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UFRJ lança nota antecipando matéria do ‘Fantástico’ sobre a Universidade

A Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) emitiu há pouco comunicado, se antecipando a matéria que será veiculada no ‘Fantástico’, da TV Globo, em que repudia o caráter alarmista e sensacionalista das chamadas do programa televisivo.

De modo a ampliar a informação do telespectador, a UFRJ publicou as respostas aos questionamentos da emissora, que você confere abaixo.

EM DEFESA DA UFRJ PÚBLICA, GRATUITA, DE QUALIDADE E TRANSPARENTE

A UFRJ foi procurada na última quarta-feira pela produção do programa “Fantástico” da Rede Globo de Televisão para se pronunciar a respeito de três pontos: 1.“relatório da Controladoria Geral da União (CGU) sobre desvios de verba na UFRJ desde 2007”; 2.“segundo o relatório, valores pagos, nos últimos cinco anos, pelo Banco do Brasil à UFRJ não entraram no orçamento da Universidade?” e 3. “o Fantástico visitou o alojamento universitário, o Hospital Universitário Clementino Fraga e o Hospital Escola São Francisco de Assis e registrou o mau estado de conservação dessas três unidades. O que causou essa situação?”

A Universidade refuta qualquer insinuação que tenha havido desvio de recursos públicos e repudia a relação entre as supostas irregularidades com o estado precário de algumas de suas instalações.

Ainda que tenha estranhado o rol das perguntas, a UFRJ respondeu as questões encaminhadas no sábado, 10 de novembro. Desde sexta-feira, 09 de novembro, a emissora iniciou a veiculação de chamadas de cunho sensacionalista.

Na iminência desse tipo de abordagem na matéria atacar a credibilidade de uma das mais importantes instituições de ensino, pesquisa e extensão do país, e Independentemente do conteúdo do que será veiculado no programa de domingo; a UFRJ sente-se no dever de declarar que nada tem a esconder e está – como sempre esteve – aberta à sociedade brasileira para quaisquer esclarecimentos.

Aproveitamos para convidar a todos para a reunião do corpo social da UFRJ, onde a questão será tratada, na segunda-feira, 12 de novembro, às 10 horas, no Salão do Conselho Universitário, Prédio da Reitoria.

Reitoria da UFRJ

Acesse a íntegra das respostas ao email da TV Globo clicando aqui.

Cartolas brasileiros: um jogo sujo com sócios de peso como TV Globo, CBF e Corinthians

“Sou amigo do Ricardo Teixeira mesmo, sou amigo da Globo mesmo, apesar de ser gângster, não tenho problema não. Agora, eu vejo meu clube”, diz André Sanches, presidente do Corinthians em vídeo amador exibido pela Rede Record este ano.

Sanches, pra quem não sabe, era grande amigo do ex-dirigente mafioso Kia Joarabchian, denunciado pela Polícia Federal por lavagem internacional de dinheiro, entre outros crimes. (Acesse aqui matéria que conta toda a história)

Segundo fontes da reportagem, Kia ainda é o presidente de fato do clube paulista, enquanto Sanches é seu ‘laranja’.

(Vídeo de junho de 2011)

Gasto com dinheiro público para evento de um dia da Copa de 2014 no Rio de Janeiro chegou a R$ 30 milhões

Entre outros gastos, aluguel do espaço na Marina da Glória foi de R$ 3,7 milhões. Os R$ 30 milhões foram destinados à Geo Eventos, empresa que pertence às Organizações Globo e ao Grupo RBS. Tudo sem licitação.

No dia 30 de julho de 2011, houve um ato político de propaganda e lançamento dos grupos eliminatórios da Copa do Mundo, no salão de festas da Marina da Glória, no Rio de Janeiro.

O ato durou aproximadamente três horas, teve ampla cobertura do Jornal Nacional e da grande mídia brasileira. Participaram dele a Presidenta Dilma Rousseff, o presidente da FIFA, o governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, o Ministro dos Esportes, o todo poderoso presidente da CBF Ricardo Teixeira e artistas globais que se revesavam entre chefes de cerimônia e apresentadores culturais.

Tudo isso para anunciar os grupos da Copa. Apenas isso.

Custo do evento: 30 milhões de reais. Quem pagou? 15 milhões foram pagos pela Prefeitura do Rio de Janeiro e 15 milhões de reais pelo Governo do Estado do Rio de janeiro. Ou seja, tudo pago com dinheiro do contribuinte.

Vejam alguns gastos que foram feitos com esses recursos, em tão pouco tempo:

  • Aluguel do espaço na Marina da Glória, por um dia: 3,7 milhões de reais.
  • Aluguel de 70 cadeiras com braço, que não havia no local: 204 reais por cadeira, pelo tempo de meio dia.
  • A diretora que coordenou e planejou o evento recebeu 54 mil reais.
  • Os artistas e convidados cobraram para ir 416 mil reais.
  • O assistente geral da coordenadora recebeu 6 mil reais.
  • Uma arquiteta júnior (não se sabe para que grande obra) recebeu 22,5 mil reais.
  • O “supervisor de chegadas e partidas” levou 4 mil reais.
  • O diretor de TV, imprensa e assessoria jurídica cobrou 162 mil reais.
  • Cenografia do local: 2,24 milhões.
  • Transportes dos artistas, de suas casas e hotéis até o local: 112 mil reais.
  • Custo da produção do evento (?): 1,716 milhões.
  • O motorista, coitado, recebeu apenas 3,5 mil por um dia de trabalho.

Tudo isso pago com dinheiro público e sem nenhuma licitação, pois o evento era sui generis, excepcional e poucas pessoas teriam capacidade no Brasil para organizá-lo… A justificativa: seria transmitido para todo mundo.

Mas isso não é a parte mais “interessante”. Qual foi a empresa prestadora de serviços que recebeu os trinta milhões de reais, de dinheiro público, e aplicou desta maneira? A GEO EVENTOS. Proprietários da empresa: Organizações Globo e Grupo RBS (associado da Globo no Rio Grande do Sul).

Por meio de nota, a empresa GEO EVENTOS explicou ao jornalista: “(…) os valores do serviço foram estabelecidos na proposta, que previu uma remuneração padrão, dentro de preços de mercado, e foram correspondentes ao prazo e complexidade das operações de produção. A apresentação de documentação e prestação de contas ocorreu dentro do modelo dos eventos patrocinados pela Prefeitura e Governo do Estado do Rio de Janeiro”.

Ou seja: foi uma roubalheira generalizada, mas com o crivo do Estado e, portanto, oficial.

Por tudo isso, a Rede Globo se cala diante dos descalabros do Ricardo Teixeira, que será investigado pela Polícia Federal por remessa de dinheiro ilegalmente para o Brasil e lavagem de dinheiro.

O dinheiro supostamente enviado para o Brasil teria sido recebido por Teixeira como suborno por parte da empresa de marketing ISL, para garantir que ela tivesse o direito de transmissão de TV de algumas copas. Quem fez a denúncia foi o jornalista Andrew Jennings, da BBC de Londres. Ainda segundo o jornalista, o suborno pago a dirigentes da FIFA chega a US$ 200 milhões, que foram pagos através de empresas fantasmas sediadas no paraíso fiscal de Liechtenstein. A determinação para investigar Teixeira também atinge João Havelange, ex-presidente da FIFA, e partiu do Ministério Pública, após as denúncias da mídia.

Qual a moral da Globo para ficar exigindo rigor no uso dinheiro público? E ficar cobrindo passeatas da classe média com vassouras que nunca usaram, clamando contra a corrupção? Corrupção de quem?

A saber: o custo de alfabetização de um adulto, segundo o MEC, é de 500 reais. Ou seja, com esses 30 milhões o Estado do Rio de janeiro poderia ter alfabetizado 60 mil trabalhadores adultos.

(Com informações de matéria publicada no jornal ‘Estado de são Paulo’ de 30 de setembro de 2011, assinada pelo jornalista Tiago Rogero, da sucursal do Rio de Janeiro. Clique aqui para acessar a versão online parcial da reportagem.)

Qual é o critério editorial?

O comentário do ‘Jornal Nacional’ deste sábado 23 sobre morte da cantora Amy Winehouse: “Vai deixar muitos fãs, né?”

Nenhuma repercussão sobre o fato de uma cantora dependente química e alcoólatra ter perdido a vida tão cedo. Mas tudo bem, vão comentar bastante sobre isso. O que se segue é o problema.

Depois de um bloco inteiro (exclusivo) de Amy, continuaram com a confirmação de pelo menos 92 mortos na tragédia da Noruega. Demoraram bastante para dizer o que poderia ser a manchete: a motivação foi política e o assassino era da crescente extrema direita europeia que ameaça em todos os cantos – incluindo no Brasil – a democracia.

Por falar em barbárie, a crise humanitária na Somália continua matando diariamente. Pelo menos 720 mil crianças podem morrer de fome, segundo alerta do UNICEF, na região conhecida como ‘Chifre da África’ (Somália, Etiópia, Djibuti e Eritreia).

E o que saiu hoje sobre isso? Nada.

Qual é, afinal, o critério editorial que permite esse nível indecente de desprezo pela vida?

Morte de Tim Lopes foi “caso anunciado”, diz colega que fugiu do país após ameaça de traficantes

O jornalista Tim Lopes foi sequestrado, torturado e morto por traficantes do Rio de Janeiro em 2002

Fabíola Ortiz
Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro

Depois de oito anos fora do Brasil, a jornalista Cristina Guimarães, 47, colega de Tim Lopes –que ganhou o Prêmio Esso em 2001 pela série “Feira das drogas” veiculada no Jornal Nacional, da TV Globo, mas foi morto por traficantes do Rio de Janeiro no ano seguinte– afirma que vive de luto e teve que reconstruir a sua vida após fugir do país sob ameaças de traficantes.

Ameaçada de morte, a jornalista e ex-produtora da TV Globo saiu da emissora sete meses antes do assassinato de Tim Lopes, alegando que não tinha proteção da empresa. Cristina Guimarães contou, em entrevista ao UOL Notícias, que comunicou as ameaças à direção de jornalismo da Globo, mas que a empresa não teria lhe dado ouvidos.

Procurada pela reportagem, a TV Globo, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que “não vai se manifestar sobre esse caso, porque ele envolve fatos que são objeto de ação judicial proposta contra a empresa”.

Para Guimarães, a morte de Tim Lopes foi um “caso anunciado”. O repórter teria ido à Vila Cruzeiro, nove meses depois de fazer a reportagem da “Feira das Drogas” no Complexo do Alemão, para checar uma denúncia de atividades do tráfico nos bailes funk.

“Eu não tenho culpa de ter dito sete meses antes que um de nós ia morrer”, afirmou Guimarães que hoje assume oficialmente ter voltado ao Rio de Janeiro. Sem querer ter sua imagem veiculada, a jornalista e produtora disse ter se “acostumado com a dor” e preparado um livro para relatar a sua história e “tudo o que sabe”. O livro inicialmente será lançado no ano que vem fora do Brasil.

Veja os principais trechos da entrevista:

UOL Notícias: Você é conhecida por ter realizado duas reportagens na série da “Feira de drogas” nas favelas da Mangueira e Rocinha, no Rio de Janeiro. Como foi esse período em que você trabalhou na TV Globo?

Cristina Guimarães: O Tim [Lopes] fez a matéria exibida na quarta-feira feira [dia 8 de agosto de 2001]. E todos nós sabíamos que a feira de drogas existia. Uma editora do JN [Jornal Nacional] me chamou. Eu até disse que achava muito arriscado, todo mundo sabia que existia e era perigoso. Ela falou ‘pois eu quero que você faça duas’. Eu sempre fui um camaleão, qualquer coisa que me pedissem para fazer eu ia fazer. Eu tinha que escolher duas favelas.

O Tim estava de férias, a primeira matéria dele foi veiculada numa segunda-feira [dia 6 de agosto de 2001] e eu tinha quinta, sexta e sábado. ‘Você tem que ir, trazer as imagens para ver se estão boas, se não você volta lá e faz de novo’, disse. Eu voltei três vezes na Rocinha e duas na Mangueira no período de três dias. Eu entregava o material e nunca estava bom. Eu andava com uma microcâmera sempre escondida. Eu fiz mais de 300 matérias para o Jornal Nacional, de 1995 a 2001.

UOL Notícias: Você sabia que corria risco?

Guimarães: Sempre soube. Mas essa matéria, eu não queria fazer. Dia 13 de agosto de 2001, tive que ser operada e saí de licença. Quando voltei, no dia 12 de setembro de 2001, um dia depois do ataque ao World Trade Center, assim que entrei na redação da TV Globo, um assistente de estúdio que morava na Rocinha disse que eu havia ‘pegado pesado’ e que todo mundo lá queria saber quem tinha feito a matéria. ‘A tua cabeça está valendo R$ 20 mil, 25 mil’. Quando eu liguei meu telefone, tinha um monte de mensagens de ameaças. Em novembro de 2001 eu saí da TV Globo. A minha vida não valia o quanto eu ganhava: R$ 3.100 era o meu salário. Não valia isso.

UOL Notícias: Você sempre gostou de fazer jornalismo investigativo com câmera escondida?

Guimarães: Eu sempre achei que tivesse proteção. É uma adrenalina. Eu sempre me expus mais e voltava várias vezes. Eu não queria fazer [a reportagem da ‘Feira das drogas’], mas tive que fazer duas matérias. O Tim Lopes fez a matéria dele e eu fui fazer a minha. Hoje a Justiça acha que o meu trabalho era secundário. Foi tão desmerecedor, tão humilhante as pessoas dizerem que o importante foi só o Tim. Acho que nenhum deles deveria ter ido pessoalmente pegar o Prêmio Esso, deveria ter ido um diretor receber o prêmio para não expor um jornalista.

UOL Notícias: Como foi a sua saída da emissora?

Guimarães: Eu saí dia 14 de novembro de 2001 da TV Globo. Saí para nunca mais voltar naquela situação, naquela administração, porque eu sabia que alguém iria morrer. Eu queria segurança. Tive em outras épocas, em outras administrações. Um dia, quando eu estava de plantão na subchefia de reportagem, abri um dos jornais e li que um jornalista do esporte da TV Globo tinha sido sequestrado para contar quem tinha feito a matéria [da “Feira das drogas”].

Eu não tinha proteção e comecei a ficar em paranoia. Tive um colapso nervoso e pedi licença. Era uma impotência total. Você faz uma coisa que é apaixonada, dá a vida pela empresa… Eu fui procurar advogados e, sete meses antes do [desaparecimento do] Tim, eu pulei fora. Alguma coisa ia acontecer. Um de nós ia morrer. Ninguém me ouviu. Eu saí porque eu estava jogada.

UOL Notícias: Qual era a sua relação com o Tim Lopes? Como você soube do desaparecimento dele?

Guimarães: Éramos colegas de redação e é claro que a gente conversava. Ele sabia que eu estava sendo ameaçada. Em maio de 2002 houve um assalto na minha casa no Rio de Janeiro e não foi investigado. Exatamente uma semana depois, dia 2 de junho de 2002, eu recebi uma ligação de que o Tim havia sumido. Desliguei o telefone e fiquei em prantos porque sabia que ele tinha morrido.

Foi um caso anunciado. A única coisa que eu me arrependo foi de não ter gritado mais, falado mais sobre isso. Se não tivessem feito pouco, ou se tivessem dado proteção a ele. Onde em sã consciência alguém deixaria uma pessoa voltar e fazer matéria onde já fez e tinha mostrado a cara?

Se as pessoas falarem a verdade vão ver que o erro não é só de um. Eu nunca vi baile funk começar antes da meia-noite, por que então ele [Tim Lopes] marcou com o motorista às 22h? Eu estava no Rio de Janeiro quando eu soube [do seu desaparecimento] e fui embora. Fiquei mais alerta ainda.

UOL Notícias: Como estava a sua vida naquele momento que você saiu da TV Globo?

Guimarães: Eu não estava com condições psicológicas nenhuma. Eu era casada, o meu casamento acabou. Saí, fui passar uns dias fora daqui. Soube que estava concorrendo ao Prêmio Esso, eu estava um bagaço, mas achei que aquilo fosse legal. Eu não fui [pegar o prêmio pessoalmente] porque o jornalista investigativo não pode aparecer. Eu não fui ao Prêmio Esso, no dia seguinte liguei ao Tim dando parabéns a ele.

UOL Notícias: Oque você fez todos esses anos após se desligar da emissora?

Guimarães: Eu dei parte na delegacia para conseguir dar entrada aos trâmites na Anistia Internacional e no governo americano. Eu fui incluída no relatório de direitos humanos dos EUA. Fui pra fora do Brasil, fiquei perambulando por oito anos América do Sul e parte da Europa, foram 15 países em oito anos. Vendi casa, carro, eu fui sobrevivendo com alguns amigos e com ajuda da minha mãe. Nem a minha mãe sabia onde eu estava. Eu abri mão da minha vida. Era uma forma de me proteger e de proteger os outros. Tinha certeza absoluta que ia morrer. Estou no Brasil faz dois anos. Acho que me acostumei com a dor, a dor da perda do trabalho, da identidade. Me acostumei a ficar calada. É um luto.

UOL Notícias: Como você reconstruiu a sua vida?

Guimarães: Eu deixei de fazer o que eu mais gostava, ser jornalista investigativa, eu sempre gostei muito de jornalismo. É uma profissão que não fica atrás do balcão, não tem rotina. Eu sou repórter cinematográfica também, por isso eu saía com a microcâmera sozinha, eu tinha uma liberdade que os outros não tinham. Me chamaram de mentirosa, que eu queria tirar vantagens financeiras da TV Globo. Acabaram com a minha vida. Eu não tenho culpa de ter dito sete meses antes que um de nós ia morrer.

Eu redirecionei a minha vida, ensinei, em cursos, as pessoas que saem da faculdade e querem fazer o jornalismo investigativo. Há dois anos eu dou cursos e é a primeira vez que eu assumo ter voltado para o Rio de Janeiro. Eu ganho meu dinheirinho dando aulas, dou assessoria, sou uma pessoa que fala com todos e vejo que o mundo está cada vez mais cruel. Vejo hoje o jornalismo de uma forma muito ambígua e baixa. Quando entrei na televisão, nós brigávamos por Ibope de 100%, hoje se vive com 40%. Nos meus cursos de jornalismo investigativo eu ensino que é preciso proteger-se, aprender a ser solitário, ir e voltar para contar a história, mas contá-la bem, mesmo que a verdade seja só sua ou que achem que a matéria não vale. Antes de destruir qualquer pessoa, você tem que saber se você não vai ser destruído. Eu não disse não quando eu tinha 38 anos.

UOL Notícias:Se tivesse chance de voltar hoje, você retornaria ao jornalismo investigativo?

Guimarães: Eu tentei voltar, até dezembro do ano passado eu estava em Brasília tentando voltar para a redação, para a televisão e fazer as mesmas coisas. Eu fui evitada. Hoje há uma certa proteção [aos jornalistas], eu voltaria não só em condições diferentes, mas acho que devem dar proteção a todo mundo.

UOL Notícias: Você acha que seu caso pode ser esquecido na Justiça?

Guimarães: Juridicamente acho que sim. Eu entrei com uma ação, em 2005, pedindo danos morais e materiais contra a TV Globo. Fiquei muito tempo sem trabalhar e continuo nessa luta. Eu mantenho a minha integridade. Sempre existe solução para a vida.

UOL Notícias: Você está preparando um livro?

Guimarães: O livro vai deixar muita gente com a cara no chão, eu falo porque eu virei jornalista, não foi só para mudar o mundo nem mudar a história. Pelo menos eu queria que o meu país não estivesse na situação que está. Eu nasci em 1964 no meio da ditadura. Comecei primeiro na área do radialismo com 19 anos. Sou carioca, me formei em publicidade, fiz Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e fiz Comunicação Social e Radialismo na UNB, em Brasília, e depois terminei na UFRJ.

A ideia [de escrever um livro] já existe há oito anos. Comecei a escrever no começo de 2010. O ponto crucial é nunca perder a sua verdade. Vai ser [bombástico] por vários momentos, mexe com a história, com dois grandes poderes, primeiro porque cocaína e maconha não se plantam em favela e arma não é fabricada pela playmobil. Tem capítulos muito interessantes onde eu questiono a vaidade, o poder e o ego.

UOL Notícias: No livro você dá nomes?

Guimarães: Eu dou, não tenho medo de ser processada, e nem podem me processar porque eu tenho todos os documentos. Vai ser lançado entre março e agosto de 2012 fora do Brasil. Acho que até chegar ao Brasil, se permitirem que o livro chegue ao Brasil, só pessoas que ‘tenham cabeça’ vão tentar ler esse livro.

UOL Notícias: Como é a sua vida hoje?

Guimarães: Hoje é escrever e trabalhar para pagar as contas. Moro com meus três gatos. Depois que lançar o livro eu não sei. Eu vivo aonde eu posso viver, mas com toda a minha integridade. Acho que vou ter que viajar muito, continuo não querendo aparecer. Hoje o meu objetivo é ser independente, manter a minha autonomia e viver. Eu preservo a minha imagem total. A nossa sociedade brasileira ainda acredita que a TV Globo é acima de qualquer coisa. Se eu não gostasse tanto de mim própria, não teria chegado aonde eu cheguei. Muitas vezes fui tentada a sumir do mundo, a desistir.

Conselheiro da ABI comenta

Para o conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Mário Augusto Jakobskind, a TV Globo foi precipitada. “A emissora foi muito precipitada, o repórter jamais poderia voltar àquele local. Escancaram a imagem dele, foi uma irresponsabilidade. O jornalismo investigativo não é assim, tem que resguardar o repórter.”

Jakobskind é autor do livro-reportagem “Tim Lopes – Fantástico Ibope” (Editora Europa) lançado no final de 2003, quando era editor do jornal “Tribuna da Imprensa”. Como integrante da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e da Liberdade de Imprensa da ABI, Jakobskind pesquisou durante um ano o caso Tim Lopes. “Eu me interessei pelo assunto e fui acumulando informações. O caso Tim ainda é uma ferida aberta e a história está mal contada”, afirma.

(Leia mais sobre a obra de Jakobskind aqui e aqui)

“O caso Tim Lopes foi um erro gravíssimo da direção da Rede Globo”, diz jornalista

Redação Portal IMPRENSA | 03/06/2008

Nesta terça-feira (3), o programa “IMPRENSA na TV” recebeu o jornalista Marcos Barrero, autor do livro “Assis de A a Z”, que comentou os diversos casos que estão sendo explorados pela mídia atualmente, como a tortura da equipe do jornal O Dia, no Rio de Janeiro, e a morte do jornalista Tim Lopes, que completou seis anos na última segunda-feira (2).

“O repórter deve estar onde a notícia está. O caso do Tim Lopes foi uma reincidência burra. Ele recebeu ordens para voltar ao local do crime, em que já tinha estado e de onde já tinha publicado suas matérias. Foi um erro gravíssimo da direção de jornalismo da Rede Globo”, afirmou Barrero. O jornalista disse ainda que Tim Lopes “ganhava muito mal” e que, “por ser considerado feio”, raramente aparecia fazendo passagens na televisão.

Sobre o caso de tortura que envolveu a equipe de reportagem do jornal carioca O Dia, no último dia 14 de maio, o jornalista declarou que “no Rio de Janeiro, cada caso é um caso e que, portanto, deve ser analisado particularmente”. Mesmo assim, o escritor considera a possibilidade de criar uma “regra geral” para esse tipo de cobertura de risco, entre favelas e milícias, mas acredita que o jornalista tem mesmo é que estar no local “onde as coisas acontecem”.

O Livro

No último mês de janeiro, Barrero seu livro sobre a cidade de Assis, localidade onde nasceu e começou sua carreira de jornalista. A cidade comemorou cem anos em 2005, e o autor conta toda essa história por meio de personagens locais. “Vendi mil exemplares em quatro meses, estou muito feliz, é quase um best-seller”, diverte-se o jornalista.

Sua carreira foi também marcada pelo cargo de ombudsman da Rádio Bandeirantes e, dessa forma, é considerado o primeiro a ocupar esse tipo de trabalho no mundo. Apresentou por quatro anos um jornal na AllTV, canal na internet em que o “IMPRENSA na TV” é veiculado.

“A internet, assim como o rádio, é um meio de interação fantástico com os espectadores e a figura do ombudsman é muito importante nessa relação. Eu era o representante dos ouvintes na Bandeirantes. Eu era o outro lado”, declara Barrero.

Já no fim do programa, o jornalista aproveitou para criticar as atuais atrações da televisão brasileira. “O Faustão é um programa que já caiu na mesmice faz tempo e a resistência de Fausto às mudanças dificulta ainda mais qualquer tentativa de inovação. É um programa nulo, morto. Isso tudo vai definhar logo e dar lugar a novos caminhos, novas programações”, finalizou.

O “IMPRENSA na TV” é exibido todas as terças-feiras, das 14h às 15h, na AllTV, e é apresentado pela jornalista Thaís Naldoni, editora-executiva do Portal IMPRENSA.

O caso de 89

Devemos ficar sempre atentos. “Foi há muito tempo”, minimizam alguns. No entanto, na sociedade do espetáculo, devemos lembrar que a percepção ainda é mais importante que a realidade (infelizmente). A comunicação – enquanto ferramenta e enquanto lógica – é um instrumento de poder. E os poderes instituídos, mesmo que estejam perdendo força, ainda são importantes. Ainda mais em um país com um nível educacional tão baixo (entre todas as classes sociais, ressalto).

(Trecho do filme “Muito Além do Cidadão Kane”, que pode ser baixado aqui)

A carapuça de Odorico

“O Bem Amado” é a cara de Guel Arraes. Ritmo perfeito e atores em ótima forma. Mas, lançado em plena campanha eleitoral, o filme pode ser objeto de interpretações paranóicas.

Governistas podem achar que Odorico e seu populismo demagógico representariam Lula. Já os oposicionistas seriam representados pelo jornalista Vladimir. O personagem usa meios oportunistas e desonestos para se opor a Odorico.

O filme dá pouco espaço a esse tipo de interpretação. Sua pretensão parece ser a de servir como uma advertência contra corrupção política em geral.

Mas uma super-produção da Globo não chega ao grande público sem fortes intenções ideológicas. A maior delas é a banalização da política. A indiferença em relação à corrupção e negociatas de interesses. O sentimento de que todos são iguais em sua baixeza e desonestidade.

Algo que se reforça ainda mais num quadro em que as principais candidaturas mal conseguem explicar o que as diferencia. As eleições tornam-se uma dança das cadeiras. Um leilão para ver quem oferece o melhor lance pela estabilidade do sistema de dominação e exploração. Sendo assim, melhor deixar a política para os políticos.

Uma situação dessas é a mais confortável para os poderosos. É a política institucional como comédia, com resultados trágicos para os explorados. A estes caberia responder com sua própria política. Aquela construída em suas associações, sindicatos, partidos. Produto das lutas, manifestações, greves. Mas estes instrumentos foram esvaziados pela “esquerda” que ocupa o poder temporariamente.

Nestas eleições, a burguesia está de camarote, segurando a carapuça de Odorico. São muitos os que se estapeiam para vesti-la.

Sérgio Domingues
http://pilulas-diarias.blogspot.com

“Pedido de desculpa não é suficiente”, diz ministra do Paraguai ao SporTV

Anderson Scardoelli, do Comunique-se.

A ministra de Turismo do Paraguai, Liz Rosanna Cramer Campos, escreveu uma carta ao SporTV criticando a matéria produzida pelo canal no dia 01/07 e afirma que pedir desculpa “não é o suficiente”. Ela afirma que a reportagem sobre o Paraguai foi “patética e ofensiva”.

“Com o poderio de sua rede e imensa audiência que possuem, vocês saberão entender que o pedido de desculpas não é suficiente. O impacto dessas imagens é muito superior ao impacto de um pedido de desculpas com uma nota positiva”, afirmou Liz.

A reportagem em questão falava sobre a participação do Paraguai na Copa do Mundo, mas, com texto irônico, zombou vários aspectos da cultura e da sociedade do país vizinho. Depois da repercussão negativa, o canal se desculpou e exibiu reportagem positiva sobre o Paraguai.

Convite para visita
Com o intuito de acabar com “os preconceitos” por parte da emissora brasileira, Liz convidou a equipe do SporTV para uma visita ao Paraguai. “Venham nos conhecer, para se surpreenderem e derrubarem preconceitos, e depois produzirem uma reportagem justa sobre os que vivem aqui”, diz a carta.

A direção do SporTV, por meio de sua assessoria, informa que já respondeu a carta enviada por Liz e reiterou o pedido de desculpas. “A direção do SporTV já respondeu à Ministra, reiterou o pedido de desculpas do canal e está conversando para agendar um possível encontro pós Copa do Mundo”, diz a nota.

Assista ao polêmico vídeo: