SP: 8º Encontro Estadual de Mulheres Negras em novembro

O Grupo de Mulheres Negras Nzinga Mbandi, em parceria com a Coordenadoria da Igualdade Racial de Sumaré (SP), realizam nos dias 7 e 8 de novembro de 2008, o VIII Encontro Estadual de Mulheres Negras, na cidade de Sumaré. As inscrições estão abertas e se encerram no dia 15 de outubro. Vagas limitadas. Informações pelo email nzingambandi77@yahoo.com.br

Ê, sambinha bom

Trama em segredo teus planos
Parte sem dizer adeus
Nem lembra dos meus desenganos
Fere quem tudo perdeu
Ah! Coração leviano
Não sabe o que fez do meu

Este pobre navegante
Meu coração amante
Enfrentou a tempestade
No mar da paixão e da loucura
Fruto da minha aventura
Em busca da felicidade

Ah! Coração teu engano
Foi esperar por um bem
De um coração leviano
Que nunca será de ninguém

Paulinho da Viola, “Coração leviano”

O “merchandising social” da TV Globo e os desertos verdes

Foi o professor Arlindo Machado, pelo que me lembro, que conceituou de forma brilhante a importância de analisarmos a televisão não como um meio em si – tal como Adorno ou McLuhan, para se odiar ou venerar a tevê –, mas pelo conteúdo dos seus programas. Os brasileiros preocupados com os rumos democráticos da nossa nação precisam ficar atentos ao conteúdo específico de cada programa de grande repercussão e rediscuti-los urgentemente, a julgar pelo que se passou na novela A Favorita, da TV Globo, neste sábado (4). Texto meu, no Café da Manhã, com link para meios onde foi publicado.

O “merchandising social” da TV Globo e os desertos verdes

Foi o professor Arlindo Machado, pelo que me lembro, que conceituou de forma brilhante a importância de analisarmos a televisão não como um meio em si – tal como Adorno ou McLuhan, para se odiar ou venerar a tevê –, mas pelo conteúdo dos seus programas. Os brasileiros preocupados com os rumos democráticos da nossa nação precisam ficar atentos ao conteúdo específico de cada programa de grande repercussão e rediscuti-los urgentemente, a julgar pelo que se passou na novela A Favorita, da TV Globo, neste sábado (4). Por Gustavo Barreto, na Ciranda Internacional de Informação Independente.

Publicado também na Revista Fórum, Portal Vermelho, Conexão Sindical, Observatório do Direito à Comunicação, Blue Bus (+comentário), Jornal Brasil de Fato, Observatório da Imprensa, Tem Notícia, FNDC.

Passado

Bem
No amor
Eu não tenho passado
Bem

No amor
Eu não tenho estado
Bem
No amor

Eu tenho me encontrado
Bem
No meio de um estado
Sem passado
Sem amor

[GB, 12-03-2007]

UFRJ: Semana da Diversidade Sexual começa nesta segunda (06)

“Diversidade sexual e os novos paradigmas sociais” é tema que atravessará os debates entre estudiosos, acadêmicos, lideranças e formadores de opinião na III Semana da Diversidade Sexual, realizada pelo Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ. O evento será realizado nos dias 06, 07 e 08 de outubro de 2008, sempre das 14 h às 17 h, no Fórum de Ciência e Cultura do Campus da Praia Vermelha. Inscrições pelo site (www.eco.ufrj.br/diversidade), clique no título para informações completas.

Sobre “analistas políticos” e “institutos de pesquisa”

Aplicados porta-vozes de pesquisas eleitorais, os denominados “analistas políticos” revelam-se mestres do ocultismo político, esotéricos senhores de artes misteriosas, guardiões de conhecimentos secretos sobre os destinos da Nação. Dispensam investigações sobre a consistência, a fidelidade dessas pesquisas altamente remuneradas. Leia carta de Guilherme Kress ao programa “Faixa Livre”, veiculado pela rádio Bandeirantes AM 1360.

Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2008
Com cópia para faixa.livre@yahoo.com.br

Prezados Amigos do “Faixa Livre”,

Os denominados “analistas políticos”, presentes na imprensa escrita, e nos bastidores das rádios e das emissoras de televisão, são contumazes em atribuir absoluta fidedignidade às informações dos “institutos de pesquisa”, sem contudo acrescentarem maiores considerações. A partir dessas informações consolidadas em dados estatísticos – em números frios -, concluem, por exemplo, sobre o grau de aceitação pessoal do presidente da República e do seu governo, para, em exercício de futurologia política, deitar falação sobre o que consideram determinante influência presidencial nas eleições de 2010. Ousam até em considerar como “favas contadas” a eleição do candidato que vier a ser indicado por Lula.

De forma idêntica se comportam os mesmos intrépidos “analistas” diante das “preferências do eleitorado” por este ou aquele candidato ao mandato de prefeito, prognosticando, com base em dados alardeados em pesquisas encomendadas, sobre se haverá, ou não, 2º turno e, em havendo, quais serão os contendores!

Cabe, no entanto, indagar: É lícito a esses “analistas” alegar desconhecimento das particularidades de cada pesquisa?

Positivamente, não. Pelo menos a lei não permite que pesquisas eleitorais se tornem verdadeiras “caixas pretas”; ao contrário, determina precisamente que:
“As entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, as seguintes informações:

I quem contratou a pesquisa;
II – valor e origem dos recursos despendidos no trabalho;
III – metodologia e período de realização da pesquisa;
IVplano amostral e ponderação quanto a sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho, intervalo de confiança e margem de erro;
V – sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do trabalho de campo;
VI – questionário completo aplicado ou a ser aplicado;
VIIo nome de quem pagou pela realização do trabalho (de pesquisa).”(Lei 9504, art. 33)

Registre-se que a lei impõe pena pecuniária à divulgação de pesquisa sem o prévio registro daquelas informações e criminaliza a pesquisa fraudulenta.

Não obstante, esses “analistas”, em se tratando, por exemplo, de pesquisa sobre os índices de aprovação do governo federal, limitam-se a repetir que foram ouvidas “N” pessoas em “N” municípios. Quase nunca revelam quem contratou a pesquisa, muito menos o grau de interesse do contratante nos resultados da pesquisa. Ponto e basta!

Entretanto, para que pesquisas do gênero se tornem legalmente sustentáveis para os fins a que se destinam, esses e outros informes deveriam ser considerados e revelados, tais como:

  • Quais foram esses municípios e a que estados pertencem?
  • Em quantos deles seus habitantes, total ou parcialmente, são beneficiários do “Bolsa Família”?
  • Foram ouvidas apenas pessoas do povo, ou as pesquisas estenderam-se a áreas de influência das estâncias ruralistas, financeiras e do grande empresariado?
  • Manifestaram-se políticos e palacianos?

E, em se tratando de pesquisas sobre as próximas eleições municipais, outras tantas informações deveriam estar instruindo os dados apresentados, além da simples indicação do número de pessoas ouvidas. Seriam elas:

  • As consultas foram feitas apenas a transeuntes ou, se também em residências, em que regiões estão localizadas?
  • Em que regiões ou bairros residem os transeuntes consultados?
  • Houve manifestações por categoria profissional? Quais delas?
  • A pesquisa se estendeu a comunidades habitadas por nossos irmãos mais carentes? E naquelas onde, não raro, até a polícia tem dificuldade de entrar?

Em ambos os tipos de pesquisa, são essas apenas algumas questões básicas que deveriam ser consideradas pelos “analistas”, em sua tarefa de interpretar, para divulgação pública, informações que sejam claras, completas, precisas, verossímeis.

Entretanto, os ditos “analistas”, contrariando a lei e a ética, vêm, em regra, preferindo despir-se da importante condição de idôneos intérpretes de pesquisas políticas, para assumirem a postura de simples porta-vozes dos números secamente apresentados pelos “institutos de pesquisa”.

Aplicados porta-vozes de pesquisas eleitorais, revelam-se mestres do ocultismo político, esotéricos senhores de artes misteriosas, guardiões de conhecimentos secretos sobre os destinos da Nação. Dispensam investigações sobre a consistência, a fidelidade dessas pesquisas altamente remuneradas. Para a numerologia política que praticam, tais investigações são plenamente dispensáveis; são coisas reservadas para os míseros mortais. Nem mesmo a melhor das pitonisas – as mitológicas sacerdotisas de Apolo – seria capaz de tal prodígio em termos de previsão do futuro!

Ocorre que – pelo menos para nós, os míseros mortais -, pesquisa pressupõe, necessariamente, “indagação ou busca minuciosa para a averiguação da realidade” (“Dicionário de Termos de Marketing”, Atlas, 1996), isto é, deverá importar em rigorosa investigação do que se pretende apurar, em especial quando se referir a pesquisa sobre matéria política, quase sempre destinada a exercer ponderável e esclarecedora influência sobre o eleitorado.

Não sendo assim, ou melhor, não atendendo – como há anos vimos presenciando – aos requisitos mínimos de informação pública juridicamente tutelada, ditas “pesquisas” não poderão ser tidas senão como aliciamento de votos, autêntica manipulação eleitoral.

Registre-se que o “Faixa Livre” não vem se contentando com a análise fria dos números apresentados nas pesquisas; comporta-se com a devida seriedade ao questionar o que eles efetivamente representam. Enquanto isso, atentos ouvintes do Programa vem registrando sérias reservas quanto à fidelidade das pesquisas.

É importante porém que nos mantenhamos alertas no momento, quando eleições municipais se avizinham. Não nos deixemos seduzir por pesquisas – especialmente as de última hora -, viciadas pela falta de transparência, postas a serviço das artimanhas de candidatos ungidos pelas cúpulas tucanas, neo-tucanas e assemelhadas, mestres em dizer – ao som de tendenciosos “jingles” – o que o povo, de boa fé, quer ouvir sobre as crônicas deficiências da administração pública, e em prometer soluções, não raro mirabolantes, de mais que duvidoso cumprimento, se considerarmos o destino das promessas, programas e juramentos dos seus padrinhos, um dos quais vem de também notabilizar-se por misturar incompetência com truculência.

Saudações,
GUILHERME, DE SANTA TERESA.

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Reflexões sobre as eleições no Rio

As escassas tentativas de esclarecer os eleitores foram interrompidas por decisões editoriais ou não tiveram a amplitude necessária. Um dos resultados da ditadura da mídia aliada à ditadura do dinheiro é o desinteresse do cidadão, que favorece à direita. Por Marcelo Salles, do Fazendo Media.

As eleições municipais no Rio de Janeiro se encerram neste domingo (5/10) sem encantar o carioca. As razões são várias e cada grupo político pode alegar a sua – isso entre os que gostariam de ver um processo eleitoral mais animador, que conseguisse mostrar ao cidadão a importância deste momento.

O fato é que as forças da direita conseguiram concretizar seus desejos. Eduardo Paes (PMDB), Gabeira (PSDB, PV e PPS) e Crivella (PRB), todos representantes do que há de mais conservador, estão à frente nas pesquisas de opinião. PMDB e PSDB, ao lado do DEM, controlam o poder no Rio de Janeiro há duas décadas. A eleição de qualquer um de seus candidatos significa o aprofundamento do modelo neoliberal, ou seja, privatizações, caveirão e desemprego. Crivella, por sua vez, não representa mudança substantiva; talvez apresente alguma disputa comercial, mas nada que não possa ser resolvido num “acordo de cavalheiros”.

Ditadura do dinheiro
A campanha de Eduardo Paes foi a que mais arrecadou. Até agosto o candidato do PMDB havia declarado a pequena fortuna de R$ 3,166 milhão. Dinheiro de empreiteiras, imobiliárias e bancos. Gabeira não ficou muito atrás. Reuniu um total de quase R$ 2 milhões até agosto, basicamente das mesmas empresas. Crivella e Solange, a candidata do prefeito César Maia (DEM), também arrecadaram valores similares das mesmas fontes.

A empreiteira baiana OAS, que protagonizou o escândalo conhecido com Obras Arranjadas pelo Sogro, envolvendo ACM, foi quem mais investiu: pelo menos R$ 1,5 milhão, sem contar o valor destinado a Crivella, único candidato a não revelar o montante arrecadado. Até candidatos do campo progressista receberam dinheiro da OAS (Jandira Feghali, do PCdoB, R$ 400 mil; e Alessandro Molon, do PT, R$ 100 mil). Bradesco e Carvalho Hosken também doaram dinheiro para candidatos da direita. As duas empresas estiveram envolvidas nos despejos violentos promovidos pela prefeitura, em 2006, na Barra da Tijuca, conforme publicado no Fazendo Media (leia aqui) e na edição de julho deste ano da revista Caros Amigos.

Nestas eleições cariocas, o quadro econômico reflete a desigualdade social em que vivemos. Pode-se dizer que as quatro campanhas mais ricas (Paes, Gabeira, Crivella e Solange) tiveram cerca de 15 vezes mais recursos para trabalhar do que as quatro mais pobres. Sozinho, o PMDB arrecadou 25 vezes mais que o PSOL, partido do combativo Chico Alencar – número que pode ser ainda maior, pois não computa os valores de setembro (não declarados) do candidato peemedebista. “É a colonização da política pela economia”, afirmou Chico, que foi um leão durante a campanha. Mesmo com todas as debilidades de seu partido, o incansável candidato denunciou por mais de uma vez, em praça pública, o abuso do poder econômico e também o crescimento de uma outra forma de banditismo, este mais explícito, na vida política carioca: candidatos a vereador acusados de integrar milícias concorrendo por partidos grandes, como PMDB, PT e DEM.

Ditadura da mídia
Mas não foi só o sistema financeiro quem favoreceu as candidaturas do sistema. Os meios de comunicação de massa foram utilíssimos na manutenção da atual configuração eleitoral. Em primeiro lugar porque não promoveram um debate sequer, de modo que ao eleitor só chegavam as notícias devidamente editadas. Para banir o debate, a TV Globo alegou ser inviável um encontro com mais de cinco candidatos – apesar de a Band, em São Paulo, ter feito com oito. No Rio, a empresa da família Marinho jogou a culpa em Paulo Ramos, candidato do PDT, que não quis assinar o acordo.

A argumentação da Globo soa como um escárnio. Nitidamente baseada em critérios mercadológicos, a empresa alijou o cidadão carioca de conhecer melhor as propostas daqueles que pleiteiam governar a cidade. As demais emissoras procederam da mesma forma. A Justiça Eleitoral, por sua vez, esqueceu que essas empresas operam concessões públicas de radiodifusão e, como tal, devem promover o interesse público acima de tudo. O obscurantismo favorece aos mesmos grupos políticos que crescem nas sombras, subtraindo a pátria mãe tão distraída em tenebrosas transações. Como disse Mino Carta à revista Caros Amigos, “a mídia está ligada ao dinheiro” (em entrevista publicada na edição de dezembro de 2005).

Paulo Ramos não deixou barato. Desde o início da campanha enfrentou o poder imperial das Organizações Globo, demonstrando coragem digna de nota. Enquanto a esmagadora maioria dos políticos daria tudo para não entrar numa briga com a Globo, Paulo denunciou desde o início a manipulação editorial da empresa. “A Globo lidera um golpe no município, como o que elegeu Collor. Ela já escolher divulgar os candidatos que poderão ser eleitos e os que não serão eleitos”, disse à Caros Amigos de setembro deste ano. Em diversos momentos da campanha, o candidato pedetista denunciou a postura antidemocrática da emissora.

As escassas tentativas de esclarecer os eleitores foram interrompidas por decisões editoriais ou não tiveram a amplitude necessária. O jornal O Globo, que não é mídia de massa, tentou esclarecer seus leitores e consultou especialistas nas áreas de transporte, urbanismo, saúde e educação sobre as propostas de oito candidatos. Uma iniciativa interessante, cujo resultado final não foi publicado. Talvez porque os candidatos da predileção do jornal não estivessem entre os primeiros. Chico Alencar, da Frente Rio Socialista, foi o vencedor. O JB, que também não é mídia de massa, foi o único veículo de comunicação a promover um debate amplo com os candidatos.

Oportunidade para reflexão
Um dos resultados da ditadura da mídia aliada à ditadura do dinheiro é o desinteresse do cidadão. Como essa dupla ditadura serve à direita, que no Rio promove o modelo neoliberal (esse mesmo que agora faz água nos EUA), a mensagem que chega ao eleitor é: não adianta votar porque político é tudo igual. Ou seja, interessa à direita que a noção de poder público seja esquartejada, porque é nivelando por baixo que os canalhas levam vantagem. Mal sabe o cidadão que agindo desta forma ele faz o jogo daqueles que vão explorá-lo pelos próximos quatro anos.

Seja quais forem os números das urnas, este 5 de outubro de 2008 poderá ser um bom momento de reflexão para o campo progressista e a esquerda. Além de reclamar, com justeza, dos muitos obstáculos, é preciso ter humildade para reconhecer seus próprios erros. E, entre eles, a omissão na luta pelas representações. Isso num país com quase 200 milhões de pessoas, mas apenas 7 emissoras abertas de televisão – sendo que seis delas são ideologicamente afinadas à direita e a outra apenas começa a esboçar uma nova narrativa.

A esquerda partidária ainda não compreendeu que a mídia, hoje, é a instituição com maior poder de produção e reprodução de subjetividades. Há outras instituições, como Família, Hospital, Igreja, Forças Armadas e todo um escopo de organizações disciplinares. Mas a mídia supera todas as outras em função de sua transversalidade e devido ao alcance que atingiu com o desenvolvimento tecnológico.

Ou seja, é a mídia quem tem maior poder de produzir e reproduzir formas de sentir, perceber, agir e viver. Se você tem um campo subjetivo construído à direita, esse sujeito vai pautar sua vida por atitudes à direita – incluindo o voto. Se, por outro lado, o repertório de palavras e imagens é progressista, temos o inverso.

Entendendo isso, resta saber se interessa à esquerda assumir essa bandeira – que não é tarefa de um, dois anos, mas um exercício de longo prazo.

(*) Marcelo Salles é jornalista.

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