Arquivo da categoria: Opinião

O germe colonialista de Igrejas Cristãs volta a atacar…

Em meados dos anos 90 do século passado, realizou-se, no Seminário Arquidiocesano, em João Pessoa-PB, um Encontro avaliativo e prospectivo, organizado pelos Padres Italianos “Fidei donum”, no Nordeste, para o qual foi também convidado o Pe. José Comblin, a fazer uma reflexão crítica sobre o evento. Antes dele intervieram duas pessoas convidadas, após o que Comblin foi instado a fazer sua reflexão. Seu primeiro gesto foi o de apagar o que estava anotado na lousa, justificando que, até ali se havia tratado no âmbito do consciente, e ele passaria a tratar do inconsciente.

Tratou, então, de questionar o que motivava os missionários europeus – sendo ele também um missionário europeu – a fazerem seu trabalho no Brasil, como se duvidasse de que o único propósito fosse apenas evangelizar. De forma direta ou indireta, sem deixar de reconhecer o legado evangélico do trabalho dos missionários europeus, ele passava  também a questionar a existência de certa pretensão colonialista, de quem vinha mais para ensinar do que para aprender com os pobres do Brasil. Supérfluo dizer de certo mal-estar produzido no ambiente, a tal ponto que o palestrante não compareceria ao encontro, na parte da tarde.

Aqui tomo a rememoração deste episódio, do qual fui testemunha, como um dos convidados, como ilustração pedagógica para uma reflexão crítica acerca do risco de reprodução ideológica, de caráter colonialista, em que podem incorrer, de um lado, missionários e missionárias não nascidos no Brasil, em sua atividade de evangelização dos pobres, na América Latina e em outros continentes, e, de outra parte, o público-alvo destas atividades, aos se portarem como meros receptáculos (portanto, passivos) da mensagem recebida. Nas linhas que seguem, tratamos de problematizar tais riscos, recorrendo à rememoração de traços históricos da ação missionária ocidental feita na América Latina e no Brasil. Em seguida, cuidamos de compartilhar alguns questionamentos que podem ser úteis, no enfrentamento permanente destes riscos.

Este episódio me vem à memória, como uma ocasião propícia para redobrar a vigilância quanto à necessidade de superação cotidiana e processual, em face dos riscos de introjeção do germe colonialista que pode sobreviver, de parte a parte, nas relações entre missionários e missionárias não-nascidos no Brasil e Cristãos e Cristãs aqui nascidos.

Como se deu a ação missionária realizada na América Latina e no Brasil?

Os povos originários, africanos e de outras regiões têm sido, após o século XVI, alvos constantes do processo ocidental de colonização. Na verdade, já três séculos antes, sob a égide dos papas em conluio com os reis, haviam autorizado, por meio de bulas a invasão, a apropriação das terras e das riquezas dos povos africanos, bem como sua escravização. É farta a literatura multidisciplinar que analisa criticamente, sob os mais diferentes aspectos e perspectivas, onde, quando e como isso se deu. Um dos traços axiais do processo colonialista se acha intimamente conectado a suas motivações econômicas –  religiosas – especialmente protagonizadas pela a cristandade.

A empreitada colonial, desde seus inícios, se deu graças à aliança entre o trono e o altar, ou seja, entre as metrópoles europeias e, depois, dos Estados Unidos, e seus respectivos chefes religiosos tanto católicos quanto protestante. Nas grandes viagens de navegação rumo às Américas (então, conhecidas como às “Índias”), estavam presentes a espada e a cruz, simbolizando os instrumentos da conquista das terras e dos povos de além-mar, tornando-se a principal estratégia de “dilatação da fé e do império”. Não é à toa, a este propósito, que o símbolo da cruz vinha afixado nas velas das embarcações ibéricas destinadas à África e à América Latina.

Sem esquecermos tantas outras fontes históricas, aqui recorremos especialmente à densa contribuição oferecida pelo Projeto da CEHILA (Comisión de la Historia de la Iglesia Latino-Americana), coordenado por uma Equipe de historiadores Latino-Americanos entre os quais Enrique Dussel, José Oscar Beozzo, Eduardo Hornet, há quem também recorremos, em seu conhecido “A História do Cristianismo na América Latina e no Caribe” (São Paulo: Paulus, 1994). Na perspectiva histórica protestante, por sua vez, nos inspiramos em autores tais como William Yoo (cf. por exemplo: “What kind of Christianity? A History of Slavery and anti-Black racism in the Presbyterian Church”, Presbyterian Publishing, 2022. – Livro que me empenho em adquirir), José Bittencourt Filho (cf. textos e vídeos, inclusive sua contribuição escrita para o livro “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro: a Conferência do Nordeste 50 Anos Depois (1962-2012)”, Editora Muad X, 2012.).

Seja na tradição missionária católica, seja na empreitada missionária protestante, o germe colonialista/escravista se achava fortemente inoculado. Em ambos os casos, era prática frequente a presença de escravos em conventos e a disposição de chefes religiosos protestantes. Convivia-se, sem escrúpulos, com os valores da escravidão, ainda que flagrantemente contrastando com a mensagem evangélica. A era constantiniana e mesmo o advento da Reforma Protestante, alimentados por valores helenísticos e pela ideologia do Império Romano, serviram de base justificativa para tal abuso. Aí estava agindo eficazmente o germe colonialista, durante séculos, na empresa missionária de igrejas cristãs, na América Latina e no Caribe.

Tanto as incursões missionárias católicas, quanto as protestantes já eram, desde seus países de origem, acometidas do germe colonialista/escravista. Para tanto, no caso da Igreja Católica uma rápida consulta ao teor de Bulas papais, tais como a “Dum diversas”, de 1452, de autoria do Papa Nicolau V;  “Romanus Pontifex” (1455), de autoria do Papa Nicolau V, e à “Inter caetera”, de 1493, de autoria do Papa Alexandre VI, nos enseja a perceber a gravidade desses documentos, ao autorizarem monarcas europeus a invasão violenta e a escravidão de povos Africanos. Importa, ainda, assinalar que tais bulas se associam intimamente ao famigerado “Dictatus Papae”, de meados do século XI, atribuído ao Papa Gregório VII.

No que toca ao legado de Igrejas Protestantes, também podemos observar a presença do germe colonialista/escravista, em suas incursões na América Latina e no Caribe. Mesmo em se tratando de Igrejas Cristãs históricas – Igreja Batista, Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Anglicana, entre outras -, há relatos colhidos de fontes credíveis, que atestam práticas escravistas (trazidas de suas respectivas matrizes, especialmente do Sul dos Estados Unidos), nestas organizações eclesiásticas, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, seja em São Paulo, etc.

Passados 5 séculos, a despeito de seus fluxos e refluxos, eis que, no cenário histórico  atual com o ascenso das forças neofascista em escala mundial podemos constatar sinais de uma pavorosa recidiva, a merecer especial atenção de quantos e quantas seguem empenhados na construção processual de um novo modo de produção e de gestão societal, ecologicamente respeitoso da dignidade de nossa Casa Comum, economicamente justo, socialmente participativo e culturalmente diverso.

Tais registros resultam relevantes, para avaliarmos o que se passa hoje, no cenário brasileiro, com o reavivamento de tendências da ultra Direita, com a qual setores de Igrejas Cristãs, católicas e protestantes se têm mostrado organicamente afinados. Manter firme a vigilância, quanto a este fato, constitui uma tarefa permanente aos grupos e pessoas que se sentem discípulos e discípulas do Movimento de Jesus, até porque, ante o alerta trazido por José Comblin, no episódio acima descrito, ninguém de nós está isento deste risco, pois, como também alerta Paulo, “Quem estiver de pé, cuide para não cair” (I Cor 10,12).

João Pessoa 11 de Abril de 2024.

 

Imagem: A Festa da Boa Morte: manifestação de uma irmandade religiosa baiana oriunda dos tempos coloniais.  Educador Brasil Escola, Rainer Sousa / Uol, s/d

A Extrema-Direita infesta o mundo Pervertendo a humana condição

 

A Extrema-Direita, em todo o mundo 

Ameaça o Planeta e os humanos 

Tênue, o fio que distingue a  Direita e Extrema

Sempre juntas, quando e como lhes convém

 

Enganosa, a alcunha de “Centrão”

Os seus atos só pendem pra Direita

 

O verniz “democrático” das potências

Só ilude quem as chama “Democracia”

 

Emblemáticos os fracassos reiterados

Para a ONU deter o genocídio

 

Os humanos são parte da Mãe-Terra

Pra Direita, ela é só mercadoria

 

Ser humano é chamado a ser mais

Pra Direita, só importa ter mais bens

 

Frente ampla, se serve, é em eleição

Na gestão, a Direita é quem mais ganha

 

Do orçamento, aos ricos o filé

Para os pobres sobram ossos e nada mais

 

Qual moloche, o Mercado exige humanos

Em ofertas, sacrifícios sanguinários

 

Os fascistas se creem supremacistas

A direita defende privilégios

 

Cultivam idolatria, falam de Deus

Mas seu Deus é o dinheiro, deus Mamom

 

Acumulam riqueza em excesso

E de fome e miséria matam milhões

 

Tem horror dos indígenas

A riqueza existente nas suas terras

 

São herdeiros diretos de escravistas

Seu projeto é voltar a escravidão

 

Igualdade de direito entre os gêneros

Prós fascistas mulheres são objeto

 

Não bastassem os covardes bombardeios

Sionistas de fome matam um Povo

 

Genocídio se faz a olhos vistos

Sob o olhar complacente da “grande” mídia

 

O massacre sionista dos palestinos

Nos remete a traços de holocausto

 

Sionismo desafia a própria ONU

“Terroristas” pra mídia é só Hamas…

 

Palestinos massacrados a céu aberto

E Tarcísio e Caiado a quem apoiam?

 

Diminui desemprego, mas o Mercado

Precariza os empregos, extremamente

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória não podemos abrir mão

 

Militares não são proprietários

Do destino da Pátria e da nação

 

A gestão só compete aos civis

Militares já têm própria função

 

Condição de armados, “ipso facto”

Já os leva para fora da Política

 

Se lutamos por nova sociedade

Da memória jamais abramos mão!

 

Das tragédias de golpes sucessivos

Extraiamos lições para superá-los

 

Se a gestão do Estado é dos civis

Dela distem os que lidam com as armas

 

Militares não devem ser um “gueto”

Têm que estar a serviço dos civis

 

Fora a pauta militar bem específica

Que se formem em conjunto com os civis

 

Refundar toda a pública segurança

Com critérios democráticos essenciais

 

Decisões democráticas não se tomam

Sob a mira de tanques e canhões

 

Servidores, não donos de nações

São as Forças Armadas e congêneres

 

Há civis tão somente a governança

Que a política se afasta dos quartéis

 

O Império interveio contra o Golpe

Dissuadiu os generais da intentona

 

As potências não dão ponto sem nó

E se algo oferecem, exigem em dobro

 

Infeliz da Nação, ai do Governo

Que a outro dever a sua sorte

 

Reverencia a João Pedro e companheiros

Lutadores das Ligas Camponesas

 

Homenagem a Gregório Julião,

João Targino e Zézé da Galiléia

 

João Pessoa 31 de Março de 2024


Imagem: Flickr/Creative Commons, 12/11/2018

Chuva sertaneja

A centelha de Deus no oriente
Que precede uma voz grave e ruidosa
É prenúncio da época chuvosa
Que traz vida a cada ser vivente
Faz brotar e vingar cada semente
Embalada nos braços deste chão
Amanhã, a fartura de feijão
Jerimum, milho verde e melancia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

O anum-preto cedinho anunciou
Que a invernada rondava a vizinhança
E fizera com o tempo uma aliança
Para encher cada açude que secou
As cacimbas que outrora se cavou
E os riachos e rios sem vazão
Pois não é que conforme a previsão
Tudo isso de fato ocorreria?
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

O bornal preparado pro plantio
A enxada nas costas do meu pai
Minha mãe, logo atrás, não se abstrai
Das tarefas que em casa preteriu
Logo à frente o roçado lavradio
Ansioso esperando cada grão
Pois à noite foi só sofreguidão
Bebeu água até mais do que devia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Se um dia alguém lhe perguntar
O que mais satisfaz o sertanejo?
Lhe responda assim, sem pestanejo
Sem um único medo de errar
É chegar no roçado e encontrar
A lavoura florada em botão
O açude sangrando em borbotão
E do lado da casa alguma cria
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Quase nada de coco em catolé
No angico a resina muito pouca
Cupim gordo deixando a planta oca
Na colmeia mel pela chaminé
São sinais – que aqui todos dão fé
De que agora os céus se abrirão
E as águas enfim expulsarão
Essa seca que arde o nosso dia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Tudo aqui, de repente, explode em cores
Em aromas, sabores, plena vida
A paisagem agradece enverdecida
Exibindo feliz as suas flores
Passarinhos cantando seus amores
Vejam lá um concriz, corrupião
No jardim que floresce no oitão
Borboletas colorem a folia
O nordeste se enche de alegria
Com a chegada da chuva no sertão

Martim Assueros
(no mote de Adeildo Nunes)

Imagem: Chico Sá – El Pais, 25 de fevereiro de 2018

A religião como Projeto de poder político: Notas sobre a expansão no Brasil da Teologia do Domínio

Mergulhados em tempos distópicos e tenebrosos, assistimos, perplexos, à crescente expansão, em escala mundial, da extrema-Direita, movida pela ideologia fascista, centrada em contra-valores tais como a violência, a mentira contumaz, a hipocrisia, todos promovidos, em grande parte, pela mídia hegemônica, especialmente por suas redes digitais. Neste movimento deletério dos princípios elementares que norteiam o processo de humanização, o apelo à religião tem se dado de modo abusivo, especialmente por meio de seus próceres.

Nas últimas décadas, com efeito, temos constatado avanços significativos da onda neofascista, na Europa, na América-Latina e alhures, como manifestação emblemática do desenvolvimento capitalista, em sua fase / face neoliberal, em seu potencial extremamente devastador, seja das condições socioambientais, seja das condições econômicas (com graves consequências no aumento das desigualdades sociais, seja no âmbito político, seja no âmbito cultural).

No caso específico do Brasil, salta aos olhos o recurso abusivo que seus representantes têm feito da Religião como meio privilegiado de impor uma ideologia teocrática, apelando também para os mecanismos de controle dos aparelhos de Estados. É assim que diversas denominações ditas Evangélicas, em parceria com segmentos neopentecostais católicos, têm recorrido, por diferentes estratégias, à promoção de iniciativas e eventos, com o claro propósito de proselitismo, seja em redes de televisão, de rádios, de periódicos, seja investindo maciçamente na eleição de candidatos e candidatas a cargos com mandato executivo e legislativo, tanto na esfera municipal, tanto no plano estadual, quanto na esfera federal. Também no âmbito do Judiciário, sua presença se faz notar. Importa, ainda, ter presentes suas investidas nos aparelhos repressivos do Estado.

Tal como a conhecida Teologia da Prosperidade, na qual se fundamentam ricos pastores de várias denominações evangélicas, de modo a induzirem grande número de seus seguidores a manterem e até a aumentarem sua contribuição mensal, dita “Dízimo”, sob a promessa de que Deus multiplicará seus bens e abençoará suas vidas, vem ganhando força a chamada “Teologia do Domínio”, cujos traços principais cuidamos de destacar.

Cumpre, antes de tudo, assinalar a relação  orgânica entre  a Teologia do Domínio e o movimento mundial da extrema Direita, em suas estratégias de submeter a sociedade civil ao cerrado controle ideológico dos princípios e valores totalitários que a  caracterizam. O controle ideológico constitui um pilar decisivo de suas diversas estratégias de controle total da vida social, econômica, política, cultural, subjetiva, ética, estética e espiritual.

Cada uma dessas dimensões se mostra como alvo direto ou indireto de seu projeto totalitário. Recorrendo a um exemplo ilustrativo deste projeto, podemos mencionar a recente fala feita pela ex-Primeira Dama do Brasil, quando do recente Ato público, realizado na Avenida Paulista em São Paulo, a pretexto de esclarecimentos e em defesa do ex-Presidente do Brasil. Tal Ato, em sua abertura, remetia ou lembrava, antes, a realização de um culto, cujo rito se mostrou caracterizado por forte traços da Teologia do Domínio, à medida que a ex-Primeira Dama, usando e abusando de textos Bíblicos do Antigo Testamento, em uma interpretação fundamentalista, conclamava seus ouvintes a uma batalha em defesa do Bem e contra o Mal, em que o Mal corresponde a todos aqueles que não concordam com os propagadores da Teologia do Domínio, tornando-se, por isto mesmo, perigoso inimigo a ser combatido e exterminado.

Outro traço da Teologia do Domínio é o abuso de uma hermenêutica supremacista do Antigo Testamento, com o propósito de lastrear suas teses de submissão da humanidade a dogmas supremacistas veterotestamentários, aos quais tenta submeter, inclusive, os ensinamentos do Novo Testamento e do próprio Evangelho. Trata-se da substituição do Deus-Amor pelo Deus dos exércitos, sempre pronto a combater e a exterminar todos os que não lhe prestam obediência. Ou seja, a Teologia do Domínio, em sua insensatez, persegue todos os diferentes como inimigos, sob a alegação de estarem contra Deus, o seu Deus.

O apelo abusivo ao nome de Deus só agrava o teor de uma ameaça de desfiguração da condição humana, à medida que vivencia e tenta legitimar, como se os valores fossem da condição humana, traços mais perversos da mesma condição humana, situação que se pode observar por suas posturas e atitudes não raro desumanizantes, ecocidas, misóginas, androcêntricas, racistas, xenofóbicas, aporofóbicas, islamofóbicas, homofóbicas, transfobicas, entre outras.

Seguir estudando criticamente como se estrutura e organiza a Teologia do Domínio e suas manifestações no atual cenário internacional e nacional constitui relevante tarefa, como meio de combatê-las em suas raízes. Para tanto, convém (re)visitar alguns estudos que nos fornecem elementos históricos do aparecimento e evolução deste fenômeno. Nesse sentido vale a pena (re)ler, por exemplo, um estudo feito por Delcio Monteiro de Lima em seu livro “Os Demônios descem do Norte” (Editora Francisco Alves, 1987), bem como – agora, já sobre o tema específico – o livro “Heaven on earth?: the social & political agendas of dominion theology” (1992).

No que toca especificamente ao caso brasileiro cumpre lembrar o empenho investigativo de João César de Castro Rocha e outros, a exemplo de Andrea Dip, em seu livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Editora Civilização Brasileira, 2018). Neste sentido, recomendamos acompanhar mais de perto seus escritos e entrevistas, a exemplo da concedida por João César de Castro Rocha no podcast Pauta Pública.

Nesta entrevista, podemos ler: “Em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal sobre as suspeitas de um plano de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro. Para o historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, no futuro os historiadores verão essa manifestação como um momento sintomático de algo que há muito tempo se articula nos bastidores: pela primeira vez, tornou-se explícito o projeto da teologia do domínio. No episódio 109 do podcast Pauta Pública, o professor explica as dimensões religiosas da manifestação bolsonarista. Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos e, recentemente, adotada no Brasil. Ela é a base da doutrina de várias igrejas, como a da Lagoinha, diz o professor.” (https://apublica.org/2024/03/teologia-do-dominio-e-mais-perigosa-para-democracia-que-bolsonarismo-diz-historiador/)

Um final sintomático desta investida teocrática, podemos perceber na votação prevista para esta semana, de um Projeto de Lei propondo a isenção de impostos para igrejas, a despeito de o Estado se declarar laico.

João Pessoa, 19 de março de 2024.

 

* Texto ditado pelo autor, e digitado por Elizabete Santos Pontes, Gabriel Luar Calado Bandeira e Heloíse Calado Bandeira, a quem o autor expressa sua gratidão.

Imagem: Sociovlog, Youtube, 18/10/2020

Batina preta-exorcismo-dinheiro

Por Pe. Gedeon Oliveira

Minha alma tem sede de Deus, de um Deus vivo anseia com ardor. Ver Deus face a face é o desejo fundamental do ser humano, por isso que o salmo 42 aponta para o crucificado, cujas palavras justificam nossa sede, qual seja: Pai em tuas Mãos entrego meu espírito. Pe Zezinho conseguiu traduzir a sede de Deus como poesia: estou pensando em Deus, estou pensando no amor. Nos tornamos aquilo que alimentamos em nossa alma. Deus que está para além de tudo, é quem funda o cotidiano. Criou o ser humano do barro, isto é frágil. As nossas fragilidades coexistem com nossas forças, mas Deus é fonte de superação, enfrentamento e esperança no cotidiano de nossas vidas. Cotidiano que é síntese do que vivemos: amor e desamor; sofrimento e alegria; saúde e doença; junto e separado; vida e morte. Apesar de vivermos nas condições contraditórias, DEUS É A FONTE DO NOSSO DESEJO. Desejamos Deus passando por qualquer situação adversa. A adversidade necessária para aumentar a fé, esperança e a caridade.

Em dias atuais, vários padres têm retirado Deus como fonte de vida, substituindo-o pelo diabo. Nas celebrações reina o nome do diabo e sua presença nos pobres infiéis que aparentemente, não conseguem enfrentar as doenças. Assim, as pessoas são arrastadas da fonte divina, para a ordem precária do diabo. É uma espécie de paradoxo: Deus é a fonte das narrativas de perfeição, benção, milagre e cura; mas no encontro concreto com o outro na liturgia e fora dela, deus aponta para o diabo como autor do mal físico ou mental. Sem a presença do diabo, não existe benção, milagre ou cura.

Santo Agostinho, o meditador do SUMO BEM, não foi lido e se foi lido não foi compreendido. Na ordem precária do diabo, o medo é o combustível da fé. A doença, longe de constituir a vida de quem vive, perde seu caráter contraditório, para ser obra do diabo. Sem a presença do diabo, origem e princípio do medo, não se ganha dinheiro. Padre que não fala do diabo, não tem público, fama nem riqueza. É preciso exorcizar deus das almas dos infelizes, do que encorajar as pessoas a se confrontarem com a maior arte a ser construída, ou seja, a arte de viver a vida. como nos questiona Clarice Lispector: gosta de viver? Viver dói. Como é possível acreditar na existência de Deus e do diabo ao mesmo tempo? Acreditar no diabo como uma força ou entidade que entra em outra pessoa, parece mais com filme de terror. Como é possível alguém estudar por sete anos em um seminário e ter uma narrativa teológica fora da casinha? Qualquer pessoa que faça uso adequado das suas faculdades mentais, sabe que desenvolvimento do Diabo no mundo moderno tem suas raízes na Europa ocidental, particularmente na França e na Inglaterra, entre os séculos XII e XIV. Antes desse período, o Diabo era visto tanto pela cultura popular quanto por grande parte das autoridades religiosas medievais como um ser fracassado e estúpido. Como se não bastasse a pregação da presença do diabo, a batina preta dá um tom de autoridade suprema. O diabo pode até ser poderoso, mas o da batina preta tem mais poder.

A batina preta é a visibilidade do poder de comando sobre o diabo e o divino. Conversando com uma paroquiana nestes dias, ela me dizia: quando chega o padre com batina preta, fico tremendo de medo. Mas intimidar o fiel e impor autoridade sobre deus e o diabo é o papel simbólico da batina preta.

O padre age em nome de deus sobre o diabo seu criado. Deus é o atrativo e o diabo a narrativa. Os padres sofistas agem em nome deste e da igreja. Não sabemos se é igreja católica, universal do reino de deus, pentecostal ou alguma seita capitalista. Não importa a diferenciação, pois o diabo as une ao redor do dinheiro. Tenho dó do diabo, pois se não fosse ele, os padres não teriam o que fazer, de modo que teriam que trabalhar pra ganhar dinheiro.

O dinheiro tem a força de moldar o poder das autoridades. Viver como autoridade tem custos elevados. Além disso, a autoridade tem necessidade psicológica, necessidade vestuária e seu estúdio de maquiagem para que a aparência consiga esconder aquilo que a batina preta não conseguiu esconder. Se a batina preta não fosse usada para esconder doenças variadas, já teria sido apresentada na fashion week, pois batina preta, exorcismo e dinheiro se tornam, diabolicamente, uma combinação perfeita.

O niilismo é isso: a falta de paixão por algo mais profundo, por horizontes mais além do visto, do pensado e compreendido. Nesta noite escura (S. J. Da Cruz), resta apenas a experiência de um deus morto e sem sentido (Nietzche).

Imagem: Apostolado Litúrgico, s/d: https://apostoladoliturgico.com.br/origem-da-batina/

A eficácia político-pedagógica da militância de Breno Altman: Notas acerca de sua exposição anti-sionista, na Paraíba

Na véspera da comemoração do natalício de Gregório Bezerra (13/03/1900-21/10/1983), admirável lutador popular, a quem prestamos nossa homenagem, cuidamos de compartilhar um registro acerca da presença de Breno Altman, na Paraíba, para lançamento do seu livro “Contra o Sionismo: Breve história de uma doutrina colonial e racista”

 

Figura de referência da Esquerda, o Jornalista Breno Altman tem-se notabilizado pela qualidade de suas análises e de suas intervenções orais e escritas, seja no plano internacional, seja no âmbito nacional. Por meio de sua participação diária, tanto em canais alternativos (ora em “Opera Mundi”, ora no canal Brasil 247 e em outras redes digitais), vem se mostrando reconhecidamente e qualificado pelas suas análises e intervenções criteriosas.

 

Apresentando-se como Judel, de espectro anti-sionista, tem-se tornado alvo predileto, sobretudo por conta de sua corajosa oposição e denúncia das atrocidades cometidas pelo Governo sionista de Israel contra o Povo Palestino, de sistemática perseguição pelas forças sionista e ultra-Direita, a exemplo da Conib (Confederação Israelita do Brasil), que lhe tem movido ação judicial por suposta posição anti-semítica.

 

Ao invés de limitar-se a mera defesa, no plano judicial, Breno Altman não tem cessado de responder, ativa e altivamente, a tal perseguição, seja por meio de entrevistas, seja pela publicação de seu recentíssimo livro “Contra o Sionismo” (Alameda Editorial, 2023), seja ainda pela fecunda iniciativa de debater a questão sionista, desde suas raízes histótica e sua evolução desssastrada, percorrendo as 27 unidades federativas do Brasil, inclusive a Paraíba. As linhas que seguem, se circunscrevem a fornecer uma breve notícia de sua recente passagem pela Paraíba.

 

Com o apoio e solidariedade de múltiplas entidades da sociedade civil (Entidades Sindicais, de Movimentos Populares, de correntes partidárias e estudantis), Breno Altman esteve também na Paraíba, no início da semana passada, tendo cumprido 6 compromissos, sendo 3 em Campina Grande (no meio sindical, com os estudantes e na UFCG) e 3 em João Pessoa (no Sindicato dos Correios, na Assembleia Legislativa e na UFPB).

 

Aqui nos limitamos a destacar aspectos axiais de sua exposição feita, na UFPB, no dia 05/03 próximo passado, encontrando o auditório 411, do CCHLA completamente lotado, especialmente por jovens. Tendo-lhe sido passada a palavra, Breno Altman, após a saudação inicial, começou por apresentar as razões de sua presença: esclarecer sobre a relevância do tema, que hoje desponta como a questão mais urgente para o mundo e a necessidade de aprofundamento dessa questão, para um enfrentamento exitoso.

 

Em seguida cuidou de enfrentar, em perspectiva histórica, os fundamentos e a evolução do Sionismo. As atrocidades, ainda em curso, cometidas pelo Sionismo contra os Palestinos, não datam de 07/10/2023, em consequência da violenta insurgência do Hamas, mas constituem prática corriqueira, há pelo menos 75 anos, ou ainda mais precisamente desde o final do século XIX, quando o Congresso sionista inspirado nas teses de Theodor Herzl (1860-1904), realizado em Basileia (Suíça). Cometendo uma fraude de interpretação histórica, assumida pelo congresso, segundo a qual, diferentemente da interpretação vigente durante séculos, de que somente a partir da chegada do Messias, o Povo Judeu cuidaria de retornar ás suas origens geográficas, Herzl contra propunha a tese de que se deveria começar já os preparativos para a chegada do Messias, promovendo desde ja o retorno dos judeus ás suas origens geográficas, disperssados que haviam sido pelo mundo, principalmente na Europa após as antigas diásporas.

 

Desde então, seguiram-se, sobretudo no período pós-Primeira Guerra (1914-1918), sucessivas e crescentes investidas dos sionistas contra a terra e a gente Palestinas. Contando com o poderoso financiamento de tropas bem armadas a invadirem aldeias, a expulsarem os palestinos de sua terra, as centenas de milhares, com o apoio do Reino Unido, dos Estados Unidos, da França e de outras potências europeias, os Sionistas foram apropriando-se a força de grande parte das terras palestinas, ao tempo em que promoviam o retorno de euro-judeus a estas terras, para ocupá-las e civilizá-las ao arrepio dos direitos mais elementares do povo palestino.

 

Após a segunda guerra mundial, em virtude de grande comoção suscitada pelo holocausto (do qual foram vítimas 6 milhões de judeus), a recém-fundada ONU acabou consentindo uma partilha de territórios  profundamente injusta para com os Palestinos, na qual estes que antes ocupavam a enorme parte do território, tiveram que perder suas propriedades para os novos colonizadores. Pacto evidentemente a que se opuseram os palestinos, com a solidariedade dos povos Árabes.

 

Desde então, há mais de 7 décadas, sucedem violentos conflitos, opondo, de um lado, os colonos invasores (os sionistas) e, por outro lado, a resistência árabo-palestina, dos quais os mais atrozes ocorreram em 1967, quando da chamada “Guerra dos Sete Dias “, o de 1973 e o atual genocídio, que ja dura 5 meses, perpretado pelo Gorverno de Israel contra os Palestinos na Faixa de Gaza.

 

Em sua exposição, Breno Altman destaca que tal genocídio não teria lugar, sem a cumplicidade dos Estados Unidos, da Grã-Betânia e das potências imperialistas do Ocidente, que lhe fornecem pesados armarmentos, combustível e apoio logístico. Breno Altman, ao final de sua fala, fez questão de reconhecer a relevância da corajosa denúncia feita pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva das atrocidades cometidas pelo Governo de Israel contra o Povo Palestino, parte expressiva do qual formada por vítimas inocentes, principalmentes crianças e mulheres.

 

Pelo exposto, podemos observar, não apenas a qualidade da fala do expositor, como também a eficácia de sua militância política, inspirando-nos a seguir adiante, em uma resistência proativa, especialmente no tocante às nossas organizações de base solidariedade ao Povo Palestino.

 

João Pessoa, 12 de Março de 2024

Imagem: Editora Alameda / Divulgação Lançamento do livro de Breno Altman – Opera Mundi Redação Opera Mundi, 12 de dezembro de 2023

Florecimiento

Este dia me encuentra medio como si dijéramos, en espera.

Quietecito, observando, viendo, juntando.

En esta pausa impuesta por la vida

Recupero la unidad de mi trayectoria

La fuerza de ser quien soy.

Escribir me ha ido ayudando a salir a flote

A volver cada vez que la vida me dijo que no.

La sensación es muy fuerte

Y no sé si encontraré las palabras para expresarla.

La noción de mi exacta dimensión, mi esencia

Son la compañía más preciosa que tengo.

¿Cómo podría sentirme solo si estoy conmigo?

Toda mi historia está aquí.

La vida siguió pasando

Sigue pasando sin cesar

Y lo que queda es lo que siempre permanece

Lo que se renueva a cada día cuando por la mañana las aves

Nos despiertan con su alegría.

Así como me hice y me hago cada vez más real

El amor sigue siendo lo más real.