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Lula participa do ato de 1º de Maio em São Paulo

Evento é organizado pelas principais centrais sindicais do país e pode ser assistido aqui no site. Veja também lista de atos marcados pelo país

Neste domingo, 1º de maio, os trabalhadores brasileiros não têm motivos para comemorar. Segundo dados do FMI, o país terá este ano a segunda maior taxa de desemprego do G20, com um índice de desocupados quase duas vezes maior que a média mundial.

Já a taxa de informalidade se mantém nas alturas, sendo a realidade de 38,2 milhões de pessoas, e aqueles que conseguem trabalho ganham cada vez menos: em um ano, o salário inicial médio caiu de de R$ 2.018,60 para R$ 1.872,07.

Sem ter o que celebrar, os trabalhadores vão à luta, nas ruas do país. Unidas, as centrais sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST, Intersindical Central da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor realizam atos em todo o Brasil (confira lista de locais ao fim desta matéria).

Em São Paulo, o evento ocorre na Praça Charles Miller, no Pacaembu, a partir das 10h. O ex-presidente Lula e várias lideranças do PT confirmaram presença. O ato, que contará ainda com apresentações musicais, terá transmissão pela TvPT. Para assistir, basta clicar no vídeo abaixo.

Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a presença dos trabalhadores nos atos nunca foi tão importante. “Neste 1º de Maio temos de reunir milhares de trabalhadores e trabalhadoras e fazer um grande ato para mostrar, ao país e ao mundo, que a classe trabalhadora quer o Brasil com outro rumo, um Brasil com emprego, com desenvolvimento, com salário, direitos, proteção social, desenvolvimento sustentável, respeito à democracia e à soberania”, disse.

É por desejar transformação que as principais centrais sindicais já declararam apoio à pré-candidatura de Lula à Presidência da República. Não é para menos. Quando presidiu o país, Lula colocou em prática políticas de investimento e distribuição de renda que, ao final do seu governo e do de Dilma Rousseff, geraram 22 milhões de empregos formais e um aumento real do salário mínimo de mais de 74% (assista ao vídeo abaixo). Como disse o ex-metalúrgico na sexta-feira (29): “Nós sabemos como acabar com a fome, nós sabemos como diminuir a pobreza, nós sabemos como inserir o povo no mercado de trabalho”.

Participe das manifestações

Confira onde ocorrerão atos do 1° de Maio no país:

Alagoas

Em Maceió, o ato começa às 9h, em frente ao Clube CRB, na Pajuçara. Como subtema, Alagoas escolheu “Por um país sem fome e sem miséria”. A celebração terá participação de movimentos populares, partidos e centrais sindicais.

Bahia

Em Salvador, o ato é no Farol da Barra durante todo o dia. Na parte da manhã uma carreta da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) oferecerá à população serviços como emissão do título de eleitor. O ato político está programado para às 15h com lideranças sindicais, políticas e trabalhadores.

Ceará

Em Fortaleza, a celebração tem início às 9h, na Areninha do Pirambu, com concentração para a marcha dos trabalhadores que percorrerá as principais ruas do bairro em direção à Vila do Mar, na Barra do Ceará, onde será realizado o encerramento com ato político e cultural.

Distrito Federal

Em Brasília, a celebração começa às 16h, no estacionamento da Funarte. A atividade contará com show da artista Ale Terribili, que vai homenagear Gonzaguinha, além da pré-estreia exclusiva do documentário de Max Alvin: “O povo pode?”.

Goiás

Em Goiânia, o ato começa às 9h, na Praça do Trabalhador.

Paraná

Em Foz do Iguaçú, será realizada uma atividade internacional com a CUT, centrais sindicais do Brasil, Argentina e Paraguai, com apoio da Confederação dos Trabalhadores das Américas (CSA). O ato começa às 10h, na Praça da Paz, no centro da cidade. Na véspera, dia 30 de abril, será realizado um seminário internacional sobre a situação da classe trabalhadora na América Latina.

Rio de Janeiro

Na capital fluminense, o ato será às 10h da manhã no Aterro do Flamengo, altura da Rua Silveira Martins, com atrações a serem confirmadas.

Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre, será realizado um ato cultural a partir das 10h, no Espelho D´Água (Parque da Redenção). A revogação do Teto de Gastos e das reformas Trabalhista e da Previdência serão destaques na celebração.

Santa Catarina

Em Florianópolishaverá atrações culturais, atividades de lazer e almoço no Largo da Alfândega, a partir das 10h.

Em ChapecóCafé cultural do Dia do Trabalhador, com música, poesia e roda de conversa, no CERCOM (Sede Campestre SINDICOM), às 15h.

Em São Miguel do Oeste para marcar os 18 anos de atuação do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas, haverá uma programação com atividades culturais, música, almoço, bingo, das 9h às 14h, no Bairro São Sebastião.

Em Criciúma, Festival da Democraciacelebração que ocorre no sábado (30), das 14h às 21h, com música, atividades de lazer, debates políticos e piquenique coletivo.

São Paulo

O ato na capital paulista será na Praça Charles Muller, no Pacaembu, a partir das 10h. Entre lideranças sindicais, políticas e religiosas, além de outras personalidades, estarão no palco das centrais grandes atrações como a cantora Daniela Mercury, Leci Brandão. Dexter, Francisco El Hombre e DJ KL Jay, além de outras a serem confirmadas.

Em Sorocaba, no interior do estado, a celebração será no Parque das Águas, das 14h às 22h. O ato contará com atrações como Emicida, Francisco El Hombre, Fernanda Teka e Flor Maria e Luca & Marcelo, além de Flavinho Batucada.

Fonte: PT

Centrais sindicais anunciam “lockdown da classe trabalhadora” no dia 24 de março

O Fórum das Centrais Sindicais, que reúne dirigentes de todas as regiões do país, anunciou esta semana um “lockdown da classe trabalhadora” na próxima quarta-feira (24). A ideia é cruzar os braços por 24h em defesa da vida, por vacinas, auxílio emergencial de R$ 600, empregos e contra as privatizações do governo Bolsonaro.

A convocatória ocorre no auge da pandemia de covid-19 no Brasil, que ultrapassou a média de 2 mil mortes por dia.

A ideia do protesto simbólico surgiu a partir do calendário da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que já previa um Dia Nacional de Lutas na próxima quarta. A proposta foi abraçada pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo e pelas demais centrais.

As entidades que convocam o “lockdown” preparam um manifesto nacional, que será divulgado nos próximos dias.

“O agravamento da pandemia exige uma resposta contundente ao desgoverno Bolsonaro e ficar em casa, sem trabalhar, mesmo se o trabalhador estiver em home office é a ação que mais vai atingir o presidente, um negacionista que briga com os governadores que adotam medidas de restrição de circulação para conter a propagação do vírus”, diz texto divulgado pela CUT.

“Um lockdown de, no mínimo, 24 horas é para ficar em casa, é um dia de reflexão sobre o que acontece no Brasil. É pela vida, pela vacina, é para que o país mude seu rumo. Estamos perto de chegar a 300 mil mortes e, segundo especialistas, se até o início do inverno 80% da população não estiver vacinada será o caos no Brasil”, afirma o presidente da central, Sérgio Nobre.

Até a última quarta-feira (17), o Brasil registrou 284,7 mil óbitos por covid-19.

Edição: Rodrigo Chagas

Fonte: Brasil de Fato

Presencia de Elias Cândido

Hoy es el día siguiente. Me trato de acostumbrar a mantener un cierto tiempo de espera frente a la partida de una persona amiga. Dejar que vaya llegando el sentimiento de qué es lo que esta persona dejó en mí, que la muerte no irá a borrar.

Me cuesta todavía pensar que no volveré a verte, Elías. Una parte mía se fue con vos. Quedará tu risa, quedará tu manera clara y directa de hablar, tu sentimiento de solidaridad incansable. La transparecia de tu alma, que llegaba de manera imediata a mi interior.

¡Cómo aprecio la simplicidad con que andabas entre nosotrxs! Sin ningún rebusque. ¡Cómo es grande el impacto de quien actúa por presencia! Esto es lo que me quedará de vos, Elías, sobre todo. Tu presencia. Ella me va a acompañar hasta que me toque a mí también ir hacia el lugar donde estás.

Docentes do Rio de Janeiro em greve

Os profissionais das redes públicas da educação estadual e municipal do Rio de Janeiro decidiram, em assembleia realizada na semana passada, entrar em greve nesta segunda-feira passada (12).
Segundo o Sindicato da categoria, o SEPE, os governos do estado e do município, até agora, não atenderam às reivindicações da categoria e nem cumpriram os compromissos firmados no ano passado.
As duas redes possuem 140 mil professores e funcionários. O piso do professor da rede municipal é de R$ 1.587,00. Os funcionários recebem de piso R$ 937,00. Na rede estadual, o professor recebe um piso de R$ 1.081,00 e o funcionário R$ 903,00.
Esses trabalhadores unificaram a pauta e reivindicam plano de carreira; reajuste linear de 20% com paridade para os aposentados; são contra a meritocracia e pela autonomia pedagógica; contra a privatização da educação; contra o repasse das verbas para empresas, bancos, organizações Sociais, fundações; fim da terceirização; cumprimento de 1/3 de planejamento extraclasse Já!; 30 horas para os funcionários administrativos, já!; eleição direta para diretores; uma matrícula por escola; equiparação salarial; reconhecimento do cargo de cozinheira (o) escolar; 15% de reajuste entre níveis; convocação imediata dos aprovados no concurso para professor de 40 horas da rede municipal do Rio.
De acordo com o Sepe, outras redes municipais entre as quais São Gonçalo, Duque de Caxias e Niterói estão em greve ou se mobilizando, com uma pauta de reivindicações semelhante.
Nesta quarta-feira (14), ocorrerá o Conselho deliberativo, 18h, na sede do Sepe. Na quinta (15) será realizada a assembleia unificada da categoria, às 11h, Clube Municipal, com ato público.

Brasil é questionado por especialistas da OIT sobre condições de trabalho em diversos setores

Foto: Sepe Rio

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou, no fim de fevereiro, informe da Comissão de Peritos responsável por examinar a aplicação de convenções e recomendações da OIT pelos Estados-membros. No relatório, as questões mais levantadas sobre o Brasil estão relacionadas à saúde, segurança e ambiente de trabalho.
A Comissão disse estar atenta às alegações de práticas antissindicais nos setores da comunicação, bancário e farmacêutico denunciadas pela Confederação Sindical Internacional (CSI) e pela Central Única dos Trabalhadores em 2013.
O grupo quer que o governo brasileiro envie comentários sobre as acusações e comunique à ONU sobre os resultados das investigações criminais dos assassinatos de líderes sindicais também mencionados pelo CSI.
Além disso, lembrando que os trabalhadores que não estiverem envolvidos na administração do Estado têm o direito à negociação coletiva, o Comitê pede que o governo informe se já existe uma lei que dê esse direito aos trabalhadores brasileiros.
“O Comitê lamenta a falta de informação por parte do governo e solicita-lhe, mais uma vez, que tome medidas para revogar qualquer disposição legal ou constitucional que limite o direito à negociação coletiva”, disse o informe do grupo.
Inspeção do trabalho
A Comissão observou que o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Trabalho e Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro emitiu um comunicado afirmando que os agentes de segurança e saúde no trabalho estão sendo vítimas de assédio por parte da Secretaria de Inspeção do Trabalho, a qual são tecnicamente subordinados.
Segundo o sindicato, a agressão psicológica desses agentes é instigada pelo diretor da Inspeção Federal do Ministério do Trabalho. Essa prática pretende fazer com que os trabalhos desses agentes sejam insustentáveis e desnecessários perante a inspeção federal.
O assédio acontece por meio do bloqueio constante e sistemático da avaliação funcional e dos salários dos agentes especializados em inspeção do trabalho, impedindo que eles alcancem postos de trabalho superiores; da discriminação por nível educacional; do impedimento dos agentes para participar das equipes nacionais para a prevenção do trabalho escravo; da recusa de emissão de prêmios de desempenho para os agentes; dentre outras atitudes.
Além disso, a Comissão observou que o governo tinha indicado que a eliminação do trabalho infantil é o objetivo principal de um conjunto de políticas públicas voltadas para a promoção dos direitos humanos, inclusão social e desenvolvimento equitativo.
O aumento das atividades de inspeção a partir de 2006 contrasta com a diminuição do número total de crianças e adolescentes retirados do trabalho na mesma época. Isto é explicado pelo aumento da cobertura e eficácia da inspeção combinada com outras ações de promoção social e tendência de queda da atividade infantil.
Sobre os acidentes de trabalho, o grupo de peritos observou que há uma melhora no sistema de registro e identificação desses acidentes no país. Segundo o governo, o número de acidentes varia de ano para ano sem tendências claras, exceto em 2004, quando a tendência esteve elevada. Também indicou que o crescimento da economia nos últimos anos e a expansão das vagas de emprego poderiam impactar em mais acidentes.
A Comissão pediu que o governo informe em seu próximo relatório os resultados das inspeções realizadas contra o trabalho escravo, infantil e outros tipos de infrações. Além disso, cobrou das autoridades brasileiras informações sobre o julgamento dos culpados pelo assassinato de três inspetores do trabalho e do motorista do Ministério do Trabalho e do Emprego em 2004.
Segurança e saúde dos trabalhadores
A Comissão disse estar atenta também em relação ao comunicado expedido pela Federação das Indústrias Extrativas do Estado de Minas Gerais sobre o problema da saúde e da segurança dos trabalhadores empregados ou terceirizados pela empresa Celulose Nipo-Brasileira S.A., que opera no estado nas áreas de reflorestamento, silvicultura e extração vegetal. A Federação acredita que a terceirização ilegal esteja relacionada a graves situações de risco à saúde e à segurança dos trabalhadores, especialmente no setor florestal, cujo número de acidentes de trabalho aumentou em 2012.
Diante desta situação, a Comissão convida o governo a fornecer uma explicação sobre a situação dos trabalhadores de Minas Gerais.
Discriminação no mercado de trabalho
A Comissão elogiou a aprovação da emenda constitucional brasileira que amplia a proteção dos direitos dos trabalhadores domésticos. Segundo o grupo, essa alteração resguarda os trabalhadores contra a discriminação com base no gênero, na idade, na raça/etnia ou no estado civil na hora da contratação e da fixação do salário.
Em relação ao projeto de lei sobre a igualdade e a eliminação da discriminação, que ainda não foi aprovado por causa de diferenças entre a Secretaria de Políticas para as Mulheres e outros órgãos do Governo Federal relativas ao conteúdo da lei, o Comitê pediu que o governo comunique qualquer novidade sobre o assunto.
O grupo de peritos ainda quer que o Brasil divulgue informações sobre os impactos práticos da lei que amplia a proteção dos trabalhadores domésticos e sobre a implementação e impacto do Estatuto de Igualdade Racial.
Eles ainda salientam que informações estatísticas baseadas na Convenção sobre Igualdade de Remuneração indicam que trabalhadores negros, indígenas e mestiços continuam recebendo salários mais baixos do que os trabalhadores brancos, sendo que as mulheres recebem menos ainda. Assim, a Comissão solicitou que o governo intensifique seus esforços para combater a discriminação baseada no gênero, raça e etnia.
Convenção sobre Povos Indígenas e Tribos
Segundo o governo brasileiro, várias reuniões foram feitas com comunidades quilombolas e povos indígenas para se chegar a um consenso sobre os princípios e procedimentos a serem adotados para a plena implementação da Convenção.
A Comissão pediu que o governo dê informações para que ela possa analisar se a legislação está assegurando a efetiva participação dos povos indígenas na tomada de decisões que podem afetar as suas tribos.
Por fim, a Comissão lamenta que o governo brasileiro não tenha respondido às suas observações anteriores sobre a recomendação de criação de empregos em pequenas e médias empresas, sobre a promoção das cooperativas, a Lista de Doenças Profissionais e o desenvolvimento de recursos humanos no país.
Para ler o estudo na íntegra em espanhol, clique aqui.

Ameaçada desde 1996, Regina sonha viver em paz

Ismael Machado

Em Eldorado dos Carajás, a migrante cearense que preside o sindicato rural vive escoltada por dois companheiros e não pode conviver com os netos para não expô-los ao risco

Em dezembro de 2011, Maria Regina Gonçalves percebeu que a paz não fazia mais parte do seu cotidiano. Em um show dos ídolos Zezé di Camargo e Luciano no município de Eldorado dos Carajás, no Pará, Regina se viu mais atenta à plateia do que ao espetáculo, procurando em olhares e gestos uma atitude suspeita. “Se alguém chegava perto ou me olhava um pouco mais eu ficava nervosa. Praticamente não me diverti naquela noite”, diz ela.

Maria Regina preside o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Eldorado dos Carajás, a 770 km de Belém. Vive sob ameaças constantes e atualmente não anda sem a proteção de pelo menos dois outros dirigentes sindicais, que se dispuseram a atuar como seguranças informais de Regina.

As ameaças vieram depois que o sindicato passou a organizar as 4 mil famílias espalhadas por 22 projetos de assentamento no município, localizado em uma região rica em minérios e com grandes fazendas de pecuária. Como os projetos ainda não foram titulados, embora tenham sido regularizados no Incra, as famílias receberam um contrato de concessão de uso – título provisório, mas que permite a obtenção de financiamento para a produção.

Enquanto os títulos definitivos não saem, porém, há fazendeiros se apropriando das terras, cercando os assentamentos, comprando lotes de posseiros e fazendo pressão para que os agricultores abandonem os terrenos.

“Virou concentração de terras de fazendeiros, eu mesma estou cercada por três lotes que estão nas mãos deles. O recado que os agricultores ouvem é que se os fazendeiros não comprarem a terra dos trabalhadores, compram das viúvas”, diz Maria Regina, no quintal da sede sindical, sob o olhar atento dos dois seguranças.

Não é uma compra legal, já que não se pode adquirir lotes de assentamentos destinados à reforma agrária. Mas a lei não é seguida à risca em um município conhecido mundialmente pela matança de 19 trabalhadores sem terra pelas polícias militares de Marabá e Parauapebas em 1996, em um local conhecido como Curva do S.

Com pouco mais de 2.900 quilômetros quadrados – 70% em área rural – o município de Eldorado de Carajás se desenvolveu a partir do garimpo e da pecuária, sempre com conflitos pela posse da terra. Entre 1982 e 1996 mais de 50 trabalhadores rurais foram assassinados, contabiliza Regina. “Sempre foi um ‘deus nos acuda’ que culminou com a chacina da Curva do S”, diz.

A trajetória de Maria Regina é uma história de migração como a de muitos que ali vivem. Nasceu no Ceará em um lugar árido e sem perspectivas conhecido como ‘Cabeça de Onça’. Quando a fome roncou mais alto, a família dela se mudou para um lugarejo chamado Barra do Corda, no Maranhão, em março de 1973. Mas o destino pouco mudou: “Eu tinha dez anos e ajudava meu pai na roça. Era um sofrimento, não tinha água, minha mãe chorava quando eu pedia comida e não tinha. Eu não tinha o sentimento de entender”. Regina era a mais velha de oito irmãos na época. Depois chegariam mais quatro. “A gente vivia na miséria nesse lugar. Meu pai queria se libertar disso”.

A libertação da pobreza viria da Amazônia, pelo menos foi isso que um tio anunciou em tom de novidade. “Esse tio tinha um rádio de pilha. Nós, só a vida mesmo. E ele trouxe o rádio pra gente ouvir a Voz do Brasil. A gente reunia ao redor do rádio e ouvia a propaganda sobre a Amazônia. Meu pai decidiu vir atrás de terra”.

A primeira parada foi no garimpo. O pai de Regina foi sozinho ao Pará e nos dois primeiros anos da década de 80 chafurdou na lama de Serra Pelada em busca de ouro. Não teve sorte. O pouco que conseguiu foi roubado. Ouviu falar de um projeto de assentamento em Pedra Furada, a 22 km da sede do município, em uma aréa que fazia parte de Curionópolis, depois incorporada pelo município de Eldorado dos Carajás, emancipado em 1987.

O pai conseguiu um lote por desistência de um posseiro, mas acabou expulso primeiro pela polícia, depois pelos pistoleiros. “Meu pai dizia que saiu sentindo a bala nas costas, porque as armas estavam engatilhadas. Ele andou escondido da polícia por cinco anos, porque desde o início ele se colocava na frente, brigava mesmo”, conta Regina.

Enquanto o pai lutava para conseguir um pedaço de chão, Regina continuava no Maranhão. Logo no primeiro ano, em 1982, casou, e numa terra arrendada, plantou sozinha um alqueire de arroz e milho. Naquele ano a água não veio e toda a produção foi perdida. Batia o desespero.

Em 1986 Regina visitou o pai. Ele havia sofrido mais um despejo, com pistoleiros queimando tudo, matando animais. “Quando cheguei vi minha família, meu pai, minha mãe, toda judiada, torturada, me assustei e voltei pro Maranhão”.

Por pouco tempo. Os agricultores despejados ocuparam o Incra em Marabá e conseguiram voltar para as terras em novembro de 1986. Em fevereiro de 1987, os fazendeiros passaram a ocupar mais lotes e a guerra entre pistoleiros e posseiros tornou-se aberta.

A essa altura, Regina já estava de mudança para o Pará, acompanhando de perto a luta do pai e de outros companheiros pela posse e regularização dos lotes de terra, ainda hoje nas mãos da família. Em 1992, Arnaldo Delcídio Ferreira, respeitada liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Eldorado, foi executado por pistoleiros. Sete anos antes, em abril de 1985, ele havia se ferido e sobrevivido a um ataque de pistoleiros no Terminal Rodoviário de Eldorado, que acabou atingindo mortalmente a freira Adelaide Molinari.

A morte de Arnaldo marcou profundamente Regina, que entrou de cabeça na luta pela terra. “Eu me descobri no coletivo quando conheci o trabalho do Arnaldo, sempre se solidarizando com as pessoas pobres. Comecei a ter uma revolta contra quem manda matar. Só que a vida não para na morte dos que foram assassinados. A gente continua”, diz.

Em 1996 ela assumiu a presidência do Sindicato, depois de ter sido tesoureira e secretária de políticas sociais da organização. “A primeira ocupação, como presidente, foi da fazenda de um homem chamado Geraldo Mendonça”, lembra. Sem abandonar o próprio lote, Regina passou a receber ameaças recorrentes. “Minha filha recebeu uma ligação dizendo que iam matar toda a família. Passei a viver o tempo todo assombrada”.

Ligações desconhecidas se tornaram comuns a partir daí, e as ameaças – veladas ou explícitas – recorrentes. Não a deixaram mais em paz. “Todo mundo que entra no sindicato é suspeito”, diz.

No dia 27 de junho de 2012, nove fazendeiros entraram na sede do sindicato para pressionar Regina. O diálogo mostra o nível de tensão:

“Só viemos falar com ela do risco que ela tá correndo”, disse um fazendeiro.

“ Isso já é uma ameaça”, respondeu Regina.

“A senhora está mobilizando esses sem terra pra invadir as terras”.

“Eu não estou mobilizando ninguém e já disse para o senhor não apontar o dedo para mim”.

Depois desse diálogo ríspido, Maria Regina ouviu rumores sobre a contratação de 60 pistoleiros para fazer a segurança nas fazendas que ficam na estrada em que passa diariamente de moto.“Eu tenho de passar pelo vão de duas dessas fazendas. E nas duas já teve assassinatos. Num, sumiram com o corpo, e no outro o corpo foi encontrado dentro de um poço”.

“Não tem como eu andar nessas condições. Eu não durmo tranquila, passei a ter sempre dois companheiros me protegendo”, conta, confessando o cansaço. Não quer ouvir falar em ocupações de terra. Sente medo. O Sindicato deixou de incentivar maiores mobilizações. “Eu represento um perigo para eles. Os fazendeiros acham que eu sou capaz de mobilizar esse mundaréu de gente e não é bem assim”.

Com cinco filhos e quatro netos, a dirigente sindical quer viver em paz. Os filhos não deixam os netos andarem com ela por conta dos riscos. A mãe, sempre que precisa estar com a filha, fica quase o tempo todo rezando. “Quero paz, para mim e para quem tá comigo. Não é fácil andar apenas com a fé. A gente sabe o poder de uma bala. Por que tem de morrer? Eu não quero morrer, só quero ficar à vontade, tranquila”.

Fonte: Agência Pública

Ameaçada desde 1996, Regina sonha viver em paz

Presidente do CPERS/Sindicato, Rejane de Oliveira, recebe ameaças de morte

João dos Santos e Silva

Na sexta-feira 13, o CPERS/Sindicato recebeu diversas ligações telefônicas de uma mesma pessoa fazendo ameaças à presidente Rejane de Oliveira em virtude de sua participação nas mobilizações que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul. Intercalando insultos e grosserias, essa pessoa ameaçou agredir e matar a presidente.

Imediatamente, a direção do sindicato tomou providências de segurança e identificou o número do telefone utilizado para fazer as ameaças. Acompanhada de advogados e de outros dirigentes da entidade, Rejane registrou Boletim de Ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre.

Para o CPERS/Sindicato, essas ameaças buscam intimidar a luta dos trabalhadores através da perseguição aos dirigentes sindicais que se mantêm independentes de patrões e governos. São reações de cunho fascista de alguém que não se conforma com a onda de lutas aberta no país com as jornadas de junho. Configuram, portanto, um gravíssimo ataque à democracia e à liberdade de organização sindical. E uma ameaça real à vida da presidente do sindicato, que exerce um papel de liderança nas mobilizações em curso no Rio Grande do Sul.

A ampla denúncia dessas ameaças é necessária para impedir qualquer tipo de agressão aos lutadores e, em especial, para preservar a segurança da companheira Rejane. Nossa luta não será intimidada por ameaças fascistas e insanas. O CPERS/Sindicato continuará sua luta intransigente na defesa dos educadores e de uma educação pública de qualidade para os filhos dos trabalhadores do Rio Grande do Sul.

Fonte: CSP-Conlutas

Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo acontece neste final de semana em Paris

Nestes dias 22, 23 e 24 de março organizações e entidades de luta de diversas partes do mundo se reúnem para um Encontro Internacional em Paris, França, para discutir crise econômica mundial e a construção de uma alternativa da classe trabalhadora para tal crise.

De acordo com o membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas Dirceu Travessso, o Didi, que já está em Paris há dez dias preparando a atividade, é a construção dessa alternativa que dará o grande tom do evento. “Construir uma alternativa dos trabalhadores diante da crise econômica do Capitalismo é o que nos une nesta iniciativa”.

O evento conta com a representação de trabalhadores de 24 países – inscritos até agora. São eles: Franca, Espanha (com representação da Catalunha, Galícia e País Basco), Portugal, Itália, Suíça, Alemanha, Bélgica, Grã Bretanha, Turquia, Argélia, Marrocos, Sahara, Egito, Argentina, Paraguai, Chile, Colômbia, Peru, Haiti, Canadá, Quebec, Benin, Brasil e Indonésia, que estarão representados por mais de 200 pessoas.

A delegação brasileira vai com 47 representantes de entidades filiades à CSP-Conlutas e de entidades convidadas. Entre elas, representações de petroleiros, metalúrgicos, servidores públicos, operários da construção, trabalhadores rurais, além de representantes das lutas contra a opressão.

Segundo Dirceu, este encontro é parte de uma caminhada que já vem ocorrendo há alguns anos nos quais as entidades envolvidas têm tentado construir a unidade internacional e buscado coordenar e unificar lutas. “Independente de filiação ou não em alguma central ou organização internacional, o objetivo é que nos somemos para construir a unidade internacional tão necessária para enfrentar os planos imperialistas”, afirma.

O Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo pretende aprofundar as trocas de experiências, debater de maneira livre e democrática as concepções e visões, impulsionar uma Coordenação dos setores independentes e alternativos. “Queremos construir uma rede que desenvolva ações de solidariedade e unidade, articule campanhas e iniciativas comuns, além de divulgar nossas lutas, ações e experiências, como parte do fortalecimento da unidade internacional”, reforça o dirigente brasileiro.

A CSP-Conlutas acredita que este é um passo importante na construção de uma alternativa mundial dos trabalhadores frente às políticas econômicas dos diversos governos diante da crise econômica capitalista. Uma crise que está impondo o desemprego, a falta de perspectiva entre os jovens, fim de direitos trabalhadores conquistados com muita luta, fim da previdência social e tantos outros ataques, fim da política de bem estar social.

“O Brasil não passa pela mesma situação econômica vivenciada pelos países europeus. Mas sabemos que não vivemos isolados. O governo brasileiro também sabe disso e já aplica medidas anti trabalhistas para se precaver”, finaliza Dirceu.

Fonte: CSP-Conlutas

Após greve por melhores condições de trabalho, jornalistas da Caros Amigos são demitidos

Os 11 jornalistas que integraram a redação da Revista e site Caros Amigos foram demitidos nesta segunda-feira (11). O fato ocorreu após a equipe deflagrar greve, na sexta-feira (8), contra a precarização do trabalho e por direitos trabalhistas.

Segundo comunicado emitido pelos jornalistas, o diretor-geral da Revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, convocou os grevistas para uma reunião na segunda-feira e informou que todos estavam sendo demitidos. O diretor usou como justificativa “falta de confiança”.

De acordo com a jornalista demitida Cecília Luedemann, a notícia da demissão surpreendeu a todos. “Domingo recebemos a mensagem por e-mail de que deveríamos comparecer à reunião, na segunda, às 15h. A gente achou que era uma reunião para dialogar e encontrar solução para o problema, mas era um comunicado de demissão”, disse.

O estopim para a paralisação foi o anuncio, na segunda-feira passada, de que haveria um corte de 50% nos salários e que parte da equipe seria demitida. “Quando a gente decidiu pela greve, não vimos outra saída, buscávamos o diálogo que infelizmente não aconteceu, queríamos a permanência da revista com a qualidade que tinha”, ressaltou.

De acordo com o comunicado, a greve foi motivada também “pela ausência de registro na carteira profissional, o não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS, e, agora, o agravamento da situação pela ameaça concreta de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe”.

Diversas entidades da mídia alternativa manifestaram apoio aos jornalistas. “A repercussão é grande, ao mesmo tempo a gente percebe que há um desabafo enorme dos jornalistas que sofrem com a precarização”, comenta.

Segunda ela, para que ser tornou normal no mercado de trabalho que o jornalista tem que trabalhar sem diretos. “Sabemos que a imprensa alternativa tem menos recursos, mas isso não deve implicar em precarização, pois jornalista também é trabalhador”, disse.

“Queremos abrir a discussão sobre a realidade de trabalho dos jornalistas e dar um exemplo de luta de que nós também temos direitos e devemos lutar para garanti-los. A greve foi decidida por 100% da redação o que mostra que nossa luta é democrática e legítima”, ressaltou Cecília.

Agora, os jornalistas vão atrás de seus direitos já que foram demitidos no período de greve.

A CSP-Conlutas apoia a luta dos jornalistas demitidos da Caros Amigos por entender que eles, como qualquer trabalhador, tem o direito de fazer greve por melhores condições de trabalho e não podem ser punidos por isso. Repudiamos a postura autoritária dos diretores da revista ao não buscar o diálogo e demitir toda a equipe.

Fonte: CSP-Conlutas