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Maria, uma mãe que sofreu a morte violenta do filho

“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe,
a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas,
e Maria Madalena”. (Jo 19. 25)
Este ano o Dia das Mães será marcado por ausências vividas por filhos e filhas que perderam suas mães e de mães que choram a morte de seus filhos. A maior parte destas ausências poderiam ter sido evitadas. Elas foram provocadas pela opção, tomada pelo Brasil, em não desenvolver políticas eficazes para a contenção da pandemia, cujo resultado é de 419 mil vidas perdidas. A pandemia da Covid-19 deixa filhos e filhas órfãos de mães e mães órfãs de filhos e filhas.
Maria, a mãe de Jesus, viveu a orfandade do filho, morto pelo Estado romano. A imagem dela em pé, perto da cruz, sentindo as dores provocadas pela morte violenta, talvez com um olhar vazio e sem compreender o que viva, é a imagem que se atualiza nas mortes abruptas que testemunhamos ao longo desta semana que antecede o Dia das Mães.
Uma das mortes que que marcou esta semana* foi a do ator Paulo Gustavo, que consegui fazer o país todo rir ao se transfigurar em sua mãe, Déa Lúcia, no papel de Dona Hermínia. Paulo Gustavo ao reverenciar sua mãe, reverenciava todas as mães do Brasil. Sua morte simboliza o vazio que muitas mães estão sentindo.
E, Jacarezinho, no Rio de Janeiro, muitas mães estarão de olhar vazio sem entender por que seus filhos foram assassinados pelo Estado. Sim, talvez alguns destes filhos, estivessem em conflito com a lei e deveriam ser responsabilizados com processos justos, com direito à defesa e tudo o que a Constituição Federal estabelece. Não há argumento que justifique a chacina e a ação violenta do Estado, nem a dor destas mães, tias, avós. As mães de Jacarezinho sofrem como sofreu Maria. Estão paradas ao pé da cruz de seus filhos.
Por fim, neste Dia das Mães, lembramos das mães de Saudades, cujos filhos foram vitimados por um ataque em uma creche. Saudades é o sentimento que será eterno para estas mães. Não há respostas que expliquem as motivações do autor do ataque, um jovem de 18 anos. No entanto, este fato, nos remete às redes sociais que proliferam discursos de ódio e que, por vezes, induzem pessoas a cometerem atos irracionais e injustificáveis para descarregar suas frustrações e falta de sentido de vida.
Nesse Dia das Mães, nós, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) nos colocamos em inteira solidariedade com tantas mães que perderam seus filhos e filhas. Do mesmo modo, nos colocamos ao lado de todos os filhos e filhas que perderam suas mães. A dor da perda parece não ter fim. Mas podemos, e devemos, transformar essa dor em outros sentimentos: o de luta, de indignação, de empatia no luto, de solidariedade e resiliência.
Não podemos normalizar o que está acontecendo em nosso país. Dores e mortes evitáveis não podem ser a nossa rotina. Que neste Dia das Mães possamos orar pelas mães e repensar o que fundamenta nosso sentido de humanidade.
Que Deus de amor, de consolo nos abençoe e seque nossas lágrimas.
Que Maria, uma mãe que testemunhou a morte injusta do filho, nos dê a sua capacidade de resiliência e resistência.
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC
Fonte: CONIC
*(08-05-2021)

Leia a íntegra do Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

Circularam nas redes sociais alguns vídeos atacando o Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano (abaixo, disponibilizamos ele na íntegra!!!).
Entre as críticas levantadas, uma chamou especial atenção foi a de que o Texto-Base teria sido escrito por uma só pessoa – o que é uma inverdade, uma fake news que só causou alarido, mas não trouxe verdade alguma.
A redação do Texto-Base foi resultado de um processo coletivo de construção, que iniciou no final de 2019. Teve participação direta de pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em especial, sociologia, ciência política e teologia.
A parte bíblica do Texto contou com a colaboração de biblistas de diferentes igrejas cristãs. Todas pessoas com profundo conhecimento bíblico.
Depois de escrito, o Texto-Base foi amplamente discutido por uma Comissão Ecumênica formada por 8 pessoas, sendo 6 indicadas oficialmente pelas igrejas-membro do CONIC, uma igreja convidada e um organismo ecumênico.
A validação final do Texto-Base foi da Comissão Teológica do CONIC, integrada por teólogos e teólogas indicadas pelas igrejas-membro do CONIC. Todas com conhecimento das bases confessionais de suas igrejas e dos documentos doutrinários.
Nunca esse texto foi trabalho de “uma só pessoa”, como erroneamente fizeram parecer. Mas fruto de muito diálogo e reflexão.
Sentimo-nos muito felizes em entregar às comunidades, à sociedade e a todas as pessoas este Texto-Base, que apresenta um conteúdo qualificado e que ficará na história do movimento ecumênico, considerando que aborda de forma corajosa as desigualdades que excluem e segregam pessoas e comunidades.
Como cristãos e cristãs, somos chamadas a denunciar desigualdades onde quer que elas estejam. E não podemos só defender “quem pensa como nós e comunga da nossa fé”. Se uma pessoa, independentemente de qualquer coisa, esteja sendo ameaçada, ostracizada, é nosso dever denunciar. Cristo fez isso o tempo todo! 
Como Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), reafirmamos o compromisso com os Direitos Humanos e conclamamos a todos e todas para um profundo engajamento na Campanha da Fraternidade Ecumênica.
Que unamos nossas forças para a superação da cultura de ódio, impulsionada, em certos casos, por um discurso religioso distorcido. Que a cultura do conlfito se transforme em cultura de amor, capaz de construir uma sociedade onde caibam mulheres com plenos direitos, a diversidade religiosa, a laicidade do Estado (que respeita todas as crenças), os direitos das pessoas LGBTQIA+ e de quem quer que tenha seus direitos restringidos.
Por Jesus Cristo e sua práxis de amor, diálogo e de crítica a toda a lei religiosa que se coloca acima da amorosidade de Deus, uma boa Campanha da Fraternidade Ecumênica para todos e todas.
Clique aqui e baixe o Texto-Base.
Fonte: CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
(17-05-2021)

SOCIEDADE E IGREJAS EM DISTINTAS LATITUDES: problemas comuns, com distintas prioridades e urgências…

Numa rápida conferência dos títulos e textos disponibilizados, seja nas páginas da mídia comercial, seja nas mais diversas páginas da internet, constatamos um espantoso labirinto temático. Nâo apenas em função das diferentes esferas fundamentais da realidade social (as clássicas áreas econômica, política e cultural), como também, em cada uma dessas esferas, uma igualmente espantosa diversidade de assuntos, de abordagens, de perspectivas…

Diante de tal emaranhado, temos, por vezes, a tendência de nos fixarmos apenas em um deles, sob o pretexto de que “é isto que me interessa”. Quando muito, acedemos a um ou outro mais, e pronto! Os demais ficam escanteados, subestimados, ou mesmo ignorados, enquanto ficamos com a ilusão de que, empenhando-nos APENAS num deles, cumprimos satisfatoriamente nossa tarefa… Ledo engano!

Estaríamos certos, se o ponto singular ao qual nos apegamos encerrasse em si o fundamental da realidade. Não é bem assim. A realidade se processa antes como num filme, não tanto em formato de fotografia. A realidade se move, muda, se interconecta. E, se queremos dela nos aproximar, importa acompanha-la em seu movimento, em seu devir. Seus fios, com efeito, se acham muito interligados, como numa teia. De tal sorte que mesmo o ponto singular que tenhamos escolhido como “a” nossa “praia”, como o terreno único (ou quase único) do qual cuidamos, se acha necessariamente permeado por fios de outras esferas, inclusive de outras latitudes e longitudes, sem esquecer a dinâmica do tempo… E, se teimamos em manter-nos, digamos, “exclusivistas” (isto vale em relação a escolhas temáticas tais como gênero, etnia, espacialidade, ecologia, classe, geração, religiosidade, etc.), vamos amargar as consequências. Uma delas consiste na perda de percepção de elementos vindos de outras áreas, a comporem a configuração mesma do ponto que escolhemos como do nosso interesse exclusivo. Por uma simples razão: sendo una e estando a realidade em constante movimento, ela não comporta estanques segmentações. Disso dão testemunho inclusive os clássicos e, antes deles, os saberes acumulados pela humanidade, durante milênios.

Aqui, vou tomar brevemente em consideração apenas um exemplo, no campo cultural, ou mais precisamente, no terreno das relações entre sociedade e igrejas cristãs.

Multiplicam-se – e já há certo tempo – os sinais de insatisfação de muitos crentes em relação às suas respectivas igrejas. À semelhança do que se dá na esfera dos poderes civis, não apreciam a rigidez das estruturas eclesiásticas, debitando-a à forma de sua organização – piramidal, patriarcal, ultracentralizada, e, não rao, eurocêntrica, gerontocrática, misógina, homofóbica. De fato, quem nelas toma (e impõe) as decisões? Qual é, na grande maioria delas, o lugar das mulheres, dos jovens? De onde (do Terceiro Mundo?) e de quem partem as decisões, em várias das igrejas cristãs? Nelas têm vez e voz os/as crentes com orientação sexual diversa das pessoas hetero-sexuais? Como são tratadas as pessoas separadas e recasadas? Se em todas elas se afirma que o Evangelho constitui a maior das referências, o quê dizer de tantos de seus aspectos constitutivos, tais como suas estruturas organizativas (piramidais), sua hiper-hierarquização refletida em sua organização ministerial, em suas liturgias, em sua disciplina (a lei do celibato é evangélica?), suas doutrinas…

Não parece uma boa estratégia seguir-se teimando em manter estruturas obsoletas e de, no mínimo, duvidosa sintonia com o Evangelho. Quando isto ocorre, então, vão se multiplicando – como ocorre na atualidade! – os sinais de resistência.

No caso específico da Igreja Católica Romana, basta relembrar a sucessão crescente de vozes – várias delas inclusive da própria hierarquia! – a manifestarem abertamente o seu dissenso. Só para focar algumas das mais recentes: o manifesto de mais de 300 padres e teólogos da Áustria e países vizinhos urgindo reformas na Igreja; os protestos de dezenas de grupos de mulheres católicas (espalhados por vários países) clamando igualmente pela mudança de estrutura organizativa da Igreja Católica, inclusive abrindo espaço para o acesso de todos e todas com vocação a qualquer dos ministérios; o manifesto de mais de 160 líderes religiosos em Illinois (Estados Unidos) clamando pela acesso ao casamento também de pessoas do mesmo sexo; iniciativas semelhantes também nos Países Baixos e na França.

O que parece já ter passado da hora é a urgente abertura, por parte da alta hierarquia, para o diálogo sobre essas questões. Em vez de se abrir discussão entre os católicos e católicas sobre tais questões, em busca de sondar o “sensus fidelium”, tem-se optado, antes, pelo endurecimento de posições e até de punições, como ocorreu recente ao Pe. Roy Bourgeois, da Comunidade Maryknoll, recentemente punido com a mais grave punição – a excomunhão! Mas, isto vai até quando? É aí que me pergunto, também, se não se trata, antes, daquele momento crucial entre o novo que irrompe e o velho que agoniza…

João Pessoa, 30 de dezembro de 2012

Bispos alemães endurecem contra católicos que optarem pelo abandono do imposto-Igreja

Os bispos da Igreja Católica Romana da Alemanha decretaram que às pessoas que optarem por ficar fora do “imposto-Igreja” não devem ser administrados os sacramentos nem os funerais religiosos, tornando-se mais duros em relação aos fiéis que escolherem não pagar.

Alarmados pela onda de católicos dissidentes que se afastam da crença, os bispos baixaram, na quinta-feira, um decreto declarando tal defecção um “grave erro”, e fizeram uma ampla lista de serviços eclesiásticos dos quais eles devem ficar excluídos.

Os alemães oficialmente registrados como católicos, protestantes ou judeus pagam um imposto religioso de 8 ou 9% de sua cota anual de imposto. Eles podem isentar-se disto, declarando ao Escritório local de imposto que estão deixando sua comunidade de fé.

Por ano, o total dos que deixam a igreja normalmente em torno de 120 mil, pulou para 181,193, há dois atrás, como indicadores de décadas de abusos sexuais contra crianças, cometidos por padres, envergonhando a hierarquia e suscitando um pedido de desculpas por parte do Papa Bento, alemão-nato.

Este decreto esclarece que não se pode deixar parcialmente a Igreja, disse uma Nota da Conferência Episcopal: “Não é possível separar a comunidade espiritual da Igreja da Igreja institucional.”

O imposto-Igreja aportou, em 2010. para a Igreja Católica Romana em torno de 5 bilhões de Euros, e 4.3 bilhões de Euros para as igrejas Protestantes, de acordo com as estatísticas oficiais.

NADA DE FUNERAIS RELIGIOSOS

Os bispos disseram que as conseqüências de deixar a Igreja não haviam sido claramente enunciadas no passado. Alguns católicos tentaram permanecer ativos em sua paróquia ou ter funerais religiosos, apesar de haverem deixado a Igreja para não pagarem o imposto.

O Vaticano já tinha dado sua aprovação, antes que o decreto fosse publicado, disse a Nota.

Os católicos que deixam, não podem mais receber os sacramentos, exceto uma bênção especial, antes da morte, diz o decreto. Não podem mais trabalhar na Igreja ou em suas instituições, tais como escolas e hospitais, nem atuar em associações patrocinados pela Igreja, tais como grupos caritativos ou coros.

Não podem ser padrinhos de crianças católicas, e devem ter uma permissão do bispo para se casar uma pessoa católica, numa cerimônica eclesiástica. “Se a pessoa que tiver deixado a Igreja não mostrar qualquer sinal de arrependimento, antes da morte, podem ser recusadas as exéquias religiosas.”, acrescentou a Nota.

A Conferência dos Bispos disse que os pastores locais iriam convidar todos os que se afastaram da Igreja a se encontrarem e a discutirem suas razões de deixarem, para explicar as conseqüências e oferecer uma oportunidade para que se reintegrem à Igreja.

O ÊXODO PROTESTANTE

As Igrejas Protestantes da Alemanha também têm visto um constante êxodo, nas últimas décadas de membros que, registrados por ocasião do batismo, deixam por não mais crerem, por discordarem de alguma política ou por quererem livrar algumas centenas de euros, em razão do imposto-Igreja.

Uma importante onda de desligamento tanto da Igreja Católica quanto das Igrejas Protestantes ocooreu no início dos anos 90, quando o Governo instituiu taxas para financiar os ex-comunistas da Alemanha Oriental.

Desde que a imposição foi quase a mesma do imposto-Igreja – cujas origens remontam ao século XIX – os alemães podiam neutralizar tal imposto, se deixasse sua igreja.

Os Católicos e os Protestantes são quase equitativamente distribuídos na Alemanha, com cada grupo com cerca de 24 milhões, ou 30 % da população de 82 milhões. Há cerca de 4 milhões de Muçulmanos e 120 mil Judeus, na Alemanha, que tem uma população total de cerca de 82 milhões de habitantes.

(Editing by Robin Pomeroy)

Fonte: Reuters

http://www.reuters.com/article/2012/09/21/us-germany-catholic-churchtax-idUSBRE88K0LX20120921

Trad. Alder Júlio Ferreira Calado