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Egito: Mais de 1.500 refugiados sírios e palestinos são detidos e coagidos a voltar

Segundo a Human Rights Watch, palestinos e crianças estão entre os mais vulneráveis. Governo egípcio está forçando o retorno dos refugiados e até mesmo atacando embarcações, em grave violação do direito internacional e dos direitos humanos. Situação das prisões é precária e desumana.

Tradução: Gustavo Barreto. Original em http://bit.ly/HRvhAG, 11/11/2013.

O Egito prendeu mais de 1.500 refugiados da Síria, incluindo pelo menos 400 palestinos e 250 crianças a partir dos dois meses de idade, por semanas e até meses. Autoridades de segurança reconheceram que os refugiados permanecerão detidos por tempo indeterminado, até que deixem o país. A denúncia é da organização não governamental Human Rights Watch (HRW).

Os refugiados palestinos da Síria são especialmente vulneráveis porque a política egípcia os impedem de buscar proteção junto ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), contrariando o mandato da agência da ONU no âmbito da Convenção de Refugiados de 1951.

Autoridades egípcias dizem aos detidos da Palestina que sua única alternativa para a detenção indefinida é ir para o Líbano, onde só é permitido entrar legalmente com um visto de trânsito de 48 horas, voltar à Síria, país devastado pela guerra.

Grupo de homens da Síria detidos na delegacia de polícia de Abu Qir, em Alexandria, em setembro deste ano. (Foto privada, via HRW)

“O Egito está deixando centenas de palestinos da Síria sem nenhuma proteção, exceto a detenção indefinida em condições miseráveis”, disse Joe Stork, vice-diretor da HRW para o Oriente Médio e Norte da África. “O Egito deve liberar imediatamente os detidos e permitir que o ACNUR possa dar-lhes proteção de acordo com o direito internacional.”

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas – atualmente no Cairo para se reunir com autoridades egípcias – deve “aproveitar a oportunidade para insistir na libertação imediata dos refugiados detidos”, disse a HRW.

‘Condições econômicas desesperadoras’ e aumento da xenofobia

Os mais de 1.500 refugiados da Síria que foram detidos estavam tentando migrar para a Europa em barcos de contrabandistas, após enfrentaram condições econômicas desesperadoras e o aumento da xenofobia no Egito. As forças de segurança continuam realizando detenções, incluindo uma recentemente, no dia 4 de novembro de 2013, de acordo com o ACNUR.

Mais de 1,2 mil dos refugiados detidos, incluindo cerca de 200 palestinos, foram coagidos a deixar o país, incluindo dezenas que voltaram para a Síria. Até 4 de novembro cerca de 300 pessoas permaneciam detidas arbitrariamente em delegacias superlotadas, 211 delas palestinas.

“Nós enfrentamos uma escolha difícil: entrar no barco e arriscar nossas vidas por dignidade ou voltar para a Síria e morrer”, disse à HRW um pai palestino que tinha viajado com seu filho de 3 anos, um irmão e uma sobrinha de 4 anos.

De acordo com o governo egípcio, 300 mil sírios estão no país, dos quais o ACNUR já registrou mais de 125 mil como refugiados. Há uma estimativa de 5 a 6 mil palestinos da Síria atualmente no Egito adicionalmente, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

Desde 8 de julho de 2013, quando o governo impôs restrições à sua entrada no Egito, os sírios tiveram que adquirir vistos e autorização de segurança com antecedência para entrar. Eles tem recebido o visto regular de um mês, já ultrapassado em muitos casos, disseram à HRW refugiados e advogados locais.

Autoridades egípcias inicialmente procuram julgar os detidos de embarcações sob a acusação de imigração ilegal, mas, nos casos de pelo menos 615 refugiados representados pelo Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais e em todas as duas dezenas de casos documentados pela Human Rights Watch, os promotores retiraram as acusações e pediram a soltura.

A Segurança Nacional – anteriormente “Investigações de Segurança do Estado”, um departamento do Ministério do Interior – ignorou as ordens de liberação, no entanto. Em vez disso, ordenou à polícia deter os refugiados sem qualquer base legal e dizer-lhes que não serão liberados a menos que deixem o país às suas próprias custas. Sob pressão, os refugiados detidos tem deixado o Egito quase que diariamente nas últimas semanas.

Nos dias 12 e 13 de outubro, a Human Rights Watch visitou delegacias de Dakhliya e Karmooz, em Alexandria, cada uma com 50 a 75 refugiados da Síria detidos na época, e entrevistou dois policiais e 14 refugiados, incluindo duas crianças. A Human Rights Watch também falou com advogados, médicos, funcionários da ONU e de embaixada e outros sírios e palestinos da Síria que foram ou estão atualmente detidos em três outras delegacias.

Oito dos refugiados entrevistados sobreviveram a um incidente de 11 de outubro, em que um barco lotado levando mais de 150 pessoas afundou na costa do Egito, matando pelo menos 12 e deixando muitos desaparecidos. Outros três estavam em um barco que forças egípcias atacaram no dia 17 de setembro, matando dois e ferindo outros dois.

Em um comunicado à imprensa em 17 de outubro, o embaixador do Ministério das Relações Exteriores Badr Abdel-Attai negou que o governo tinha uma política oficial de deportação de “irmãos sírios”. Mas oito dos refugiados e cada um dos três advogados ouvidos pela HRW disseram que as autoridades têm pressionado os refugiados detidos a assinar declarações dizendo que eles estão deixando voluntariamente o país, sob a ameaça de detenção por tempo indeterminado. Um policial disse à HRW que os refugiados poderiam viajar para qualquer lugar que eles quiserem, caso saiam do Egito. No entanto, os palestinos da Síria têm poucas opções legais para entrar em qualquer lugar, exceto a Síria.

A Human Rights Watch documentou os casos de quatro palestinos – dois pais, cada um com uma criança – que , confrontados com a possibilidade de detenção por tempo indeterminado, voltaram para a Síria no dia 13 de outubro.

Um dos pais, detido no Egito por mais de um mês com o seu filho de 3 anos de idade, disse à HRW que ele estava disposto a viajar para qualquer outro país que não a Síria, mas, quando ameaçados com a transferência para uma prisão do Cairo onde ele e seu filho seriam detidos como criminosos, ele sentiu que não tinha escolha a não ser voltar para a Síria. “Eu não posso manter meu filho aqui sem sol por mais tempo”, disse ele. Segundo o ACNUR, dois grupos separados de cerca de 35 palestinos da Síria foram enviados de volta para o país em guerra, com alguns detidos na chegada ao aeroporto.

A Human Rights Watch considera os requerentes de asilo da Síria tem reivindicações primárias (“prima facie”, à primeira vista) para a condição de refugiado. Isto é consistente com um comunicado do ACNUR de 22 de outubro que afirma: “O ACNUR caracteriza a fuga de civis da Síria como um movimento de refugiados. Sírios e palestinos refugiados que tiveram sua residência habitual na Síria necessitam de proteção internacional, até o momento em que a segurança e a situação dos direitos humanos na Síria melhorem e estejam reunidas as condições para o regresso voluntário em segurança e dignidade”. (http://bit.ly/HRvhAG)

De acordo com a Convenção de 1951 e a Convenção contra a Tortura, o governo egípcio não pode deportar refugiados para um lugar onde sua vida ou liberdade estariam em risco, ou alguém para um lugar onde se corra o risco de ser torturado.

A declaração do ACNUR de 22 de outubro apelou ainda a todos os países para garantir que os refugiados que fogem da Síria, incluindo palestinos, tenham o “direito de asilo”, e para manter em vigor medidas que “suspendam o regresso forçado de cidadãos ou residentes habituais da Síria”. A declaração especificou os palestinos da Síria como um grupo com necessidade de proteção internacional.

Nos termos do artigo 1º da Convenção de Refugiados (http://bit.ly/HRyu3k), os refugiados palestinos no Egito estão sob o mandato do ACNUR, a agência encarregada da proteção dos refugiados. Eles não são excluídos do mandato do ACNUR nos termos do artigo 1D da Convenção, que exclui os refugiados palestinos sob o mandato da UNRWA, porque o Egito não está dentro da área que de operação da agência da ONU para os refugiados da Palestina – Jordânia, Líbano, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Síria. No entanto, as autoridades egípcias não permitiram que o ACNUR registre os palestinos ou considerem os seus pedidos de asilo.

A Human Rights Watch apela às autoridades egípcias para:

• Liberar todos os refugiados detidos sem acusação e apesar das ordens de libertação dos procuradores. Enquanto se aguarda a sua libertação da prisão, separar as crianças não acompanhadas dos adultos sem parentesco e garantir que as condições de confinamento correspondem aos padrões internacionais;
• Investigar quais funcionários de segurança ordenaram a detenção arbitrária de refugiados da Síria e responsabilizá-los;
• Compensar aqueles que foram arbitrariamente detidos nos termos do artigo 9(5) da Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos;
• Parar de coagir os refugiados a deixar o Egito, particularmente para a Síria, e;
• Permitir o ACNUR traga os palestinos da Síria sob seu mandato de proteção.

“O Egito prendeu centenas de palestinos da Síria sem acusação aparentemente apenas para forçá-los a retornar à zona de guerra de onde fugiram”, disse Stork. “O Egito deveria parar de tentar forçar os migrantes a deixar o país e conceder a essas pessoas sitiadas e terrivelmente vulneráveis as proteções que merecem como refugiados.”

Status dos palestinos da Síria no Egito

Em 1º de janeiro de 2013, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) havia registrado 529 mil refugiados palestinos na Síria. A maioria está na Síria como resultado da guerra de 1948 entre árabes e israelenses. Antes da eclosão da revolta de 2011, palestinos na Síria tinham muitos dos mesmos direitos que os sírios, incluindo o acesso à educação, saúde e outros serviços sociais prestados pelo governo.

À medida que o conflito armado entre as forças do governo e da oposição se espalharam para áreas com concentrações significativas de palestinos, incluindo o campo de Yarmouk em Damasco, que abriga a maior comunidade de refugiados palestinos no país, pelo menos 60 mil palestinos fugiram.

Uma mãe palestina da Síria com dois filhos, sobrevivente do naufrágio do barco em 11 de outubro, disse à Human Rights Watch: “Nós não poderíamos ficar na Síria. Eu não poderia enviar as crianças à escola, porque [ambos os lados] perguntavam que lado você apoia e, se você responder de forma errada, eles vão te matar… balas choveram, havia aviões que lançaram bombas.”

Funcionários da embaixada palestina no Cairo disseram à HRW que, em 31 de outubro, a embaixada havia registrado 6.834 palestinos que chegaram ao Egito vindos da Síria desde dezembro de 2012. Outras estimativas colocam o número de palestinos que vieram ao Egito, da Síria, em torno de 10 mil.

O escritório do ACNUR no Egito determina o status de refugiado para os sírios e os registra, o que abre a possibilidade de reassentamento em um terceiro país e lhes permite aceder a serviços essenciais, como cuidados de saúde subsidiados. Autoridades egípcias, porém, recusam-se a permitir que o ACNUR realize o seu mandato quando se trata de refugiados palestinos da Síria, citando o artigo 1D da Convenção dos Refugiados, que exclui os refugiados palestinos do mandato do ACNUR em áreas onde a UNRWA presta serviços, como na Síria.

Pelo Egito não estar dentro das áreas de operação da UNRWA, os refugiados palestinos da Síria estão sob o mandato de proteção do ACNUR efetivamente. No entanto, o Egito permite que o ACNUR apenas aconselhe e ajude os palestinos da Síria, mas não deixa registrá-los ou considera suas reivindicações de refugiados, deixando os membros da comunidade palestina sem a proteção que precisam.

Os palestinos da Síria, que só têm documentos de viagem de refugiados emitidos pelo governo sírio, entram no Egito com um visto de um mês. De acordo com o consulado palestino em Alexandria, eles não podem obter residência a menos que tenham filhos matriculados na escola ou estejam investindo recursos significativos na economia local.

Experiências angustiantes no mar

Oito sobreviventes do incidente do barco que afundou em 11 de outubro descreveram à Human Rights Watch como eles tentaram se manter boiando por horas no meio da noite, depois que o barco superlotado naufragou e como tiveram ver outras pessoas, incluindo os idosos e as crianças, se afogando na frente de seus olhos.

Uma mãe de duas crianças disse à Human Rights Watch: “Meu marido pegou nossa filha e segurou minha mão – estávamos todos na água, as crianças estavam chorando e quase não conseguíamos ver nada”.

Uma jovem da região de Damasco com um filho de 7 meses de idade disse: “Eu não sei nadar, por isso, quando o barco virou, eu segurei a pessoa ao meu lado e disse-lhe para não me deixar ir. Era como o Titanic, um filme que eu costumava assistir o tempo todo. Nós costumávamos dizer insh’Allah [se Deus quiser] não vai acontecer com a gente, mas agora nós nos tornamos o Titanic parte 2”.

A Human Rights Watch também conversou com dois sobreviventes do incidente de 17 de setembro, em que as forças egípcias dispararam contra um barco que transportava entre 170 e 200 sírios e palestinos da Síria, matando dois e ferindo outros dois. Eles descrevem como a Marinha egípcia cercou o barco logo depois que deixou a costa e os disparou tiros contra o casco, mesmo com dezenas de refugiados bem apertados no interior da embarcação superlotada.

“Foi uma situação horrível”, disse um deles. “Estávamos desesperados, enjoados, estava quente e todo mundo estava vomitando… estávamos presos em uma sala apertada e paralisados. Nós não poderíamos nem mesmo nos mover quando começamos a ouvir tiros… depois eles começaram a despejar balas em cima de nós.”

O ataque armado do governo matou Fadwa Ali, uma mulher palestina da Síria que tinha viajado com três filhos pequenos, e Omar Dalool, um homem sírio que viajava com sua esposa grávida, Najah Kordi, e suas duas filhas de 2 anos de idade.

Detenção arbitrária

Autoridades egípcias apreenderam a maioria dos 1.500 refugiados da Síria detidos no mar, em um porto, ou em alguns casos em locais perto da costa, sob suspeita de que estavam se preparando para sair ilegalmente, de acordo com os advogados que trabalham com refugiados e que deram relatos para a HRW.

Os refugiados enfrentar acusações de violação dos artigos 2 e 3 da Lei de Entrada e Permanência de Estrangeiros nos Territórios da República Árabe Unida e sua Saída (1960, em inglês Law of Entry and Residence of Aliens in the Territories of the United Arab Republic and their Departure), que proíbe estrangeiros de entrar ou sair do Egito sem documentação válida, entre outras regras. A lei foi aprovada quando sírios e egípcios eram cidadãos da República Árabe Unida, a partir de 1958.

A promotoria retirou as acusações nos casos de pelo menos 615 refugiados representados pelo Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais e nas duas dezenas de casos que a Human Rights Watch documentou, e pediu sua liberação.

Em vez de liberar os refugiados, a polícia os levou para delegacias e os deteve, sob as ordens de Segurança Nacional para detê-los até que eles deixassem o país, disseram à Human Rights Watch o chefe da delegacia de Karmooz, os refugiados e os advogados. Sem o pedido do Ministério Público, essas detenções não têm base na lei egípcia.

Os refugiados não receberam nenhuma explicação oficial por escrito sobre o porquê eles estavam sendo detidos e não têm nenhum recurso legal para contestar a sua detenção. Advogados voluntários que têm procurado ajudar os detidos disseram à Human Rights Watch que, sem um quadro legal, eles podem fazer pouco mais do que negociar com a Segurança Nacional e a polícia sobre casos específicos. Menos de 10% dos refugiados detidos, de acordo com números obtidos pelo ACNUR, foram libertados. O Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais entrou com ação contestando estas detenções em um caso em que o Conselho de Estado, o tribunal administrativo superior, deve apreciar no dia 19 de novembro.

Dois meninos perto do banheiro da delegacia de Montazah II, onde estavam detidos em setembro. (Foto particular via HRW)

A Human Rights Watch documentou as instalações precárias e superlotadas nas duas delegacias visitadas. A polícia de delegacia de Dakhliya deteve mais de dez mulheres e crianças, sobreviventes do barco naufragado em 11 de outubro, em uma pequena sala de oração junto à delegacia de polícia. A Human Rights Watch visitou a delegacia menos de 24 horas após o incidente, com muitos ainda usando as roupas molhadas com as quais haviam quase se afogado.

A polícia não concedeu à Human Rights Watch acesso à área onde estavam detidos 30 homens. Um médico que tinha acesso disse à Human Rights Watch que os policiais detiveram os homens em um cela superlotada e suja de 4 por 4 metros. Os homens compartilhavam um único banheiro. A eles foram negados comida ou água por 24 horas, disse o advogado, e muitos recorreram à água da mangueira afixada ao banheiro na cela. Na delegacia de Karmooz, a polícia dividiu os grupos de 25 a 30 refugiados entre vários quartos, onde dormiam no chão e compartilharam dois banheiros e sanitários por grupo.

Testemunhas descreveram condições semelhantes em outras delegacias. Kordi – a mulher grávida cujo marido morreu quando as forças de segurança egípcias dispararam sobre seu barco em 17 de setembro – passou 20 dias com sua filha de 2 anos de idade em Montazah II, onde cerca de 150 pessoas foram detidas no final de setembro, pouco antes de ela se tornar uma das poucas refugiadas libertadas. Ela disse à Human Rights Watch que durante nove dias ela teve que vestir as roupas ensanguentadas que ela estava usando no momento em que seu marido morreu em seus braços.

Os alojamentos da delegacia eram tão apertados, disse ela, que às vezes as pessoas tentavam dormir um em cima do outro ou até mesmo em pé. Os refugiados compartilharam um único banheiro e sanitário, juntamente com policiais ali alocados. Com as longas filas, ela só conseguiu usar o chuveiro uma única vez nas quase três semanas em que esteve lá, banho que foi encerrado abruptamente quando ela notou que policiais a espiavam através de uma abertura na parede. Ela descreveu a água como “salgada” e o banheiro infestado de mosquitos.

Um médico que tratou pacientes na delegacia observou poças de água suja e estagnadas dentro e fora da delegacia. Não sendo capaz de comer, por conta dos cheiros fortes, e em luto pela morte de seu marido, Kordi desmaiou em seu quinto dia na delegacia. Ela disse à Human Rights Watch que obteve um relatório médico que indicava que ela tinha baixa pressão arterial e problemas com seu sistema nervoso, o que poderia levá-la a perder a sua criança se ela permanecesse detida. Mesmo assim, a polícia se recusou a soltá-la por quase três semanas.

O chefe da delegacia de Karmooz disse à Human Rights Watch que as delegacias não receberam qualquer financiamento para fornecer aos refugiados comida suficiente, roupas, remédios ou outras necessidades básicas, como cobertores, fraldas ou suprimentos para os bebês. Agências de ajuda humanitária, como a Caritas, com financiamento do ACNUR, e o consulado palestino em Alexandria forneceram algumas necessidades básicas. Os refugiados precisam ainda pedir a policiais, ativistas locais ou “bons samaritanos” na comunidade síria no Egito para fornecer outros itens básicos para eles.

Embora muitas vezes tenham acesso de forma não oficial, os médicos afirmaram que enfrentam obstáculos na prestação de serviços aos refugiados em delegacias de polícia. Um médico disse à Human Rights Watch que ele tem vários pacientes que necessitam de procedimentos cirúrgicos ou de cuidados externos, mas que a polícia recusou quase todos os pedidos, exceto um.

Muitos sofrem de doenças de pele e com as picadas de insetos, como resultado das condições precárias e de superlotação. Quando a HRW visitou a delegacia de Karmooz, um médico disse que ele havia diagnosticado três crianças com escabiose (sarna), o que ele atribuiu à falta de saneamento e falta de acesso à luz natural.

Crianças detidas

Desde agosto, as autoridades egípcias detiveram mais de 250 crianças sírias e palestinas, algumas muito jovens, em instalações superlotadas e insalubres sem prever suas necessidades básicas. A HRW documentou casos de crianças pequenas detidas de até 2 meses de idade, presas com membros da família em condições precárias, sem acesso a recreação ou instalações ao ar livre. Os detentos não têm acesso consistente a mantimentos básicos de crianças, incluindo a fórmula para bebês, fraldas e alimentos nutricionalmente adequados. A detenção de crianças apenas por causa de seu status de imigração – ou de seus pais – viola a Convenção sobre os Direitos da Criança.

Crianças desacompanhadas nunca deveriam ter sido detidas, mas as autoridades continuaram a manter, até 28 de outubro, pelo menos 10 crianças desacompanhadas ou separadas – aquelas que viajam sem os pais ou responsáveis – de acordo com o ACNUR. Em todos os dez casos, as crianças desacompanhadas foram detidas com adultos sem parentesco. Uma menina de 15 anos de idade cujos pais vivem em Alexandria e que foi detida em uma delegacia de polícia local, juntamente com seu irmão mais velho, disse à Human Rights Watch que a polícia “vai permitir que os meus pais venham e nos vejam, mas não nos é permitido para sair”.

A Human Rights Watch conversou, na delegacia de Dakhliya, com uma garota palestina de 9 anos de idade, da Síria, cujo pai se afogou no incidente de 11 de outubro. Ela permaneceu em custódia com adultos sem parentesco por 18 dias, apesar de ter membros da família no Egito.

Autoridades egípcias também detiveram um menino sírio de 16 anos de idade por 45 dias, mesmo sua mãe vivendo no Egito e pedindo sua libertação. As autoridades penitenciárias lhe disseram que a Síria era o único lugar que ele poderia ir como uma criança migrante desacompanhada e que seu passaporte será carimbado para a deportação se ele não sair por conta própria, o que ele temia que resultaria em sua prisão no momento da chegada em Damasco, disse ele à Human Rights Watch.

Em 14 de outubro, as autoridades egípcias supervisionaram sua transferência para um voo com destino à Síria, embora ele não tivessem parentes vivendo lá. Os melhores interesses da criança devem ser uma preocupação fundamental em todos os processos relativos às crianças desacompanhados e as autoridades devem realizar o rastreamento familiar no país de origem, disse a HRW.

Saídas forçadas

Além dos menos de 10% liberados, o Egito tem mantido os refugiados da Síria detidos sob custódia até que deixem o país. O Ministério das Relações Exteriores do Egito negou, em um comunicado à imprensa em outubro, que tinha uma “política oficial sobre a deportação forçada de nossos irmãos sírios”, em conformidade com as obrigações do Egito sob o direito internacional de não sujeitá-los a devolução (refoulement), o regresso forçado a um território onde a sua vida ou liberdade estariam ameaçadas.

Na prática, porém, a detenção arbitrária promovida pelo Egito em relação aos refugiados da Síria em condições miseráveis e de superlotação, ameaçando transferi-los para prisões regulares, os coage a deixar o Egito, de acordo com os seis refugiados que decidiram sair ao falarem com a Human Rights Watch. Em alguns casos, eles se dirigiram para territórios onde a sua vida ou liberdade estão em risco, já que os refugiados da Síria, especialmente os palestinos, têm poucas opções.

Cada um dos refugiados que a Human Rights Watch entrevistou disse que os policiais claramente informaram que eles permaneceria na prisão, a menos que tivessem dinheiro suficiente para comprar passagens de avião para deixar o Egito. Uma palestina da Síria detida na delegacia de Alexandria disse à Human Rights Watch: “Quando perguntamos sobre [a libertação], o oficial disse que você pode ir ou esperar que fiquemos entediados com você e a liberar ou deportar”.

Um homem de 47 anos detido na delegacia de Dakhliya descreveu uma conversa semelhante com os policiais lá: “Eles me disseram que você pode ficar detido no Egito por um mês ou dois, ou mais, ou nós podemos ajudá-lo a viajar, fazendo de Segurança Nacional arquivar seus documentos o mais rápido possível”.

Um policial na delegacia de Karmooz disse a um refugiado palestino lá que ele não tinha “nenhuma esperança” de ser libertado no Egito. Dois outros refugiados na delegacia de Karmooz contaram à Human Rights Watch que o chefe da delegacia reuniu todos os detidos e anunciou que quem não conseguisse fazer reservas de avião para sair em uma semana seria transferido para um presídio, onde seriam colocados junto a criminosos. Decisões tomadas enquanto se enfrenta a perspectiva de detenção por tempo indeterminado em péssimas condições não podem ser caracterizadas como voluntárias, disse a HRW.

O chefe da delegacia de Karmooz disse à Human Rights Watch que eles recebem uma lista da Segurança Nacional com informações sobre para onde os detidos podem ser deportados. Enquanto sírios em geral podem viajar para Turquia, Líbano e Síria, a Turquia e a Jordânia não permitiriam a entrada de palestinos da Síria, enquanto que o Líbano só lhes concede os vistos de trânsito de 48 horas. O Líbano, no entanto, ainda não aplicou a limitação de 48 horas e concedeu prorrogações de vistos, de acordo com advogados egípcios que trabalhavam com os refugiados palestinos.

A Autoridade Palestina solicitou formalmente a libertação dos refugiados detidos, de acordo com a embaixada palestina no Cairo, mas o ministério das Relações Exteriores e a Segurança Nacional do Egito se recusaram a atender o pedido. As tentativas por parte da Liga dos Estados Árabes para levantar a questão da deportação junto às autoridades egípcias também não foram bem sucedidas.

Egito: Mais de 1.500 refugiados sírios e palestinos são detidos e coagidos a voltar

Segundo a Human Rights Watch, palestinos e crianças estão entre os mais vulneráveis. Governo egípcio está forçando o retorno dos refugiados e até mesmo atacando embarcações, em grave violação do direito internacional e dos direitos humanos. Situação das prisões é precária e desumana.

Tradução: Gustavo Barreto. Original em http://bit.ly/HRvhAG, 11/11/2013.

O Egito prendeu mais de 1.500 refugiados da Síria, incluindo pelo menos 400 palestinos e 250 crianças a partir dos dois meses de idade, por semanas e até meses. Autoridades de segurança reconheceram que os refugiados permanecerão detidos por tempo indeterminado, até que deixem o país. A denúncia é da organização não governamental Human Rights Watch (HRW).

Os refugiados palestinos da Síria são especialmente vulneráveis porque a política egípcia os impedem de buscar proteção junto ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), contrariando o mandato da agência da ONU no âmbito da Convenção de Refugiados de 1951.

Autoridades egípcias dizem aos detidos da Palestina que sua única alternativa para a detenção indefinida é ir para o Líbano, onde só é permitido entrar legalmente com um visto de trânsito de 48 horas, voltar à Síria, país devastado pela guerra.

Grupo de homens da Síria detidos na delegacia de polícia de Abu Qir, em Alexandria, em setembro deste ano. (Foto privada, via HRW)

“O Egito está deixando centenas de palestinos da Síria sem nenhuma proteção, exceto a detenção indefinida em condições miseráveis”, disse Joe Stork, vice-diretor da HRW para o Oriente Médio e Norte da África. “O Egito deve liberar imediatamente os detidos e permitir que o ACNUR possa dar-lhes proteção de acordo com o direito internacional.”

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas – atualmente no Cairo para se reunir com autoridades egípcias – deve “aproveitar a oportunidade para insistir na libertação imediata dos refugiados detidos”, disse a HRW.

‘Condições econômicas desesperadoras’ e aumento da xenofobia

Os mais de 1.500 refugiados da Síria que foram detidos estavam tentando migrar para a Europa em barcos de contrabandistas, após enfrentaram condições econômicas desesperadoras e o aumento da xenofobia no Egito. As forças de segurança continuam realizando detenções, incluindo uma recentemente, no dia 4 de novembro de 2013, de acordo com o ACNUR.

Mais de 1,2 mil dos refugiados detidos, incluindo cerca de 200 palestinos, foram coagidos a deixar o país, incluindo dezenas que voltaram para a Síria. Até 4 de novembro cerca de 300 pessoas permaneciam detidas arbitrariamente em delegacias superlotadas, 211 delas palestinas.

“Nós enfrentamos uma escolha difícil: entrar no barco e arriscar nossas vidas por dignidade ou voltar para a Síria e morrer”, disse à HRW um pai palestino que tinha viajado com seu filho de 3 anos, um irmão e uma sobrinha de 4 anos.

De acordo com o governo egípcio, 300 mil sírios estão no país, dos quais o ACNUR já registrou mais de 125 mil como refugiados. Há uma estimativa de 5 a 6 mil palestinos da Síria atualmente no Egito adicionalmente, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

Desde 8 de julho de 2013, quando o governo impôs restrições à sua entrada no Egito, os sírios tiveram que adquirir vistos e autorização de segurança com antecedência para entrar. Eles tem recebido o visto regular de um mês, já ultrapassado em muitos casos, disseram à HRW refugiados e advogados locais.

Autoridades egípcias inicialmente procuram julgar os detidos de embarcações sob a acusação de imigração ilegal, mas, nos casos de pelo menos 615 refugiados representados pelo Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais e em todas as duas dezenas de casos documentados pela Human Rights Watch, os promotores retiraram as acusações e pediram a soltura.

A Segurança Nacional – anteriormente “Investigações de Segurança do Estado”, um departamento do Ministério do Interior – ignorou as ordens de liberação, no entanto. Em vez disso, ordenou à polícia deter os refugiados sem qualquer base legal e dizer-lhes que não serão liberados a menos que deixem o país às suas próprias custas. Sob pressão, os refugiados detidos tem deixado o Egito quase que diariamente nas últimas semanas.

Nos dias 12 e 13 de outubro, a Human Rights Watch visitou delegacias de Dakhliya e Karmooz, em Alexandria, cada uma com 50 a 75 refugiados da Síria detidos na época, e entrevistou dois policiais e 14 refugiados, incluindo duas crianças. A Human Rights Watch também falou com advogados, médicos, funcionários da ONU e de embaixada e outros sírios e palestinos da Síria que foram ou estão atualmente detidos em três outras delegacias.

Oito dos refugiados entrevistados sobreviveram a um incidente de 11 de outubro, em que um barco lotado levando mais de 150 pessoas afundou na costa do Egito, matando pelo menos 12 e deixando muitos desaparecidos. Outros três estavam em um barco que forças egípcias atacaram no dia 17 de setembro, matando dois e ferindo outros dois.

Em um comunicado à imprensa em 17 de outubro, o embaixador do Ministério das Relações Exteriores Badr Abdel-Attai negou que o governo tinha uma política oficial de deportação de “irmãos sírios”. Mas oito dos refugiados e cada um dos três advogados ouvidos pela HRW disseram que as autoridades têm pressionado os refugiados detidos a assinar declarações dizendo que eles estão deixando voluntariamente o país, sob a ameaça de detenção por tempo indeterminado. Um policial disse à HRW que os refugiados poderiam viajar para qualquer lugar que eles quiserem, caso saiam do Egito. No entanto, os palestinos da Síria têm poucas opções legais para entrar em qualquer lugar, exceto a Síria.

A Human Rights Watch documentou os casos de quatro palestinos – dois pais, cada um com uma criança – que , confrontados com a possibilidade de detenção por tempo indeterminado, voltaram para a Síria no dia 13 de outubro.

Um dos pais, detido no Egito por mais de um mês com o seu filho de 3 anos de idade, disse à HRW que ele estava disposto a viajar para qualquer outro país que não a Síria, mas, quando ameaçados com a transferência para uma prisão do Cairo onde ele e seu filho seriam detidos como criminosos, ele sentiu que não tinha escolha a não ser voltar para a Síria. “Eu não posso manter meu filho aqui sem sol por mais tempo”, disse ele. Segundo o ACNUR, dois grupos separados de cerca de 35 palestinos da Síria foram enviados de volta para o país em guerra, com alguns detidos na chegada ao aeroporto.

A Human Rights Watch considera os requerentes de asilo da Síria tem reivindicações primárias (“prima facie”, à primeira vista) para a condição de refugiado. Isto é consistente com um comunicado do ACNUR de 22 de outubro que afirma: “O ACNUR caracteriza a fuga de civis da Síria como um movimento de refugiados. Sírios e palestinos refugiados que tiveram sua residência habitual na Síria necessitam de proteção internacional, até o momento em que a segurança e a situação dos direitos humanos na Síria melhorem e estejam reunidas as condições para o regresso voluntário em segurança e dignidade”. (http://bit.ly/HRvhAG)

De acordo com a Convenção de 1951 e a Convenção contra a Tortura, o governo egípcio não pode deportar refugiados para um lugar onde sua vida ou liberdade estariam em risco, ou alguém para um lugar onde se corra o risco de ser torturado.

A declaração do ACNUR de 22 de outubro apelou ainda a todos os países para garantir que os refugiados que fogem da Síria, incluindo palestinos, tenham o “direito de asilo”, e para manter em vigor medidas que “suspendam o regresso forçado de cidadãos ou residentes habituais da Síria”. A declaração especificou os palestinos da Síria como um grupo com necessidade de proteção internacional.

Nos termos do artigo 1º da Convenção de Refugiados (http://bit.ly/HRyu3k), os refugiados palestinos no Egito estão sob o mandato do ACNUR, a agência encarregada da proteção dos refugiados. Eles não são excluídos do mandato do ACNUR nos termos do artigo 1D da Convenção, que exclui os refugiados palestinos sob o mandato da UNRWA, porque o Egito não está dentro da área que de operação da agência da ONU para os refugiados da Palestina – Jordânia, Líbano, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Síria. No entanto, as autoridades egípcias não permitiram que o ACNUR registre os palestinos ou considerem os seus pedidos de asilo.

A Human Rights Watch apela às autoridades egípcias para:

• Liberar todos os refugiados detidos sem acusação e apesar das ordens de libertação dos procuradores. Enquanto se aguarda a sua libertação da prisão, separar as crianças não acompanhadas dos adultos sem parentesco e garantir que as condições de confinamento correspondem aos padrões internacionais;
• Investigar quais funcionários de segurança ordenaram a detenção arbitrária de refugiados da Síria e responsabilizá-los;
• Compensar aqueles que foram arbitrariamente detidos nos termos do artigo 9(5) da Convenção Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos;
• Parar de coagir os refugiados a deixar o Egito, particularmente para a Síria, e;
• Permitir o ACNUR traga os palestinos da Síria sob seu mandato de proteção.

“O Egito prendeu centenas de palestinos da Síria sem acusação aparentemente apenas para forçá-los a retornar à zona de guerra de onde fugiram”, disse Stork. “O Egito deveria parar de tentar forçar os migrantes a deixar o país e conceder a essas pessoas sitiadas e terrivelmente vulneráveis as proteções que merecem como refugiados.”

Status dos palestinos da Síria no Egito

Em 1º de janeiro de 2013, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) havia registrado 529 mil refugiados palestinos na Síria. A maioria está na Síria como resultado da guerra de 1948 entre árabes e israelenses. Antes da eclosão da revolta de 2011, palestinos na Síria tinham muitos dos mesmos direitos que os sírios, incluindo o acesso à educação, saúde e outros serviços sociais prestados pelo governo.

À medida que o conflito armado entre as forças do governo e da oposição se espalharam para áreas com concentrações significativas de palestinos, incluindo o campo de Yarmouk em Damasco, que abriga a maior comunidade de refugiados palestinos no país, pelo menos 60 mil palestinos fugiram.

Uma mãe palestina da Síria com dois filhos, sobrevivente do naufrágio do barco em 11 de outubro, disse à Human Rights Watch: “Nós não poderíamos ficar na Síria. Eu não poderia enviar as crianças à escola, porque [ambos os lados] perguntavam que lado você apoia e, se você responder de forma errada, eles vão te matar… balas choveram, havia aviões que lançaram bombas.”

Funcionários da embaixada palestina no Cairo disseram à HRW que, em 31 de outubro, a embaixada havia registrado 6.834 palestinos que chegaram ao Egito vindos da Síria desde dezembro de 2012. Outras estimativas colocam o número de palestinos que vieram ao Egito, da Síria, em torno de 10 mil.

O escritório do ACNUR no Egito determina o status de refugiado para os sírios e os registra, o que abre a possibilidade de reassentamento em um terceiro país e lhes permite aceder a serviços essenciais, como cuidados de saúde subsidiados. Autoridades egípcias, porém, recusam-se a permitir que o ACNUR realize o seu mandato quando se trata de refugiados palestinos da Síria, citando o artigo 1D da Convenção dos Refugiados, que exclui os refugiados palestinos do mandato do ACNUR em áreas onde a UNRWA presta serviços, como na Síria.

Pelo Egito não estar dentro das áreas de operação da UNRWA, os refugiados palestinos da Síria estão sob o mandato de proteção do ACNUR efetivamente. No entanto, o Egito permite que o ACNUR apenas aconselhe e ajude os palestinos da Síria, mas não deixa registrá-los ou considera suas reivindicações de refugiados, deixando os membros da comunidade palestina sem a proteção que precisam.

Os palestinos da Síria, que só têm documentos de viagem de refugiados emitidos pelo governo sírio, entram no Egito com um visto de um mês. De acordo com o consulado palestino em Alexandria, eles não podem obter residência a menos que tenham filhos matriculados na escola ou estejam investindo recursos significativos na economia local.

Experiências angustiantes no mar

Oito sobreviventes do incidente do barco que afundou em 11 de outubro descreveram à Human Rights Watch como eles tentaram se manter boiando por horas no meio da noite, depois que o barco superlotado naufragou e como tiveram ver outras pessoas, incluindo os idosos e as crianças, se afogando na frente de seus olhos.

Uma mãe de duas crianças disse à Human Rights Watch: “Meu marido pegou nossa filha e segurou minha mão – estávamos todos na água, as crianças estavam chorando e quase não conseguíamos ver nada”.

Uma jovem da região de Damasco com um filho de 7 meses de idade disse: “Eu não sei nadar, por isso, quando o barco virou, eu segurei a pessoa ao meu lado e disse-lhe para não me deixar ir. Era como o Titanic, um filme que eu costumava assistir o tempo todo. Nós costumávamos dizer insh’Allah [se Deus quiser] não vai acontecer com a gente, mas agora nós nos tornamos o Titanic parte 2”.

A Human Rights Watch também conversou com dois sobreviventes do incidente de 17 de setembro, em que as forças egípcias dispararam contra um barco que transportava entre 170 e 200 sírios e palestinos da Síria, matando dois e ferindo outros dois. Eles descrevem como a Marinha egípcia cercou o barco logo depois que deixou a costa e os disparou tiros contra o casco, mesmo com dezenas de refugiados bem apertados no interior da embarcação superlotada.

“Foi uma situação horrível”, disse um deles. “Estávamos desesperados, enjoados, estava quente e todo mundo estava vomitando… estávamos presos em uma sala apertada e paralisados. Nós não poderíamos nem mesmo nos mover quando começamos a ouvir tiros… depois eles começaram a despejar balas em cima de nós.”

O ataque armado do governo matou Fadwa Ali, uma mulher palestina da Síria que tinha viajado com três filhos pequenos, e Omar Dalool, um homem sírio que viajava com sua esposa grávida, Najah Kordi, e suas duas filhas de 2 anos de idade.

Detenção arbitrária

Autoridades egípcias apreenderam a maioria dos 1.500 refugiados da Síria detidos no mar, em um porto, ou em alguns casos em locais perto da costa, sob suspeita de que estavam se preparando para sair ilegalmente, de acordo com os advogados que trabalham com refugiados e que deram relatos para a HRW.

Os refugiados enfrentar acusações de violação dos artigos 2 e 3 da Lei de Entrada e Permanência de Estrangeiros nos Territórios da República Árabe Unida e sua Saída (1960, em inglês Law of Entry and Residence of Aliens in the Territories of the United Arab Republic and their Departure), que proíbe estrangeiros de entrar ou sair do Egito sem documentação válida, entre outras regras. A lei foi aprovada quando sírios e egípcios eram cidadãos da República Árabe Unida, a partir de 1958.

A promotoria retirou as acusações nos casos de pelo menos 615 refugiados representados pelo Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais e nas duas dezenas de casos que a Human Rights Watch documentou, e pediu sua liberação.

Em vez de liberar os refugiados, a polícia os levou para delegacias e os deteve, sob as ordens de Segurança Nacional para detê-los até que eles deixassem o país, disseram à Human Rights Watch o chefe da delegacia de Karmooz, os refugiados e os advogados. Sem o pedido do Ministério Público, essas detenções não têm base na lei egípcia.

Os refugiados não receberam nenhuma explicação oficial por escrito sobre o porquê eles estavam sendo detidos e não têm nenhum recurso legal para contestar a sua detenção. Advogados voluntários que têm procurado ajudar os detidos disseram à Human Rights Watch que, sem um quadro legal, eles podem fazer pouco mais do que negociar com a Segurança Nacional e a polícia sobre casos específicos. Menos de 10% dos refugiados detidos, de acordo com números obtidos pelo ACNUR, foram libertados. O Centro Egípcio para os Direitos Econômicos e Sociais entrou com ação contestando estas detenções em um caso em que o Conselho de Estado, o tribunal administrativo superior, deve apreciar no dia 19 de novembro.

Dois meninos perto do banheiro da delegacia de Montazah II, onde estavam detidos em setembro. (Foto particular via HRW)

A Human Rights Watch documentou as instalações precárias e superlotadas nas duas delegacias visitadas. A polícia de delegacia de Dakhliya deteve mais de dez mulheres e crianças, sobreviventes do barco naufragado em 11 de outubro, em uma pequena sala de oração junto à delegacia de polícia. A Human Rights Watch visitou a delegacia menos de 24 horas após o incidente, com muitos ainda usando as roupas molhadas com as quais haviam quase se afogado.

A polícia não concedeu à Human Rights Watch acesso à área onde estavam detidos 30 homens. Um médico que tinha acesso disse à Human Rights Watch que os policiais detiveram os homens em um cela superlotada e suja de 4 por 4 metros. Os homens compartilhavam um único banheiro. A eles foram negados comida ou água por 24 horas, disse o advogado, e muitos recorreram à água da mangueira afixada ao banheiro na cela. Na delegacia de Karmooz, a polícia dividiu os grupos de 25 a 30 refugiados entre vários quartos, onde dormiam no chão e compartilharam dois banheiros e sanitários por grupo.

Testemunhas descreveram condições semelhantes em outras delegacias. Kordi – a mulher grávida cujo marido morreu quando as forças de segurança egípcias dispararam sobre seu barco em 17 de setembro – passou 20 dias com sua filha de 2 anos de idade em Montazah II, onde cerca de 150 pessoas foram detidas no final de setembro, pouco antes de ela se tornar uma das poucas refugiadas libertadas. Ela disse à Human Rights Watch que durante nove dias ela teve que vestir as roupas ensanguentadas que ela estava usando no momento em que seu marido morreu em seus braços.

Os alojamentos da delegacia eram tão apertados, disse ela, que às vezes as pessoas tentavam dormir um em cima do outro ou até mesmo em pé. Os refugiados compartilharam um único banheiro e sanitário, juntamente com policiais ali alocados. Com as longas filas, ela só conseguiu usar o chuveiro uma única vez nas quase três semanas em que esteve lá, banho que foi encerrado abruptamente quando ela notou que policiais a espiavam através de uma abertura na parede. Ela descreveu a água como “salgada” e o banheiro infestado de mosquitos.

Um médico que tratou pacientes na delegacia observou poças de água suja e estagnadas dentro e fora da delegacia. Não sendo capaz de comer, por conta dos cheiros fortes, e em luto pela morte de seu marido, Kordi desmaiou em seu quinto dia na delegacia. Ela disse à Human Rights Watch que obteve um relatório médico que indicava que ela tinha baixa pressão arterial e problemas com seu sistema nervoso, o que poderia levá-la a perder a sua criança se ela permanecesse detida. Mesmo assim, a polícia se recusou a soltá-la por quase três semanas.

O chefe da delegacia de Karmooz disse à Human Rights Watch que as delegacias não receberam qualquer financiamento para fornecer aos refugiados comida suficiente, roupas, remédios ou outras necessidades básicas, como cobertores, fraldas ou suprimentos para os bebês. Agências de ajuda humanitária, como a Caritas, com financiamento do ACNUR, e o consulado palestino em Alexandria forneceram algumas necessidades básicas. Os refugiados precisam ainda pedir a policiais, ativistas locais ou “bons samaritanos” na comunidade síria no Egito para fornecer outros itens básicos para eles.

Embora muitas vezes tenham acesso de forma não oficial, os médicos afirmaram que enfrentam obstáculos na prestação de serviços aos refugiados em delegacias de polícia. Um médico disse à Human Rights Watch que ele tem vários pacientes que necessitam de procedimentos cirúrgicos ou de cuidados externos, mas que a polícia recusou quase todos os pedidos, exceto um.

Muitos sofrem de doenças de pele e com as picadas de insetos, como resultado das condições precárias e de superlotação. Quando a HRW visitou a delegacia de Karmooz, um médico disse que ele havia diagnosticado três crianças com escabiose (sarna), o que ele atribuiu à falta de saneamento e falta de acesso à luz natural.

Crianças detidas

Desde agosto, as autoridades egípcias detiveram mais de 250 crianças sírias e palestinas, algumas muito jovens, em instalações superlotadas e insalubres sem prever suas necessidades básicas. A HRW documentou casos de crianças pequenas detidas de até 2 meses de idade, presas com membros da família em condições precárias, sem acesso a recreação ou instalações ao ar livre. Os detentos não têm acesso consistente a mantimentos básicos de crianças, incluindo a fórmula para bebês, fraldas e alimentos nutricionalmente adequados. A detenção de crianças apenas por causa de seu status de imigração – ou de seus pais – viola a Convenção sobre os Direitos da Criança.

Crianças desacompanhadas nunca deveriam ter sido detidas, mas as autoridades continuaram a manter, até 28 de outubro, pelo menos 10 crianças desacompanhadas ou separadas – aquelas que viajam sem os pais ou responsáveis – de acordo com o ACNUR. Em todos os dez casos, as crianças desacompanhadas foram detidas com adultos sem parentesco. Uma menina de 15 anos de idade cujos pais vivem em Alexandria e que foi detida em uma delegacia de polícia local, juntamente com seu irmão mais velho, disse à Human Rights Watch que a polícia “vai permitir que os meus pais venham e nos vejam, mas não nos é permitido para sair”.

A Human Rights Watch conversou, na delegacia de Dakhliya, com uma garota palestina de 9 anos de idade, da Síria, cujo pai se afogou no incidente de 11 de outubro. Ela permaneceu em custódia com adultos sem parentesco por 18 dias, apesar de ter membros da família no Egito.

Autoridades egípcias também detiveram um menino sírio de 16 anos de idade por 45 dias, mesmo sua mãe vivendo no Egito e pedindo sua libertação. As autoridades penitenciárias lhe disseram que a Síria era o único lugar que ele poderia ir como uma criança migrante desacompanhada e que seu passaporte será carimbado para a deportação se ele não sair por conta própria, o que ele temia que resultaria em sua prisão no momento da chegada em Damasco, disse ele à Human Rights Watch.

Em 14 de outubro, as autoridades egípcias supervisionaram sua transferência para um voo com destino à Síria, embora ele não tivessem parentes vivendo lá. Os melhores interesses da criança devem ser uma preocupação fundamental em todos os processos relativos às crianças desacompanhados e as autoridades devem realizar o rastreamento familiar no país de origem, disse a HRW.

Saídas forçadas

Além dos menos de 10% liberados, o Egito tem mantido os refugiados da Síria detidos sob custódia até que deixem o país. O Ministério das Relações Exteriores do Egito negou, em um comunicado à imprensa em outubro, que tinha uma “política oficial sobre a deportação forçada de nossos irmãos sírios”, em conformidade com as obrigações do Egito sob o direito internacional de não sujeitá-los a devolução (refoulement), o regresso forçado a um território onde a sua vida ou liberdade estariam ameaçadas.

Na prática, porém, a detenção arbitrária promovida pelo Egito em relação aos refugiados da Síria em condições miseráveis e de superlotação, ameaçando transferi-los para prisões regulares, os coage a deixar o Egito, de acordo com os seis refugiados que decidiram sair ao falarem com a Human Rights Watch. Em alguns casos, eles se dirigiram para territórios onde a sua vida ou liberdade estão em risco, já que os refugiados da Síria, especialmente os palestinos, têm poucas opções.

Cada um dos refugiados que a Human Rights Watch entrevistou disse que os policiais claramente informaram que eles permaneceria na prisão, a menos que tivessem dinheiro suficiente para comprar passagens de avião para deixar o Egito. Uma palestina da Síria detida na delegacia de Alexandria disse à Human Rights Watch: “Quando perguntamos sobre [a libertação], o oficial disse que você pode ir ou esperar que fiquemos entediados com você e a liberar ou deportar”.

Um homem de 47 anos detido na delegacia de Dakhliya descreveu uma conversa semelhante com os policiais lá: “Eles me disseram que você pode ficar detido no Egito por um mês ou dois, ou mais, ou nós podemos ajudá-lo a viajar, fazendo de Segurança Nacional arquivar seus documentos o mais rápido possível”.

Um policial na delegacia de Karmooz disse a um refugiado palestino lá que ele não tinha “nenhuma esperança” de ser libertado no Egito. Dois outros refugiados na delegacia de Karmooz contaram à Human Rights Watch que o chefe da delegacia reuniu todos os detidos e anunciou que quem não conseguisse fazer reservas de avião para sair em uma semana seria transferido para um presídio, onde seriam colocados junto a criminosos. Decisões tomadas enquanto se enfrenta a perspectiva de detenção por tempo indeterminado em péssimas condições não podem ser caracterizadas como voluntárias, disse a HRW.

O chefe da delegacia de Karmooz disse à Human Rights Watch que eles recebem uma lista da Segurança Nacional com informações sobre para onde os detidos podem ser deportados. Enquanto sírios em geral podem viajar para Turquia, Líbano e Síria, a Turquia e a Jordânia não permitiriam a entrada de palestinos da Síria, enquanto que o Líbano só lhes concede os vistos de trânsito de 48 horas. O Líbano, no entanto, ainda não aplicou a limitação de 48 horas e concedeu prorrogações de vistos, de acordo com advogados egípcios que trabalhavam com os refugiados palestinos.

A Autoridade Palestina solicitou formalmente a libertação dos refugiados detidos, de acordo com a embaixada palestina no Cairo, mas o ministério das Relações Exteriores e a Segurança Nacional do Egito se recusaram a atender o pedido. As tentativas por parte da Liga dos Estados Árabes para levantar a questão da deportação junto às autoridades egípcias também não foram bem sucedidas.

Tropas atacam covardemente manifestantes no Cairo [vídeo]

Manifestantes lotavam as ruas laterais para escapar das tropas de choque, que agarravam pessoas e continuavam batendo mesmo quando elas já estavam caídas no chão, segundo um jornalista da Reuters. Tiros eram disparados ao ar.


(Acesse o vídeo acima aqui)

CAIRO, 17 Dez (Reuters) – Soldados atacavam manifestantes com cassetetes na praça Tahir, no Cairo, neste sábado, um dia após conflitos que mataram oito pessoas e feriram mais de 300, maculando as primeiras eleições livres de que a maioria dos egípcios consegue se lembrar.

A violência destaca as tensões no Egito dez meses depois da derrocada do presidente do Hosni Mubarak por uma revolta popular.

Os generais do Exército que substuíram o líder deposto irritam alguns egípcios por parecerem relutantes a entregar o poder. Outros apóiam os militares como um mal necessário até que seja realizada a difícil transição à democracia.

Manifestantes lotavam as ruas laterais para escapar das tropas de choque, que agarravam pessoas e continuavam batendo mesmo quando elas já estavam caídas no chão, segundo um jornalista da Reuters. Tiros eram disparados ao ar.

Os soldados desmontaram as barracas dos manifestantes e atearam fogo nelas, como mostraram filmagens de uma rede de TV local. Em imagens da Reuters, outro soldado pega uma pistola e atira em manifestantes que recuavam. Não ficou claro se a arma continua munição real.

O ataque do Exército aconteceu após conflitos entre manifestantes e tropas. Algumas pessoas jogaram pedras perto de carros de bombeiros que tentavam apagar o fogo de um prédio.

Quarenta e duas pessoas já tinham morrido em conflitos na semana antes de 28 de novembro, dia que marcou o início de eleições parlamentares que estão dando poder a partidos islâmicos reprimidos durante os 30 anos da era Mubarak, quando as votações eram fraudadas.

A votação no segundo turno do processo eleitoral aconteceu pacificamente na quarta e na quinta-feira.

“ATAQUE À REVOLUÇÃO”

O primeiro-ministro nomeado pelo Exército Kamal al-Ganzouri, culpou os manifestantes pela violência, acusando-os de atacar prédios do governo e do Parlamento e obrigando as forças de segurança a defendê-los.

“Eu me dirijo a todas as forças e grupos políticos para dizer que o Egito está em suas mãos. O que está acontecendo nas ruas hoje não é uma revolução, mas um ataque à revolução”, disse ele.

“Eu ainda digo que nós não confrontaremos nenhum protesto pacífico com qualquer tipo de violência, até mesmo com palavras”, disse o premiê à TV estatal. Ele repetiu a declaração do Exército de que nenhuma munição real fora usada.

Ganzouri, de 78 anos, disse que oito pessoas foram mortas e que 125 dos 303 feridoos estavam no hospital. Trinta guardas do Parlamento ficaram feridos e 18 pessoas foram feridas por balas.

A crítica dos manifestantes se concentra no marechal Mohamed Hussein Tantawi, diretor do conselho militar, que foi ministro de Defesa de Mubarak.

(Por Yasmine Saleh/Reuters)

Clipe sobre o levante popular no Egito; VEJA mente de novo, pra variar

Clipe sobre o levante popular no Egito produzido por artistas descendentes de árabes. No YouTube, tributo Hip Hop, dica do BlueBus.

Deu também no BlueBus, a propósito do papel da Al Jazeera de noticiar o povo nas ruas:

Artigo da Veja sobre Al Jazeera é mentiroso, diz seu correspondente no Brasil
BlueBus

O correspondente da TV Al Jazeera no Brasil, o americano Gabriel Elizondo, disse ao Portal Imprensa que o artigo anônimo publicado na ediçao do dia 9 de fevereiro (data de capa) da revista Veja contém erros factuais e mal-entendidos sobre a emissora do Catar.

“Vários pontos desse artigo nao sao verdadeiros. Os fatos nao estao corretos. Lamento que uma revista tao importante no Brasil faça isso. Mandei inclusive uma carta ao Itamaraty esclarecendo os equívocos da matéria”, informa. Sob o título ‘Programa Radical’ o artigo inserido em uma matéria falando sobre as revoluçoes no Egito, diz que a “rede de televisao se transformou em importante agente político no Oriente Médio”.

Gabriel contesta afirmando que a emissora nao é um agente e segue o critério utilizado por qualquer veículo sério de comunicaçao – imparcialidade, apuraçao e busca pela verdade. Leia integra desta materia (saiu na 6a feira) aqui.

Israel ameaça com outra ofensiva militar contra Gaza

Israel ameaçou na última semana (23/12) com outra ofensiva militar em grande escala contra a Faixa de Gaza, quase um ano depois da devastadora agressão que deixou como saldo mais de 1,4 mil mortos, denunciaram fontes palestinas.

Porta-vozes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) neste enclave costeiro assinalaram que avões israelenses lançaram panfletos sobre o território nos quais se adverte à população de possíveis represálias se coopera com a direção palestina aqui.

Os panfletos também ameaçaram as 1,5 milhões de pessoas residentes em Gaza com um novo ataque às vésperas do primeiro aniversário da operação Chumbo Fundido, que de 27 de dezembro a 18 de janeiro passados causou, ademais dos mortos, 5,3 mil feridos.

Muitas das vítimas eram mulheres e crianças, que morreram em consequência dos disparos indiscriminados de militares israelenses, por ar, terra e mar, segundo o testemunho de 30 soldados israelenses, difundido em julho passado com revelações das órdens recebidas durante a operação.

Os militares asseguraram haver entrado neste enclave com uma pauta permissiva de disparar primeiro e se preocupar depois em distinguir entre vítimas civis e combatentes da resistência.

Recentemente, o jurista sul-africano Richard Goldstone divulgou um relatório aprovado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU no qual documentou múltiplos crímes de guerra cometidos por Tel Aviv durante os ataques ao enclave.

Além das sequelas de destruição deixadas pelos bombardeios, a situação aqui piora de maneira alarmante por causa do bloqueio às passagens fronteiriças, que impede o acesso de materiais para a reconstrução e outros bens básicos.

Precisamente nesta quarta-feira, o governo israelense acrescentou dois novos artigos à lista de bens que permite importar para a faixa, ao autorizar para a próxima semana vidros de janelas e filtros para água de consumo doméstico, segundo suas autoridades.

O subsecretário do Ministério da Economia israelense Nasser As-Sarraj indicou que 100 contêiners com mercadorias chegarão a Gaza, onde se deteriora a qualidade da água e o invierno começa a fazer estrago nas casas sem janelas devido à ofensiva militar. (Prensa Latina, 23/12/2009)

Israel prossegue agressões contra palestinos, apesar das críticas internacionais

Ramalah, 29 dez (PL). Forças militares de Israel prenderam hoje cinco palestinos nas localidades de Naplusa e Hebrón, enquanto o governo anunciou que construirá 692 novas casas em Jerusalém Leste, apesar de críticas internacionais a esse plano.

Efetivos de contingente de ocupação da Ribeira Ocidental prosseguiram nesta terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, as blitz em várias cidades, para capturar cidadãos árabes, supostamente por organizar ações de resistência ou conspiração contra Tel Aviv.

Junto aos cinco detidos em Naplusa e Hebrón nesta madrugada, os israelenses detiveram ao amanhecer da segunda-feira nove homens no acampamento de refugiados de Qalandia,na aldeia de Badu, no distrito de Sorief e naa região de Bait Awa, esta última em Hebrón.

Esses atos repressivos, que incluíram revistas e saques de casas, foram produzidos depois de um fim de semana em que militares judeus mataram três palestinos na Cisjordânia e outros três em Gaza.

Além disso, coincidiram com a autorização, pelo governo de Tel Aviv, de três novas permissões para construir 692 unidades habitacionais em bairros de Jerusalém Leste, a cidade santa que ocupa desde 1967 e que a comunidade internacional considera parte integral da Palestina.

A oferta avaliada pelo Ministério da Habitação e da Construção inclui de maneira progressiva umas seis mil 500 residências em 54 comunidades disputadas, segundo indicou o jornal israelense Yadiot Ahronot.

As críticas a essa política de judaização de territórios ocupados intensificaram-se por parte do secretário geral de Liga Árabe, Amr Moussa, e do governo da Jordânia, que também condenou a referida “matança” de seis palestinos no fim de semana passado.

O ministro de Assuntos de Imprensa e Comunicações do reino hashemita, Nabil Sharif, instou Israel a “deter imediatamente tais ações e violações que ameaçam os esforços de paz e socavam a estabilidade na região”, informou a agência Petra.

Além disso, Sharif demandou o congelamento das atividades nos assentamentos judeus e o cumprimento dos tratados e resoluções internacionais, para conseguir a solução de “dois Estados” e criar um Estado palestino independente, com capital em Jerusalém oriental.

Por seu lado, o governo estadunidense também se uniu às recriminações pelas novas construções israelenses, ainda que, conhecendo previamente esses planos, tenha assumido uma postura pouco enérgica.

De acordo com Yadiot Ahronot, Washington sabia antecipadamente das pretensões de Tel Aviv, pois seu enviado especial para o Oriente Médio, George Mitchell, foi informado do plano e das autorizações pelo escritório do primeiro-ministro Benjamín Netanyahu.

Mesmo assim, o secretário de imprensa da Casa Branca, Robert Gibbs, assegurou hoje que o governo de Barack Obama se opõe ao projeto de construir quase 700 moradias em Jerusalém Este e ao seu redor, e defendeu que se retome o diálogo para decidir o estatuto dessa cidade sagrada. (Prensa Latina, 29/12/2009)

Sobrevivente do Holocausto em greve de fome por Gaza

Hedy Epstein

Hedy Epstein, uma norte-americana de 85 anos, participa no Cairo do protesto contra a decisão do governo de Mubarak de impedir a entrada de auxílio ao território palestiniano. “Chega um momento na vida em que é preciso dar um passo extraordinário”, diz.

A veterana activista, cujos pais morreram no campo de concentração de Auschwitz em 1942, diz que com o seu gesto quer pressionar o governo egípcio “que está a impedir que 1.400 pessoas de 42 países entrem em Gaza”.

Hedy Epstein iniciou a greve de fome em frente à sede da ONU na capital egípcia. A activista norte-americana faz parte de uma iniciativa internacional na qual participam mais de 1.400 activistas de todo o mundo, que querem chegar a Gaza pelo Egipto para prestar solidariedade à população palestiniana a um ano do ataque israelita.

“Só queremos entrar em Gaza e dizer às pessoas que ali vivem: ‘Não estão sós, há pessoas que estão longe das famílias para estar convosco e fazer-vos saber que pensam em vós e vos apoiam”, diz.

Os activistas querem também levar ajuda médica e material escolar, e participar no dia 31 de Dezembro de uma marcha de solidariedade com o povo palestiniano e de denúncia do bloqueio que Israel, com o apoio do Egipto, tem imposto ao território ocupado.

A fronteira de Rafah, entre o Egipto e Gaza, está fechada desde meados de 2007 e só abre ocasionalmente por razões humanitárias (Esquerda.Net, 28/12/2009)

[Publicado originalmente no sítio da Fundação Lauro Campos]

Israel ameaça com outra ofensiva militar contra Gaza

Israel ameaçou na última semana (23/12) com outra ofensiva militar em grande escala contra a Faixa de Gaza, quase um ano depois da devastadora agressão que deixou como saldo mais de 1,4 mil mortos, denunciaram fontes palestinas.

Porta-vozes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) neste enclave costeiro assinalaram que avões israelenses lançaram panfletos sobre o território nos quais se adverte à população de possíveis represálias se coopera com a direção palestina aqui.

Os panfletos também ameaçaram as 1,5 milhões de pessoas residentes em Gaza com um novo ataque às vésperas do primeiro aniversário da operação Chumbo Fundido, que de 27 de dezembro a 18 de janeiro passados causou, ademais dos mortos, 5,3 mil feridos.

Muitas das vítimas eram mulheres e crianças, que morreram em consequência dos disparos indiscriminados de militares israelenses, por ar, terra e mar, segundo o testemunho de 30 soldados israelenses, difundido em julho passado com revelações das órdens recebidas durante a operação.

Os militares asseguraram haver entrado neste enclave com uma pauta permissiva de disparar primeiro e se preocupar depois em distinguir entre vítimas civis e combatentes da resistência.

Recentemente, o jurista sul-africano Richard Goldstone divulgou um relatório aprovado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU no qual documentou múltiplos crímes de guerra cometidos por Tel Aviv durante os ataques ao enclave.

Além das sequelas de destruição deixadas pelos bombardeios, a situação aqui piora de maneira alarmante por causa do bloqueio às passagens fronteiriças, que impede o acesso de materiais para a reconstrução e outros bens básicos.

Precisamente nesta quarta-feira, o governo israelense acrescentou dois novos artigos à lista de bens que permite importar para a faixa, ao autorizar para a próxima semana vidros de janelas e filtros para água de consumo doméstico, segundo suas autoridades.

O subsecretário do Ministério da Economia israelense Nasser As-Sarraj indicou que 100 contêiners com mercadorias chegarão a Gaza, onde se deteriora a qualidade da água e o invierno começa a fazer estrago nas casas sem janelas devido à ofensiva militar. (Prensa Latina, 23/12/2009)

Israel prossegue agressões contra palestinos, apesar das críticas internacionais

Ramalah, 29 dez (PL). Forças militares de Israel prenderam hoje cinco palestinos nas localidades de Naplusa e Hebrón, enquanto o governo anunciou que construirá 692 novas casas em Jerusalém Leste, apesar de críticas internacionais a esse plano.

Efetivos de contingente de ocupação da Ribeira Ocidental prosseguiram nesta terça-feira, pelo segundo dia consecutivo, as blitz em várias cidades, para capturar cidadãos árabes, supostamente por organizar ações de resistência ou conspiração contra Tel Aviv.

Junto aos cinco detidos em Naplusa e Hebrón nesta madrugada, os israelenses detiveram ao amanhecer da segunda-feira nove homens no acampamento de refugiados de Qalandia,na  aldeia de Badu, no distrito de Sorief e naa região de Bait Awa, esta última em Hebrón.

Esses atos repressivos, que incluíram revistas e saques de casas, foram produzidos depois de um fim de semana em que militares judeus mataram três palestinos na Cisjordânia e outros três em Gaza.

Além disso, coincidiram com a autorização, pelo governo de Tel Aviv, de três novas permissões para construir 692 unidades habitacionais em bairros de Jerusalém Leste, a cidade santa que ocupa desde 1967 e que a comunidade internacional considera parte integral da Palestina.

A oferta avaliada pelo Ministério da Habitação e da Construção inclui de maneira progressiva umas seis mil 500 residências em 54 comunidades disputadas, segundo indicou o jornal israelense Yadiot Ahronot.

As críticas a essa política de judaização de territórios ocupados intensificaram-se por parte do secretário geral de Liga Árabe, Amr Moussa, e do governo da Jordânia, que também condenou a referida “matança” de seis palestinos no fim de semana passado.

O ministro de Assuntos de Imprensa e Comunicações do reino hashemita, Nabil Sharif, instou Israel a “deter imediatamente tais ações e violações que ameaçam os esforços de paz e socavam a estabilidade na região”, informou a agência Petra.

Além disso, Sharif demandou o congelamento das atividades nos assentamentos judeus e o cumprimento dos tratados e resoluções internacionais, para conseguir a solução de “dois Estados” e criar um Estado palestino independente, com capital em Jerusalém oriental.

Por seu lado, o governo estadunidense também se uniu às recriminações pelas novas construções israelenses, ainda que, conhecendo previamente esses planos, tenha assumido uma postura pouco enérgica.

De acordo com Yadiot Ahronot, Washington sabia antecipadamente das pretensões de Tel Aviv, pois seu enviado especial para o Oriente Médio, George Mitchell, foi informado do plano e das autorizações pelo escritório do primeiro-ministro Benjamín Netanyahu.

Mesmo assim, o secretário de imprensa da Casa Branca, Robert Gibbs, assegurou hoje que o governo de Barack Obama se opõe ao projeto de construir quase 700 moradias em Jerusalém Este e ao seu redor, e defendeu que se retome o diálogo para decidir o estatuto dessa cidade sagrada. (Prensa Latina, 29/12/2009)

Sobrevivente do Holocausto em greve de fome por Gaza

Hedy Epstein

Hedy Epstein, uma norte-americana de 85 anos, participa no Cairo do protesto contra a decisão do governo de Mubarak de impedir a entrada de auxílio ao território palestiniano. “Chega um momento na vida em que é preciso dar um passo extraordinário”, diz.

A veterana activista, cujos pais morreram no campo de concentração de Auschwitz em 1942, diz que com o seu gesto quer pressionar o governo egípcio “que está a impedir que 1.400 pessoas de 42 países entrem em Gaza”.

Hedy Epstein iniciou a greve de fome em frente à sede da ONU na capital egípcia. A activista norte-americana faz parte de uma iniciativa internacional na qual participam mais de 1.400 activistas de todo o mundo, que querem chegar a Gaza pelo Egipto para prestar solidariedade à população palestiniana a um ano do ataque israelita.

“Só queremos entrar em Gaza e dizer às pessoas que ali vivem: ‘Não estão sós, há pessoas que estão longe das famílias para estar convosco e fazer-vos saber que pensam em vós e vos apoiam”, diz.

Os activistas querem também levar ajuda médica e material escolar, e participar no dia 31 de Dezembro de uma marcha de solidariedade com o povo palestiniano e de denúncia do bloqueio que Israel, com o apoio do Egipto, tem imposto ao território ocupado.

A fronteira de Rafah, entre o Egipto e Gaza, está fechada desde meados de 2007 e só abre ocasionalmente por razões humanitárias (Esquerda.Net, 28/12/2009)

[Publicado originalmente no sítio da Fundação Lauro Campos]

Ehud Barak: o alvo de Israel é o Líbano e não o Hizbollah

Israel é um Estado fascista, terrorista, criminoso, racista e fora-da-lei. Há ainda alguma dúvida sobre isto?

 

É inacreditável que em pleno século XXI um Estado possa ameaçar a existência de outro impunemente.

 

Israel, além de ocupar os territórios palestinos há 61 anos, continua violando, dia e noite, o território e os espaços aéreo e marítimo do Líbano. O objetivo de tais “incursões”, no jargão da mídia racista e ocidental, é gerar uma resposta violenta dos libaneses para dar ao exército de Israel um pretexto para destruir o Líbano e massacrar os libaneses, assim como já fizera em 1969, 1973, 1978, 1981, 1982, 1993, 1996 e 2006.

 

Na verdade, desde o início dos anos 1950, poucos anos do recém-nascido “Estado judeu”, Ben Gurion, então ministro da defesa (sic), procurava invadir o País dos Cedros para impor um presidente cristão pró-israelense no poder em Beirute, assim como anexar o sul do Líbano, onde o rio Litani seria um fornecedor de energia para a almejada industrialização de Israel. O plano foi rejeitado pelo então premier Moshe Sharret, pois a complexa política libanesa destroçaria quaisquer pretensões expansionistas israelenses. A sábia advertência de Sharret não foi levada a sério pelos seus sucessores, que pagaram (e continuam pagando) caro pela imprudência e arrogância criminosa.

 

Em novembro de 2009, o exército libanês, quase sempre ausente na defesa do Líbano, alvejou um avião militar não-tripulado (drone) israelense, que atacou o Líbano. As lideranças israelenses, no entanto, já não escondem que o alvo não é mais o Hizbollah (como a OLP fora no passado). Para o ministro da defesa (sic), Ehud Barak, o alvo de Israel é o Líbano. Segundo líderes israelenses, no momento em que o Hizbollah foi aceito no governo libanês, o Líbano passou a ser o responsável pelos atos do partido-milícia islâmico e que, portanto, deve ser punido em caso de “violação” do cessar-fogo estabelecido em 2006. De acordo com os israelenses, o grupo xiita planeja destruir Israel, apesar do chamado “Estado judeu” ter promovido 8 grandes ataques/invasões ao Líbano, assassinando milhares de pessoas e arrasando a infra-estrutura do país, sem apresentar qualquer sucesso. Cinco destes ataques/invasões ocorreram antes da fundação do Hizbollah (1985). Israel já provou que não tem capacidade para ocupar e nem de dominar o Líbano indefinidamente, portanto, concluiu que destruir um país e exterminar um povo é mais fácil do que vencer uma guerrilha de resistência.

 

Fica uma pergunta. O que o mundo diria se, por hipótese, um ministro da Síria ou de qualquer país árabe ou muçulmano dissesse na TV ou na imprensa que Israel é o alvo? Qual seria a reação do Ocidente e do mundo “livre e civilizado”? Certamente, milhares de advogados da causa sionista diriam que “Israel tem o direito de existir e de se defender”.

 

É mais que conhecida, portanto, a indiferença do Ocidente em relação ao expansionismo militar de Israel. Quem, no entanto, realmente oferece total segurança aos terroristas israelenses em suas ameaças e a certeza de impunidade de seus crimes não é o Ocidente é um mundo árabe estilhaçado, aonde não faltam aliados declarados ou não, e a cumplicidade dos demais países vizinhos da região, como Irã e Turquia, que, na retórica, advogam o título de “campeões da causa palestina”, mas que sempre apostam na lógica do “quanto pior, melhor”. A indiferença continua sendo o combustível para o expansionismo militar israelense. Os libaneses (assim como os palestinos) sabem que não podem contar com ninguém para sua defesa, exceto o auxílio da Síria à resistência árabe no sul do Líbano.

 

Há exatos 40 anos, o Líbano é atacado por Israel. Na primeira vez, em dezembro de 1969, a aviação israelense atacou e destruiu toda aviação civil libanesa, no aeroporto internacional de Beirute. Na invasão terrorista dos israelenses de 1982, apoiada por milícias libanesas, foram mais de 25 mil árabes (palestinos, libaneses e sírios) exterminados pelas tropas de Ariel Sharon. No último ataque terrorista ao território libanês, no verão de 2006, Israel exterminou 1.200 árabes (palestinos e libaneses), tendo o apoio velado do Egito, Jordânia, Arábia Saudita e Marrocos. O Irã balbuciou uma resposta, mas preferiu prosseguir o massacre dos iraquianos. O regime islâmico xiita sectário iraniano apóia o projeto sionista de dividir o Iraque em 3 Estados, mediante a limpeza étnica. Ao mesmo tempo, os assassinos israelenses exterminaram mais de 600 palestinos na Faixa de Gaza. Israel ocupou o Líbano por 22 anos (1978-2000) e só se retirou após uma tenaz resistência árabe (palestina, libanesa e síria) contra os invasores, liderada pelo Hizbollah, após a expulsão da OLP do Líbano, em 1983, que só foi bem sucedida depois de liquidar um grupo terrorista libanês pró-sionista, o Exército do Sul do Líbano. Ainda assim, somente uma grande parte do sul do Líbano foi desocupada pelos assassinos israelenses, restando, sob as botas sionistas, as Fazendas de Shebaa.

 

Agora, Israel pretende recuperar sua capacidade de dissuasão, com a ameaça de uma nova invasão do Líbano, após sucessivas derrotas frente aos árabes (1982, 2000, 2006-9), perdendo a confiança de seus aliados regionais e internacionais. Israel sabe que ao invadir e massacrar os libaneses mais uma vez provocará uma resposta da resistência árabe (libanesa e palestina) no sul do Líbano, liderada pelo Hizbollah, que, desta vez, não poupará a vida dos civis israelenses. Pois não poupar a vida de civis tem sido a norma de conduta das tropas israelenses. Nos massacres do Líbano e da Faixa de Gaza entre 2006 e 2009, mais de 4 mil árabes (libaneses e palestinos) foram exterminados, sendo os civis a maioria esmagadora das vítimas fatais das bombas de fósforo, de fragmentação, de urânio empobrecido e de “arrsasa-quarteirão” (de 1 tonelada) lançadas pela aviação israelense. O Hizbollah, assim como toda a resistência árabe no sul do Líbano, entendeu o recado. Israel provoca o “terrorismo árabe”, prevendo e calculando a morte de civis israelenses, unicamente para favorecer as ambições geopolíticas de seus parceiros regionais (árabes ou não) e internacionais, que, por sua vez, fornecem o sinal verde para o terrorismo sionista. Esta é o verdadeiro círculo do terror no Oriente Médio.

Uma viagem tridimensional ao Egito Antigo

Quem nunca se imaginou em uma viagem no tempo pelos segredos arqueológicos do Egito Antigo, ficando cara-a-cara com o faraó Tutankhamon? A oportunidade será no dia 26 de maio (sábado), às 15h, em São Paulo. Neste dia o prof. Dr. Ciro Silva, da Universidade de São Paulo (USP), promoverá o evento “Tesouros da Tumba de Tutankhamon em 3D”. Trata-se do terceiro evento da série Estação Ciência 3D 2007, que está apresentando mensalmente diferentes temas tem terceira dimensão. O assunto seguinte, “O corpo humano em 3D”, será apresentado no dia 23 de junho.

A descoberta da tumba de Tutankhamon ocorreu no ano de 1922 por Howard Carter, sendo considerada o maior acontecimento da arqueologia de todos os tempos. Os objetos encontrados na tumba do Vale dos Reis foram levados ao Cairo e estão em exibição no Museu Egípcio da cidade. O evento é aberto a todos os interessados e as reservas de vagas podem ser feitas gratuitamente pelo e-mail eventos@eciencia.usp.br, com envio de nome, RG e telefone, até um dia antes do evento. Os que não se inscreverem previamente poderão participar normalmente desde que na hora haja disponibilidade de lugares no auditório.