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Leia a íntegra do Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021

Circularam nas redes sociais alguns vídeos atacando o Texto-Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano (abaixo, disponibilizamos ele na íntegra!!!).
Entre as críticas levantadas, uma chamou especial atenção foi a de que o Texto-Base teria sido escrito por uma só pessoa – o que é uma inverdade, uma fake news que só causou alarido, mas não trouxe verdade alguma.
A redação do Texto-Base foi resultado de um processo coletivo de construção, que iniciou no final de 2019. Teve participação direta de pessoas de diferentes áreas do conhecimento, em especial, sociologia, ciência política e teologia.
A parte bíblica do Texto contou com a colaboração de biblistas de diferentes igrejas cristãs. Todas pessoas com profundo conhecimento bíblico.
Depois de escrito, o Texto-Base foi amplamente discutido por uma Comissão Ecumênica formada por 8 pessoas, sendo 6 indicadas oficialmente pelas igrejas-membro do CONIC, uma igreja convidada e um organismo ecumênico.
A validação final do Texto-Base foi da Comissão Teológica do CONIC, integrada por teólogos e teólogas indicadas pelas igrejas-membro do CONIC. Todas com conhecimento das bases confessionais de suas igrejas e dos documentos doutrinários.
Nunca esse texto foi trabalho de “uma só pessoa”, como erroneamente fizeram parecer. Mas fruto de muito diálogo e reflexão.
Sentimo-nos muito felizes em entregar às comunidades, à sociedade e a todas as pessoas este Texto-Base, que apresenta um conteúdo qualificado e que ficará na história do movimento ecumênico, considerando que aborda de forma corajosa as desigualdades que excluem e segregam pessoas e comunidades.
Como cristãos e cristãs, somos chamadas a denunciar desigualdades onde quer que elas estejam. E não podemos só defender “quem pensa como nós e comunga da nossa fé”. Se uma pessoa, independentemente de qualquer coisa, esteja sendo ameaçada, ostracizada, é nosso dever denunciar. Cristo fez isso o tempo todo! 
Como Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), reafirmamos o compromisso com os Direitos Humanos e conclamamos a todos e todas para um profundo engajamento na Campanha da Fraternidade Ecumênica.
Que unamos nossas forças para a superação da cultura de ódio, impulsionada, em certos casos, por um discurso religioso distorcido. Que a cultura do conlfito se transforme em cultura de amor, capaz de construir uma sociedade onde caibam mulheres com plenos direitos, a diversidade religiosa, a laicidade do Estado (que respeita todas as crenças), os direitos das pessoas LGBTQIA+ e de quem quer que tenha seus direitos restringidos.
Por Jesus Cristo e sua práxis de amor, diálogo e de crítica a toda a lei religiosa que se coloca acima da amorosidade de Deus, uma boa Campanha da Fraternidade Ecumênica para todos e todas.
Clique aqui e baixe o Texto-Base.
Fonte: CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
(17-05-2021)

Superar a desigualdade social é desafio para os próximos cinco anos

Garantir o acesso dos mais pobres a serviços e bens de qualidade (saúde, educação, transporte, saneamento e habitação); enfrentar mais frontalmente o problema da desigualdade social; construir uma consciência no país que rechace toda e qualquer forma de discriminação; fortalecer a participação da sociedade civil organizada na elaboração e acompanhamento de políticas públicas. Esses são alguns dos desafios sociais para os próximos cinco anos apontados por Francisco Menezes da Action Aid e do Ibase.
Ele foi um dos participantes do Encontro Nacional 20 Anos de Avanços e Desafios na Promoção da Cidadania no Brasil, realizado dias 9 e 10 de setembro, no Rio de Janeiro. O objetivo do evento foi promover um debate coletivo sobre os avanços e desafios da participação social para construção da agenda estratégica de mobilização do COEP nos próximos cinco anos.
Francisco Menezes foi presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no período de 2004 / 2007, integrou a equipe que coordenou o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar, de 1998 a 2004, e participou da elaboração do Projeto Fome Zero, criado em 2003, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Rede Mobilizadores – Quais os principais desafios para mobilização social nos próximos cinco anos, especialmente no que se refere à segurança alimentar e nutricional e à erradicação da pobreza?
R.: É preciso compreender que o momento atual difere de períodos -anteriores, em uma série de aspectos. Nesse sentido, a identificação de alguns desses aspectos ajudam a pensar os próximos cinco anos, particularmente em relação aos temas da segurança alimentar e erradicação da pobreza. Eu arriscaria dizer que os fatores que determinavam forte capacidade de mobilização da sociedade na década de 90 e nos últimos 15 anos sofreram modificações relevantes. A mobilização contra a fome ganhou outra configuração, na medida em que passaram a ser aplicadas políticas públicas efetivas e que mostraram resultados exitosos.
Foi nesse contexto que ganhou força a perspectiva mais ampla da segurança alimentar e nutricional e que, atualmente, se traduz principalmente na bandeira da alimentação adequada e saudável para todos. Igualmente, e muitas vezes de forma coincidente, enfrentou-se a pobreza com políticas públicas e, mais ainda, a partir de determinado momento decidiu-se priorizar o objetivo de erradicação da extrema pobreza, através do Brasil sem Miséria. Resultados importantes foram alcançados, principalmente com o Programa Bolsa Família.
Mas, para os próximos cinco anos existem todas as evidências de que o maior desafio será garantir o acesso dos mais pobres a serviços e bens de qualidade (saúde, educação, transporte, saneamento e habitação). Creio que a mobilização social deve vir acompanhada de uma forte capacidade de formulação de propostas exequíveis e resolutivas.
Rede Mobilizadores – E no que se refere à redução das desigualdades e de todas as formas de discriminação?
R.: Para o país prosseguir reduzindo a pobreza terá que enfrentar mais frontalmente o problema da desigualdade. O aspecto que antes citávamos, acerca da falta de acesso a serviços e bens públicos e essenciais, traz diferenças muito significativas no que é oferecido aos mais ricos e aos mais pobres. Por isso, medidas que reduzam essas diferenças possibilitando que todos possam usufruir o direito a esses serviços e bens poderão implicar interesses contrariados e, consequentemente, confrontos.
Será preciso discernirmos bem entre o que é disputa de visões, algo absolutamente legítimo nas democracias, e imposição de privilégios, que impede a redução das desigualdades. As diferentes formas de discriminação, todas elas, são nefastas para a construção de um Brasil mais justo e solidário. Avançamos muito na identificação dessas discriminações e nos agravos que elas provocam. Mas precisamos construir uma consciência no país que rechace toda e qualquer forma de discriminação. O melhor caminho para isso é denunciá-la e formar uma consciência coletiva contra ela.
Rede Mobilizadores – Na sua avaliação, tem havido mudanças na participação social da sociedade civil em áreas relacionadas ao combate à pobreza? Quais os maiores desafios para o fortalecimento dessa participação social?
R.: Ocorreram mudanças na participação social em todas as áreas e elas sempre ocorrerão. Avalio que o atual governo tem menor disposição para com a participação social. Talvez acredite menos nela do que o governo anterior. No combate à pobreza, depois do lançamento do Plano Brasil sem Miséria, há uma percepção da chamada sociedade organizada de que ela foi pouco chamada a opinar e participar, seja na elaboração do Plano, seja no acompanhamento de sua implementação. Portanto, um primeiro desafio para a participação social é recuperar a disposição que antes existia.
Acredito que, a cada nova conjuntura, o movimento social precisa se reinventar, examinar se as antigas fórmulas e meios de atuação continuam válidos e efetivos. Os conselhos e conferências são muito importantes, mas talvez estejam merecendo ser reexaminados e aperfeiçoados. O fato é que o Brasil avançou, mas ainda existe muito o que fazer, e a participação social é imprescindível para a consolidação de ações vigorosas e sustentáveis politicamente. Portanto, torna-se condição para que os avanços prossigam.
Entrevista concedida à: Eliane Araujo
Editada por: Sílvia Sousa
Fonte: Rede Mobilizadores
http://www.mobilizadores.org.br/entrevistas/superar-desigualdade-social-e-desafio-para-os-proximos-cinco-anos/?eixo=