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Cultura é necessidade política, econômica e questão de democracia, diz Lula

Em encontro com nomes do setor cultural, Lula afirmou que recriará o Ministério da Cultura, criará comitês culturais em todo o país e dará espaço para o setor apresentar demandas para as políticas públicas

Em último evento de agenda de dois dias em Porto Alegre (RS), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou trabalhadores da Cultura na quinta-feira (2) e reassumiu o compromisso de dar atenção e protagonismo ao setor num eventual novo governo.

A um grupo com nomes como o diretor de cinema Jorge Furtado, o escritor Jefferson Tenório e o músico Hique Gomes, Lula afirmou que recriará o Ministério da Cultura, criará comitês culturais em todo o país e dará espaço para o setor apresentar suas demandas para as políticas públicas.

“Hoje estou convencido de que a questão cultural não é fazer favor a nenhuma categoria de artista. A questão cultural é uma necessidade política, econômica e cultural e uma questão de democracia do nosso país. Vocês não podem ser vistos como pessoas que de vez em quando vão procurar a Lei Rouanet. Isso não é favor, é obrigação do Estado brasileiro garantir que as pessoas tenham acesso à cultura”, disse, lembrando de parte do legado dos governos petistas, como os pontos de cultura – “pequena revolução nos lugares mais longínquos do país” – e o vale cultura, e destacando a importância do setor para a economia com movimentação de recursos e geração de empregos.

Lula afirmou que os governos dele e de Dilma Rousseff, também presente no encontro, fizeram tudo o que podiam fazer, com políticas acima do padrão feito para o setor desde a Proclamação da República, mas que não fizeram tudo. A ideia de voltar, contou, é para tentar fazer o que ainda não foi feito e um pouco mais do que já foi.

Diversidade cultural

O ex-presidente defendeu que os meios de comunicação deem visibilidade a manifestações culturais de todo o país e não se concentrem apenas na tradição do eixo Rio-são Paulo. Lula citou, especificamente, o frevo e o Maracatu, de Pernambuco, o carimbó, do Pará, e a riqueza cultural do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. “Em todo estado tem uma riqueza cultural excepcional, mas o povo não conhece”.

Aos artistas, Lula disse que está assumindo o compromisso mais sério de sua vida com a cultura brasileira e que está convencido de que tudo será melhor se as pessoas estiverem arejadas culturalmente. Ele afirmou ser preciso criar condições para que todas as artes tenham chance de se manifestar e as pessoas precisam apenas saber, assistir, começar a ouvir para gostar.

“Vi um concerto de violinos na Áustria e fiquei levitando. Dá uma chance a um peão como eu e ele fica levitando com um concerto de violino, imagina dar ao povo brasileiro o direito de ver todas as artes”

Desmonte do setor

Na cerimônia, com performances e até apresentação pelo músico Lico Silveira da canção “Sujeito de sorte”, de Belchior, regravada recentemente por Emicida e com o trecho “ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, representantes do setor denunciaram o desmonte da Cultura.

O diretor Jorge Furtado, que entre muitos clássicos do cinema brasileiro dirigiu “Ilha das Flores”, curta metragem citado por Lula no encontro, lembrou da importância da cultura para a economia e disse ter convicção de que o Congresso Nacional vai derrubar o “veto mesquinho e cruel” do presidente Jair Bolsonaro às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, “vitais para sobrevivência de milhares de artistas”.

“Estar aqui para defender a cultura e tudo o que ela representa já seria um ótimo motivo, mas o que nos une é bem mais do que isso. Nós, trabalhadores da cultura, não queremos viver num país onde a forme ameaça 36% das famílias, onde o governo acha que armas nas mãos das pessoas são respostas para acabar com a violência, num país onde o governo louva a morte, despreza a ciência e tem o único governante não vacinado do planeta, um péssimo exemplo que, certamente, causou muito sofrimento e muitas mortes. Não queremos viver num país onde a polícia truculenta e racista tortura e mata jovens negros todos os dias”, disse emocionado.

Furtado afirmou estar contando os dias para o fim do pesadelo que é o atual governo. “Está acabando. Se trabalharmos juntos, vamos acordar num país onde é possível sonhar. Nós da cultura vamos estar juntos na construção desse sonho. Quem vê esperança no horizonte lembra das palavras de Elza Soares: Eu preciso encontrar um país onde ser solidário seja um ato gentil, eu prometo encontrar, esse país vai se chamar Brasil”.

Autor do aclamado “O avesso da pele”, com o qual ganhou o prêmio Jabuti, Jefferson Tenório disse que o estado fascista que é o Brasil hoje quer silenciar as vozes dos artistas, mas não vai conseguir. O escritor contou que foi o primeiro formando negro por cotas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

“Vivemos, infelizmente, nesse estado fascista que tenta silenciar nossas vozes, mas não vai conseguir. Sempre que me perguntam por que hoje em dia a gente consegue ver escritores negros com visibilidade. Tem um fator muito importante que foi a entrada de pessoas negras na universidade. Eu digo com, muito orgulho, que eu sou o primeiro cotista negro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul a se formar, e penso que a gente não tem que discutir se deve ou não ter cotas. A gente tem que discutir é a ampliação das cotas”, afirmou, defendendo que a história do Brasil, que foi silenciada, precisa ser conhecida e escrita. “Precisamos empretecer nosso conhecimento, nossa escrita, nossos saberes”.

Do site lula.com.br

Fonte: PT

(03/06/2022)

Lula: “Soberania é o povo tomar café, almoçar e jantar todo dia”

“Quem se importou em ver pobre na universidade, andando de avião e no shopping, pode se preparar, vai ter muito mais. Esse país é de todos, não de uma meia dúzia”, avisou Lula, em ato pela soberania no Sul

O desafio da defesa e da reconstrução da soberania brasileira estiveram no centro de um ato realizado nesta quarta-feira (1º), em Porto Alegre (RS). O evento contou com o ex-presidente Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, a presidenta Nacional do PT Gleisi Hoffmann e a ex-presidenta Dilma Rousseff, além de lideranças nacionais e estaduais do PT e dos aliados PSB, PCdoB, PSOL, PV, Rede, Solidariedade e de movimentos sociais.

Em sua participação, Lula refletiu sobre o sentido da soberania e sua importância para o Brasil. “Estamos vendo que soberania não é só cuidar das fronteiras secas e marítimas, do espaço aéreo, das riquezas minerais que estão no solo e subsolo, nas águas e no nosso mar”, declarou Lula.

“Soberania é muito mais do que isso, porque um país pode ter todas as riquezas do mundo. Mas se o povo não tem direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar, esse país não é soberano”, apontou. “Se o povo não tiver emprego e um salário que dê para sustentar sua família, onde é que está a soberania?”, questionou o líder petista.

Lula usou o exemplo do pré-sal, descoberto em seu governo, e como foi utilizado como um instrumento de construção da soberania. “Quando descobrimos o pré-sal, tivemos a ideia de que seria o passaporte para o futuro desse país”, destacou. “Tomamos a decisão: o petróleo finalmente seria do povo brasileiro. As empresas que quisessem explorar não seriam donas do petróleo, iriam pagar aquilo que o povo brasileiro entendesse que merecia”.

Ele lembrou, no entanto, que as multinacionais não aceitaram a política de soberania proposta por seu governo. “Venderam a BR, quebraram a BR. Hoje tem 392 empresas importando gasolina dos EUA e vendendo para nós a preço internacional”, lamentou.

Entreguismo é “falta de vergonha”

Lula desmentiu o argumento de que a guerra na Ucrânia está por trás dos preços dos combustíveis, hoje descontrolados pelo preço de paridade de importação adotado pela Petrobras. “Quando eu era presidente, na crise de 2008, o barril chegou a US$ 147 e vocês compravam gasolina a R$ 2,60. Viramos autossuficientes em Petróleo e agora não podemos sequer comprar um botijão de gás”, queixou-se.

“Tudo isso repercute na comida que a gente come. 50% da inflação são dos preços controlados pelo governo: energia elétrica, gás, gasolina. E por que isso? É por causa da guerra na Ucrânia? Vou dizer pra vocês: é por falta de vergonha e compromisso de quem governa esse país e dirige a Petrobras. Não adianta jogar a culpa em cima dos outros. Já tivemos guerra do Iraque, da Síria, e aqui a gente não aumentava o combustível”, enfatizou.

Estado forte em um país para todos

“É por isso que não tenho medo dizer: eu não quero um Estado pequeno, quero um Estado forte, que seja responsável pela educação, pela saúde, pela geração de emprego, por aumentar o salário mínimo, que dê cidadania aos cidadãos e cidadãs desse país. Esse é o Estado que vamos fazer”, assegurou Lula. 

Ao comentar os legados das administrações petistas, Lula demonstrou profunda indignação com a volta da fome no país. “Não tinha mais criança na rua pedindo esmola, não tinha mais gente passando fome, o salário mínimo tinha aumentado 77%, foram criados 22 milhões de empregos”, afirmou.

“E os pobres da periferia sabiam que o filho de um pedreiro poderia virar engenheiro, a filha de uma empregada doméstica poderia virar médica”, disse. Ele lembrou da inauguração da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), com 10 campus espalhados pelo Rio Grande do Sul.

“Quem se incomodou pelo fato de a gente ter feito uma lei, dando jornada de trabalho para doméstica, 13º, fundo de garantia, descanso semanal remunerado, quem se importou de ver pobre na universidade, andando de avião, andando no shopping, pode se preparar, porque vai ter muito mais. Esse país é de todos, não de uma meia dúzia”, avisou.

Alckmin: “Chegou o tempo da esperança”

No evento, o pré-candidato à vice-Presidência Geraldo Alckmin conclamou os brasileiros a, como ele, “suar a camisa, trabalhar com todo empenho, para que  Lula volte à Presidência”. Alckmin reafirmou o compromisso de luta dos democratas do país na recuperação da dignidade do povo.

“Para salvar a democracia, combater o desemprego, a carestia, a fome, recuperar a saúde e a educação, o Brasil precisa da volta do presidente Lula”, discursou.  “Chegou o tempo da esperança”.

Gleisi: união para enfrentar a barbárie

Em sua intervenção, Gleisi Hoffmann apontou que é preciso recuperar a a cidadania do povo, hoje usurpada pelo golpismo de Bolsonaro. “Precisamos de muita gente, para enfrentar a barbárie, para enfrentar o que se instalou no Brasil”, alertou Gleisi. “Nunca achei que viveríamos uma situação como essa, de tanta desestabilização no Brasil, de ódio, de destruição do Estado brasileiro, e tudo isso começou com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff”, observou.

Ela refletiu sobre como a soberania é um instrumento de transformação da sociedade. “Quando a gente fala em soberania, pensamos logo no posicionamento do país em termos internacionais”, comparou. “Mas não é só isso, soberania é também um Estado forte, com desenvolvimento, um Estado que melhore a vida das pessoas, explicou Gleisi. “Um país soberano não pode ter fome, desemprego”.

Diante de lideranças e de representantes dos movimentos sociais, ela encerrou a fala em tom de otimismo, afirmando não ter dúvidas de que Lula irá ganhar a eleição deste ano. “Lula será o próximo presidente do Brasil. Mas teremos de lutar muito”.   

Dilma: nova etapa de luta

Dilma Rousseff chamou atenção para a gravidade da crise que o Brasil atravessa e para a necessidade de reforço da luta democrática para vencer o fascismo. “Vivemos o momento mais desafiador da história política, dos últimos tempos, porque o Brasil foi destruído, rigorosamente falando”, discursou Dilma.

Dilma fez referência ao ambiente de permanente violência, no qual Bolsonaro atirou o país. “As provas dessa destruição são visíveis, quando um homem adulto é morto dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal, num processo similar à câmara de gás usada pelos nazistas. Há algo de muito grave, de muito podre nas instituições brasileiras”, ponderou a petista.

“Há algo de muito grave quando vemos a fome atacar o Brasil. O presidente Lula assumiu em 2003 e assumiu um compromisso, que estava, como uma impressão digital, em todos os programas que ele fez: erradicar a fome e fazer o Brasil sair da miséria. Nenhum país que saiu do Mapa da Fome da ONU voltou. Nenhum país que saiu da miséria volta para ela em menos de sete anos, como o nosso”, destacou.

Dilma reiterou que está na hora de virar o jogo e recuperar o Brasil aos brasileiros. “Temos a chance real de mudar o Brasil”, disse, ao defender uma mobilização sem tréguas da sociedade e das forças progressistas para levar o projeto de reconstrução às vias de fato. É preciso “eleger o presidente Lula e fazer um governo que volte, novamente, a decidir os destinos do país, que não fique nas filas, procurando ossos nos açougues”.

Requião: soberania se traduz em condições de vida dignas

Roberto Requião, que foi presidente da Comissão Mista pela Independência e Soberania do Brasil no Congresso, falou sobre a importância da recuperação da soberania para o futuro do Brasil. “Nunca, em 199 anos de Independência, a soberania brasileira foi tão aviltada como nos últimos anos. Concedeu-se venda de terras nacionais, sem limites de tamanho, abriu-se o espaço aéreo, franqueou-se o mar territorial às multinacionais, todas as guardas e salvaguardas foram rompidas”, lamentou o pré-candidato ao governo do Paraná pelo PT.

“A história das nações ensina que não existe desenvolvimento nacional sem soberania nacional: O domínio na nação sobre suas riquezas, seu mercado, sua política industrial e de infraestrutura, pesquisas, ciência e tecnologia e cultura, para que o país avance e supere as funções do atraso”, discursou. “Soberania e desenvolvimento condicionam-se, são parte do mesmo projeto”.

O ex-governador e ex-senador também abordou outras dimensões da manifestação da soberania, “que se traduz em condições de vida dignas, que liberte nossa gente da infelicidade do desemprego, do salário miserável, das moradias precárias, da insegurança alimentar e do futuro incerto”. Para Requião, essas múltiplas facetas da cidadania dependem da “reconquista da soberania nacional”.

Ele abordou ainda o movimento de reconstrução do país em torno de Lula e Alckmin, e foi incisivo: “Lula e Alckmin são a única solução possível para tirar o país deste lodaçal de entreguismo e pouca vergonha, de supressão dos direitos dos trabalhadores, de entrega da água, da luz e do petróleo”, resumiu.

Fonte: PT

(01/05/2022)

A Lava Jato está nua

Para quem consegue discernir o que se passa nos bastidores dos Poderes, nunca houve a mais remota dúvida da existência de um rolo compressor político-policial-judicial predeterminando o resultado do impeachment da Dilma e dos processos contra Lula.

O que nada tem a ver com culpa ou inocência dos acusados, mas sim com a dificuldade de produzir tais resultados com a premência imposta pelo timing político. Então, como era necessário condenar, mesmo inexistindo provas suficientes para embasarem a condenação não se prolongaram as investigações, mas simplesmente se fez de conta que os elementos reunidos bastavam. 

E para maquilar bem o gato que se queria fazer passar por lebre, era necessária uma boa coordenação de movimentos entre os executantes da operação, como esses dois interceptados cujas relações perigosas foram escancaradas pela The Intercept Brasil

A casa desabou em cima de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, que ainda podem salvar-se de punições legais, mas tiveram usa credibilidade definitivamente reduzida a pó (por mais que o Jornal Nacional tente salvá-los do merecido ostracismo levantando-lhes a bola…). 

São zumbis que ainda permanecem se arrastando por aí e emitindo sons que parecem palavras mas, verdadeiramente, não fazem mais sentido nenhum.

Tamanho foi o estrago produzido pela Lava Jato, culminando na eleição do pior presidente da República da história brasileira, que não tenho prazer nenhum em ver confirmado o que venho afirmando desde a Operação Satiagraha

Em 2008, quando oportunistas de esquerda tomaram partido no que não passava de uma feroz disputa de gângsteres do capitalismo por um segmento florescente de mercado, eu já fui contra a corrente, ao sustentar que: 

 — a luta contra a corrupção é uma bandeira de direita e inevitavelmente alavanca o autoritarismo; 

 ademais é inócua, pois, passada a fase das perseguições espetaculosas, a corrupção acaba sempre reentronizada (tanto que muitos punidos do passado acabam sendo flagrados também na cruzada moralista seguinte);

 tal inocuidade advém de a corrupção ser intrínseca ao capitalismo e, portanto, ter sua erradicação condicionada ao fim da organização econômica e social baseada na exploração do homem pelo homem (que é tabu no Brasil, como se a História houvesse petrificado após o fim do feudalismo!).

A Lava Jato está nua e marcha para o fim. Mas, como os brasileiros têm memória curta e este é o país do eterno retorno, outras Lava Jatos virão. Quase septuagenário, provavelmente não assistirei à nova reprise desse filme tedioso; contudo, quem viver, verá.

Tomara que Lula finalmente seja mandado para casa. 

Tomara que os brasileiros finalmente se deem conta de que o tempo dele passou e é hora de apostarem em lideranças mais combativas, capazes de extraírem as conclusões devidas da crise capitalista que se aprofunda cada vez mais. 

A fase da conciliação de classes, que teve Lula como seu principal expoente, acabou e já foi tarde; os oráculos de que agora necessitamos não serão encontrados no passado.

Os construtores do futuro tentaram abrir um caminho no presente em 2013, mas foram bloqueados  (intimidados, massacrados) pelos dispositivos policiais e jurídicos da direita, com a cumplicidade da esquerda domesticada.

Iniciaram nova tentativa no último dia 15 de maio e votarão às ruas nesta 6ª feira, com ânimo redobrado, agora que uma das pilastras do governo ultradireitista acaba de ruir fragorosamente.

Se ainda houver alguma esperança para o povo brasileiro, são esses jovens que a encarnam. (por Celso Lungaretti)

A escolha é entre seguirmos vivendo, ainda que de forma insatisfatória, ou matarmos uns aos outros pelas ruas

“O anseio meu nunca mais vai ser só / Procura ser da forma mais precisa / o que preciso for/ pra convencer a toda gente / que no amor e só no amor / há de nascer o homem de amanhã” (Geraldo Vandré, “Bonita”)

decisão que estaremos tomando neste domingo (28) transcende ideologias. É uma opção entre seguirmos vivendo, ainda que de modo insatisfatório, ou nos matarmos uns aos outros pelas ruas.

Temos, de um lado, o representante de um partido de esquerda que deixou de verdadeiramente lutar contra os poderosos desta sociedade, limitando-se a tentar ser por eles aceito como sócio minoritário. Não é, nem de longe, o governo que eu quero.

Só que, do outro lado, está um amontoado de ferrabrases alucinados por imporem ao restante da sociedade, a ferro e fogo, seus valores e modo de ser, numa esquisita associação com os oportunistas de sempre e os piores fisiológicos do esgoto da política brasileira.

Com o Fernando Haddad corremos o risco de voltar ao pacto dos explorados com os exploradores que perdurou enquanto Lula era presidente da República, no qual o primeiro contingente cedia muito e recebia em troca algumas migalhas, enquanto o segundo contingente cedia um tiquinho e recebia em troca privilégios injustificados e uma relativa paz social.

Com o Bolsonaro a promessa é de turbulências de todo tipo, com hordas caçando quem pensa, age, transa ou tem cor diferente, além de previsíveis confrontos com o Legislativo e o Judiciário quando suas propostas inconsequentes esbarrarem na dura realidade dos fatos e a opção for abandoná-las ou enfiá-las pela goela da sociedade adentro à base da porrada nas instituições e nos cidadãos.

Teríamos, reunidos num governo só: 

— a índole irascível de um Jânio Quadros, que não suportava o questionamento de seus planos mirabolantes e acabou tentando obter poderes ditatoriais mediante um autogolpe desastrado;
— a falta de um verdadeiro partido de sustentação, que obrigou Fernando Collor a montar um amplo esquema de corrupção para agraciar seus companheiros de primeira hora e saciar o apetite pantagruélico dos parlamentares de aluguel, até que os partidos poderosos uniram-se para dar um fim ao seu mandato; e
— a crassa incompetência econômica de Dilma Rousseff, principal responsável pela pior recessão brasileira de todos os tempos. 

Não é preciso ser nenhum Nostradamus para vaticinar que seria mais um governo sem prazo de validade de um quadriênio (só por milagre completaria um único ano!). 

Tão logo os iludidos pela pregação fantasiosa/rancorosa de Bolsonaro caíssem em si, constatando que os problemas antigos não estariam sendo resolvidos e muitos novos sendo criados, as cobranças começariam, depois as manifestações de rua, depois a repressão, depois mais revolta, depois mais repressão, até chegarmos ao caos, talvez a um autogolpe, talvez a um golpe militar. 

Este último é antiquado? Já parecia ser página virada em 1964, pelo menos em termos de grandes nações, mas reabrimos o ciclo e muitos outros vieram na esteira!

Enfim, votar contra Bolsonaro é o primeiro passo para o apaziguamento da sociedade brasileira, quando ela completa quatro anos perdidos por causa de um radicalismo que detona tudo e nada constrói, criando um ambiente tão desfavorável aos investimentos que a economia permanece indefinidamente patinando sem sair do lugar, enquanto o povo sofre e se desespera com uma penúria sem fim.

Sei que a decadência irreversível do capitalismo atingiu um novo patamar e não conseguiremos sequer reeditar a pequena melhora da década passada, mas ainda há como o sistema ao menos oferecer um respiro para os mais pobres recuperarem o fôlego. E nem isto teremos com o país em chamas, a consequência lógica da sociopatia extremada de Bolsonaro e o furor homicida de suas hordas de seguidores, caso o louco venha a assumir a administração do hospício.

Já deixamos pelo caminho muitos valores fundamentais da vida civilizada ao longo desta década maldita. Agora, a porta que se abre é para sairmos definitivamente da civilização, trocando o amai-vos uns aos outros pelo odiai-vos uns aos outros e por matai-vos uns aos outros.

Amanhã poderemos ter nossa última chance de impedir que o Brasil vire um péssimo lugar para se viver nos próximos anos e até sabe-se lá quando.

Temos nas mãos o nosso destino, o daqueles a quem amamos e o dos que virão depois de nós. Se cedermos à tentação de um desabafo inconsequente, não só estaremos brincando com fogo, mas condenando todos os brasileiros a se queimarem também! (Celso Lungaretti)

O legado de Lula: uma terra arrasada e uma esquerda mais arrasada ainda

A comédia dos erros terminou melancolicamente.

Sem surpresa nenhuma o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, pois é isto que determina a Lei da Ficha Limpa

Se sua condenação por corrupção e lavagem de dinheiro foi justa ou injusta, é algo a ser resolvido na esfera da Justiça Criminal, cujas decisões o Tribunal Superior Eleitoral não tem poder para questionar.

Se sua exclusão do pleito deveria se dar após uma sentença de 2ª ou 3ª instância, é algo a ser resolvido pelo Supremo Tribunal Federal, cujas decisões o TSE não tem poder para questionar. O certo é que, desde 2010, a condenação em 2ª instância vem sendo considerada suficiente.

E todas as decisões do TRF-4, do STJ e do STF foram no sentido de que nem a sentença do Lula seria cancelada, nem a inelegibilidade após a 2ª instância revista neste momento. O que vimos nesta 6ª feira (31) foi apenas a confirmação da derrota anunciada – e pelo acachapante placar de 6×1!

Então, por que o PT insistiu tanto em manter um candidato a presidente ilusório até cinco semanas antes do 1º turno? Cabe aqui uma recapitulação.

De Gaulle teria dito que o PT não é um partido sério…

Mesmo tendo o partido sido gerado em plena ditadura militar, seus fundadores não deixaram de colocar no manifesto de fundação, aprovado em fevereiro de 1980, que teria como objetivos supremos o fim da exploração capitalista e a construção de uma sociedade igualitária e livre:

…As riquezas naturais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem-estar da coletividade.  

Para isso é preciso que as decisões sobre a economia se submetam aos interesses populares. Mas esses interesses não prevalecerão enquanto o poder político não expressar uma real representação popular, fundada nas organizações de base, para que se efetive o poder de decisão dos trabalhadores sobre a economia e os demais níveis da sociedade

É preciso que o Estado se torne a expressão da sociedade, o que só será possível quando se criarem condições de livre intervenção dos trabalhadores nas decisões dos seus rumos…  

…O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores…

Mas, logo na sua primeira década de existência o PT já desistiu informalmente da meta revolucionária, expurgou as tendências internas que a priorizavam e passou a objetivar apenas a conquista de posições de poder dentro do capitalismo, não mais para construir uma sociedade igualitária, mas sim para proporcionar pequenas melhoras aos trabalhadores. 

Eis, enfim, o real candidato do PT: o ciclista Haddad. Terá ele… 

As eleições foram significando cada vez mais para o PT, enquanto a participação nas lutas sociais ia passando para segundo e até terceiro plano. 

As consequências de sua furtiva guinada ideológica não se tornaram tão evidentes no século passado (porque estava na oposição), nem durante os dois mandatos presidenciais de Lula (porque o bom desempenho das commodities brasileiras lhe permitia cumprir a promessa de botar um pouco mais de pão na mesa dos trabalhadores, embora sem retirá-lo da esbórnia dos privilegiados, tanto que nossa escandalosa desigualdade econômica não diminuiu em momento nenhum).

Quando a crise capitalista se aguçou sobremaneira na presente década, contudo, o cobertor foi ficando cada vez mais curto para cobrir tanto a cabeça de uns quanto os pés dos outros. A política de conciliação de classe foi colocada em xeque, pois numa fase de vacas magras já não era mais possível continuar mascarando a existência de uma contradição fundamental entre os interesses de explorados e exploradores. 


A presidente Dilma Rousseff, que há muito se desencantara com a luta de classes e passara a crer que contradições insolúveis pudessem ser resolvidas com soluções tecnoburocráticas (superestimando desmedida e alucinadamente seu próprio papel como gerentona), tentou uma jogada arriscada para impedir o castelo de cartas de desabar. Era preciso fazer a economia crescer o suficiente para os bancos continuarem comemorando recordes de faturamento a cada mês e para os pobres seguirem deslumbrados com o maravilhoso mundo do consumo ao qual haviam obtido limitado e endividado acesso!

Dilma retirou do baú de velharias as fórmulas desenvolvimentistas de seis décadas antes, com a esperança de fazer o carro da economia pegar no tranco graças aos investimentos estatais. Mas, como o relógio da História não anda para trás, o que ela conseguiu foi colocar a economia brasileira no rumo de uma formidável recessão.

…mais sorte do que a Dilma das pedaladas fiscais?

A hora da verdade chegou em 2014, quando fatalmente não conseguiria reeleger-se a partir dos resultados entregues por seu primeiro governo e de esperanças que ainda fosse capaz de despertar. E o quadro pioraria ainda mais caso o distinto público se desse conta da tempestade que se formava.

Então, como tábua de salvação, ocultou dos eleitores (por meio das famosas pedaladas fiscais) o estado calamitoso das finanças públicas; satanizou adversários exagerando verdades e espalhando as mais cabeludas mentiras; e praticou um ignóbil estelionato eleitoral ao prometer salvar os brasileiros das reformas neoliberais que seus rivais estariam tramando na calada da noite, ao passo que ela, a angelical, jamais cometeria tamanha maldade…

Desde então, o PT passou cada vez mais a sobreviver politicamente à custa de fantasias e embromações.

Depois de cumprir uma por uma todas as etapas do ritual do impeachment e ser derrotado em todas, passou a atribuir o defenestramento de Dilma a um diabólico golpe… que, na verdade, nada mais foi do que a secular prevalência, nos momentos críticos, das necessidades e interesses da classe dominante, pois está é a lógica do sistema. Só ingênuos esperavam que sucedesse o contrário. 

Com isto mais o Fora Temer, o PT conseguiu desviar a atenção dos terríveis erros por ele cometidos, que possibilitaram a derrubada de Dilma mediante um mero piparote parlamentar; e da óbvia constatação de que não adiantava mais eleger presidentes, já que eles seriam deseleitos pelo poder econômico quando este bem entendesse. 

Mas, conseguindo espertamente evitar  um processo de autocrítica do qual sairiam bem menores do que entraram, os dirigentes petistas ao mesmo tempo abortaram a definição de novas linhas mestras para a atuação partidária, já que as anteriores haviam implodido espetacularmente. A salvação dos ineptos se deu à custa de sacrificar-se o futuro: que mágica besta!  

Que dilúvio nos legará esse outro Luís?

O certo é que, para que se consumassem os desastres recentes do PT, concorreu mesmo a adoção de dois pesos e duas medidas: pecados idênticos, cometidos por outros partidos e políticos, foram tratados como venais e os petistas, como mortais. 

Mas as alegações de inocência, tanto no impeachment quanto nos processos por corrupção, nunca passaram de lorotas inverossímeis; o mar de lama existiu mesmo e as práticas que teoricamente ensejariam cassação de mandatos, idem.

Aos olhos dos cidadãos com um mínimo de espírito crítico, o PT, ao incidir nas mesmas práticas e recorrer às mesmas desculpas esfarrapadas quando apanhado com a boca na botija, igualou-se às agremiações convencionais, perdendo o status de partido diferenciado e confiável. Acreditar nele passou a ser um ato de fé; e não é com fanáticos que se constrói uma sociedade emancipada.

Para reforçar a narrativa do golpe e a narrativa do preso político, criou-se o roteiro de um espetáculo de mafuá: a farsa do candidato fantasma, que só serviu para travar a campanha eleitoral e oxigenar o representante do DOI-Codi no pleito presidencial (o truculento candidato que explora, da forma mais grotesca e obtusa, os filões do anticomunismo e do antipetismo) .

Quem disse depois de mim, o dilúvio foi o rei francês Luís XV, e a profecia se cumpriria com seu neto Luís XVI sendo guilhotinado na Grande Revolução Francesa.

Que dilúvio nos legará esse outro Luís? Uma coisa é certa: ele sai de cena deixando atrás de si uma terra arrasada e uma esquerda mais arrasada ainda.

Rodrigo Janot quer porque quer escancarar as portas do inferno!

Há muita torcida nas redes sociais pela queda de Temer. E há um empenho desmedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disposto a fazer de tudo para satisfazer a galera. A insensatez e as vaidades desmedidas reinam.

Janot já pisou feio na bola ao armar uma arapuca óbvia para o presidente, cheia de ilegalidades que o ministro Edson Fachin abençoou (mesmo não tendo o direito de fazê-lo, pois estava obrigado a declarar-se impedido de intervir na delação premiada do grupo J&F, em função de haver mantido com o dito cujo notórias ligações perigosas).

A ação concertada com as Organizações Globo teria resultado caso Temer renunciasse ou se a Justiça Eleitoral cassasse o seu mandato. E o que teria então acontecido?

Eis o quadro bem realista que o veterano jornalista Clóvis Rossi nos expõe:

Se Temer tivesse seu mandato cassado pelo TSE, a crise política estaria encerrada? Óbvio que não.

Primeiro porque caberia recurso e sabe-se lá por quanto tempo se arrastaria o processo, mantendo-se na Presidência um cidadão notoriamente inadequado para o cargo. 

…[mas] digamos que a tal vox populi fosse ouvida pelo TSE e Temer caísse. Fim da crise? Não.

Haveria, de um lado, o desejo da maioria dos congressistas de manter o privilégio de escolherem eles, e não o eleitorado, o novo presidente. Do outro lado, a pressão de grande parte do público por eleição direta, o que demandaria uma emenda constitucional de tramitação demorada, em meio a uma situação econômico-social desastrosa.

Considerados o poder da rua e o poder dos grandes interesses envolvidos, a lógica elementar diria que a eleição seria mesmo indireta. 

Aí, o risco seria (…) a eleição de Rodrigo Maia, apontado como favorito de seus pares. 

É outra mediocridade como Temer, mas com menos experiência.

Temer com seu substituto legal, Rodrigo Maia: e se a montanha parir um rato?

Será que o Brasil aguentaria três governantes medíocres em sequência? Não dá para esquecer que Dilma Rousseff conduziu o país à mais profunda e prolongada recessão de sua história – prova factual de seu despreparo para o cargo.

PRESTES A DEIXAR O CARGO, JANOT NADA TEM A PERDER: “DEPOIS DE MIM, O DILÚVIO!”

O pior é que Janot, o grande responsável pelo prolongamento inútil de uma recessão que começava a perder força, quer infernizar de vez a vida dos brasileiros, apresentando uma denúncia de corrupção contra Temer. Não leva em conta que, via TSE, a substituição de Temer poderia ser razoavelmente rápida, ao passo que, com um impeachment, o desenlace ficaria para bem depois, só no ano que vem. 


Como a abertura do processo exige a aprovação da Câmara Federal e do plenário do Supremo Tribunal Federal, bota uns dois meses nisso (no mínimo!). 

Vamos supor que, vencidas estas duas barreiras, Temer seja afastado provisoriamente em agosto, com Rodrigo Maia herdando a cadeira e a caneta presidencial (Deus nos acuda!). Aí, mesmo que o processo não consuma os 180 dias de prazo-limite, só estaria concluído lá pelo final do ano. 

Marcada uma eleição indireta para 30 dias depois (com o adiamento do recesso dos parlamentares), poderíamos ter um novo presidente em fevereiro, para governar no máximo 11 meses. Mas, governo efetivo mesmo, só até agosto, quando a campanha presidencial ferve e passa a ser a prioridade nº 1 dos políticos profissionais. 

Tudo considerado, a tendência seria de que as incertezas se prolongassem, afugentando investimentos, até a posse do novo presidente, no dia 1º de janeiro de 2019. Ou seja, o que Janot quer é que tenhamos pela frente mais um ano e meio com a situação econômica tão ruim como está agora, ou pior ainda.

É inacreditável que uma autoridade supostamente responsável tudo faça para nos impor tal pesadelo! Não terá consideração nenhuma pelo povo sofrido, indefeso, massacrado, que anda matando cachorro a grito desde 2015?! 


E, quanto aos que se dizem esquerdistas mas se mostram fanaticamente empenhados em propiciar o caos, só me resta lembrar-lhes que quem pretende servir à causa do povo não pode fazer política movido pela bílis. Precisa ter idealismo, clareza de raciocínio e. mais do que tudo, identificação com os humildes e disposição solidária para atenuar suas desditas..

Três características extremamente escassas hoje em dia.

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A CRISE É DE TODO O SISTEMA. AGONIZAM O CAPITAL, O ESTADO E SEUS REPRESENTANTES POLÍTICOS DA DIREITA E DA ESQUERDA.

Rigor extremo nas penas dos ‘terroristas de gogó’

Moe, Larry, Curly… havia um quarto pateta?

Em 12 de maio de 2016, a então presidente Dilma Rousseff foi afastada provisoriamente do cargo, substituída pelo vice Michel Temer enquanto durasse a tramitação do seu processo de impeachment no Senado. 

Exatamente oito semanas antes, no dia 17 de março, ela acrescentara mais uma nódoa à sua biografia. E das piores! Foi quando Dilma sancionou a fascistoide lei antiterrorismo, sobre a qual  o senador Humberto Costa, que já era o líder do PT no Senado, disse tudo que havia para ser dito: “O Brasil não precisa de outro AI-5”.

É paradoxal que tenha cabido a uma ex-resistente, perseguida e torturada durante o reinado de arbítrio e atrocidades instaurado pelo AI-5, o melancólico papel de dar sinal verde a uma nova escalada de abusos e injustiças!

É vergonhoso que Dilma tenha se prestado a isto, obcecada que estava em provar aos poderosos da economia que nada restara nela da guerrilheira que afrontara a ditadura militar, como se isto ainda pudesse salvá-la do defenestramento anunciado!

Este moleque pegou 6 anos (5 em regime fechado!) 

Um primeiro resultado de sua maldita assinatura naquele maldito papelucho acaba de ser anunciado: um juiz federal condenou oito bobalhões, meros terroristas de gogó, por ficarem devaneando no Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp sobre atentados durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Por que não pegaram megafones e anunciaram seus planos mirabolantes no intervalo de um Fla-Flu? Daria no mesmo…

Tais trapalhões, que não moveram uma palha para levar seus delírios à prática, agora vão mofar de 5 a 15 anos na prisão, parte em regime fechado. 

Por culpa de uma aberração jurídica que iguala planejamento com execução, como se tudo sobre o que amadores falastrões papeiam se tornasse realidade. Eu diria que uns 98% dessas besteirinhas devam ficar só no blablablá.

E por culpa de uma tecnoburocrata que já não tinha mais afinidade nenhuma com seu passado revolucionário, mas o foi retirar do arquivo morto quando Lula a escolheu para sucessora, passando a utilizá-lo como trunfo retórico durante a campanha eleitoral e em outras situações nas quais lhe conveio. 

Lá se foi a chance de punição dos carrascos do Araguaia

A mim, pelo menos, nunca enganou.

Ninguém que conservasse fibra de revolucionário(a) teria deixado de cumprir a determinação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que mandou apurar o genocídio do Araguaia e punir seus responsáveis, ao mesmo tempo em que apontava a total inconsistência jurídica da decisão do STF que considerou lícito torturadores anistiarem a si próprios em pleno regime de exceção, na contramão de toda a jurisprudência civilizada.

Muito menos envergonharia o povo brasileiro com sua patética subserviência aos EUA, negando asilo a Edward Snowden, o que nos colocou abaixo até da Rússia em matéria de direitos humanos!

LINCHAMENTO JUDICIAL

Indo além da indignação causada pela sentença aberrante que os oito terroristas de gogó acabam de receber, temos de fazer uma profunda reflexão sobre o tipo de sociedade em que queremos viver: uma na qual aceitemos os riscos inerentes à opção de procedermos com justiça ou uma com as facilidades de um estado policial.

Depois do atentado ao WTC, os Estados Unidos adotaram a segunda opção, coerentemente com suas tradições históricas, afinal haviam eletrocutado Sacco e Vanzetti em meio a uma exacerbada histeria anti-anarquista e só meio século depois o governador do Massachussetts reconheceu oficialmente a inocência de ambos; tinham caçado bruxas em pleno século 20 (macartismo), etc.

Durante a nefanda guerra ao terror de George W. Bush, os EUA prenderam suspeitos aos montes, submeteram-nos a sevícias em centros clandestinos de tortura espalhados pelo mundo e os mantiveram encarcerados sob tratamento cruel e degradante em Guantánamo, chegando ao cúmulo de conservá-los prisioneiros mesmo depois de serem absolvidos pela Justiça estadunidense (caso nenhuma nação os aceitasse receber).

A opção correta será esta, combatermos a brutalidade tornando-nos, nós mesmos, brutais, injustos e insensíveis?

A coisa se complica face à prática agora adotada pelos terroristas islâmicos de, utilizando as redes sociais, incentivarem fanáticos a agirem por conta própria contra infiéis no mundo inteiro. Ministram-lhes conhecimentos básicos de terrorismo e exortam-nos a escolherem e golpearem duramente seus alvos, para, assim, adquirirem o direito de deflorarem 72 virgens no paraíso dos mártires muçulmanos…

Um thriller literário que focaliza esta nova tendência é A lista (The kill list, 2013), de Frederick Forsyth. Mostra a operação montada pelo serviço secreto estadunidense para localizar e executar um propagandista do terrorismo islâmico cujo proselitismo virtual causara grande número de óbitos.

Algo semelhante foi testado pelo grande revolucionário brasileiro Carlos Marighella, em fins de 1968. Frustrado com a pouca combatividade dos partidos comunistas tradicionais, que no seu entender estavam burocratizados demais para atuarem com eficiência na luta armada, ele resolveu dissolver a organização que liderava, mantendo apenas um pequeno núcleo ao redor de si e exortando os demais efetivos e os aspirantes a recrutas a provarem seu valor na prática (mais tarde, os que tivessem passado na prova seriam chamados de volta)

Depois que esses soldados sem oficiais cometeram várias ações disparatadas, Marighella recuou horrorizado, reagrupando-os de imediato e restaurando a cadeia de comando. O que parecia ser uma boa solução para dificultar o trabalho da repressão política se revelara desastroso quanto ao objetivo da luta: o que se queria era conquistar o povo, não assustá-lo com violência inútil (p. ex., tentativas canhestras de tomarem a arma de vigilantes de quarteirão, que acabavam redundando em tiroteios).

Os aloprados de Alá não têm os mesmos melindres: nenhuma matança parece ser suficiente para fazê-los desistir do incitamento a debiloides despreparados. 

Maratona de Boston, 2013: com bombas caseiras, dois irmãos mataram três pessoas e feriram 264.

Ao sancionar a lei antiterrorismo, Dilma Rousseff confirmou que abriu mão dos seus valores ideológicos de outrora e hoje não passa de uma mera utilitarista: o receio de atentados durante a Rio-2016 prevaleceu sobre qualquer outra consideração, mandando às urtigas os direitos civis e os direitos humanos . 

Para desestimular ações que empanassem o brilho do megaevento valia tudo, inclusive repetir os excessos da guerra ao terror. E nem lhe parece ter ocorrido que as Olimpíadas passariam, mas a lei draconiana ficaria.

O primeiro resultado está aí: a tal Operação Hashtag localizou facilmente um grupelho que espalhava aos quatro ventos virtuais sua intenção de arrombar a festa. A Polícia Federal tinha todos os recursos para, com idêntica facilidade e absoluta segurança, monitorar esses ingênuos amadores, para saber se seriam mesmo capazes de agir, ou não. 

Vaga, a lei permite punir quem se quiser.

Poderia detê-los quando quisesse. Por que não deixar para fazê-lo quando já estivessem com a mão na massa?  Mas não, a lei fascistoide poupou-lhe o trabalho de fazer direito a lição de casa. 


Então, restará para sempre a dúvida: eram apenas fantasistas devaneando ou se constituíam numa verdadeira ameaça?

Isto parece não ter preocupado o juiz que os sentenciou com rigor extremado.