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Leia a íntegra do Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021
SOCIEDADE E IGREJAS EM DISTINTAS LATITUDES: problemas comuns, com distintas prioridades e urgências…
Numa rápida conferência dos títulos e textos disponibilizados, seja nas páginas da mídia comercial, seja nas mais diversas páginas da internet, constatamos um espantoso labirinto temático. Nâo apenas em função das diferentes esferas fundamentais da realidade social (as clássicas áreas econômica, política e cultural), como também, em cada uma dessas esferas, uma igualmente espantosa diversidade de assuntos, de abordagens, de perspectivas…
Diante de tal emaranhado, temos, por vezes, a tendência de nos fixarmos apenas em um deles, sob o pretexto de que “é isto que me interessa”. Quando muito, acedemos a um ou outro mais, e pronto! Os demais ficam escanteados, subestimados, ou mesmo ignorados, enquanto ficamos com a ilusão de que, empenhando-nos APENAS num deles, cumprimos satisfatoriamente nossa tarefa… Ledo engano!
Estaríamos certos, se o ponto singular ao qual nos apegamos encerrasse em si o fundamental da realidade. Não é bem assim. A realidade se processa antes como num filme, não tanto em formato de fotografia. A realidade se move, muda, se interconecta. E, se queremos dela nos aproximar, importa acompanha-la em seu movimento, em seu devir. Seus fios, com efeito, se acham muito interligados, como numa teia. De tal sorte que mesmo o ponto singular que tenhamos escolhido como “a” nossa “praia”, como o terreno único (ou quase único) do qual cuidamos, se acha necessariamente permeado por fios de outras esferas, inclusive de outras latitudes e longitudes, sem esquecer a dinâmica do tempo… E, se teimamos em manter-nos, digamos, “exclusivistas” (isto vale em relação a escolhas temáticas tais como gênero, etnia, espacialidade, ecologia, classe, geração, religiosidade, etc.), vamos amargar as consequências. Uma delas consiste na perda de percepção de elementos vindos de outras áreas, a comporem a configuração mesma do ponto que escolhemos como do nosso interesse exclusivo. Por uma simples razão: sendo una e estando a realidade em constante movimento, ela não comporta estanques segmentações. Disso dão testemunho inclusive os clássicos e, antes deles, os saberes acumulados pela humanidade, durante milênios.
Aqui, vou tomar brevemente em consideração apenas um exemplo, no campo cultural, ou mais precisamente, no terreno das relações entre sociedade e igrejas cristãs.
Multiplicam-se – e já há certo tempo – os sinais de insatisfação de muitos crentes em relação às suas respectivas igrejas. À semelhança do que se dá na esfera dos poderes civis, não apreciam a rigidez das estruturas eclesiásticas, debitando-a à forma de sua organização – piramidal, patriarcal, ultracentralizada, e, não rao, eurocêntrica, gerontocrática, misógina, homofóbica. De fato, quem nelas toma (e impõe) as decisões? Qual é, na grande maioria delas, o lugar das mulheres, dos jovens? De onde (do Terceiro Mundo?) e de quem partem as decisões, em várias das igrejas cristãs? Nelas têm vez e voz os/as crentes com orientação sexual diversa das pessoas hetero-sexuais? Como são tratadas as pessoas separadas e recasadas? Se em todas elas se afirma que o Evangelho constitui a maior das referências, o quê dizer de tantos de seus aspectos constitutivos, tais como suas estruturas organizativas (piramidais), sua hiper-hierarquização refletida em sua organização ministerial, em suas liturgias, em sua disciplina (a lei do celibato é evangélica?), suas doutrinas…
Não parece uma boa estratégia seguir-se teimando em manter estruturas obsoletas e de, no mínimo, duvidosa sintonia com o Evangelho. Quando isto ocorre, então, vão se multiplicando – como ocorre na atualidade! – os sinais de resistência.
No caso específico da Igreja Católica Romana, basta relembrar a sucessão crescente de vozes – várias delas inclusive da própria hierarquia! – a manifestarem abertamente o seu dissenso. Só para focar algumas das mais recentes: o manifesto de mais de 300 padres e teólogos da Áustria e países vizinhos urgindo reformas na Igreja; os protestos de dezenas de grupos de mulheres católicas (espalhados por vários países) clamando igualmente pela mudança de estrutura organizativa da Igreja Católica, inclusive abrindo espaço para o acesso de todos e todas com vocação a qualquer dos ministérios; o manifesto de mais de 160 líderes religiosos em Illinois (Estados Unidos) clamando pela acesso ao casamento também de pessoas do mesmo sexo; iniciativas semelhantes também nos Países Baixos e na França.
O que parece já ter passado da hora é a urgente abertura, por parte da alta hierarquia, para o diálogo sobre essas questões. Em vez de se abrir discussão entre os católicos e católicas sobre tais questões, em busca de sondar o “sensus fidelium”, tem-se optado, antes, pelo endurecimento de posições e até de punições, como ocorreu recente ao Pe. Roy Bourgeois, da Comunidade Maryknoll, recentemente punido com a mais grave punição – a excomunhão! Mas, isto vai até quando? É aí que me pergunto, também, se não se trata, antes, daquele momento crucial entre o novo que irrompe e o velho que agoniza…
João Pessoa, 30 de dezembro de 2012
Bispos alemães endurecem contra católicos que optarem pelo abandono do imposto-Igreja
Os bispos da Igreja Católica Romana da Alemanha decretaram que às pessoas que optarem por ficar fora do “imposto-Igreja” não devem ser administrados os sacramentos nem os funerais religiosos, tornando-se mais duros em relação aos fiéis que escolherem não pagar.
Alarmados pela onda de católicos dissidentes que se afastam da crença, os bispos baixaram, na quinta-feira, um decreto declarando tal defecção um “grave erro”, e fizeram uma ampla lista de serviços eclesiásticos dos quais eles devem ficar excluídos.
Os alemães oficialmente registrados como católicos, protestantes ou judeus pagam um imposto religioso de 8 ou 9% de sua cota anual de imposto. Eles podem isentar-se disto, declarando ao Escritório local de imposto que estão deixando sua comunidade de fé.
Por ano, o total dos que deixam a igreja normalmente em torno de 120 mil, pulou para 181,193, há dois atrás, como indicadores de décadas de abusos sexuais contra crianças, cometidos por padres, envergonhando a hierarquia e suscitando um pedido de desculpas por parte do Papa Bento, alemão-nato.
Este decreto esclarece que não se pode deixar parcialmente a Igreja, disse uma Nota da Conferência Episcopal: “Não é possível separar a comunidade espiritual da Igreja da Igreja institucional.”
O imposto-Igreja aportou, em 2010. para a Igreja Católica Romana em torno de 5 bilhões de Euros, e 4.3 bilhões de Euros para as igrejas Protestantes, de acordo com as estatísticas oficiais.
NADA DE FUNERAIS RELIGIOSOS
Os bispos disseram que as conseqüências de deixar a Igreja não haviam sido claramente enunciadas no passado. Alguns católicos tentaram permanecer ativos em sua paróquia ou ter funerais religiosos, apesar de haverem deixado a Igreja para não pagarem o imposto.
O Vaticano já tinha dado sua aprovação, antes que o decreto fosse publicado, disse a Nota.
Os católicos que deixam, não podem mais receber os sacramentos, exceto uma bênção especial, antes da morte, diz o decreto. Não podem mais trabalhar na Igreja ou em suas instituições, tais como escolas e hospitais, nem atuar em associações patrocinados pela Igreja, tais como grupos caritativos ou coros.
Não podem ser padrinhos de crianças católicas, e devem ter uma permissão do bispo para se casar uma pessoa católica, numa cerimônica eclesiástica. “Se a pessoa que tiver deixado a Igreja não mostrar qualquer sinal de arrependimento, antes da morte, podem ser recusadas as exéquias religiosas.”, acrescentou a Nota.
A Conferência dos Bispos disse que os pastores locais iriam convidar todos os que se afastaram da Igreja a se encontrarem e a discutirem suas razões de deixarem, para explicar as conseqüências e oferecer uma oportunidade para que se reintegrem à Igreja.
O ÊXODO PROTESTANTE
As Igrejas Protestantes da Alemanha também têm visto um constante êxodo, nas últimas décadas de membros que, registrados por ocasião do batismo, deixam por não mais crerem, por discordarem de alguma política ou por quererem livrar algumas centenas de euros, em razão do imposto-Igreja.
Uma importante onda de desligamento tanto da Igreja Católica quanto das Igrejas Protestantes ocooreu no início dos anos 90, quando o Governo instituiu taxas para financiar os ex-comunistas da Alemanha Oriental.
Desde que a imposição foi quase a mesma do imposto-Igreja – cujas origens remontam ao século XIX – os alemães podiam neutralizar tal imposto, se deixasse sua igreja.
Os Católicos e os Protestantes são quase equitativamente distribuídos na Alemanha, com cada grupo com cerca de 24 milhões, ou 30 % da população de 82 milhões. Há cerca de 4 milhões de Muçulmanos e 120 mil Judeus, na Alemanha, que tem uma população total de cerca de 82 milhões de habitantes.
(Editing by Robin Pomeroy)
Fonte: Reuters
http://www.reuters.com/article/2012/09/21/us-germany-catholic-churchtax-idUSBRE88K0LX20120921
Trad. Alder Júlio Ferreira Calado