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Nunca mais

Tenho a minha visão própria e pessoal sobre a ditadura de Videla, bem como sobre os motivos que a moveram.

Contrariamente a outras versões, tenho a impressão de que o golpe, a ditadura e o genocídio, tinham como único e principal objetivo, cancelar definitivamente a possibilidade de um país civilizado.

A exclusão social, que contraria o projeto de país que deveria nortear a ação de governantes e atores sociais, seria sacralizada pelo genocídio perpetrado pela ditadura de 1976-1983.

Argentina seria assim uma eterna terra de ninguém. Um país sem pátria. Um espaço para a exploração sem lei e contra toda lei.

Videla e a quadrilha que perpetrou a carnificina que enluta até hoje a Argentina, foram condenados pela justiça comum.

A ‘guerra’ dos genocidas foi contra a humanidade. Foram condenados por crimes contra a humanidade.

Um povo foi crucificado e tenta ainda se recuperar das sequelas impostas pelo terror da ultradireita.

Manifestações marcam os 48 anos do golpe que instaurou última ditadura militar na Argentina

Neste domingo (24), a organizações de direitos humanos, movimentos populares e partidos de esquerda foram às ruas na Argentina na marcha para homenagear as vítimas da última ditadura no país (1976-1983), instaurada há 48 anos por meio de um golpe civil e militar. Na data é celebrado o Dia da Memória pela Verdade e Justiça, que marca a reivindicação pelo esclarecimento dos crimes cometidos durante o período autoritário e a punição dos responsáveis.

Milhares de pessoas protestam em vários pontos do país, mas a concentração principal é na Plaza de Mayo, em Buenos Aires. Ali milhares de pessoas trouxeram cartazes sobre a importância da memória e rejeitando a negação dos horrores da ditadura, que são discurso habitual do atual presidente Javier Milei. “Memória sim, medo não” e “tudo fica guardado na memória”, eram algumas das frases dos menifestantes.

A presidente da associação Avós da Plaza de Mayo, Estela de Carlotto, foi a primeira a falar no principal evento do dia. “Hoje é um dia histórico, com mobilizações massivas, e é uma demonstração de que o povo está enfrentando esse governo neofascista. Precisamos fortalecer a unidade e a organização para defender a democracia”, disse ela, diante de milhares de pessoas que se reuniram na Plaza de Mayo.

“Nossos parentes e companheiros estavam lutando por uma sociedade mais justa, igualitária, solidária e soberana. É por isso que eles foram levados. Nós, organizações de direitos humanos, levantamos as mesmas bandeiras no auge do genocídio, quando saímos para enfrentar a ditadura mais sangrenta. E fazemos isso hoje, porque o governo de Milei está vindo para tudo: para nossos direitos, para nossa soberania e para nossa liberdade”, continuou Estela.


Marcha pela Memória, Verdade e Justiça / Belen de Los Santos

A manifestação na Plaza de Mayo foi uma das maiores dos últimos 40 anos de democracia na Argentina. Foi a primeira vez em 40 anos de democracia que o evento ocorreu em um contexto em que o governo nacional nega que tenha havido 30.000 desaparecidos. Javier Milei é o primeiro governo negacionista na história da Argentina.

Taty Almeida, integrante das Madres de Plaza de Mayo Línea Fundadora, logo no início de seu discurso exclamou: “Temos 30 mil motivos para defender a Pátria”. Para ela, é preciso uma forte unidade dos diferentes grupos para defender a democracia e derrotar o ódio. “A unidade das forças políticas e sociais, dos sindicatos e dos movimentos de direitos humanos, dos feminismos e das diversidades deve ser um mandato urgente para organizar a resistência e gerar as alternativas necessárias para acabar com tanto sofrimento”, disse Almeida.

“Vemos no governo de Milei atitudes de extrema crueldade e violência contra aqueles que pensam de forma diferente. Ele nega as contribuições que os movimentos populares, os movimentos de mulheres e as organizações de direitos humanos fizeram ao longo desses 40 anos de democracia. Um governo que não está a serviço do povo, está contra o povo. Reafirmamos nosso compromisso com os direitos humanos que nos afetam diariamente: alimentação, saúde, educação, moradia, cultura e trabalho. E também com as crianças e os jovens. Com a sociedade, o estado e o meio ambiente que deixamos para eles. Devemos fortalecer os valores fundamentais dos direitos humanos, da solidariedade e da proteção coletiva”, concluiu ela.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, também participou do evento central na Plaza de Mayo e destacou que “o governo de Milei e (a vice-presidenta Victoria) Villarruel está executando, de forma brutal e acelerada, o plano de ajustamento mais implacável destes 40 anos de história democrática”.

“Dias depois de tomar posse, implementaram uma desvalorização que significou uma enorme perda de salários e pensões. Pretendem desmantelar o sistema laboral, previdenciário e previdenciário com as piores receitas do neoliberalismo. ajuda. Interromperam a entrega de alimentos às cozinhas populares. É necessário que sejam restauradas imediatamente. É claro: a única coisa que este plano gera são lucros extraordinários para alguns e fome para a maioria. Nos bairros populares há é uma emergência humanitária sem precedentes no nosso país. Lembramos a este governo que deve ter em mente que com ódio, repressão e vingança não se pode construir uma sociedade mais justa e fraterna”, criticou Esquivel.


Mural da memória / Belen de Los Santos

Tensões

A marcha deste ano foi marcada por um clima de tensão na véspera, diante da disputa pelo significado da data. Desde a campanha eleitoral o presidente ultraliberal Javier Milei e sua vice Victoria Vilarruel, contestam os dados oficiais e negam o número de desaparecidos durante o regime de exceção. Na sexta-feira (22), Vilarruel ironizou a mobilização do 24 de março e usou o termo “festejar” para se referir à celebração dessa data trágica na história do país.

“Estamos em um estado democrático, se querem festejar o golpe, vão lá”, disse a vice de Milei. Questionada sobre o uso do termo, ela afirmou que “há claramente uma morbidez” em relação à data, “porque toda a vida da esquerda parece que vai desaparecer se no 24 de março não fizer ser escutada sua mensagem ininterrupta há 40 anos”. Hoje, o governo Milei divulgou um vídeo com o título “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, deturpando informações sobre o período.

Em uma entrevista à rádio Delta, também na sexta, a presidente das Avós da Praça de Maio, principal organizadora da mobilização de domingo, Estela Barnes de Carlotto respondeu à fala da vice-presidente. “Isto não é um festejo, mas sim manter viva a memória, saber o que aconteceu nessas datas para que não volte a acontecer. Não queremos que as novas gerações passem pelo que passamos de ter que procurar nossos filhos e netos devido a uma ditadura feroz”.


Marcha pela Memória, Verdade e Justiça / Belen de Los Santos

Na quinta-feira (21), outra organização que luta pelos direitos-humanos na Argentina, Hijos (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio), denunciou a agressão sexual e ameaça de morte a uma de suas integrantes, que atribuíram a uma motivação política.

“Estes atos têm uma clara relação com as ações e os discursos de ódio que as autoridades máximas do país expressam cotidianamente e incita a violência contra nós que militamos pelos direitos humanos. Exigimos o imediato esclarecimento do fato por parte do poder judicial e responsabilizamos o governo nacional pelos fatos ocorridos”, diz o comunicado da organização.

Punição dos crimes

Diferente do Brasil, onde os militares que cometeram crimes durante a ditadura (1964-1985) permanecem impunes, na Argentina nove líderes das três primeiras juntas militares que governaram o país após o golpe de Estado de 1976 foram condenados. Os julgamentos de crimes da ditadura no país foram reabertos em 2004 com Políticas de Estado de Memória, Verdade e Justiça no governo de Néstor Kirchner (1950 – 2010).

Em torno de 1.100 repressores foram julgados após a declaração de inconstitucionalidade das leis de proteção:  Lei de Ponto Final (1986), instituída um ano após o primeiro grande julgamento das juntas militares, e lei de Obediência Devida (1987), na qual os feitos cometidos pelos membros das forças armadas não eram puníveis por, supostamente, terem agido em virtude de obediência devida.

48 anos do Golpe

Na madrugada do dia 24 de março de 1976, um golpe de Estado derrubou a presidenta argentina María Estela Martínez, conhecida como Isabelita Perón, que assumiu o poder em 1974, após a morte de seu marido Juan Domingos Perón (1895 – 1974), de quem era vice. O golpe foi comandado por uma junta militar formada pelo general Jorge Rafael Videla, pelo almirante Emilio Massera e pelo brigadeiro Orlando Agostí. A junta militar comandada por Videla dissolveu o Congresso, afastou os juízes e suprimiu as liberdades de imprensa e de expressão no país.

Sob a justificativa de combater a “influência socialista”, os militares instauraram um regime de terror, com sistemática violação dos direitos humanos.

Um ano após o golpe, o jornalista argentino Rodolfo Walsh publicou uma carta em que denunciava as torturas e mortes causadas pela repressão instaurada no país, assim como a piora da qualidade da vida e o aumento da miséria devido à má gestão econômica da junta militar. “O que vocês chamam acertos são erros, os que reconhecem como erros são crimes e o que omitem são calamidades”, escreveu o jornalista na “Carta aberta de um escritor à Junta Militar“.

“O que vocês liquidaram não foi o mandato transitório de Isabel Martínez, mas a possibilidade de um processo democrático onde o povo remediaria males que vocês continuaram e agravaram”, escreveu Walsh.

“A política econômica dessa junta só reconhece como beneficiários a velha oligarquia de grãos, a nova oligarguia especuladora e um grupo seleto de monopólios internacionais encabeçados pela ITT, Esso, empresas automobilísticas, USSteel, Simenes, às quais estão ligados pessoalmente o ministro Martínez de Hoz e todos os membros do seu gabinete”, diz o último texto publicado pelo jornalista. Dias depois da publicação da carta, Walsh se tornou mais um desaparecido pela ditadura militar argentina.

Coordenação internacional da repressão 

A Ditadura Civil Militar na Argentina fazia parte do chamado Plano Condor, uma coordenação repressiva entre as diferentes ditaduras que governavam a América Latina na época (como Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai) e o governo dos Estados Unidos.

Washington estava encarregado de fornecer apoio logístico, propagandístico e econômico por meio do Departamento de Estado dos EUA e da CIA às várias ditaduras para “combater o comunismo”.

Além disso, os EUA foram responsáveis pelo treinamento das forças militares ditatoriais no Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança, mais conhecido como Escola das Américas. Membros das forças armadas latino-americanas aprenderam métodos de tortura, assassinato e repressão em grande escala contra setores sociais que “distribuíam propaganda em favor de grupos extremistas de esquerda ou de seus interesses e simpatizavam com manifestações ou greves”, de acordo com o Manual de Estudos de Contrainteligência da Escola, um documento desclassificado em 1996.


Lenço das mães da Plaza de Mayo / Belen de Los Santos

Edição: Rodrigo Gomes e Rodrigo Durão Coelho

Fonte. Brasil de Fato

‘A sabedoria do Papa Francisco’

Por Tony Neves

‘A sabedoria do Papa Francisco’ é o título de um livro, ou melhor, de uma compilação de frases inspiradoras que foram proferidas ou escritas pelo Papa Francisco, que foi eleito a 13 e entronizado a 19 de março de 2013. É uma edição bilíngue, o que constitui uma novidade editorial.

Andrea Assaf é uma jornalista especializada em assuntos vaticanos, com obra publicada em diversos órgãos de comunicação. Divide os seus dias e o seu trabalho jornalístico entre os Estados Unidos e a Itália. Acompanha os Papas desde João Paulo II, tendo grande conhecimento e experiência acumulada por algumas décadas de trabalho jornalístico especializado. Explica: ‘Há algum tempo que desejava que existisse uma obra com uma seleção de citações inspiradoras do Papa Francisco que pudesse trazer consigo nos transportes, durante o dia de trabalho ou em momentos de lazer’. Aí está.

Os textos escolhidos são apresentados sob o chapéu de grandes temas: ‘Esperança e Alegria’, ‘Fé e Oração’, ‘Igreja e Evangelização’, ‘Amor e Verdade’, ‘A Viagem da Vida’, ‘Família’, ‘Construir um Mundo Melhor’, ‘Escutar Deus’, ‘Humildade e idolatria’, ‘Perdão e Graça’, ‘Dignidade Humana, Sofrimento e Solidariedade’, ‘As Lições da Cruz’.

Ressalto algumas das frases que mais marcaram a minha leitura: ‘proteger a criação, proteger cada homem e cada mulher, cuidar deles com ternura e amor é abrir um horizonte de esperança. É deixar um raio de luz irromper por entre as nuvens negras; é trazer o calor da esperança’ (p.17). ‘Ter fé não significa não ter dificuldades, mas ter força para as enfrentar sabendo que não estamos sós’ (p.33). ‘Que a Igreja seja lugar da misericórdia e esperança em Deus, onde todos se sintam acolhidos, amados, perdoados e encorajados. A Igreja deve ter as portas abertas para que todos possam entrar. E nós temos de sair por essas portas e proclamar o Evangelho’ (p.51).

‘Prefiro uma Igreja magoada, dorida e suja porque andou pelas ruas do que uma Igreja doente porque está confinada e agarrada à sua própria segurança. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro de tudo e que acaba presa num emaranhado de obsessões e formalidades’ (p.56). ‘Um evangelizador nunca deve parecer alguém que acabou de vir de um funeral’ (p.67).

‘É isto que vos peço: sede pastores com ‘cheiro a ovelha’, fazei disso uma realidade, como pastores no meio do vosso rebanho, como pescadores de homens’ (p.70).

‘Não consigo imaginar um cristão que não sabe sorrir. Sejamos testemunhos alegres da nossa fé’ (p.86). ‘Não somos cristãos em part-time, apenas em certos momentos, em certas circunstâncias, em certas decisões; ninguém pode ser cristão desta forma – somos cristãos a tempo inteiro! Totalmente! (p.96).

‘Quero repetir estas três palavras: por favor, obrigado, desculpa. Três palavras essenciais!’. (p.125). ‘Podemos fazer muito pelo bem dos mais pobres, dos fracos e dos que sofrem, para promover a justiça e a reconciliação, para construir a paz’ (p.154).

‘A guerra arruína tudo, até os laços entre irmãos. A guerra é irracional, o seu único plano é espalhar a destruição: ela procura crescer destruindo’ (p.158).

‘Sempre que encontramos outra pessoa apaixonada aprendemos alguma coisa nova sobre Deus’ (p.167). ‘O Senhor está a bater à porta dos nossos corações. Será que penduramos um letreiro na porta a dizer ‘não incomodar’?’ (p.170).

‘Se alguém tiver a resposta para todas as questões – essa é a prova de que Deus não está com ele. Significa que ele é um falso profeta que usa a religião para si próprio’ (p.187).

‘Quando uma Bolsa cai 10 pontos em certas cidades, isso constitui uma tragédia. Alguém que morre não é notícia, mas uma quebra de 10 pontos no lucro é uma tragédia! Desta forma, as pessoas são postas de parte como se fossem lixo.’ (p.195).

‘Como o Bom Samaritano, que não tenhamos vergonha de tocar nas feridas dos que sofrem, mas tentemos sará-las com verdadeiros atos de amor’ (p.232).

‘Sede membros ativos! Entrai ao ataque! Jogai pelo campo fora, construí um mundo melhor, um mundo de irmãos e irmãs, um mundo de justiça, de paz, de fraternidade, de solidariedade. Jogai sempre ao ataque!’ (p.237).

A autora termina com um desejo: ‘Que este livro permita que levemos connosco o Papa Francisco nas nossas viagens diárias como confidente, companheiro de jornada e guia’ (p.12).

Fonte. Vatican News

Perspectiva

Perspectiva

Muitas coisas mudaram nestes últimos tempos

O que é que eu poderia vir a destacar agora?

Coisas que permanecem.

As pessoas continuam a trabalhar

Namorar, amar, sonhar, projetar

Viver e morrer

No meio a todas as tecnologias digitais, virtuais e tais

O trajeto vital mantém algumas constantes.

É delas que vou me ocupar.

O nascer e o morrer

O trajeto dos dias no meio

A criação. A criatividade. A arte de fazer com que as dores virem flores.

O jogo de aprender não importa a idade que você tenha.

Poesia e pintura. Literatura e música. Canção.

Você lembra dos seus primeiros anos?

Faz sentido você estar vivo ou viva?

Imagem. ‘O município’

Batina preta-exorcismo-dinheiro

Por Pe. Gedeon Oliveira

Minha alma tem sede de Deus, de um Deus vivo anseia com ardor. Ver Deus face a face é o desejo fundamental do ser humano, por isso que o salmo 42 aponta para o crucificado, cujas palavras justificam nossa sede, qual seja: Pai em tuas Mãos entrego meu espírito. Pe Zezinho conseguiu traduzir a sede de Deus como poesia: estou pensando em Deus, estou pensando no amor. Nos tornamos aquilo que alimentamos em nossa alma. Deus que está para além de tudo, é quem funda o cotidiano. Criou o ser humano do barro, isto é frágil. As nossas fragilidades coexistem com nossas forças, mas Deus é fonte de superação, enfrentamento e esperança no cotidiano de nossas vidas. Cotidiano que é síntese do que vivemos: amor e desamor; sofrimento e alegria; saúde e doença; junto e separado; vida e morte. Apesar de vivermos nas condições contraditórias, DEUS É A FONTE DO NOSSO DESEJO. Desejamos Deus passando por qualquer situação adversa. A adversidade necessária para aumentar a fé, esperança e a caridade.

Em dias atuais, vários padres têm retirado Deus como fonte de vida, substituindo-o pelo diabo. Nas celebrações reina o nome do diabo e sua presença nos pobres infiéis que aparentemente, não conseguem enfrentar as doenças. Assim, as pessoas são arrastadas da fonte divina, para a ordem precária do diabo. É uma espécie de paradoxo: Deus é a fonte das narrativas de perfeição, benção, milagre e cura; mas no encontro concreto com o outro na liturgia e fora dela, deus aponta para o diabo como autor do mal físico ou mental. Sem a presença do diabo, não existe benção, milagre ou cura.

Santo Agostinho, o meditador do SUMO BEM, não foi lido e se foi lido não foi compreendido. Na ordem precária do diabo, o medo é o combustível da fé. A doença, longe de constituir a vida de quem vive, perde seu caráter contraditório, para ser obra do diabo. Sem a presença do diabo, origem e princípio do medo, não se ganha dinheiro. Padre que não fala do diabo, não tem público, fama nem riqueza. É preciso exorcizar deus das almas dos infelizes, do que encorajar as pessoas a se confrontarem com a maior arte a ser construída, ou seja, a arte de viver a vida. como nos questiona Clarice Lispector: gosta de viver? Viver dói. Como é possível acreditar na existência de Deus e do diabo ao mesmo tempo? Acreditar no diabo como uma força ou entidade que entra em outra pessoa, parece mais com filme de terror. Como é possível alguém estudar por sete anos em um seminário e ter uma narrativa teológica fora da casinha? Qualquer pessoa que faça uso adequado das suas faculdades mentais, sabe que desenvolvimento do Diabo no mundo moderno tem suas raízes na Europa ocidental, particularmente na França e na Inglaterra, entre os séculos XII e XIV. Antes desse período, o Diabo era visto tanto pela cultura popular quanto por grande parte das autoridades religiosas medievais como um ser fracassado e estúpido. Como se não bastasse a pregação da presença do diabo, a batina preta dá um tom de autoridade suprema. O diabo pode até ser poderoso, mas o da batina preta tem mais poder.

A batina preta é a visibilidade do poder de comando sobre o diabo e o divino. Conversando com uma paroquiana nestes dias, ela me dizia: quando chega o padre com batina preta, fico tremendo de medo. Mas intimidar o fiel e impor autoridade sobre deus e o diabo é o papel simbólico da batina preta.

O padre age em nome de deus sobre o diabo seu criado. Deus é o atrativo e o diabo a narrativa. Os padres sofistas agem em nome deste e da igreja. Não sabemos se é igreja católica, universal do reino de deus, pentecostal ou alguma seita capitalista. Não importa a diferenciação, pois o diabo as une ao redor do dinheiro. Tenho dó do diabo, pois se não fosse ele, os padres não teriam o que fazer, de modo que teriam que trabalhar pra ganhar dinheiro.

O dinheiro tem a força de moldar o poder das autoridades. Viver como autoridade tem custos elevados. Além disso, a autoridade tem necessidade psicológica, necessidade vestuária e seu estúdio de maquiagem para que a aparência consiga esconder aquilo que a batina preta não conseguiu esconder. Se a batina preta não fosse usada para esconder doenças variadas, já teria sido apresentada na fashion week, pois batina preta, exorcismo e dinheiro se tornam, diabolicamente, uma combinação perfeita.

O niilismo é isso: a falta de paixão por algo mais profundo, por horizontes mais além do visto, do pensado e compreendido. Nesta noite escura (S. J. Da Cruz), resta apenas a experiência de um deus morto e sem sentido (Nietzche).

Imagem: Apostolado Litúrgico, s/d: https://apostoladoliturgico.com.br/origem-da-batina/

Em audiência, Paulo Paim lembra papel de Josué de Castro no combate à fome

Assegurar políticas públicas estruturantes e efetivas de combate à fome, buscar a soberania alimentar com a construção de sistemas alimentares saudáveis e justos, alimentando cinco milhões de brasileiros. Esse é o objetivo da Missão Josué de Castro, apresentada nesta segunda-feira (11) durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH).

Confira o álbum de fotografias da audiência pública

A divulgação foi feita por representantes dos movimentos sociais, do governo federal e pesquisadores para alertar sobre a necessidade de se priorizar o combate à fome na agenda política. Para dar mais simbolismo à audiência, os representantes dos movimentos sociais colocaram pratos vazios sobre a mesa dos trabalhos. Posteriormente, os utensílios foram usados para exibir alimentos produzidos pela agricultura familiar e o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).

A missão, que nasceu como resultado da mobilização dos movimentos sociais, tem o propósito de alimentar cinco milhões de pessoas a partir de sistemas alimentares de base familiar, camponesa, agroecológica, solidária e com o estabelecimento de circuitos curtos de abastecimento.

O presidente da CDH e propositor da audiência pública, senador Paulo Paim (PT-RS), alertou para o cenário de fome no Brasil. Para ele, é inadmissível que mais de 60 milhões de brasileiros vivam na pobreza, e cerca de 12 milhões na extrema pobreza, enquanto o país se coloca como o maior produtor e exportador de alimentos no mundo.

“A mensagem de Josué ecoa no centro da consciência coletiva. A fome não é um acidente, mas sim uma manifestação de silêncios deliberados e portanto de injustiças estruturais. Ele nos desafia a questionar as causas dessa conspiração de silêncio que perpetua a fome instigando-nos a agir com coragem e determinação”, disse Paim, referindo-se a Josué de Castro (1908-1973), médico, escritor, geógrafo, cientista social, político e diplomata, que se notabilizou por estudos e esforços voltados ao combate à fome.

A representante da FASE, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Maria Emília Lisboa Pacheco, reconheceu a importância da retomada dos conselhos, pelo governo Lula, o que, na avaliação dela, vem reforçando as ações de defesa de uma plataforma mundial de combate à fome.

Ela disse esperar que a a missão seja uma resposta para a construção da soberania alimentar aliando políticas que incentivem a agroecologia, a preservação ambiental promovendo justiças ambiental, alimentar e social.

“É preciso refletir de forma crítica porque é preciso ver que essa produção baseada em monocultivos e da destruição do meio ambiente não pode nos dizer que estamos alimentando o mundo. Todo o tempo nós temos que nos perguntar o que estamos ou o que não estamos comendo. Nessa complexidade é preciso associar a relação entre saúde, meio ambiente e alimentação. São interdependentes para garantir a justiça social, a justiça ambiental e alimentar”, disse.

Plataforma

Entre outras ações que estruturam a Missão Josué de Castro a plataforma engloba a articulação de uma ampla rede popular de abastecimento e acesso alimentar; a construção de infraestrutura produtiva, de processamento e integração logística; a transição energética e carbono positivo; capacitação e inovação social e tecnológica; elaboração e efetivação de uma estratégia de comunicação, cultura e arte; eficiência na gestão e governança.

Os participantes enfatizaram que para ser efetiva, além da ampla participação social, a missão precisa ter conexões com o poder público. Eles observaram que a fome no Brasil e no mundo possui raízes estruturantes, é resultado de um processo econômico e social que exclui e mata, sendo a concentração de terras a principal causa desse cenário. Dados apresentados pelos participantes indicam que 77% das terras agricultáveis no Brasil estão em propriedade do agronegócio.

“A sociedade em que vivemos, a agricultura hoje tem novas complexidades. Nós precisamos ligar alimento à saúde, nós precisamos olhar para a crise climática, nós precisamos não só produzir comida, mas produzir ar puro, água pura. E o projeto de alimentar cinco milhões, a Missão Josué de Castro, procura integrar holisticamente um conjunto de políticas públicas que interajam entre elas”, defendeu Frei Sergio Antônio Gorgen, coordenador nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Alimentação saudável

Na opinião dos debatedores, essa política pública de combate à fome no Brasil também precisa estar atenta à diversidade da composição da cesta básica, a garantia das isenções tributárias desses itens, como também oferecer uma legislação que viabilize o acesso a produtos mais saudáveis e naturais contra qualquer benefício à produtos industrializados e processados.

“No Brasil, o consumo desses alimentos [processados] vem aumentando nas últimas décadas e mais intensamente entre as famílias de menor renda. É importante ressaltar que a partir de 2023 esses produtos já são mais baratos do que alimentos frescos no Brasil, como carnes, leites, frutas, entre outros. E tal fato tem consequências desastrosas para o Estado e para a sociedade brasileira. Apenas o excesso de peso, uma das condições diretamente ligadas ao consumo de ultraprocessados, representa um custo direto anual de R$ 1,5 bilhão para o tratamento de doenças não transmissíveis no SUS”, alertou a pesquisadora e representante da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Universidade de São Paulo (USP), Fernanda Marrocos.

Agricultura familiar

Os representantes do governo federal foram unânimes em reconhecer que o país só vai conseguir implantar uma Política Nacional de Abastecimento Popular ouvindo a sociedade e garantindo o orçamento necessário para priorizar esse plano.

O Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem priorizado investimentos e ações para estimular a agricultura familiar através de programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa de Compras Institucionais e a retomada da reforma agrária. Além disso, ele citou a garantia da oferta de crédito por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o programa para aquisição de novas máquinas.

“Qual é o programa de compras mais virtuoso da agricultura familiar? É o PAA, é o Programa de Aquisição de Alimentos. Você compra do agricultor familiar e faz a doação naquelas comunidades mais vulneráveis. Nós finalizamos o ano de 2023 com R$ 1 bilhão. Só para vocês terem um dado comparativo, em 2022 foram gastos 60 milhões. E esse é um programa pelo qual nós passamos a comprar dos mais pobres, passamos a comprar de comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas, assentados da reforma agrária, mulheres. Quase 75% dos programas no Nordeste são feitos por mulheres. Enfim, o PAA chegou na base, e é por isso que a gente quer a recomposição do seu orçamento em 2024, para ter o mesmo desempenho ou melhor que em 2023”, explicou o ministro.

Mais investimento

Em 2023, segundo dados Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foram direcionados R$ 364,2 bilhões em crédito para o agronegócio através do Plano Safra, enquanto R$ 71,6 bilhões em crédito foram para a agricultura familiar.

Na visão da presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), Elisabetta Recine, o apoio do poder precisa ficar evidente, inclusive na redução dessas desigualdades orçamentárias.

“É muito importante que a gente saiba que nenhum direito está garantido por si, mas a partir da mobilização, do alerta, da resistência e resiliência dos povos. E o direito à alimentação na nossa Constituição é um desses exemplos. A gente precisa ficar atento para que esse direito não só continue explicitamente no nosso texto constitucional mas que ele vire realidade no cotidiano da política pública, na destinação de orçamento, na articulação de metas”, destacou Elisabetta.

Cooperativismo

A superintendente de Desenvolvimento Social e Gestão Pública do BNDES, Ana Cristina Rodrigues da Costa, informou que a entidade tem priorizado cada vez mais a parceria com o cooperativismo de crédito como instrumento de apoio à agricultura familiar sustentável, no Plano Safra. Segundo Ana Cristina, nove entidades já estão credenciadas para que o pequeno produtor tenha mais possibilidade de acesso a linha de crédito.

“Em 2023, houve um resultado histórico para o cooperativismo: três entre as quatro maiores repassadoras do BNDES, pela primeira vez na história, foram as cooperativas de crédito. Com isso, queremos estender ainda mais o Plano Safra com a sua própria revisão voltada tanto para a Região Nordeste quanto também para o fomento à agroecologia, em que queremos buscar, com o aumento dessa nossa capitalidade, via também o cooperativismo de crédito, aumentar a nossa atuação. Cerca de 59% do total de aprovações no Plano Safra foram para as cooperativas. Os bancos cooperativos já aprovaram R$ 3,4 bilhões para mais de 102 mil operações no período 2023/2024”, disse Ana Cristina.

Josué de Castro

Josué Apolônio de Castro nasceu em Recife e teve como último cargo o de embaixador brasileiro junto à ONU. Reconhecido mundialmente por sua luta contra a fome, foi autor de mais de 30 obras, sendo Geografia da Fome: A Fome no Brasil, lançada em 1946, uma das mais destacadas. O livro apresenta um retrato trágico da situação da fome no país e suas raízes profundas. Já a missão que leva o seu nome foi anunciada por movimentos sociais em dezembro de 2023, durante a plenária de encerramento da 6ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, que aconteceu em Brasília.

Estudioso e ativista, Castro foi um pioneiro nas pesquisas e batalhas para eliminar a desnutrição e o subdesenvolvimento. Depois de muitos anos dedicados ao ensino, chegou a exercer a Presidência do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Seu prestígio o levou a receber diversos prêmios, entre os quais a comenda Franklin D. Roosevelt da Academia de Ciências Políticas dos Estados Unidos. Já o Conselho Mundial da Paz lhe ofereceu o Prêmio Internacional da Paz e o governo francês o condecorou como Oficial da Legião de Honra. Foi ainda indicado ao Nobel da Paz nos anos de 1953, 1963, 1964, 1965 e 1970.

Esse lastro, no entanto, não o livrou da perseguição pelo regime militar (1964-1984). Logo após o golpe, teve seus direitos políticos suspensos pela ditadura.

Sua ligação com o tema da fome tem raízes históricas e pessoais. Seu pai migrou para Recife saindo de Cabaceiras, na Paraíba, durante a grande seca de 1877. Sua mãe teve como origem a zona da mata pernambucana. Mestiço, Castro cresceu nas proximidades dos mangues de Recife, em área de mocambos, habitações miseráveis, habitada por retirantes que dividiam o espaço comcaranguejos. Aos 20 anos formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

Apesar de uma inclinação pela psiquiatria, especializou-se em nutrição e abriu sua clínica no Recife. Contratado por uma fábrica para examinar trabalhadores apontados como preguiçosos, foi taxativo: “A doença desta gente é fome”. Ao ser demitido da emprego, abriu os olhos para a dimensão social da desnutrição e falta de vitalidade, então ocultada por preconceitos ligados à raça e ao clima tropical.

Foi então que, segundo o Projeto Memória, executou uma investigação inédita no Brasil, relacionando a produtividade com a alimentação do trabalhador, que teria sido um dos pliares para a estruturação do salário mínimo. A partir de 1940, participou de todos os projetos governamentais ligados à alimentação, coordenando a implantação dos primeiros restaurantes populares, durante o governo Vargas e outras políticas públicas voltadas á alimentação. em 1946, depois do lançamento de Geografia da Fome, fundou e foi o primeiro diretor do Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil,  além de efetivar-se, no ano seguinte, como professor de Geografia Humana na Universidade do Brasil.

Com Geopolítica da fome, publicado em 1951, transpôs os princípios ecológicos e geográficos do sua primeira obra de sucesso para uma escala da fome mundial. Posicionou-se, assim contra as visões demográficas que interpretavam a fome como resultado da explosão populacional e receitavam o controle da natalidade como solução para o problema. Corrigiu, desse modo, a perspectiva da fome como um fenômeno natural, clareando o contexto biológico, geográfico, cultural e político no qual a fome gera a superpopulação.

Em razão de visões como esta, enfrentou oposição de países desenvolvidos à execução de projetos voltados para o desenvolvimento do terceiro mundo e frustrou-se com ma ação efetiva da agência da ONU nesse campo. Seu ativismo também o levou ao campo político partidário, tendo exercido dois mandatos como Deputado federal pelo antigo PTB, de 1955 a 1962, representando o Estado de Pernambuco. Apresentou diversos projetos relacionados a questões agrárias, educacionais, culturais e econômicas. Um deles foi o de regulamentação da profissão de nutricionista, que dispõe sobre o ensino superior de Nutrição. Outro foi o de um plano de reforma agrária. Em 1963, tornou-se embaixador brasileiro junto à sede europeia da Organização das Nações Unidas, em Genebra. Na época teve projeção internacional e dialogava com chefes de Estado e monarcas. Suas palestras chegaram areunir plateias de até 3 500 pessoas.

Impedido de morar no Brasil pela ditadura, exilou-se em Paris onde lecionou até a morte no Centro Universitário de Vincennes (Universidade de Paris VIII)  e fundou e dirigiu o Centro Internacional para o Desenvolvimento.

Fonte. PT no Senado

Arte de vivir

Esto del arte es la parte que creo que más me rescata

Sé que esto sucede también con otras personas

Es tener una dirección adonde ir

Es saber que siempre hay una posibilidad, una salida

Es rehacer el presente y el pasado

Pasar a limpio a nuestro favor

Dejar de estar a merced de lo que pueda sofocarnos

O robarnos la alegría de vivir.

Recupero la perspectiva de quien soy y donde estoy

Cada instante es precioso.

O sentido da consciência

Esta revista nasceu num formato de diário.

Um diário é um espaço de espelhamento.

O recolhimento da vida diária.

O lugar onde dizemos o que dizemos somente para nós mesmos(as).

Tratamos de manter este tom, que se revela e se expressa, no entanto, de diversas maneiras.

Além do mundo que nos chega de longe, dos governos e instituições, o estado, as igrejas, os partidos, as organizações, existe o mundo do vivido.

A vida de cada dia.

Este é o nosso foco, que não desdiz (e nem poderia) do estrutural. A sociedade de classes, o capitalismo, a exploração, a alienação, a opressão, a injustiça, o que parece imutável.

Nada é imutável quando se tem consciência.

Esta é a nossa aposta.

No meio de todas as circunstâncias, existe o poder e a capacidade, a possibilidade, da libertação.

Não existe fatalismo nem resignação que possam nos convencer de que estamos condenados, condenadas.

Abrir a percepção, despertar a consciência, relembrar ás pessoas do que somos capazes quando voltamos a nós mesmos(as).

Nada como um dia após o outro. É a chance de recomeçar.

A força da comunidade, o poder da recordação da própria história.