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O Papa: conhecer-se e reconhecer o que é realmente importante para nós

Por Mariangela Jaguraba

Francisco disse na Audiência Geral que “muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade”. “Tenham cuidado com isso”, advertiu o Papa.

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral desta quarta-feira (05/10). O tema do encontro semanal do Pontífice com os fiéis, na Praça São Pedro, foi “Os elementos do discernimento. Conhecer a si mesmo”.

Na catequese da semana passada, Francisco sublinhou a oração como “um elemento indispensável do discernimento, entendida como familiaridade e confidência com Deus. A oração com o coração aberto”, sublinhou o Papa. No encontro de hoje, o Papa ressaltou “que o bom discernimento exige também o conhecimento de si”. O discernimento envolve “memória, intelecto, vontade, afetos”. “Muitas vezes não sabemos discernir porque não nos conhecemos bem, e assim não sabemos o que realmente queremos”, sublinhou.

A seguir, Francisco citou um autor de espiritualidade que diz: «Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos suficientemente, e nem sequer queremos conhecer-nos como verdadeiramente somos. Quase todos nos escondemos por trás de uma máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos no espelho».

“Desativar o piloto automático”

Segundo Francisco, conhecer-se “implica um paciente trabalho de escavação interior. Requer a capacidade de parar, de “desativar o piloto automático”, de tomar consciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, muitas vezes sem que saibamos.

Também requer distinguir entre emoções e faculdades espirituais. “Sinto” não é a mesma coisa que “estou convencido”; “eu gostaria de” não é a mesma coisa que “eu quero”. Assim chegamos a reconhecer que a visão que temos de nós mesmos e da realidade é às vezes um pouco deturpada. Compreender isto é uma graça! Com efeito, muitas vezes pode acontecer que convicções erradas sobre a realidade, baseadas nas experiências do passado, nos influenciem fortemente, limitando a nossa liberdade de apostar naquilo que realmente conta na nossa vida”.

Vivendo na era da informática, sabemos como é importante conhecer as senhas para poder entrar nos programas em que se encontram as informações pessoais e preciosas. Até a vida espiritual tem as suas “senhas”: há palavras que tocam o coração, porque remetem para aquilo a que somos mais sensíveis. O tentador conhece bem estas palavras-chave, e é importante que também nós as conheçamos, para não nos encontrarmos onde não gostaríamos.

Conhecer as senhas do nosso coração

Segundo o Papa, “a tentação não sugere necessariamente coisas más, mas muitas vezes coisas desordenadas, apresentadas com uma importância excessiva. Deste modo, nos hipnotiza com a atratividade que tais coisas suscitam em nós, coisas bonitas, mas ilusórias, que não podem cumprir o que prometem, deixando-nos no final com uma sensação de vazio e de tristeza. A sensação de vazio e tristeza é um sinal de que tomamos uma estrada que não era certa, que nos desorientou”. As coisas desordenadas “podem ser o título de estudos, a carreira, os relacionamentos, tudo em si louvável, mas se não formos livres, corremos o risco de nutrir expectativas irreais, como por exemplo, a confirmação de nosso valor. Você, por exemplo, quando pensa num estudo que está fazendo, pensa nele somente para se promover, para seu próprio interesse, ou também para servir a comunidade? Ali, é possível ver qual é a intencionalidade de cada um de nós. Desse mal-entendido muitas vezes vem os maiores sofrimentos, pois nada disso pode ser a garantia da nossa dignidade”, sublinhou Francisco.

Por isso, queridos irmãos e irmãs é importante conhecer-nos, conhecer as senhas do nosso coração, aquilo a que somos mais sensíveis, para nos proteger de quem se apresenta com palavras persuasivas para nos manipular, mas também para reconhecer o que é realmente importante para nós, distinguindo-o das modas do momento ou de slogans vistosos e superficiais. Muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade. Tenham cuidado com isso: sou livre ou me deixo levar pelos sentimentos do momento, ou pelas provocações do momento?

O exame de consciência ajuda muito

O Papa ressaltou que “uma ajuda para isso é o exame de consciência, ou seja, um exame de consciência geral do dia. O que aconteceu no meu coração neste dia? Fazer um exame de consciência, ou seja, o bom hábito de reler com calma o que aconteceu no nosso dia, aprendendo a observar nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que procuramos e porquê, e o que afinal encontramos. Aprender sobretudo a reconhecer o que sacia o meu coração. Pois somente o Senhor pode nos dar a confirmação de quanto valemos. Ele nos diz isto todos os dias da cruz: morreu por nós, para nos mostrar quão preciosos somos aos seus olhos. Não há obstáculo nem fracasso que possa impedir o seu terno abraço.

O exame de consciência ajuda muito, pois assim vemos que o nosso coração não é uma estrada onde passa de tudo e não sabemos. Não. Ver: o que passou hoje? O que aconteceu? O que me fez reagir? O que me deixou triste? O que me deixou alegre? O que foi ruim? Fiz mal aos outros? Ver o percurso dos sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia.

“A oração e o conhecimento de nós mesmos nos permitem crescer na liberdade. São elementos básicos da existência cristã, elementos preciosos para encontrar o próprio lugar na vida”, concluiu o Papa.

Fonte: Vatican News

O Papa: conhecer-se e reconhecer o que é realmente importante para nós

Por Mariangela Jaguraba

Francisco disse na Audiência Geral que “muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade”. “Tenham cuidado com isso”, advertiu o Papa.

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral desta quarta-feira (05/10). O tema do encontro semanal do Pontífice com os fiéis, na Praça São Pedro, foi “Os elementos do discernimento. Conhecer a si mesmo”.

Na catequese da semana passada, Francisco sublinhou a oração como “um elemento indispensável do discernimento, entendida como familiaridade e confidência com Deus. A oração com o coração aberto”, sublinhou o Papa. No encontro de hoje, o Papa ressaltou “que o bom discernimento exige também o conhecimento de si”. O discernimento envolve “memória, intelecto, vontade, afetos”. “Muitas vezes não sabemos discernir porque não nos conhecemos bem, e assim não sabemos o que realmente queremos”, sublinhou.

A seguir, Francisco citou um autor de espiritualidade que diz: «Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos suficientemente, e nem sequer queremos conhecer-nos como verdadeiramente somos. Quase todos nos escondemos por trás de uma máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos no espelho».

“Desativar o piloto automático”

Segundo Francisco, conhecer-se “implica um paciente trabalho de escavação interior. Requer a capacidade de parar, de “desativar o piloto automático”, de tomar consciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, muitas vezes sem que saibamos.

Também requer distinguir entre emoções e faculdades espirituais. “Sinto” não é a mesma coisa que “estou convencido”; “eu gostaria de” não é a mesma coisa que “eu quero”. Assim chegamos a reconhecer que a visão que temos de nós mesmos e da realidade é às vezes um pouco deturpada. Compreender isto é uma graça! Com efeito, muitas vezes pode acontecer que convicções erradas sobre a realidade, baseadas nas experiências do passado, nos influenciem fortemente, limitando a nossa liberdade de apostar naquilo que realmente conta na nossa vida”.

Vivendo na era da informática, sabemos como é importante conhecer as senhas para poder entrar nos programas em que se encontram as informações pessoais e preciosas. Até a vida espiritual tem as suas “senhas”: há palavras que tocam o coração, porque remetem para aquilo a que somos mais sensíveis. O tentador conhece bem estas palavras-chave, e é importante que também nós as conheçamos, para não nos encontrarmos onde não gostaríamos.

Conhecer as senhas do nosso coração

Segundo o Papa, “a tentação não sugere necessariamente coisas más, mas muitas vezes coisas desordenadas, apresentadas com uma importância excessiva. Deste modo, nos hipnotiza com a atratividade que tais coisas suscitam em nós, coisas bonitas, mas ilusórias, que não podem cumprir o que prometem, deixando-nos no final com uma sensação de vazio e de tristeza. A sensação de vazio e tristeza é um sinal de que tomamos uma estrada que não era certa, que nos desorientou”. As coisas desordenadas “podem ser o título de estudos, a carreira, os relacionamentos, tudo em si louvável, mas se não formos livres, corremos o risco de nutrir expectativas irreais, como por exemplo, a confirmação de nosso valor. Você, por exemplo, quando pensa num estudo que está fazendo, pensa nele somente para se promover, para seu próprio interesse, ou também para servir a comunidade? Ali, é possível ver qual é a intencionalidade de cada um de nós. Desse mal-entendido muitas vezes vem os maiores sofrimentos, pois nada disso pode ser a garantia da nossa dignidade”, sublinhou Francisco.

Por isso, queridos irmãos e irmãs é importante conhecer-nos, conhecer as senhas do nosso coração, aquilo a que somos mais sensíveis, para nos proteger de quem se apresenta com palavras persuasivas para nos manipular, mas também para reconhecer o que é realmente importante para nós, distinguindo-o das modas do momento ou de slogans vistosos e superficiais. Muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade. Tenham cuidado com isso: sou livre ou me deixo levar pelos sentimentos do momento, ou pelas provocações do momento?

O exame de consciência ajuda muito

O Papa ressaltou que “uma ajuda para isso é o exame de consciência, ou seja, um exame de consciência geral do dia. O que aconteceu no meu coração neste dia? Fazer um exame de consciência, ou seja, o bom hábito de reler com calma o que aconteceu no nosso dia, aprendendo a observar nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que procuramos e porquê, e o que afinal encontramos. Aprender sobretudo a reconhecer o que sacia o meu coração. Pois somente o Senhor pode nos dar a confirmação de quanto valemos. Ele nos diz isto todos os dias da cruz: morreu por nós, para nos mostrar quão preciosos somos aos seus olhos. Não há obstáculo nem fracasso que possa impedir o seu terno abraço.

O exame de consciência ajuda muito, pois assim vemos que o nosso coração não é uma estrada onde passa de tudo e não sabemos. Não. Ver: o que passou hoje? O que aconteceu? O que me fez reagir? O que me deixou triste? O que me deixou alegre? O que foi ruim? Fiz mal aos outros? Ver o percurso dos sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia.

“A oração e o conhecimento de nós mesmos nos permitem crescer na liberdade. São elementos básicos da existência cristã, elementos preciosos para encontrar o próprio lugar na vida”, concluiu o Papa.

Fonte: Vatican News

Experimentando

Muchas veces uno no tiene nada en especial para decir. De esta forma he empezado varias veces mis escritos. Pero el hecho de no tener nada en particular para escribir, no impide que, de todas formas, algo vaya siendo dicho. La palabra viene por sí misma.
Esta mañana y ayer a la noche, al volver de una reunión con amigos, pensaba en esto: uno escibe aún cuando no está escribiendo. La atención está volcada siempre sobre el mundo externo e interno, captando formas, frases, gestos, actitudes, sentimientos, paisajes, todo lo que está alrededor y dentro de uno mismo.
Así, de algún modo, puede decirse que escribir es una tarea contínua. Hay también momentos de silencio, un silencio pleno, que te dice muchas cosas. Y momentos de soledad, vacío. Todo lo que es humano nos está deparado a todos los humanos, sin excepción.
Cuando uno se descubre escritor (o escritora, hoy siempre hay que aclarar, si no ya sabés), se abre todo un mundo, el pasado más remoto, los primeros recuerdos de la infancia, y el presente, se amalgaman en una sola y única realidad. Se termina con la sensación de disociación y desarraigo.
Hay varias cosas que contribuyen para ésto: la Terapia Comunitaria Integrativa es una de ellas, y muy poderosa: uno vuelve la atención hacia la unidad de su vida. ¿Como lo que soy y lo que hago hoy se insertan en mi historia de vida? Esta pregunta rompe la fragmentación, evita la mecanización del vivir.
También el escuchar a los demás, el abrirse verdadeiramente a la presencia de las otras personas, va limpiando, podríamos decir, nuestra percepción. Los prejuicios, la rigidez, la fijación, y esa especie de auto-hipnosis que nos acomete cuando nos encerramos en nosotros mismos.
Cuando me abro al mundo, el mundo es como si me fuera llevando. Lo de aquella canción: vida, leva eu. De pronto no es necesaria tanta prevención. No es necesario estar rigiéndose siempre por el miedo y la desconfianza. También se puede confiar.
Y puedo confiar, cuando me atengo más a la experiencia, a mi propia experiencia, que al pensamento o a las ideas. Escribiendo es como si fuéramos despojándonos de las paredes que nos separaban del mundo externo e interno. Vamos llegando de a poco, a un contacto más verdadero con nosotros mismos, con el ser que experimenta desde aquí, desde esta persona que soy yo.

¿Cómo elegir un libro?

¿Cómo elegir un libro que vamos a leer? Creo que cada persona que lee, deberá tener varias respuestas para esta pregunta. Pero como no es mi propósito aquí y ahora hablar de generalidades, me atendré a la forma como yo mismo elijo un libro para leerlo.

Hace algunos días, teminé de leer Angustia, de Graciliano Ramos. Es decir, terminé otra relectura. Cada relectura es una nueva lectura, pero no es ese el foco ahora. Lo que quiero decir, es que desde que terminé de leer otra vez este libro de Graciliano Ramos, no conseguí engancharme con la lectura de un nuevo libro, o con la relectura de un libro ya leído.

Y ahora ya empezamos a acercarnos a la realidad. La realidad es el presente, es lo que es ahora. Al menos esto es lo que me parece. Empecé a leer varios libros. Os Buddenbrook, de Thomas Mann, uno de los libros que leía mi abuela Mamina. Leí algunas páginas iniciales, y lo dejé. No sé cuándo volveré a leerlo.

Pensé que podría llegar a querer leer Jane Eyre, de una de las Bronte, pero no conseguí pasar de unas pocas hojeadas a algunas páginas. Retomé la lectura de As pequenas memórias, de José Saramago, y aquí sí conseguí enganchar la lectura.

Ahora acabo de dar una mirada a las páginas iniciales de un libro de Lima Barreto, Recordações do escrivão Isaias Caminha. No sé si continuaré con su lectura. Fué en ese momento en que hojeaba el libro de Lima Barreto, que pensé: ¿como es que elegimos el libro o los libros que vamos a leer?

He leído mucho en mi vida, pero creo que es la primera vez que pienso en qué es lo que me ha llevado o me sigue llevando a leer un libro. A veces es la recomendación de una persona querida. O un comentario leído en una revista. O la cita de ese libro por parte de otro escritor o escritora que estamos leyendo.

Días atrás, y esta mañana de nuevo, estaba pensando en el Evangelio, un libro que llegué a conocer a través de mi padre. Estos días pasados, estuve leyendo y comentando en la revista Consciencia, el libro de Nathaniel Branden, Auto-estima, como aprender a gostar de si mesmo.

El Evangelio y el libro sobre la auto-estima. Todo está interconectado. Pienso que Jesús me llamó a seguir su camino, y esto me da fuerzas para seguir en la busca de mí mismo, del ser que soy.

Creo que tengo mucha afinidad con libros en los cuales me veo, libros cuyos autores o autoras me devuelven reflejos de mí mismo. A veces es un poema, como uno de Gabriela Mistral que mi madre gustaba mucho.

Otras veces es una frase, como algunas de Julio Cortázar que empecé a ler desde 1999. O bien son libros en los cuales me refugié, me encontré, en mi juventud, como los de Ray Bradbury y Howard Phillips Lovecraft. Faltaría decir como o por qué leo o leí Jorge Luis Borges. No sé cuál sería la respuesta correcta.

Sé que no me concibo sin los poemas de Borges que leí, ellos forman parte de mí mismo, creo que forman parte del Cosmos. Límites, Everness, Arte Poética. En fin, creo apenas haber esbozado algo que cada persona que lee deberá haber pensado ya muchas veces.

Atenção à atenção: Julio Cortázar e Graciliano Ramos

Uma das coisas que mais me chama a atenção, é a forma como os escritores e as escritoras prestam atenção à atenção. Isto é, à forma como percebemos os mundos externos e internos, a forma como nos vemos a nós mesmos e aos demais, como sentimos, pensamos, desejamos, amamos, escrevemos, lemos, etc.

Em particular, venho prestando atenção à forma como Graciliano Ramos e Julio Cortázar prestam atenção à atenção, atenção à percepção. Obviamente, outros escritores como Roberto Arlt, Jorge Luis Borges, Edgar Allan Poe, Howard Phillips Lovecraft, Gabriel García Márquez, Gabriela Mistral, Martha Medeiros, Henry James, também tem me chamado a atenção a este respeito.

Mas no momento gostaria de tentar me restringir ao que tenho podido observar a respeito de Gracilano Ramos e Julio Cortázar. Talvez sejam mais algumas impressões o que estou tentando partilhar, do que referências objetivas a este ou aquele trecho de alguma obra.

Provavelmente o que me permita ir me deixando levar com muita facilidade para textos destes dois autores em pauta (como também para dentro de outros textos), seja uma afinidade tal que em algum momento não sei mais quem é o autor e quem o leitor, se o que estou lendo foi Graciliano Ramos que escreveu, Julio Cortázar ou eu.

Essa fusão, essa simbiose, é o que fascina na literatura, como forma de dissolver uma suposta objetividade que aprendemos a incorporar, mas da qual mais cedo ou mais tarde, teremos que nos desvencilhar. Não é por acaso que tanto Graciliano Ramos como Julio Cortázar (e José Saramago), recorrem fortemente ao eu criança, è criança que cada um de nós é e foi.

Este é um recurso que permite o re-encontro com aquela parte do nosso ser que está em estado virginal. Esse momento primeiro da nossa vida. A percepção ainda para ir sendo moldada, e esse moldar deverá ser desfeito se algum dia quisermos voltar a ser o ser que somos, deixadas atrás as máscaras sociais, os condicionamentos, os papéis, os “devo”, os “tenho que” introjetados.

Julio Cortázar fala em libertar a linguagem, no Diario de Andrés Fava. E Graciliano Ramos, tanto em Angústia como em Infância, São Bernardo, e Caetés, volta à sua infância, e com ele, eu volto também, uma vez que essa percepção original que o autor partilha com o público, está também nos leitores e leitoras.

Agimos por mimese, frequentemente, e estes dois autores, com estilos bastante diferentes, convergem nessa mesma tarefa libertadora, libertar a percepção, recuperar a visão original do mundo, prévia à ordenação social.

Plenitude

Alguns dias custam para serem resumidos. O que queria (e ainda quero) dizer é que algumas vezes um dia nos preenche de tal modo com a sua simplicidade, que as palavras pode ser que não deem conta da sua tarefa de tratar de dizer o que foi que aconteceu, o que foi que nós recebemos de tão valioso, que nos faz querer partilhar uma alegria muito profunda.

Hoje está me acontecendo de estar sentindo uma sensação de agradecimento, de uma admiração por estar vivo, e por estar a vida fluindo do jeito que está. Convergindo com as pessoas, nos lugares, no tempo. Uma sensação muito antiga, infantil, se faz presente. Des-preocupação. Confiança. Confiança, esta é a palavra. Aprender a confiar outra vez, estar aprendendo a confiar novamente.

Sei que tenho dito algo do que estou sentindo e desejo partilhar, mas talvez não tenha sido de todo claro. Talvez até isto esteja me sendo dado aprender, também. A confiar sem saber muito no que, uma fé que ultrapassa a razão. Não é uma fé cega, não, não me interpretes mal. Mas é uma fé inocente, não aprendida.

Não dispenso nada do que tenho aprendido, de diversas formas, até o momento presente. Mas este instante é tão fecundo que corro o risco de estar fazendo perder o tempo a quem possa estar lendo estas linhas, que talvez esteja a se perguntar –como eu mesmo me pergunto—aonde quero chegar.

Quero chegar até aqui, até este lugar onde estou. Esta máquina de escrever sofisticada na qual posso ir pondo letras alinhadas e ver algumas frases a se formar. Tentar partilhar essa plenitude e simplicidade que de repente estou recebendo.

É obvio que nenhuma conquista pessoal é possível sem o concurso de muitas pessoas, próximas e distantes, que co-laboram para que tudo aconteça. A todas essas pessoas, muitas delas já em outro plano de existência, agradeço esta tarde, esta noite que vai nascendo para a luz que brilha no meio destas tentativas de partilha.

Quem sabe deixar de lado tantas expectativas, tanta planificação, tantas receitas próprias e alheias, tanto passado pesando nas costas. E me deixar vir, deixar que este fato simples e monumental de estar vivo, aqui e agora, seja tudo, tudo e nada mais.

São Bernardo, de Graciliano Ramos

Ayer terminé de leer, por segunda vez, São Bernardo, de Graciliano Ramos. No deja de llamarme la atención el hecho de que un acontecimento como este, tenga tanta significación. La lectura de un libro, sobre todo la de un libro con cuyo autor tenemos profundas afinidades, es siempre algo que va más allá de lo trivial. No es que la lectura sea, de ningún modo, algo trivial, nunca lo es.

Siempre nos lleva a algo más adentro de nosotros mismos y al mundo alrededor. Talvez el simple hecho de que seamos capaces de subtraernos por un tiempo a la presión cotidiana por desempeño y resultados, y entregarnos a ese ejercício placentero de dejarnos llevar por una mano maestra a mundos que solamente podemos conocer leyendo, ya sea en sí algo de mucho valor.

En esta segunda lectura de São Bernardo, ocurrida cerca de 30 años después de la primera, reencontré el mismo placer íntimo de vivir por algunas horas en el sertão alagoano, que talvez nunca llegue a conocer directamente. Y aún más, experimenté otra vez esa alegría tan especial que me da estar en contacto con un creador hábil, capaz de traerme de vuelta reflejos de mí mismo que sólo conozco cuando los veo escritos por alguien de tamaña capacidad expresiva.

Creo que cuando leo, estoy más conmigo mismo que en la mayor parte de las demás horas del día. La mente se desprende, se despega, se suelta de automatismos aprisionadores, programaciones que sofocan, oprimen, sacan la libertad. Entonces entiendo mejor lo que Julio Cortázar (1) quería decir cuando afirmaba que era necesario liberar el lenguaje. Tener un lugar para vivir, como decía Anais Nin (2).

Lo que para muchos puede parecer una fuga, es en realidad un encuentro. Al leer, me leo, leo de mí mejor que cuando me extraño en la nube de extrañeza tan normal. Recupero la familiaridad con mi ser interno. Los escritores y escritoras me devuelven la inocencia. Hay algo muy puro en este acto de escribir, en el acto de leer, de leerse en los libros y en el mundo.

No puedo menos que evocar a Jorge Luis Borges, ese genio de sabiduria y humildad, cuya simplicidad tiene un efecto devastador, demoledor de tanta hipocresía, de tanta fuerza bruta que imperan en las relaciones cotidianas, políticas y sociales. Tengo certeza de que estos efectos renovadores y revigorantes, deben ser experimentados por muchas personas alrededor del mundo.

Y agradezco a mi padre y a mi madre, que desde muy chico me fueron incentivando y llevando a estos mundos benéficos en los cuales me rehago, me recupero cada vez que un golpe trata de echarme por tierra. Cada vez que leo, se cierra una puerta a la banalidad y al absurdo, a la abominación y a la falsedad, a la degradación y a la barbarie, y se abren puertas y más puertas hacia lo bello, hacia una realidad presente que es siempre un juego para el que nos volvemos a encontrar inocentes e ignorantes, en el mejor sentido de la palabra.

No sabemos las reglas, vamos intentando, tratando de encontrar un lugar que alcanzamos y se escapa otra vez, donde estamos y dejamos de estar, constantemente. Entonces este aquí y ahora cuya virginidad recupero cuando me sumerjo en esas regiones crepusculares de la literatura y de la poesía, vuelve a ser lo que fue al comienzo, y tantas veces después.

Vuelve la infancia, vuelve lo que no muere, lo que no puede morir. No puede ser por casualidad que estos mundos poético-literarios me resultan mejor remedio para todos los golpes de la vida, que cualquier receta que trate de aplicar para encontrar el buen camino. Escucho, escucho siempre con atención, que es otra forma de leer. Y en las hablas de los demás y en los hechos, va brillando una luz interior que nunca deja de alumbrar.

(1) Julio Cortázar, Diario de Andrés Fava.
(2) Anais Nin, Em busca de um homem sensível.

Foto: Graciliano Ramos