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Justiça fulmina a nova falácia do Governo Akckmin

 

Governo Alckmin, que já deveria ter sido encerrado pela via do impeachment por haver cometido crimes gravíssimos na desocupação do Pinheirinho (vide aqui), tentou agora enquadrar participantes de manifestações de protesto na Lei de Segurança Nacional, um entulho autoritário retirado da lixeira da História pelo delegado titular do 3º distrito policial,  Antônio Luis Tuckumantel –cuja nostalgia pelos instrumentos jurídicos dos regimes de exceção foi, aberrantemente, compartilhada pelo Ministério Público!

 

As viúvas da ditadura não nascem, brotam. Como as ervas daninhas.

 

Para Gustavo Romano, mestre em direito pela Universidade Harvard, as  otoridade  parecem considerar brandas demais as leis realmente aplicáveis e fazem verdadeiros contorcionismos  para enquadrarem nossos  indignados  em outras que possibilitem condenações mais pesadas. Daí a forçação de barra carioca (considerá-los membros de organizações criminosas) e a paulista (fingir que protestos corriqueiros constituiriam formidável ameaça à segurança nacional).

 

Este finge não ter nada a ver com o que sua polícia faz…

 

Sobre a última falácia, ele argumenta:

Os manifestantes estão tentando mudar o regime vigente (artigo 16) ou impedir o exercício dos poderes da União ou dos Estados (artigo 18)? Vale lembrar que uma referência frequente às manifestações é a ausência de uma agenda clara. Se não está claro qual o objetivo, como dizer que atenta contra a segurança nacional?

Mas ainda que decidamos que a LSN é aplicável, há o problema de se devemos usá-la para ajustar nosso relógio democrático. A atual LSN surgiu em 1983, na última ditadura, e é uma variação de outras leis do governo Vargas e reinventadas nos anos 1960 e 70. Todas tiveram o objetivo de suprimir movimentos que ameaçassem o ditador de plantão.

E é essa sua linhagem histórica que nos obriga a ponderar se o uso de uma lei criada para proteger ditaduras é a melhor solução na preservação da democracia.

 

…enquanto este gosta de ser o pai de rotundos fracassos.

 

O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que não, ao determinar nesta 4ª feira (9) a libertação do casal Luana Bernardo Lopes e Humberto Caporalli.

 

Reinaldo Azevedo, o blogueiro da Veja que pateticamente se ufana de haver tido a ideia de jerico de pedir a aplicação da LSN (“Porque eu defendo, sim, o enquadramento dos terroristas nessa lei. Na verdade, fui o primeiro a tocar no assunto, ainda no dia 14 de junho”), espumou de raiva –vide aqui.

 

O governador Geraldo Alckmin, ao constatar a indignação com que seu balão de ensaio foi recebido pela cidadania, fingiu que não era com ele:

Eu não sou professor de direito, nem advogado. Mas acho que não [seja necessária aplicação da LSN]. O que acontece é baderneiro cometendo crime.

Será que a duplicidade foi uma das orientações que ele recebeu do Opus Dei?

 

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Bolsonaro comprovou ser fiel discípulo do DOI-Codi

O franzino Randolfe jamais seria um Davi à altura…

 

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi de covardia extrema ao agredir com um soco na barriga o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), visivelmente sem porte físico para encará-lo de igual para igual. Bater em homens mais fracos, mulheres, crianças ou idosos é animalesco. É indigno. É desonroso. É repulsivo. Ponto final.

 

Um grande amigo espanhol me contou que, ao chegar no Brasil em meados do século passado, ficou estarrecido com as brigas de rua em que vários espancavam um só.

 

Na sua terra ficariam malvistos se agissem assim. Fossem quantos fossem, iam um de cada vez confrontar o desafeto. Os demais assistiam sem interferir.

 

Mas, tais posturas altaneiras são características de homens de verdade. Não dos Bolsonaros da vida.

…deste bestial Golias.

 

Só não sei o que integrantes da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, parlamentares e representantes do Ministério Público foram fazer no 1º Batalhão de Polícia do Exército, em que funcionava o DOI-Codi/RJ. Foi quando Bolsonaro, que não fazia parte do grupo, tentou impor sua presença na base da porrada.

 

A alegada verificação in loco da viabilidade da montagem de uma espécie de museu da ditadura no local não convence.

 

Isto faria sentido numa instalação desativada e com entrada independente, como o antigo Deops de São Paulo, transformado em Memorial da Resistência. Não no interior do que continua sendo um quartel e precisa manter normas elementares de segurança.

 

O trabalho das comissões da verdade está definido no próprio nome: resgatar e disponibilizar a verdade. Fazer provocações pueris está fora do seu foco.

 

 

É inaceitável que continuem sendo engolidas as explicações evasivas e desculpas esfarrapadas dos militares com relação, p. ex., aos guerrilheiros do Araguaia que eles executaram a sangue-frio e em cujos restos mortais deram sumiço. Aí sim seria necessária mais firmeza, principalmente por parte da Comissão Nacional da Verdade –que tem reais poderes para comprar tal briga, deles fazendo uso pífio.

 

Mas, que contribuição real traz às investigações uma visita à famigerada ala nos fundos do quartel da Tijuca (as dependências do Pelotão de Investigações Criminais, que também usava muita violência para apurar as transgressões e delitos cometidos por integrantes do Exército, foram cedidas durante alguns anos ao DOI-Codi, para o encarceramento e torturas de presos políticos)? Há algo relevante a ser buscado ali, quatro décadas depois? Evidentemente, não.

 

Foi onde sofri as piores sevícias e quase enfartei com a idade de 19 anos. Mas, nem de longe o ocorrido nesta 2ª feira (23) me serve como desagravo. Continuo, isto sim, esperando que as comissões acrescentem algo de novo ao que já sei sobre o martírio de companheiros queridos.

 

E que as famílias de alguns deles recebam, afinal, suas ossadas para sepultarem.

 

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Imprensa x ditadura: “Folha” admite pecados mais graves ainda

Já que O Globo reconhece ter apoiado o golpe de 1964, vale lembrar que o Grupo Folha também fez sua  mea culpa  em fevereiro de 2011, quando comemorava o 90º aniversário.


Usou, contudo, o artifício de esconder tal admissão no meio de um quilométrico texto louvaminhas. Eu e todo mundo teríamos passado batidos, se a ombudsman não houvesse levantado a lebre em sua coluna dominical.

 

Alertado, fui atrás e encontrei a matéria em questão. Eis os trechos principais do artigo que escrevi em 27/02/2011: 

 

Assim a FT noticiou a morte do ‘Bacuri’,
bestialmente torturado durante 108 dias.
 

 

Suzana Singer, a ombudsman da Folha de S. Paulo, repreende o jornal por ter transformado a comemoração dos seus 90 anos de existência numa festa imodesta.

 

Eu usaria outro adjetivo para qualificar a imagem maquilada que Calibâ produziu de si mesmo para fins de efeméride, mas ombudsman que não doura a pílula deixa de ter seu mandato renovado pelo herdeirinho que manda e desmanda…

 

Sobre o caderno comemorativo, Singer diz algo interessante:

 

É verdade que o especial de 90 anos da Folha teve (…) a coragem de explicar o apoio do jornal ao golpe militar e o alinhamento da Folha da Tarde à repressão contra a luta armada. Trouxe também críticas duras feitas pelos ex-ombudsmans. Mas foram apenas notas dissonantes [grifo meu].

 

Sim, no meio da overdose de auê, passou despercebido o texto 90 anos em 9 atos, de Oscar Pilagallo, cuja principal função foi a de servir como uma espécie de álibi para quando alguém acusasse o jornal de não ter autocrítica.

 

Enfim, vale a pena conhecermos o que a Folha finalmente admite sobre seu passado — embora, claro, não tenha admitido  tudo, mas, tão somente, o que já havia sido inequivocamente estabelecido por seus críticos e não compensava continuar negando.

 

E, claro, devemos discutir — e muito! — a chocante revelação de que o Grupo Folha entregou um de seus jornais a porta-vozes de torturadores como alegada retaliação a um agrupamento de esquerda que teria se infiltrado na Redação.

 

Mancheteando a Marcha da
Família
 às vésperas do golpe
 

 

Folha apoiou o golpe militar de 1964, como praticamente toda a grande imprensa brasileira. Não participou da conspiração contra o presidente João Goulart, como fez o ‘Estado’, mas apoiou editorialmente a ditadura, limitando-se a veicular críticas raras e pontuais.

…O jornal submeteu-se à censura, acatando as proibições, ao contrário do que fizeram o ‘Estado’, a revista ‘Veja’ e o carioca ‘Jornal do Brasil’, que não aceitaram a imposição e enfrentaram a censura prévia, denunciando com artifícios editoriais a ação dos censores.

…A partir de 1969, a ‘Folha da Tarde’ alinhou-se ao esquema de repressão à luta armada, publicando manchetes que exaltavam as operações militares.

A entrega da Redação da ‘Folha da Tarde’ a jornalistas entusiasmados com a linha dura militar (vários deles eram policiais) foi uma reação da empresa à atuação clandestina, na Redação, de militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional), de Carlos Marighella…

 

Em 1971, a ALN incendiou três veículos do jornal e ameaçou assassinar seus proprietários. Os atentados seriam uma reação ao apoio da ‘Folha da Tarde’ à repressão contra a luta armada.

 

Segundo relato depois divulgado por militantes presos na época, caminhonetes de entrega do jornal teriam sido usados por agentes da repressão, para acompanhar sob disfarce a movimentação de guerrilheiros. A direção da Folha sempre negou ter conhecimento do uso de seus carros para tais fins.

 

Vale destacarmos, ainda, o reconhecimento de que foi por sugestão da própria ditadura que a Folha de S. Paulo, em meados dos anos 70, passou a posicionar-se com mais independência em relação à ditadura! Seria cômico, se não fosse trágico…

Diaféria escreveu: “O povo urina nos heróis de pedestal”

 

No início de 1974, Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha, foi procurado por Golbery do Couto e Silva, futuro chefe da Casa Civil do governo de Ernesto Geisel, prestes a tomar posse.

…Golbery deixou claro que ao futuro governo não interessava ter um único jornal forte em São Paulo [ou seja, o novo governo favoreceria quem disputasse leitores com O Estado de S. Paulo].

…uma ampla reforma editorial foi concebida e executada (…) por [Cláudio] Abramo, que trabalhava na Folha desde 1965. As páginas 2 e 3 se tornaram espaços de opinião crítica. Passaram a fazer parte da equipe editorial colunistas renomados, como Paulo Francis e, mais tarde, Janio de Freitas.

A trajetória teve um desvio em 1977, quando, por pressão da linha dura do governo, Abramo foi afastado de seu cargo… .

 

Desvio? Foi, isto sim, um fim de linha. A  primavera da Folha  acabou no exato instante em que o jornal se vergou ao ultimato militar, quando do episódio  Lourenço Diaféria x estátua do Caxias (leia a crônica que tanto irritou os militares aqui), afastando Cláudio Abramo da direção de redação e o despachando para Londres, demitindo vários colaboradores e impondo evidentes restrições aos que ficaram.

 

Durante cerca de três anos, a Folha teve a cara do Abramo. A partir de 1977, passou a ter a carranca do Boris Casoy. E, depois, a do Otávio Frias Filho.

 

No futuro, qualquer pessoa que discordar das autoridades vai ser presa por desacato à autoridade

E a culpa vai ser, indiretamente, de todos aqueles que acham isso normal e não se levantam contra as injustiças e o autoritarismo.

Assista no vídeo abaixo como a mídia tem participação na criação da realidade:

Delfim diz que repetiria sua ignóbil assinatura no AI-5

Delfim como papagaio de pirata do ditador Costa e Silva

“Se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco, eu repetiria”, afirmou Delfim Netto, referindo-se à sua ignóbil assinatura no hediondo Ato Institucional nº 5. Ou seja, ainda hoje ele seria capaz de apoiar o elenco de medidas que desencadeou o arbítrio sem quaisquer limites.

O AI-5 proibiu o Judiciário de conceder habeas corpus para os perseguidos políticos, dando à ditadura militar sinal verde para torturar os resistentes a bel-prazer, além de outras disposições totalitárias: reforçou os poderes do presidente da República para decretar estado de sítio, intervenção federal, suspensão de direitos políticos, restrições ao exercício de direitos públicos ou privados (principalmente o afastamento dos  subversivos  de seus cargos), cassação de mandatos eletivos, imposição de recesso ao Congresso, assembléias legislativas e câmaras municipais, etc.

 Delfim foi convocado para depor na Comissão da Verdade do município de São Paulo e eram favas contadas que ele não perderia as estribeiras, dando espetáculo tão patético quanto o do torturador-símbolo da Nação, Carlos Alberto Brilhante Ustra, ao comparecer à Comissão Nacional da Verdade.

Speer: condenado, como mereceu!

Não, ele é ave de outra plumagem; os serenos mandantes, que não chegaram a ter uma gota sequer de sangue nos seus ternos chiques, se diferenciavam em muito dos destrambelhados paus mandados, aqueles cujas fardas ficaram emporcalhadas com o sangue das vítimas.

No entanto, foi acintosa e repulsiva a afirmação de Delfim, segundo quem  o AI-5 teria sido necessário porque o país “estava num estado de desarrumação geral”. Impor a paz dos cemitérios nunca foi método de arrumação.

Caso houvesse ocorrido aqui um julgamento como o de Nuremberg, mais do que justificável nas circunstâncias, decerto Delfim Netto seria condenado como o foi, p. ex., o arquiteto do Reich, Albert Speer, que também não era  pessoalmente responsável por nenhuma tortura ou assassinato, mas tinha total responsabilidade política por um governo monstruoso.

Curiosamente, as desculpas esfarrapadas de ambos foram as mesmíssimas. Delfim alegou que desconhecia as torturas e teria até chegado a indagar do carrasco Médici se elas existiam, sendo tranquilizado. Acredite quem quiser.

Speer foi mais longe, afirmando ter participado do planejamento de um atentado contra Hitler que acabou não ocorrendo (claro!).

Em ambos os casos, nenhuma pessoa viva corroborou as versões daqueles a quem convinha mentir.

Uma camaradagem escrita nas estrelas

O paralelismo se deu, inclusive, quanto às provas fotográficas.

Speer foi confrontado com uma imagem dele visitando o campo de concentração de Mauthausen, mas garantiu que era apenas uma viagem protocolar e não lhe teria sido mostrado nada que caracterizasse o Holocausto.

Esfregaram no nariz do Delfim uma foto em que aparece alegremente ao lado do empresário-símbolo do financiamento à repressão, mas ele, presumivelmente, negou que conhecesse tal faceta de Henning Boilesen. Acredite quem quiser.

Uma sentença como a de Speer, de 20 anos de prisão, teria caído muito bem para o gordo ministro (ou seria melhor dizermos  sinistro?) da ditadura.

‘Até quando a bala será a resposta?’

A esperança está viva.

E é por causa dessa gente esquisita que luta por dignidade.

ESTARRECEDOR: DILMA OMITIU TOTALMENTE A BRUTALIDADE POLICIAL!

A mensagem da presidenta Dilma Rousseff ao povo brasileiro só me deixou uma dúvida: terá o Jarbas Passarinho sido o ghost writer?

 

Pois a diferenciação entre  manifestantes pacíficos  e minoria autoritária, quem fazia era a ditadura militar. Dilma deveria pagar-lhe direitos autorais.

 

De quem tem sua história de vida e integra um partido criado por perseguidos políticos, esperava-se um mínimo de equilíbrio e coerência: criticar não apenas os excessos cometido por manifestantes ou provocadores infiltrados entre eles, mas também, e principalmente (porque partida de quem deveria manter a ordem e não estuprá-la), a bestialidade policial que revoltou o Brasil e estarreceu o mundo.

 

E que dizer do comportamento imoral das polícias que facilitaram saques e depredações, retardando ao máximo o atendimento das ocorrências, porque sua verdadeira prioridade era retaliarem autoridades que os censuraram e/ou manipularem a opinião pública?! Isto caracteriza omissão no cumprimento do dever. Tanto quanto a brutalidade desnecessária, teria de ser rigorosamente apurada e punida.

 

E até quando vai ser ignorada a gravíssima denúncia do jornalista/historiador Elio Gaspari, de que duas dezenas de integrantes da tropa de choque foram os iniciadores deliberados do festival de agressões covardes do último dia 14 em São Paulo?

 

 

Gaspari foi muito claro sobre o que testemunhou: o ato transcorria na mais perfeita paz até que uns 20 brutamontes fardados, sem motivo nem aviso, começaram a atirar rojões e bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

 

Ora, se policiais atuaram como agentes do caos, acendendo o estopim que faria explodir a violência descontrolada, isto também é muito pior do que a ação de qualquer depredador.

 

Nada disto foi lembrado pela presidenta, que nem sequer qualificou de bárbara uma polícia que praticou as mais flagrantes barbaridades. Quando a mesma PM vandalizou o Pinheirinho, Dilma, pelo menos, designou corretamente aquilo que havia ocorrido: fora, disse ela, um ato de barbárie. Desta vez, nem isto.

 

Quanto à defesa dos partidos, soaria bem mais sincera se não fosse o PT que os tivesse desmoralizado (e a si próprio) ao comprar o seu apoio com  uma farta distribuição de ministérios  y otras cositas más. Não seria melhor tentar fazer as suas posições prevalecerem pelos próprios méritos?

 

Já que optaram pela facilidade dos  acordos podres, os petistas não têm  motivos para se queixarem da péssima imagem das agremiações políticas. Depois de ver o Maluf, o Sarney, o Calheiros,  o Collor, o ACM e outros da mesma laia aos beijos e abraços com o Lula, o que mais o povo poderia concluir sobre os partidos e os políticos?


Precisamos de partidos, sim. Mas não desses que estão aí, vendendo-se no atacado e varejo e até leiloando seu voto nas questões importantes.

 

 

Nenhuma reforma política resolverá isto. O que é preciso, o Fernando Collor prometeu quando o entrevistei para a Agência Estado, logo no início da campanha presidencial de 1989: afirmou que, se medidas imprescindíveis estivessem sendo  embaçadas  pelo Congresso, ele iria pessoalmente explicá-las ao povo, exortando-o a pressionar os parlamentares.

 

Era a receita certa na boca do homem errado. Eleito, não fez nada disto.

 

E também se mostraram  presidentes  errados  o Itamar Franco, o FHC, o Lula e a Dilma. Nenhum deles teve a coragem de romper com as práticas fisiológicas, jogando o povo contra os congressistas, se necessário.

 

Estamos à espera de um presidente que, como os pequenos comerciantes dos filmes de Hollywood, ouse responder aos gangstêres que vêm cobrar-lhes por  proteção… contra eles mesmos: eu não pago!

 

O resto é conversa pra boi dormir. Se a Dilma  quiser algum dia coibir pra valer a ação dos corruptos, não precisará ir muito longe: vai encontrar boa parte deles abrigada na base aliada.

O ESPECTRO DE UMA NOVA ‘5ª FEIRA NEGRA’ NOS RONDA

Autoridades, políticos, jornalistas, sociólogos chutam em todas as direções, na tentativa de interpretar o novo fenômeno: um despretensioso protesto contra o aumento das tarifas do transporte coletivo em São Paulo inspirou manifestações semelhantes em outras 11 capitais, levou às ruas centenas de milhares de cidadãos e comprovou dramaticamente que o autoritarismo continua bem vivo nos aparatos de segurança pública, 28 anos depois de finda a ditadura militar. 

 

Desde o Fora Collor!, em 1992, não se via algo assim. E, como a bandeira dos manifestantes não é única –vai desde as maracutaias da Copa até o descaso com a Saúde e a Educação, passando por muitas outras mazelas de nossa democracia imperfeita–, também não vai ser uma única medida que fará cessar os protestos.

 

Eles começaram e não têm data para acabar; se os governantes não fizerem algumas concessões plausíveis (depois da orgia de gastos do Mundial, soam ridículas as dificuldades alegadas para não subsidiarem algumas tarifas…), talvez perdurem até a exaustão e sejam retomados tão logo um novo acontecimento marcante o justificar. Era assim em 1968.

 

 

Também naquele tempo os objetivos explícitos eram um tanto frouxos, como a recusa dos tecnicizantes acordos MEC-Usaid –realmente perniciosos, mas cujos efeitos ainda não se faziam sentir. Noves fora, o que irmanava estudantes de todo o País era a rejeição de um espantalho bem conhecido, e não apenas adivinhado: a própria ditadura e sua bestial repressão.

 

Tudo começou no final de março, quando a PM invadiu um restaurante universitário do Rio de Janeiro em que os estudantes faziam um tímido protesto contra o aumento do preço das refeições. O estúpido assassinato do secundarista Edson Luís de Lima Souto indignou o País, motivando manifestações de protesto em várias cidades. O movimento estudantil, que a ditadura sufocava desde 1964 e cuja primeira tentativa de voltar às rua (as  setembradas  de 1967) havia sido reprimida a ferro e fogo, renascia espetacularmente.

 

No restante do ano, até a assinatura do Ato Institucional nº 5, houve uma disputa acirrada pelos corações e mentes dos brasileiros: ora a violência policial gerava enorme repulsa e dava ensejo a momentos magníficos como a  passeata dos 100 mil, ora os excessos dos manifestantes (muitas vezes insuflados por provocadores de direita, como tudo leva a crer que esteja se repetindo na atualidade) forneciam munição valiosa para a imprensa desqualificar os protestos.

 

 PROVOCADORES A POSTOS

 

Agora, essa  gangorra  voltou com tudo: como a mídia satanizou as três primeiras manifestações do Movimento Passe Livre em São Paulo, a PM  sentiu firmeza  para atuar no centro da cidade com a mesma brutalidade a que submete habitualmente os moradores da periferia.

 

Já os manifestantes, ressabiados com a repercussão negativa de até então, esforçavam-se para conter a violência, com êxito. Aí, sem quê nem pra quê, uns 20 brutamontes da tropa de choque iniciaram os espancamentos e os disparos de balas de borracha a esmo, abrindo as portas do inferno.

 

As imagens da  5ª feira negra  inundaram as redes sociais e correram o mundo; de  tão chocantes,  obrigaram a grande imprensa a destacar o  outro lado  que até então vinha escamoteando. O que mais poderia fazer, depois de seus profissionais  também serem rudemente atingidos?

 

 

À selvageria fardada, em SP e no RJ, seguiu-se a omissão matreira dos policiais que, como se fossem crianças emburradas, simplesmente deixaram de cumprir sua missão legítima como retaliação aos que criticaram suas ações ilegítimas. 

 

Além, é claro, do mais do que provável incitamento de saques e depredações por parte de agentes infiltrados, com a também óbvia instrumentalização da ralé urbana que a polícia controla a bel-prazer.

 

Resta saber se as forças da  ordem –que até agora têm sido mais agentes da  desordem institucionalizada— encontrarão o equilíbrio, nem se omitindo nem barbarizando, ou vão simplesmente partir para a vingança.

 

O espectro de uma nova  5ª feira negra  nos ronda.


SOBRE O MESMO ASSUNTO, LEIA TAMBÉM AS PEDRAS VOLTAM A ROLAR (clique p/ abrir)

Porque ainda dá tempo para a democracia

Primeiro domingo no Rio de Janeiro durante a Copa das Confederações, 2013. Foto: Rafael Barreto (facebook.com/asknietzsche)

‘Direitos humanos não são todos de uma vez nem de uma vez por todas’ – Norberto Bobbio, filósofo italiano

Existe uma polícia especial que abertamente faz espionagem e se infiltra nos movimentos sociais para entregar lideranças e prendê-los, inclusive dentro de suas casas.

Quando a imprensa, tradicional braço do poder, não interessa mais, é atacada — inclusive fisicamente, violentamente, com bombas de borracha e gás lacrimogêneo.

As leis não valem mais: os objetivos do Estado estão acima de leis que o impedem de manter a “ordem”.

Não se ouvem mais as vozes dos advogados, porque isso seria equiparar direitos. E os advogados que buscando fazer sua parte não tem visibilidade e acabam se tornando igualmente inimigos do Estado.

As decisões sobre a vida do povo são negociadas em cúpulas e, caso não estejam de acordo, as massas devem ser atingidas com violência e ser dispersadas, mesmo que isso tenha “efeitos colaterais”. A ordem está acima da vida.

Isso tudo conta com o apoio de uma população inerte, seduzida pelo mais novo aparato técnico à disposição dos grandes meios de circulação da informação, que se cala por ser incapaz de se indignar e de criar empatia pelo Outro. O próximo do qual todas as religiões falam.

Se você não acha isso grave, poderia estar vivendo na Alemanha nazista ou em qualquer outro sistema totalitário à sua escolha. E estaria apoiando o regime.

Somos como aqueles regimes? Não. Nossa democracia é mais forte do que isso. Mas você, que não vai às ruas ou apoia como pode os movimentos, com certeza tem um lado. E poderia estar, neste exato momento, apoiando a eliminação programada e matemática de minorias arbitrariamente selecionadas em campos de concentração.

Mas como você está no Brasil, em 2013, o apoio é para o aparato repressivo do Estado.

Ainda dá tempo. Apoiar o direito à reunião, à manifestação pacífica e à livre expressão é um dever de todos que não desejam virar, potencialmente, alvos arbitrários de um massacre programado.

E, agora, a única forma de fazê-lo é mostrar que as pessoas podem mais do que o Estado opressor. E elas podem.

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