
1. Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República para o bom andamento do processo de impeachment, que dura 180 dias.
2. O Senado Federal aprovou apenas sua admissibilidade. A investigação começa em tese agora.
3. Assim, o presidente interino Michel Temer deveria entrar e manter o governo sem grandes mudanças, mesmo que alguma coisa mude conforme seu estilo de governar.
4. Ao mudar não só TODOS os ministros, mas TODA a estrutura do governo e TODAS as políticas públicas, como pode ser facilmente observável nos relatos da própria imprensa corporativa, Temer deixa claro que tratou-se, como muitos agora se deram conta, de um golpe de Estado, e não um processo comum.
5. Muitos outros não se importam, como muitos não se importaram com uma ditadura sanguinária enquanto o país crescia a 10, 13% ao ano. Muitos no governo Temer eram apoiadores do regime militar, aliás.
6. Dito isto, interrompe-se formalmente, para registro nos livros de História, a nova fase democrática, que pode ser iniciada em 1985 ou 1988, a depender da interpretação, como que acaba sem possibilidade de interpretação em 2016.
7. A democracia brasileira é, de fato, frágil. A saída de muitos era a democracia direta, mais participação e mais transparência. A saída escolhida pela direita brasileira — o que não deve ser uma novidade para leitores de História — é acabar com a democracia, para governar mais diretamente.
É só para ficar claro, porque em tempos difíceis o óbvio precisa ser dito.
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Quem são os ministros biônicos de Michel Temer? São homens, brancos e quase 100% investigados por alguma forma de corrupção. Confira clicando aqui um guia resumido (clique nas fotos).
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.