa do CEBI, vão se criando, igualmente, espaços onde vão realizar-se assembleias e encontros periódicos, de modo a aprofundar os estudos bíblicos, em uma perspectiva de uma leitura popular da bíblia
neste sentido, vários encontros do âmbito regional ao âmbito nacional, foram realizados, animados pelas perspectivas coordenadorias com a contribuição de teólogos e teólogas, de modo a segmentar este exercício de leitura da palavra.
Aspectos do método do CEBI: principais características
Do próprio histórico do CEBI de seus núcleos fundadores, de seus protagonistas (mulheres e homens), já se pode encontrar o sentido ou o jeito de trabalhar do CEBI, seu método. Trata-se do método histórico crítico, que corresponde apenas a um dos diversos métodos de se trabalhar. Com efeito, desde o método histórico gramatical, o método devocional, o método critico histórico conceitual, o método histórico social decolonial, entre outros. Aqui, como acima mencionado, tratamos apenas de trazer alguns traços relevantes do método histórico crítico da leitura da Palavra.
Importa, nesta direção, salientar o que depois se veio chamar de “o triângulo hermenêutico”: de um lado, a leitura crítica da realidade, da vida comunitária dos participantes; de outro lado, o exercício de ler a bíblia, de forma contextualizada, isto é: indo além da mera letra, mas buscando contextualizar cada livro, como foi construído, em que tempo, em que contexto histórico, quais os personagens que aparecem, quais o seus principais traços, que conseguido o texto apresenta para os fiéis daquela época em que o texto foi produzido, que sentido o mesmo texto devidamente atualizada traz pra nós, nos dias de hoje? O terceiro ponto do “triângulo hermenêutico” consiste em exercitar, desta maneira, a leitura bíblica na dinamica da comunidade ali reunida, seja em círculos bíblicos ou em espaços similares.
Partir da realidade concreta, dela fazendo também uma leitura crítica inclusive com a ajuda de pessoas mais preparadas neste terreno, sempre evitando-se que esta pessoa tenha o monopólio da interpretação, à medida que sua interpretação é seguida do compartilhamento de outros sentidos apresentado pelos participantes, pelos leitores eleitores da bíblia, conforme o Espírito Santo inspira cada uma e cada um. É fundamental que se comece por uma análise crítica da realidade – o que Paulo fReire chamava de leitura de mundo como primeiro passo preparatório para um mergulho na Palavra de Deus. na Bíblia, desde que trabalhada como um espelho, isto é, de modo que a inspiração do Espírito contido naquele texto, se reflita como uma luz a iluminar os caminhos da história das comunidades. Feita esta leitura orante da bíblia, tomada como um instrumento da revelação de Deus, da vida e da histórica, para o que se deve continuar a escutar o que o mesmo Espírito Santo tem a dizer nos dias de hoje as diversas comunidades e ao povo de Deus. passasse a buscar recolher do contrato dos desafios da realidade concreta e a força da palavra volta a atenção no ambiente comunitário trata-se de retornar sempre ao chão da vida daquela comunidade. Eis, em breves palavras, as linhas mestras do método do CEBI, conhecido como Método histórico crítico, conceitual.
Que lições recolher nos dias de hoje desse jeito de ler a Palavra de Deus?
Num cenário histórico profundamente tensionado entre forças antagônicas, o método do CEBI se apresenta como uma vacina contra as tentativas várias de apropriação indébita da palavra de Deus, como uma ferramenta de interpretação como estratégia de acesso inescrupuloso do poder político. Com efeito, tendo em vista que é presente a influências da vertente neopentecostal (seja em sua versão protestante, seja pela sua versão Católica se apresenta uma poderosa ferramenta de manipulação de expressivas parcela de nossas gentes, a leitura popular da Bíblia como método histórico crítico do CEBI, transforma-se em uma frutuosa ferramenta partir das armadilhas que o fundamentalismo religiosos vem apresentando na realidade.
Neste momento em que a sociedade brasileira enfrenta a realidade desafiante do processo eleitoral em seu segundo e definitivo turno, resulta particularmente importante recorremos ao método histórico crítico como poderosa ferramenta de desmascaramento das técnicas de manipulação empregadas pelos fundamentalismo religiosos, especialmente por pastores, bispos inescrupulosos, que traem o núcleo libertador do Evangelho, tal como vivenciado pelo movimento de Jesus.
A menos de quatro semanas da Sessão de Encerramento da XII STPJC, a realizar-se em João Pessoa, no próximo dia 25 de setembro, no Mosteiro de São Bento em João Pessoa, das 8:30 às 11:30, com o tema “Os pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”, teve lugar em Café do Vento, no dia 28/08 p.p. a quarta Jornada Comunitária.
Foi o último encontro de vivência da XII STPJC, na qual rememoramos, com Comblin, que “Evangelho não é Religião”, subtema conexo ao tema central da XII STPJC, acima registrado. Como de hábito, cerca das 8 horas daquele Domingo, começaram a chegar os participantes – mulheres e homens – vindos de Sobrado, São Miguel do Taipu, Santa Rita, João Pessoa e outras comunidades, todos bem acolhidos em torno à mesa de reunião pelo Pe. Hermínio Canova.
Presentes representantes da CPT, do Kairós, do coletivo feminista, e de outros coletivos, foi iniciado o encontro com o momento de espiritualidade, durante o qual foi lida e partilhada a leitura do Evangelho do dia, extraída de Lucas 14,1.7-14. Várias pessoas compartilharam seu sentimento acerca desta passagem, acentuando a importância da humildade e da prontidão a servir os mais necessitados, de tal modo que brilhe em nossos gestos a força da gratuidade.
Em seguida, foi partilhada a leitura do relato do que foi a terceira Jornada Comunitária. Começamos, então, a entrar no subtema desta quarta Jornada Comunitária: “Evangelho não é Religião”, título de uma conferência pronunciada pelo Pe. José Comblin na UCA (Universidad Centro Americana), em San Salvador, El Salvador, por ocasião da comemoração dos trinta anos do martírio de Dom Oscar Romero. Em sua conferência, Pe. José empenhou-se em distinguir (sem separar) entre Evangelho e Religião. Enquanto esta faz parte da condição própria de cada Cultura, comportando virtudes e lacunas, o Evangelho, por sua vez, ao tempo em que opera com abertura a toda contribuição cultural positiva (em função do processo de humanização), age como crítica e como apelo de conversão diante das aberrações que o processo cultural pode implicar, na história humana.
Toda Religião se compõe de elementos tais como: doutrina, templo, culto, e sacerdotes, pendendo, não raramente, a confundir a divindade com seus próprios valores, de modo a, por vezes, inverter completamente os valores do Evangelho. Em nosso contexto atual, por exemplo, assistimos a uma forte tendência de utilização da religião e do próprio Evangelho como instrumento de violência e letalidade, em relação ao que o Evangelho se opõe visceralmente. A este respeito, cumpre alertar parcela significativa de nossa população do gravíssimo risco que todos corremos de, não bastasse o gravoso equívoco de ter elegido o atual presidente, incorrer na insensatez de reelegê-lo, consolidando assim o apoio à barbárie.
Foram diversas e ricas as contribuições oferecidas pelos presentes, todas atentas ao grave risco de sucumbirmos a uma prática idolátrica ao deus Mamon, em nome do Deus da Vida.
Considerando a proximidade da Sessão de Encerramento de nossa XII STPJC, dedicamos o final do Encontro para ultimar os preparativos deste Encontro. Rememoramos seu tema central (“Os Pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”), ao tempo em que sublinhamos o local (Moseiro de São Bento em João Pessoa), a data e horário (25/09, de 8:30 às 11:30), bem como as pessoas que vão contribuir, de forma mais direta, na reflexão do tema central. Neste sentido, foi anunciada a resposta positiva do Diácono Antônio, da Arquidiocese de Olinda e Recife, em virtude de sua densa experiência de serviço aos pobres e aos moradores de rua, para brindar com sua reflexão sobre o tema central da XII STJC. O Pe. Hermínio Canova foi indicado para o momento de espiritualidade, de acolhida e de memória das semanas teológicas. Elinaide foi indicada para uma fala relatando a experiência das quatro jornadas comunitárias, enquanto a Elenilson Delmiro dos Santos caberá uma reflexão sobre a figura do Pe. José Comblin e seu aprendizado junto com o povo dos pobres,
O Encontro foi encerrado, como de hábito, com um saboroso almoço preparado por Maria José.