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O rescaldo da tragédia da Arena Kazan

Sempre temos algo a aprender com o grande Tostão, que foi um dos heróis do tri e hoje é o melhor comentarista esportivo do Brasil. Sua coluna deste domingo, 8 (vide aqui) sintetiza otimamente o que foi a tragédia da Arena Kazan:

O treinador Martínez usou a mesma formação tática do México, com quatro defensores, três no meio-campo e três mais adiantados (De Bruyne, pelo centro, e Lukaku e Hazard, um de cada lado). De Bruyne, livre, deitou e rolou.

Por outro lado, a Bélgica marcou mal, já que os três mais adiantados não voltavam. A Bélgica correu riscos. Deixava Marcelo livre e colocava Lukaku em suas costas. Deu certo. 

O Brasil também correu riscos. Deu errado. A seleção brasileira criou um grande número de chances de gol e só não marcou por erros de finalizações e pela atuação do goleiro Courtois.

O perigo dessas eliminações são as conclusões tendenciosas, equivocadas e absurdas (…). O Brasil foi eliminado por causa de erros individuais e coletivos, do acaso e, principalmente, porque a Bélgica possui quatro jogadores que estão entre os melhores em suas posições no mundo (Courtois, De Bruyne, Hazard e Lukaku). Temos de deixar a soberba de lado e aprender com o óbvio, que, contra grandes seleções, as chances de vitória são iguais

Farei umas poucas ressalvas. Concordo que fosse mesmo um jogo de grandes seleções, embora a atuação pra lá de inconvincente da Bélgica contra o Japão me tenha levado a subestimá-la; mas não existia igualdade entre ambas, a brasileira era, teoricamente, melhor.

E foi por estar ciente da inferioridade do seu selecionado que o técnico Roberto Martínez (um espanhol que fez carreira medíocre como jogador e depois se tornou treinador de equipes menores do futebol inglês, até assumir o escrete belga em 2016) resolveu partir para o tudo ou nada contra o Brasil, colocando De Bruyne, Lukaku e Hazard à frente da linha da bola, na esperança de que sua defesa fragilizada segurasse as pontas e seu ataque reforçado fizesse gols.


Ou seja, acabou aplicando um nó tático em Tite, que se notabilizou exatamente por dar nós táticos noutros treinadores e assim obter vitórias surpreendentes contra adversários mais fortes. 

Será que ninguém da Comissão Técnica estava ciente de que Martínez é conhecido como técnico inovador e seria bem capaz de atuar de uma forma inusitada contra o Brasil?!

O resto foi o que todos sabem: 

  • apagão de Philippe Coutinho (este por esgotamento físico), Neymar e Gabriel Jesus, no pior momento possível;
  • o azar de ter Casemiro fora e Fernandinho dentro;
  • o azar de não ter feito um gol logo de cara, na bola que Thiago Silva desajeitadamente empurrou contra a trave;
  • a imprecisão de Renato Augusto, que sucumbiu ao nervosismo e desperdiçou a grande chance que teve no finalzinho da partida; 
  • a insistência de Tite com Gabriel Jesus, Paulinho e Willian;
  • o erro de Tite ao promover o retorno de Marcelo, esburacando a defesa e não resolvendo na frente.

Concordo com Tostão quanto ao fato de o Brasil ter sido eliminado por causa de erros individuais e coletivos, e do acaso; e não rasgaria tanta seda para os quatro melhores jogadores belgas, vejo apenas De Bruyne e Hazard como foras de série.

Por último, a grande pergunta é: mesmo Tite não sendo infalível, isto é motivo para jogarmos no lixo o trabalho mais consistente de um treinador do nosso escrete desde o de João Saldanha?

Mais: existe alguém melhor do que ele para tocar a renovação que se impõe a partir de agora (vide aqui)?

Pessoas simples muitas vezes precisam inculpar alguém quando das decepções mais dolorosas. E há também pessoas que não são simples e estão fazendo tudo que podem para direcionar tal catarse contra Tite, o único treinador em décadas que conseguiu isolar a seleção das influências nefastas da cartolagem.

Derrubar Tite abrirá caminho para a CBF voltar a priorizar outros interesses que não os do futebol, como marcar amistosos caça-niqueis, sem justificativa técnica nenhuma; e escalar jogadores apenas para valorizá-los no mercado internacional, em conluio com agentes e pilantras de todo tipo.

É patético que muitos empenhados no afastamento de Tite sejam exatamente os frustrados com o impeachment da Dilma e a prisão do Lula. Parecem querer que todos os circos peguem fogo ao mesmo tempo!

Comportam-se como se o Adenor fosse um mísero Dunga ou um Felipão qualquer, e não um homem politicamente consciente, que utiliza todo seu jogo de cintura para tentar atingir seus (justos) objetivos em meio às contradições brasileiras, mas, sem dúvida nenhuma, um cidadão contrário ao situacionismo. 

Ou seja, alguns que tanto o hostilizam com seus teclados são, além de injustos, míopes.

Vila Autódromo: residir é resistir

Por Lígia Batista

A Vila Autódromo se localiza próximo à Lagoa de Jacarepaguá e o antigo Autódromo. Ela se tornou símbolo carioca de resistência contra remoções forçadas e atualmente pede socorro.

No último sábado (27/02) estive em visita à localidade, por ocasião do lançamento do novo Plano Popular de Urbanização da comunidade, e pude conferir de perto as marcas deixadas pela gentrificação, pela especulação imobiliária e pelo não-direito à cidade imposto aos moradores.

Depois de décadas de muita luta e ameaças constantes de remoção ao longo dos anos, a Vila Autódromo vê pouco a pouco arrebatadas as raízes de sua história. Das cerca de 600 famílias que ali viviam, menos de 50 ainda estão por lá. As remoções, iniciadas há cerca de dois anos na região, contrastam com o discurso do prefeito Eduardo Paes, que já afirmou publicamente e em reunião com a Anistia Internacional que não retiraria de lá os moradores que mostrassem interesse em ficar.

Hoje o cenário é desolador. As famílias que conseguiram permanecer, buscando forças frente às investidas da Prefeitura, se veem em uma situação de tremenda exposição e insegurança. Há escombros por todos os lados, o fornecimento de água e de luz elétrica foi cortado, as vias de acesso à comunidade foram fechadas e a Guarda Municipal ronda constantemente a região. Isso sem contar com as obras destinadas à construção do Parque Olímpico, as quais também tem gerado um impacto significativo no dia-a-dia dos moradores.

Importante lembrar que a Vila está inserida em uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS), área destinada a moradias populares. Além disso, o Governo do Estado concedeu aos moradores o Direito Real de Uso para Moradia na década de 1990. Tudo deveria convergir para a proteção dessas famílias, de suas casas e de seus vínculos históricos, mas parece que o legado olímpico não pretende beneficiar a todos de forma igual.

Sobre isso, diante do contraste visível entre as construções luxuosas dos arredores e as singelas casas que restaram da Vila Autódromo, não há fala mais lúcida que a de Dona Jane, antiga moradora removida em agosto de 2015: “Não há nenhum legado para o povo. Há um legado para os governos e o bolso dos empresários”.

Hoje as ameaças de remoção ainda não cessaram e é preciso que nos mobilizemos em defesa dos ainda lutam. Não podemos nos esquecer de que a moradia adequada é um direito humano. Prefeito, a Vila tem que ficar! Urbanize já!

Fonte: Anistia Internacional – Brasil
https://anistia.org.br/vila-autodromo-residir-e-resistir/

DOCUMENTÁRIO: Domínio Público

Entre 2011 e 2014, o Projeto Domínio Público investigou as transformações no Rio de Janeiro por conta dos megaeventos: UPPs nas favelas, remoções forçadas, privatizações de espaços públicos e revoltas populares.

O documentário, que contou com financiamento coletivo e participação de diversos grupos audiovisuais populares, dá conta do estado das coisas neste ano de Olimpíadas. E como estamos longe de uma democracia. Tem gente morrendo, polícia impune, político sem povo. Obrigatório para quem deseja entender onde estamos.

A Igreja Universal estende seus tentáculos para o esporte. Vamos permitir?

Seus padrões éticos não estavam à altura…  do PFL! Mas, ele serve para o Ministério de Dilma.

Como considero um desperdício de tempo acompanhar o noticiário policial, não conhecia os antecedentes do pastor George Hilton, o novo ministro dos Esportes. Então, o relato do jornalista Bernardo Mello Franco, na edição dominical da Folha de S. Paulo (vide íntegra aqui), veio bem a calhar:

No primeiro mandato de Dilma, o ministério se notabilizou por repassar dinheiro público a ONGs ligadas ao PC do B. No segundo, pertencerá ao PRB, sigla controlada pela Igreja Universal. Antes de nomear sua nova equipe, a presidente disse que consultaria o Ministério Público para prevenir escândalos. Bastaria ter usado o Google para evitar a instalação de uma bomba-relógio no governo às vésperas da Rio-2016.

A Polícia Federal já flagrou Hilton em um aeroporto com 11 caixas de dinheiro vivo, somando R$ 600 mil. O episódio provocou sua expulsão do antigo PFL, que não se notabilizava pelo rigor ético com os filiados.

Como estas pessoas avaliariam o novo ministro?

Ao transmitir o cargo, o comunista Aldo Rebelo recebeu o pastor com uma citação bíblica. Entre todos os textos sagrados, escolheu uma parábola sobre a multiplicação das moedas. ‘Creio que Vossa Excelência entregará 10 moedas a partir das 5 que está recebendo’, disse.

…Para quem já conseguiu ser expulso do PFL e vaiado na posse da nova chefe, o céu é o limite.

O veterano Jânio de Freitas (vide íntegra aqui) completou o quadro, acrescentando um detalhe importantíssimo, o de que não se trata de uma iniciativa isolada, mas sim de uma escalada da Igreja Universal para fazer do esporte brasileiro seu novo feudo:

Se o pastor George Hilton não foi parar no Ministério dos Esportes por habilitação para o cargo, muito menos o foi por acaso ou descuido. Em Minas, o governador Fernando Pimentel entregou a Secretaria de Esportes a um pastor. Geraldo Alckmin nomeou um pastor para sua Secretaria de Esportes.

Os três são pastores da igreja Universal. São partes de uma nova extensão do plano político-religioso comandado pelo bispo Macedo, que reformula e amplia os seus objetivos no Brasil.

Só na aparência o Estado do Rio ficou fora dos domínios da Universal. A Secretaria de Esportes do governo Pezão foi dada a um jovem filho de Sérgio Cabral, o que significa entendimento com a igreja de Macedo.

O novo homem forte do esporte brasileiro. Cruz, credo!

MAIORES CULPADOS PELO MINEIRAZO: O GOVERNO E A REDE GLOBO!

É repulsiva a atitude dos governos que compram o apoio de bancadas fisiológicas distribuindo cargos e/ou propinas. E aberrante a incidência na mesma prática por parte do PT, partido que passou a vida inteira prometendo moralizar a política brasileira.

Então, não me omitirei quando o esporte brasileiro corre o risco de passar por outros vexames terríveis, em função de estar agora sendo entregue à sanha predatória dos mercadores da fé.

Afirmo que os principais culpados pela pior catástrofe do futebol brasileiro em todos os tempos foram o governo federal e a Rede Globo. Com forte possibilidade de repetirmos o papelão nas Olimpíadas de 2016 e nas eliminatórias do Mundial de 2018.

Por que? Simplesmente porque era só o que se poderia esperar de um José Maria Marin à frente da CBF. E, como os clubes brasileiros só não vão à falência graças à magnanimidade da viúva e à grana da TV, muitas maneiras havia para enxotá-lo antes que causasse tantos danos ou, pelo menos, impor-lhe a convocação dos melhores profissionais para a comissão técnica da Seleção Brasileira, ao invés das mais reluzentes relíquias do passado. O que não houve foi vontade política, ou interesse.

O sargentão que nos levou à derrota anunciada de 2014…

Além de medíocre até a medula e flagrantemente anacrônico, Marin tinha contra si um currículo horroroso, de lambe-coturnos dos ditadores: como deputado federal, discursou elogiando o tocaieiro de Marighella, o monstruoso delegado Sérgio Paranhos Fleury, além de haver pedido providências contra a infiltração comunista na TV Cultura (tais providências, como se sabe, redundariam no assassinato de Vladimir Herzog).

O omisso Aldo Rebelo, o estranho no ninho anterior, nem sequer preservou a presidenta Dilma Rousseff da saia justa de aparecer em solenidades e fotos ao lado de tão desmoralizada figura, o notório Zé da Medalha.

O que se poderia esperar de Marin, se não a entrega da Seleção a um técnico que, por não ter acompanhado a evolução tática do futebol mundial, vinha de uma década de retumbantes fracassos? A era dos sargentões ficara para trás, o novo perfil dos treinadores os aproximava mais dos enxadristas, conforme alertei já em dezembro de 2012 (vide aqui):

Luiz Felipe Scolari, o mais conspícuo representante da velha e rústica escola cujo prazo de validade expirou com a revolução catalã, é unanimidade negativa entre os boleiros dos grandes clubes…

E, em julho de 2013, quando a conquista da irrelevante Copa das Confederações iludia os torcedores brasileiros e intimidava comentaristas esportivos sem brios para marcharem contra a corrente –preferiram amenizar suas críticas e fazerem média com a galera, confortavelmente instalados em cima do muro–, eu cantei a bola (vide íntegra aqui):

…e o que nos conduzirá à próxima derrota anunciada.

…Felipão, no Palmeiras, passava vexame após vexame quando enfrentava times treinados por técnicos mais atualizados… Na Copa do Mundo, a falta de um estrategista no banco tende a ser fatal.

Depois, em outubro de 2013, cometi o erro de, mesmo prevendo a derrota anunciada, acreditar que nosso pobre escrete chegasse pelo menos à final (vide aqui):

…o futebol atual depende –e muito!– da inteligência com que o treinador dispõe as suas peças em campo, visando maximizar o aproveitamento da contribuição que os valores individuais tenham a oferecer para o desempenho coletivo. A estratégia hoje ganha jogos e ganha copas. Então, ficarmos entregues a quem é nulo como estrategista (Felipão) e a quem apenas sabe copiar as estratégias alheias (Carlos Alberto Parreira) nos encaminha diretamente para um novo maracanazo.

mineirazo da semifinal de 2014 acabaria sendo infinitamente pior que o maracanazo da final de 1950. E agora, com vendilhões comandando o templo e outro técnico jurássico no banco, o Brasil poderá inclusive deixar de ser o único país participante de todos os Mundiais da Fifa.

Há tempo de sobra para evitar-se o pior, desde que Dilma Rousseff passe a respeitar a paixão dos brasileiros pelo esporte, ao invés de encarar o Ministério respectivo como moeda de troca de segunda categoria no balcão de negócios da Praça dos Três Poderes.

Delenda est George Hilton!!! (*)


*  Utilizo a exortação célebre de Catão, o Antigo no sentido figurado, claro. Não pretendo que George Hilton seja destruído mas, tão somente, destituído. Ele, Kátia Abreu, Gilberto Kassab e Joaquim Levy acrescentariam muito ao ministério com suas ausências…

Copa do Mundo termina com repressão brutal da Polícia Militar do Rio, com dezenas de feridos


Os protestos no dia final da Copa do Mundo no Brasil, na zona norte do Rio de Janeiro, marcaram o fim do evento com um pouco do mais do mesmo: uma repressão brutal da Polícia Militar, com dezenas de violações dos direitos humanos.
A manifestação foi reforçada após dezenas de prisões arbitrárias pela Polícia Civil, com apoio do judiciário. Um manifesto de intelectuais e lideranças políticas foi lançado:
“(…) As prisões constituem ato eminentemente político e criam perigoso precedente: a privação da liberdade individual passa a ser objeto de decisão fundada em previsões e no cálculo relativo ao interesse dos poderes do Estado. Foram golpeados direitos elementares individuais e de livre manifestação.
Conclamamos todos os cidadãos comprometidos com os princípios democráticos, independentemente de ideologias ou filiações partidárias, a unirem-se contra o arbítrio e a violência do Estado, perpetrada, ironicamente, sob a falsa justificativa de evitar a violência.” (leia aqui)

Foto: Terra
O Rio na Rua registrou: “Chamada de “Firewall 2″, a operação executada hoje pela Polícia Civil foi conduzida pela DRCI – Delegacia de Repressão a Crimes de Informática e prendeu 28 pessoas, às vésperas da final da Copa do Mundo. Foram mobilizadas 25 delegacias, 80 policiais e uma aeronave e há informações de que mais pessoas, ainda não identificadas, também serão presas preventivamente nos próximos dias.
(…) Os detidos são professores, advogados e ativistas que participaram de manifestações e greves recentemente. A alegação para as detenções ainda não está clara, mas fala-se em “envolvimento com vandalismo em manifestações”. Segundo advogados que acompanham os dados, serão cumpridos, ao todo, 60 mandados de prisão. Houve uma coletiva de imprensa no local em que a mídia independente foi impedida de participar.”
Leia também na BBC uma boa reportagem, clicando aqui, e a nota de condenação da Anistia Internacional aqui.
Violência contra jornalistas e manifestantes
Segundo o portal Terra, ao menos sete pessoas ficaram feridas durante o protesto. Segundo socorristas voluntários, foi atendido um policial com dedo quebrado, um rapaz que teve um dente quebrado, um manifestante com uma lesão na costela e outro com suspeita de braço quebrado. Um fotógrafo foi ferido na barriga e nas costas com estilhaços de bomba de efeito moral.
Além deles, registra o Terra, o fotógrafo peruano Boris Mercado, 25, que foi ao Brasil especialmente para cobrir a Copa, acabou jogado no chão por PMs ao tentar fotografar a polícia agredindo os manifestantes. Ele chegou a ser detido e foi liberado após dizer que era repórter. “É triste ver a polícia reprimir comunicadores, que são observadores, nada mais. Usam a violência como primeira ferramenta”, afirmou.
Mauro Pimentel, fotógrafo do Terra, foi agredido por policiais militares quando cobria a manifestação na Praça Saens Pena. Ele tentou passar uma barreira de PMs para registrar um principio de confronto quando três policiais o acertarem com cacetetes no rosto e pernas. Um deles foi identificado como Portilho. O fotógrafo foi jogado no chão e teve a máscara de gás e a lente quebradas.
Ao menos outros dez jornalistas que tentaram registrar os casos de violência foram agredidos. A fotógrafa freelancer Ana Carolina Fernandes, que trabalha para a Reuters, entre outros veículos, caiu no chão na correria. Segundo ela, um PM arrancou a máscara de gás dela e jogou spray de pimenta em seu rosto.

Foto: Mídia Ninja
O cinegrafista Jason O’hara foi esmurrado por diversos policiais quando registrava o protesto. Oswaldo Ribeiro Filho, da inglesa Demotix, teve uma bomba de gás jogada contra o rosto. Felipe Peçanha, da Mídia Ninja, teve a lente quebrada e foi cercado por oito PMs e espancado enquanto estava no chão — tudo filmado pelo próprio repórter.

A fotógrafa Paula Kossatz registrou o momento exato em que a polícia jogou bombas sem qualquer motivo nos manifestantes, conforme relatado por um colaborador da Revista Consciência.Net.

Ainda sobre a questão da liberdade de expressão, a diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio lamentou o fato de a Justiça ter negado a garantia do direito ao livre exercício profissional dos jornalistas no entorno do Maracanã durante toda o Mundial de Futebol.
O Tribunal de Justiça do Rio negou esse direito mesmo sem previsão dessa restrição pela Lei Geral da Copa. “Desse modo, fez prevalecer a operação da PM de embarreiramento armado ao acesso dos jornalistas ao local. Tudo em nome da ordem”, lamentou ela.

PM ataca passageiros no metrô
O relato é de uma usuária, pelo Facebook:
“Minutos antes deu apanhar: Durante muitas bombas, prisões e porradarias de PMs com cacetete na praça Saens Pena, eu e meu marido fomos os últimos a conseguir entrar na estação cheia de gás. Ficamos filmando a caça da polícia que tentava identificar quem era manifestante e quem não era.
Nosso grande crime, merecedor de muita porrada, foi ter ficado filmando a ação da PM. Por isso que é dificil encontar vídeos denunciando a covardia da policia. Quando o PM começa a correr atrás da gente meu celular para de filmar, provavelmente no nervosismo desliguei a câmera.”

“SOS”

Foto: Camila Nobrega / Canal Ibase
Da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência:
“SOS”. É a mensagem que pessoas encurraladas pela polícia nas imediações do Maracanã acabam de escrever no chão da rua Desembargador Isidro, na Tijuca: um pedido de socorro. Após reprimir de forma truculenta a manifestação que ocorria no entorno da Praça Saens Pena, a Polícia Militar fez um cerco em todas as ruas do local, impedindo a circulação.
Cerca de mil pessoas estão “presas” nas ruas da Tijuca, cercadas de policiais. Pelo menos seis manifestantes foram presos, três deles por tentar sair do local, de acordo com o delegado responsável. Segundo advogados que acompanham a situação, trata-se de um “cárcere privado”. Além disso, configura também violação de direitos de reunião e manifestação, além do direito de ir e vir. Dezenas de pessoas ficaram feridas, durante a repressão da polícia, com bombas e cassetetes. Uma comunicadora popular ferida na cabeça e uma jovem com braço aparentemente quebrado esperaram mais de 40 minutos por uma ambulância para saírem do local.

Documentarista canadense é espancado pela polícia no Rio
Do jornal A Nova Democracia: “Nossa redação recebeu informações de que o documentarista e ativista da imprensa popular e democrática, além de colaborador do jornal A Nova Democracia, Jason O’Hara, foi brutalmente espancado por PMs durante o protesto de hoje à tarde na Zona Norte do Rio.
Ele foi atingido por chutes na cabeça e está sendo atendido no hospital Souza Aguiar. Mais um atentado contra a liberdade de imprensa cometido contra os meios de comunicação populares.”
Como nos tempos da ditadura militar: Polícia impediu trabalho de advogados
Relato e fotos de um colaborador da Revista Consciência.Net: “Polícia impede passagem de qualquer um, inclusive advogados populares. Na insistência, advogados tiveram de ser “qualificados”, outra invenção.”

Estado policial na Saens Pena: agora protesto é crime no Brasil:


Pessoas foram presas no Rio por crimes que poderiam cometer, na visão de agentes paranormais da Polícia Civil e do governo do Estado, com apoio do Judiciário. A “Divisão Pré-Crime” passou a ser usada contra manifestações, mas já é testada, há anos, para moradores de favelas: http://bit.ly/1qWBWMg
Do delegado Orlando Zaccone D’Elia Filho sobre as responsabilidades de Dilma e Cardozo no estado de suspensão de liberdades fundamentais que estamos vivendo:
“A Presidente Dilma é responsável não só pelas prisões dos manifestantes do Rio, como os de São Paulo e no restante do país. A estratégia de definir os ativistas no crime de quadrilha armada, associação criminosa, milícia, etc, foi definida em reunião do Ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo] com os Secretários Estaduais de Segurança. Infelizmente ela já se manifestou sobre as prisões, determinando aos estados que assim o procedesse.
Para piorar a situação, todo este movimento de intervenção federal na atribuição investigativa criminal do estados é tido como um grande sucesso. Recentemente a Presidente falou sobre a necessidade de uma maior competência federal na gestão das policias. Ou seja, infelizmente, tudo o que está acontecendo tem a assinatura da Presidente.”
Jean Wyllys: “Diante desse gravíssimo quadro de violações aos direitos humanos, vou apresentar uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA e vou entrar com representações no Conselho Nacional da Justiça (CNJ) contra os juízes e no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra o promotor (ou promotores) responsáveis pelos mandados de prisão ilegais que iniciaram essa barbárie e vou requerer que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados convide os juízes e promotores, os chefes das polícias Civil e Militar do estado e o secretário de Segurança Pública, Mariano Beltrame, para dar explicações públicas sobre o acontecido.
Vou pedir que sejam convidados também, para dar testemunho, representantes da Amnistia Internacional, da Justiça Global e da OAB-RJ, entre outras entidades que acompanharam os acontecimentos e tem realizado denúncias e brindado assistência às vítimas da repressão.”
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Balanço das violações

(Mais aqui, em inglês)
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Integrantes do Comitê Popular da Copa fincaram cruzes num canteiro próximo ao Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, em homenagem aos nove operários mortos nas obras dos estádios da Copa do Mundo. De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, de 150 a 200 pessoas participaram do ato.
Lesões permanentes tiraram nove da Copa: http://bit.ly/1lKW0La
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Acabou a Copa. Já pode soltar os presos políticos ou vão esperar até as olimpíadas?

ASSUNTO DE POLÍCIA

Fiz vestibular em 2004. Lembro que havia uma questão de história que quase sempre caía nos simulados e cuja resposta correta era “Pobre no Brasil é assunto de polícia”.
Não me recordo da pergunta; imagino que fosse algo referente ao período da República Velha. A resposta, no entanto, nunca saiu da minha cabeça, não só porque era de uma franqueza sinistra, meio que politicamente incorreta, mas porque, desde então, não consigo deixar de notar como sua atualidade permanece.
Estamos em 2014 e vemos que, depois dos programas de bolsa-auxílio (família, escola, etc.) e o “Minha Casa, Minha vida”, do governo federal – cuja legitimidade e funcionalidade são discutíveis –, a política de governo mais badalada do momento são as Unidades de Polícia Pacificadora, no estado do Rio.
Que o projeto representa um avanço em relação ao que (não) era feito antes, isso é inquestionável. Afinal, antes um braço (ainda que armado) do Estado presente nas favelas que apenas traficantes fortemente armados.
Mas, no fim das contas, persiste a velha relação do Estado brasileiro com as camadas mais pobres da população via seu aparelho repressor, a saber a polícia militar, que, como está expresso em sua própria nomenclatura, consiste em um corpo militarizado treinado para enfrentar inimigos (não é por acaso que o batalhão de operações especiais da PM, o Bope, tem uma caveira como símbolo).
É claro que o que está acontecendo hoje no Rio de Janeiro – revoltas de moradores contra abusos e até assassinatos cometidos por policiais das UPPs – seria uma questão de tempo caso o Estado não entrasse nas comunidades com os serviços básicos que tem a obrigação de oferecer a todos os cidadãos, sejam ou não favelados.
De outra maneira, não há processo de inserção social possível; as condições de vida dessas pessoas não melhoram e, para piorar, elas ficam sob controle de uma instituição militar que, mesmo que não protagonizasse casos de má-conduta e corrupção, ainda assim não seria o órgão estatal adequado para governar a vida dos moradores.
Ontem, 22 de abril, data que marca o 514º ano do descobrimento do Brasil, ocorreu mais uma revolta, desta vez no complexo do Pavão-Pavãozinho, contra policiais da UPP instalada na comunidade. Eles são acusados de matar um rapaz que teria ido à comunidade visitar seu filho e que, para “desespero” das autoridades, é dançarino do programa Esquenta, da Rede Globo.
A manifestação logo ganhou os holofotes da mídia, já que a favela está em Copacabana, um dos pontos turísticos mais importantes da cidade e que abriga um dos principais complexos hoteleiros que atenderão à demanda de turistas que virão para a Copa do Mundo.
Assim como fez em protestos anteriores em outras favelas, a Grande Mídia – que, desde a criação das UPPs, faz na prática uma “assessoria de imprensa de luxo” do programa – deu a entender que a manifestação no Pavão-Pavãozinho teria sido organizada por traficantes em retaliação “aos prejuízos causados ao tráfico pelas UPPs”.
Essa vem sendo a desculpa usada para tudo que dá de errado em favelas ocupadas por UPPs, como se o programa não tivesse falhas e como se os moradores dessas áreas estivessem totalmente satisfeitos com tudo o que está acontecendo.
Mas basta conversar com alguém que mora nessas comunidades (não vale depoimentos de moradores deslumbrados a repórteres da Globo em dia de inauguração de UPP, com políticos tirando fotos e bandeirinha do Brasil fincada ao fundo) para constatar que não é bem assim.
Os problemas relatados vão desde abusos de autoridade à intensificação da especulação imobiliária, que tem “expulsado” moradores de morros com UPPs por conta da valorização dos preços de aluguéis (o caso da favela da Telerj talvez esteja diretamente relacionado a isso).
Essa estratégia da Grande Mídia, de deslegitimizar tais protestos, é muito semelhante ao que fez no caso das manifestações de rua que tomaram as ruas do país em 2013, principalmente no período final do movimento, quando a massa já não aderia em peso às passeatas – muito em função de um medo propagado pelos veículos de comunicação (“Black blocs assassinos”, vândalos etc.).
Na época, reportagens procuravam apontar ligações entre partidos políticos de oposição às manifestações, como se professores e outros servidores públicos não tivessem motivo algum para reclamar (afinal, todos são muito bem pagos neste país, como se sabe…). Foi nesse momento, inclusive, que O Globo publicou uma série de reportagens evidentemente tendenciosas ligando o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, aos Black blocs.
A questão é que será cada vez mais difícil para a mídia e autoridades taparem o sol com a peneira. Muito diferentemente do que se passava no início do século 20, e mesmo na década de 90, hoje até os mais pobres têm algum acesso a tecnologias de comunicação; muitos já têm escolaridade e interagem com pessoas de classe média e alta.
Eles sabem, portanto, quais são seus direitos e possuem ferramentas para chamar atenção da sociedade para as atrocidades que ainda são cometidas pelo Estado nas favelas.
A política do jeitinho, “para inglês ver”, que tenta manter os excluídos quietinhos durante os grandes eventos internacionais, não será mais suficiente, mesmo apelando para a repressão extrema (que é o que acredito que acontecerá durante a Copa).
Não tem mais jeito: “infelizmente” o governo terá de começar a cumprir suas obrigações para com os pobres, superando o obsoleto e irresponsável modelo de relação militarizada com essa camada social, para não ficar mal na fita diante dos olhares internacionais.
 

Prefeitura do Rio inicia demolições na Vila Autódromo sem informar moradores sobre projeto

Prefeitura descumpriu acordo com a comunidade. Defensoria pediu, mas também não teve acesso a projeto. Documento será entregue pelos moradores nesta quarta-feira (19) ao Prefeito.

Foto: global.org.br

Nesta quarta feira (19), às 14h, uma comissão de moradores da Vila Autódromo vai entregar um documento ao prefeito Eduardo Paes que cobra informações sobre as intervenções previstas pela prefeitura no local em função da instalação do Parque Olímpico. Os moradores estão revoltados com o início da demolição de algumas casas e querem explicações.

As demolições são um atropelo na negociação. Em reunião no RioCentro em outubro de 2013, o próprio prefeito Eduardo Paes afirmou para os moradores que a área sofreria com obras que acarretaria em despejos, mas que, para aqueles que não quisessem ir para o Parque Carioca – empreendimento do Minha Casa, Minha Vida –, os reassentamentos seriam na própria comunidade. Paes afirmou ainda que a área não atingida pelas obras seria urbanizada, outra vitória da luta da comunidade.

Ao contrário do prometido, no entanto, os moradores até hoje não foram apresentados ao projeto. Não se sabe quais as casas que estão no trajeto das obras, nem as soluções para os que vão permanecer. A Defensoria Pública entrou na jogada e solicitou formalmente o projeto, mas em resposta recebeu um desenho esquemático, que não permite identificar as casas atingidas, não contém os acessos à comunidade (que serão interrompidos com o novo sistema viário proposto para o Parque Olímpico), não mostra as áreas de reassentamento dentro da comunidade, nem o projeto de urbanização.

A despeito do atropelo e de todo o imbróglio, o prefeito anunciou na imprensa que o Parque Carioca – para onde vão os moradores que aceitarem a saída da comunidade – será inaugurado em março. O Parque Olímpico, por sua vez, segue sendo construído sem que os devidos estudos de impacto ambiental previstos em lei tenham sido apresentados.

Para mais informações

Associação de Moradores da Vila Autódromo:
Altair Guimarães – 21 97592-5365
Inalva Mendes Brito – 21 99445-3341

Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas:
Giselle Tanaka – 21 96922-4849

No ônibus, 'palavrões, terror psicológico'



Por Professor Pascal, via Facebook, publicado originalmente no Viomundo.com.br
Esse sujeito no vídeo que é arrastado pra fora do cerco que a PM fez, sou eu. Sou professor de Geografia, estava na manifestação do dia 22 de fevereiro, junto de um ex-aluno que encontrei por lá e de dois monges franciscanos que também apoiavam os protestos.
Tudo corria bem, sem nenhuma ação direta que justificasse o discurso de repressão, conversava com meu ex-aluno e com os monges.
Sem nenhum motivo, ressalto novamente, NENHUM MOTIVO, a polícia partiu pra cima de TODOS os manifestantes, fizeram uma estratégia de cercar todo mundo, enclausurando dentro de um círculo de policiais onde espancavam com cacetetes qualquer pessoa que estava nesse cerco, havia idosos, mulheres, menores de idade, jornalistas, fotógrafos, enfim, todos que estavam por ali.
Dentro do cerco que criaram começaram a mandar todos sentar, de cima pra baixo desferiram golpes de cacetete nas pessoas e jogaram spray de pimenta.
Comecei a filmar com o celular nessa hora, os policiais começaram a gritar para eu desligar o celular me ameaçando de agressão, um soldado (que é esse que aparece no vídeo sem capacete me puxando pra fora) desferiu um golpe na minha mão mas a intenção era acertar o rosto, mandou eu apagar o vídeo (coisa que não fiz) e me retirou do cerco, me algemou e me deixou encostado na parede.
Ficamos lá por volta de duas horas sentados, enquanto os policiais hostilizavam com agressões verbais e físicas todo mundo, xingavam meninas (que variavam de 16 a vinte e poucos anos) de putas, e vasculhavam as mochilas de todos a procura de algo que incriminasse.
Diziam que as máscaras, capacetes e proteções eram prova que os “vândalos” tinham indo predispostos a violência.
Impediram que advogados e jornalistas se aproximassem.
Depois começaram a trazer os ônibus da polícia e não cabiam todos que estavam presos, aí começaram a “separar” quem iria ser detido e encaminhado para a delegacia.
Jovens com boa aparência, alguns de camisetas de partidos políticos (nem todos) e alguns menores foram liberados.
Negros (todos que estavam lá ficaram), jovens que vestiam preto (qualquer peça de roupa, isso já era indício pra eles), muitas mulheres (todas as meninas de cerca de 20 anos e uma grávida que ficou no mesmo ônibus que eu) e qualquer um que eles desejavam.
Faziam piadas olhando pra cara das pessoas e um capitão da PM perguntava pra tropa se essa ou aquela pessoa ia ser presa, a tropa ria e se divertia com a piada do oficial enquanto escolhia quem seria preso.
O capitão perguntava se essa vadia ia ser presa, se esse com cara de nerd, se aquele terrorista, e por aí vai.
Colocaram todos nos ônibus, ficaram mais de uma hora só pra sair de onde estávamos.
Rodaram pelo centro e tentaram parar em uma DP, numa travessa da rua Augusta.
Não conseguiram e foram para a 5a DP da Aclimação.
As hostilidades continuavam no ônibus, ameaças, palavrões e terror psicológico. Um policial conversava com outro, atrás de mim, dizendo que tinha professor preso e que “se descobrisse que um vagabundo desse fosse professor do seu filho iria sentar a porrada, no professor e na diretora que contratou”.
Ao chegar na delegacia, ficamos mais duas horas dentro do ônibus onde estava insuportavelmente quente, sem beber água e sem direito de usar o banheiro.
Lá havia pessoas feridas, uma menina grávida e um homem que se queixava que tinha problema nos rins e tinha que usar o banheiro.
Foram mais hostilidades e palavrões, negaram o direito de usar o banheiro, telefonar para advogados e beber água, já estávamos há mais de 5 horas detidos após sermos espancados, intoxicados com lacrimogênio e spray de pimenta.
Os policiais bebiam água na nossa frente e diziam que a delegada havia negado o direito de beber água e usar o banheiro.
Ouvi, de dentro do ônibus, já eu estava na janela, uma conversa entre oficiais que estavam do lado de fora, dizendo que aprenderam algumas coisas no centro mas não as pessoas, só suspeitos, um oficial oriental que estava lá disse “qualquer coisa eu vi que foi ele”, quem estava no fundo do ônibus se entreolhou e ficamos quietos pois essa era a ordem.
Após a chegada de alguns advogados pessoais e de partidos, algumas pessoas foram sendo liberadas, o restante foi sendo liberado em grupo de 5 pessoas, demorava cerca de 45 minutos por grupo. Existiam mais de 45 pessoas nesse ônibus. Os que reclamaram pela falta de água ficaram por último por ordem dos soldados que estavam lá dentro do ônibus.
Chegou a minha vez, solicitaram meu RG e dei meu nome e perguntaram se já tinha alguma passagem, disse que nunca.
Fui liberado e já era por volta da 1h da manhã, quando saí existiam ainda cerca de 20 para serem liberados.
Menores ficaram apreendidos à espera dos familiares ou iriam para a Fundação Casa. Não havia provas contra ninguém, a “averiguação” foi para aqueles que eles julgaram na hora.
No dia seguinte, domingo, fui fazer um boletim de ocorrência por agressão dos policiais, na delegacia descobri que não foi uma averiguação, eu estava sendo acusado de desacato, resistência e lesão corporal.
Bom, se a partir de agora considerarem que gemer após ser espancado é desacato, que se proteger para não ser agredido no rosto é resistência e que causar calos nas mãos dos policiais por esforço repetitivo diante das pancadas de cacetete é lesão corporal, sim, sou culpado.
Estarei na próxima manifestação da mesma forma que estive em todas as demais que participei e não será por lei anti-terror federal que buscam aprovar, prisões arbitrárias do governo do Estado de São Paulo ou apoio da mídia à repressão (a mesma mídia que busca ordem e deseja liberdade de expressão para seus funcionários e não para os manifestantes, e compreendendo seus vínculos e interesses não esperaria outra coisa), que ficarei em casa.
Já fiz uma denúncia online para a corregedoria e farei o boletim de ocorrência por agressão que não me permitiram fazer e sugiro que todos que foram detidos façam o mesmo.
De resto, espero encontrar os filhos dessas pessoas que orquestram a repressão em minhas aulas e, tenham certeza, serão educados para a liberdade e para evitar reproduzir os piores valores que aprendem em casa; pra fazer isso não preciso de cacetete, nem gritos, nem disciplina e muito menos usar as notas, será feito com diálogo, compreensão e bons argumentos.