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Do ponto de vista do Estado Democrático de Direito:

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

1. Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República para o bom andamento do processo de impeachment, que dura 180 dias.

2. O Senado Federal aprovou apenas sua admissibilidade. A investigação começa em tese agora.

3. Assim, o presidente interino Michel Temer deveria entrar e manter o governo sem grandes mudanças, mesmo que alguma coisa mude conforme seu estilo de governar.

4. Ao mudar não só TODOS os ministros, mas TODA a estrutura do governo e TODAS as políticas públicas, como pode ser facilmente observável nos relatos da própria imprensa corporativa, Temer deixa claro que tratou-se, como muitos agora se deram conta, de um golpe de Estado, e não um processo comum.

5. Muitos outros não se importam, como muitos não se importaram com uma ditadura sanguinária enquanto o país crescia a 10, 13% ao ano. Muitos no governo Temer eram apoiadores do regime militar, aliás.

6. Dito isto, interrompe-se formalmente, para registro nos livros de História, a nova fase democrática, que pode ser iniciada em 1985 ou 1988, a depender da interpretação, como que acaba sem possibilidade de interpretação em 2016.

7. A democracia brasileira é, de fato, frágil. A saída de muitos era a democracia direta, mais participação e mais transparência. A saída escolhida pela direita brasileira — o que não deve ser uma novidade para leitores de História — é acabar com a democracia, para governar mais diretamente.

É só para ficar claro, porque em tempos difíceis o óbvio precisa ser dito.

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Quem são os ministros biônicos de Michel Temer? São homens, brancos e quase 100% investigados por alguma forma de corrupção. Confira clicando aqui um guia resumido (clique nas fotos).

O governador, os secretários e as cuecas

O Rio de Janeiro, com um dos piores índices na área de saúde e afogado em escândalos de corrupção, possui – pra piorar – uma base aliada que ainda não abriu uma CPI para o caso Delta ou mesmo para a saúde e um Judiciário que também se beneficiou das obras da Delta.

Reportagem abaixo é de Talita Corrêa no jornal EXTRA, 01/05/2012, original aqui.

Salário de médico do estado não paga nem o show de secretário de saúde


José Romano, há 20 anos no Estado, salário: R$ 1.884,00 / Farra da turma do Cabral: não tem preço Foto: Roberto Moreyra e reprodução da internet

O menu mais barato de um restaurante francês como o famoso L’Espadon, no Hotel Ritz, em Paris, não sai por menos de 240 euros (R$ 605) por pessoa. Para a lagosta ser regada a um bom vinho rosé, o preço sobe para R$ 920. Se cair de paraquedas nesse banquete de luxo, um médico do estado, que tem como teto salarial, após 20 anos de trabalho, R$ 1.874,50, vai ter que se contentar somente com a sobremesa do cardápio très chic: um prato de queijo, pela bagatela de R$ 65.
E, se depois do jantar, o doutor quiser dar uma esticadinha no show da banda U2 , na área vip do Stade de France, vai ficar na vontade. O valor de R$ 2.521,00 é estratosférico para o ginecologista José Romano, de 50 anos:

— Após duas décadas de serviço na rede estadual, o máximo que consegui ganhar é esse salário de R$ 1.874,50. O vencimento mesmo é R$ 203, somando insalubridade, gratificação e plano de capacitação, vai para R$ 1.874,50 — resume.

No último fim de semana, o ex-governador Garotinho, cujo governo também foi marcado por denúncias de corrupção na Saúde, postou $seu blog vídeos em que o dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, o secretários Wilson Carlos (de Governo), Sérgio Côrtes (de Saúde) e Sérgio Cabral passeiam por cidades da Europa — Mônaco, Paris e Cannes — em viagens oficial e particular, aproveitando o melhor da alta gastronomia internacional, folheando caríssimas cartas de vinhos e assistindo a shows em áreas vip. Em um dos vídeos, os eufóricos Côrtes, Cavendish e Wilson usam guardanapos na cabeça.

— Não sei o que o Côrtes festeja. Eu, como médico da rede pública, não tenho o que festejar. O secretário, em vez de viajar para Paris, deveria estar nos hospitais, vendo o que acontece nas unidades pelas quais ele é responsável — completa José Romano.

Em nota, o governo afirmou que as imagens do show em Paris e do jantar em Mônaco foram feitas durante viagens particulares do governador e de seus secretários, pagas por eles próprios. E que, por se tratarem de atividades pessoais, não iria se manifestar.

Relembre o fatos:

Foram divulgadas imagens de Cabral, Cavendish e Côrtes curtindo show do U2, em julho de 2009.

Na última sexta-feira, foram publicadas fotos de uma viagem a Paris em setembro de 2009, numa missão oficial do governo.

Fernando Cavendish é dono da Delta Construções. Desde o início do mandato de Cabral, em 2007, a empresa já recebeu R$ 1,5 bilhão do estado e agora é alvo de investigação da Polícia Federal e da CPI do Cachoeira por suspeita de pagar propina a políticos.

Cavendish era casado com Jordana Kfuri, morta em junho de 2011, em um acidente de helicóptero que matou outras seis pessoas na Bahia. A assessoria do governo informou que os vídeos divulgados das viagens devem ter sido retirados do computador de Jordana.

Operação Monte Carlo chegou na Veja

Por Luis Nassif

Não haverá mais como impedir a abertura das comportas: a Operação Monte Carlo da Polícia Federal, sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, chegou até a revista Veja.

As gravações efetuadas mostram sinais incontestes de associação criminosa da revista com o bicheiro. São mais de 200 telefonemas trocados entre ele e o diretor da sucursal de Brasilia Policarpo Jr.

Cada publicação costuma ter alguns repórteres incumbidos do trabalho sujo. Policarpo é mais que isso.

Depois da associação com Cachoeira, tornou-se diretor da sucursal da revista e, mais recentemente, passou a integrar a cúpula da publicação, indicado pelo diretor Eurípedes Alcântara. Foi um dos participantes da entrevista feita com a presidente Dilma Rousseff.

Nos telefonemas, Policarpo informa Cachoeira sobre as matérias publicadas, trocam informações, recebe elogios.

Há indícios de que Cachoeira foi sócio da revista na maioria dos escândalos dos últimos anos.

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Gustavo Gindre completa: “Não custa lembrar que o Grupo Abril, responsável pela edição da Veja, tem 30% do seu capital nas mãos do grupo sul-africano Naspers, anteriormente chamado Die Nasionale Pers, órgão de sustentação do regime racista de Pretória e que teve entre seus conselheiros Pieter Botha e Frederik de Klerk.”

Eduardo Paes mentiu sobre fim do contrato com Locanty; Cabral recebeu R$ 1,3 milhão de empresa

Do vereador Eliomar Coelho (PSOL-RJ), apresentando a prova:

“O alcaide Eduardo Paes está bravateando na maior cara de pau. É MENTIRA que em julho do ano passado, após denuncia seríssima de corrupção inclusive envolvendo funcionário da Prefeitura, o prefeito rompeu contrato com a Locanty na prestação de serviço de reboques e depósitos para carro.

Os reboques da Locanty continuaram na rua e Prefeitura continua pagando, e caro, para essa empresa, que já ha muito tempo é comprovadamente desqualificada para atuar na gestão pública.

O próprio Secretario de Ordem Pública afirmou ano passado que a Locanty não teria a menor condição de dar continuidade ao contrato e de manter os serviços que prestava. Mais uma prova de que esse Prefeito governa a cidade sem planejamento, sem controle e pior, mentindo para o cidadão.

Veja a foto que comprova que o contrato ainda está em vigor. Desmentindo o que a Prefeitura tem dito na mídia.”

Acesse a prova com qualidade completa clicando aqui.

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Campanha de reeleição de Sérgio Cabral teve R$ 1,3 milhão da Locanty em 2010
Do jornal EXTRA

O governo do Estado e a ONG Transparência Brasil têm informações divergentes sobre a doação de R$ 1,3 mil da empresa Locanty na campanha de 2010. No site Às Claras, mantido pela Transparência, o governador Sergio Cabral, então candidato à reeleição, aparece como o beneficiário da ajuda financeira. Segundo a assessoria do Cabral, no entanto, a empresa doou o dinheiro para a campanha do PMDB, partido do Cabral. Mas, ainda de acordo com assessoria, o PMDB não repassou qualquer centavo da doação à campanha de Cabral, que tinha um comitê próprio de arrecadação.

A Locanty é uma das quatro empresas investigadas pela Polícia Federal no escândalo de negociação de propinas em troca de contratos com o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ. Ontem, o governador determinou o cancelamento dos contratos com a Locanty, a Toesa Service, a Rufolo Empresa de Serviços Técnicos e Construções e a Padre da Posse Restaurante (cujo nome fantasia é Bella Vista Refeições Industriais).

Segundo o governo, a Polícia Civil não abrirá inquéritos para investigar esses contratos, mas irá apoiar os trabalhos da Polícia Federal.

Ainda segundo o site da Transparência, a Locanty também ajudou a financiar as campanhas dos deputados estaduais Alcebíades Sabino (PSC) e Bebeto (PDT) com R$ 50 mil, cada. Sabino é ex-secretário estadual de Trabalho da gestão atual e ex-prefeito de Rio das Ostras.

Outro que também contou com doação de campanha da Locanty foi o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) em sua campanha presidencial, em 2010.

Ex-Prefeito de Niterói Godofredo Pinto é investigado pelo Ministério Público do Rio

A 4ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal (PIP) da 2ª Central de Inquérito instaurou procedimento investigatório para apurar se o ex-Prefeito de Niterói Godofredo Saturnino da Silva Pinto cometeu um suposto crime licitatório.

Segundo o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), em 5 de novembro de 2007, quando estava à frente da Prefeitura, Godofredo teria contratado a Agência de Publicidade Identigraf Design e Impressos Ltda para a realização de campanhas publicitárias, assinando contrato de 12 meses pelo valor de R$ 500 mil.

O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), de acordo com o procedimento investigatório, considerou ilegal a contratação e aplicou ao então Prefeito de Niterói pena administrativa pecuniária de R$ 10.676 ou cinco mil vezes o valor da UFIR.

Consta ainda, segundo o MPRJ, que Godofredo Pinto já foi penalizado outras vezes pelo TCE-RJ, além de ter sido três vezes denunciado criminalmente pela 4ª PIP nas Varas Criminais de Niterói, inclusive por crimes licitatórios.

Cartolas brasileiros: um jogo sujo com sócios de peso como TV Globo, CBF e Corinthians

“Sou amigo do Ricardo Teixeira mesmo, sou amigo da Globo mesmo, apesar de ser gângster, não tenho problema não. Agora, eu vejo meu clube”, diz André Sanches, presidente do Corinthians em vídeo amador exibido pela Rede Record este ano.

Sanches, pra quem não sabe, era grande amigo do ex-dirigente mafioso Kia Joarabchian, denunciado pela Polícia Federal por lavagem internacional de dinheiro, entre outros crimes. (Acesse aqui matéria que conta toda a história)

Segundo fontes da reportagem, Kia ainda é o presidente de fato do clube paulista, enquanto Sanches é seu ‘laranja’.

(Vídeo de junho de 2011)

Chega às livrarias ‘A Privataria tucana’, de Amaury Ribeiro Jr.

Carta Capital

Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter, que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial.

Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 páginas publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.

Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.

O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.

A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.

Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.

Leia entrevista clicando aqui.