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Um novo 1968 pode estar começando

O protesto dos estudantes contra a palestra ultradireitista…

Esta notícia é atual:

O campus da Universidade da Califórnia em Berkeley foi fechado nesta quarta-feira (1) em meio a um protesto violento contra uma palestra do editor do site de extrema-direita Breitbart, Milo Yiannopoulos.

 A polícia ordenou que os manifestantes da universidade se dispersassem e, de acordo com a rede de TV americana CNN, pelo menos um incêndio foi iniciado pelos manifestantes.
Este trecho de um ótimo artigo da revista Cult, assinado por Sean Purdy (professor do departamento de História da USP), nos mostra o papel histórico que tal universidade desempenhou na década de 1960:                                                                                                        .

A primeira grande mobilização do movimento estudantil nos Estados Unidos aconteceu na Universidade da Califórnia em Berkeley em 1964-1965 sobre o direito dos estudantes de organizar atividades políticas no campus, já que, nos anos 1950, os administradores dessa renomada universidade pública haviam banido tais atividades.

No outono de 1964, estudantes abertamente organizaram atos no campus em solidariedade ao movimento negro para desafiar as proibições. O aluno Jack Weinberg foi preso pela polícia e uma manifestação espontânea de 3 mil estudantes cercou o carro da polícia, proibindo-o de partir por 32 horas. Por dois meses, estudantes continuaram organizando grandes atos e manifestações sob a bandeira do Movimento pela Livre Expressão. Em dezembro, alunos ocuparam o principal prédio da administração da universidade. A polícia entrou e mais de 700 alunos foram presos.

…veio na sequência das manifestações de repúdio a Trump. 

Em janeiro, a universidade suspendeu os líderes da ocupação, provocando uma greve estudantil e manifestações amplas que efetivamente fecharam a universidade. Logo depois, a administração da universidade cedeu e atividades políticas foram permitidas no campus.

O Movimento pela Livre Expressão obteve uma vitória importante, inspirando a organização estudantil no país inteiro. Com a aceleração da guerra no Vietnã, a SDS e outras organizações montaram campanhas nacionais contra a guerra e contra o serviço militar obrigatório.

Estamos passando por momento semelhante, com uma difusa insatisfação entre os jovens dos EUA e Europa, cientes de que a crise econômica colocará enormes obstáculos no seu caminho para a inserção profissional e sucesso nas futuras carreiras. 

Os avanços autoritários pipocam em várias nações e a recém-iniciada presidência de Donald Trump vai na contramão de quase tudo que é belo, digno e justo na face da Terra, ameaçando tanger a humanidade para uma nova Idade Média ou mesmo para o extermínio (em função de seus desvarios ambientais).

Não é utópico trabalharmos com a hipótese de que os EUA novamente se dividirão entre uma embotada e intolerante parcela reacionária e uma ampla frente comum de pessoas esclarecidas e idealistas, dispostas a deter a marcha para a insensatez trumpiana. 

Trump poderá bisar o papel da Guerra do Vietnã: o de aberração contra a qual os melhores se unem.

Sendo que, desta vez, a correlação de forças não será maioria silenciosa x minoria estridente, mas, provavelmente, meio a meio (não esqueçamos que a o apresentador de reality show só ganhou permissão para tocar o terror graças ao estapafúrdio sistema eleitoral estadunidense, pois foi sua hilária adversária quem obteve maior quantidade de votos).

E, com os rigores que se abatem sobre a Europa, tudo leva a crer que uma escalada de protestos estudantis e outras manifestações de inconformismo contra as políticas de Trump repercutirá instantaneamente no velho continente, alavancando o ressurgimento, em larga escala, da contestação jovem.

Um novo 1968 não só é possível, como pode já estar começando.

Dilma descarta renúncia. Temer nada mais tem a temer.

A presidente Dilma Rousseff negou nesta 3ª feira (3) que pretenda renunciar, repetindo o besteirol de sempre: que a renúncia interessaria apenas àqueles que defendem seu afastamento, que a democracia brasileira “sofre um assalto”, etc. Eis duas frase completas, as outras são mais do mesmo:

Muitas vezes, não foi uma, nem duas, eles pediram que eu renunciasse, porque se eu renunciar se esconde para debaixo do tapete esse impeachment sem base legal, portanto, esse golpe.

É extremamente confortável para os golpistas que a vítima desapareça, que a injustiça não seja visível. Pois eu quero dizer para vocês: a injustiça vai continuar visível, bem visível.

Noves fora, o que realmente importa é: graças à constrangedora miopia política e a total falta de grandeza de Dilma, estamos definitivamente condenados a passar os próximos 32 meses governados por Michel Temer (só ingênuos supõem que ela possa retornar ao poder ao final do processo de impeachment). Pobres de nós!

A renúncia, Dilma saberia se tivesse a mais remota noção do que está acontecendo neste país, interessa apenas e tão somente àqueles que estamos dispostos a travar uma luta desesperada para que haja uma nova eleição presidencial. Pois, começando tão tarde tal mobilização, nossa única chance seria obtermos o apoio integral e irrestrito de todas as forças políticas que querem bloquear Temer.

Mas, se o próprio PT entraria dividido nessa parada (pois ainda estaria sonhando com salvar o mandato de Dilma quando, no 4º trimestre, o Senado deliberar sobre a perda definitiva ou não do dito cujo), qual é a chance de formarmos tal frente com uma mínima possibilidade de êxito? Nenhuma!

Então, sem a renúncia, de nada adianta mandar a PEC da nova diretas já para o Congresso, pois cairá no vazio. Vai ser apenas mais jogo de cena, para dar a impressão de que está resistindo enquanto promove o enterro da nossa última quimera.

Outra coisa: os que querem o afastamento de Dilma não estão nem aí para ela renunciar ou não. Já venceram em toda linha e agora estão se deliciando com o espetáculo. Provavelmente, preferirão vê-la humilhada e escorraçada, protagonizando ao vivo e em cores sua derrota acachapante e se avacalhando com a monocórdia repetição do seu único e falacioso refrão: “é golpe!”, “é golpe”, “é golpe!”.

E quem vai desaparecer não é vítima nenhuma, mas, apenas, uma presidente que se elegeu pela esquerda e governou para a direita, acabando por decepcionar uns por abandonar suas mais sagradas bandeiras e outros por não haver tido competência sequer para entregar-lhes o que prometeu (o ajuste fiscal de odiosas características neoliberais).

Ela se proclama vítima, mas as verdadeiras vítimas são os 11 milhões de desempregados e todos os brasileiros que comem o pão que o diabo amassou sob a pior recessão que este país já conheceu.

Enquanto chora suas mágoas por estar sendo afastada de um cargo que há 16 meses não conseguia verdadeiramente exercer, nenhuma palavra diz sobre os trabalhadores, os explorados, os excluídos, os coitadezas. Era para eles que deveria governar. Mas, com suas estrepolias econômicas, conduziu-os ao inferno.

A manchete que já está escrita: 10 milhões de desempregados no Brasil!!!

Em 1933, no auge da Grande Depressão, um quarto de toda a força de trabalho estadunidense estava desempregada. Dos que não foram para a rua da amargura, 30% aceitaram reduções em seus salários.

Aqui e agora, evidentemente, a coisa ainda não está tão ruim, mas é chocante sabermos que os desempregados, depois de se manterem na casa de 6,6 milhões no período 2012/2014, deram um salto para 9,1 milhões em 2015.

Isto levando-se em conta o nível de emprego apurado no trimestre agosto-setembro-outubro do ano passado. Os prognósticos dos economistas são de que, se em novembro-dezembro-janeiro não for alcançado o patamar altamente simbólico de 10 milhões de desempregados, pouco ficará faltando. E não existirá medida nenhuma no mundo capaz de evitar que seja atingido logo no trimestre seguinte.

Mesmo porque a saída de situação tão crítica não se dará apenas com iniciativas na área econômica. Será necessário o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos no timoneiro da nau Brasil.

A presidente Dilma Rousseff perdeu a credibilidade ao prometer o que não pretendia entregar em 2014 e nem que a vaca tussa a recuperará em meio à recessão. Vai continuar sendo vista, pela grande maioria dos brasileiros, como a mãe da penúria atual e o primeiro obstáculo a ser removido para o País sair do fundo do poço.

E, enquanto não se desatar o nó político, os grandes capitalistas continuarão jogando na retranca, adiando investimentos e enxugando custos, pois lhes importa mais não sofrerem perdas mínimas do que muitos brasileiros estarem perdendo tudo que têm.

A pregação de Marina Silva, anti-impeachmet e pró-cassação da chapa presidencial pelo TSE, é obviamente interesseira, pois a convocação de uma nova eleição nos próximos meses pode dar-lhe a vitória que só o jogo sujo do PT evitou em 2014, ao recorrer à mais agressiva e falaciosa campanha de satanização de todas as nossas eleições presidenciais.

Mas, isto não impede de ser a melhor saída do labirinto em que nos encontramos e até um caso em que a Justiça Eleitoral escreveria certo por linhas tortas (pois o estelionato eleitoral é motivo imensamente mais grave para a anulação do resultado das urnas do que todos os alegados pelos oposicionistas). As leis brasileiras são patéticas, atêm-se ao secundário e não punem quem faz campanha prometendo exatamente o contrário do que já decidiu fazer, o que se constitui na própria negação da democracia!

Vale repetir: a campanha à moda do Goebbels da Dilma, tornando legal mas extremamente ilegítima sua reeleição, foi a principal causa do ano político catastrófico de 2015, muito mais do que os efeitos da Operação Lava-Jato. O povo não é bobo, percebeu ter sido vítima de uma vigarice eleitoral e não se conforma. Quem será insensível a ponto de negar-lhe tal direito?

E é porque o poder está suspenso no vácuo que temos de devolvê-lo à sua fonte, o povo. Dar-lhe a oportunidade de indicar uma saída, já que os poderosos se mostram impotentes para tanto: não se entendem e, com suas disputas mesquinhas e canibalescas, estão nos conduzindo para o imponderável.

Dez milhões de desempregados num país cujo povo é muito pobre (nunca deixou de sê-lo apesar da propagandaiada ufanista, está aí o IDH sofrível que não me deixa mentir), significam miséria, desespero e morte nas periferias, grotões e quebradas do mundaréu. Quem será insensível a ponto de não se comover?

Dilma significa um, um mandato a que se apega com unhas e dentes, sem jamais mostrar competência para exercê-lo nem humildade para reconhecer que cometeu erros crassos na gestão anterior e agora os está cometendo piores ainda, ao insistir em impor-nos o receituário econômico da direita apesar de ter sido eleita pela esquerda. Como ela se tornou tão insensível a ponto de não renunciar?

Dois milhões e meio de desempegados adicionais só no ano passado é um número bem maior do que um. Mexe muito mais com meus sentimentos e convicções.

É pelos 2,5 milhões (e pelos que a eles se somarão) que choro. São eles que me inspiram a pregar, por enquanto no deserto, no sentido de que a esquerda recoloque a solidariedade para com os explorados no centro de suas preocupações.

Estar ao lado dos que vivem nas favelas, cortiços e casebres é muito mais importante para revolucionários do que desfrutar das mordomias dos palácios.

E gerenciar o capitalismo para os capitalistas não nos aproxima um milímetro sequer da revolução.


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REINALDO AZEVEDO MENTE
REINALDO AZEVEDO MENTE/2 (mensagem de Rui Martins à ombudsman da “Folha de S. Paulo”)
REINALDO AZEVEDO MENTE/3 (mensagem de Carlos Lungarzo à ombudsman da “Folha de S. Paulo”)

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A PM DE SP BARBARIZOU DE NOVO. E A PEC 51/2013 (DA DESMILITARIZAÇÃO DO POLICIAMENTO) SE ARRASTA NO SENADO.

Um roteiro para o Brasil sair da crise

Só os tacanhos e os que têm muito a perder não percebem/admitem que a saída civilizada do impasse político que ora imobiliza o Brasil, fazendo agravar-se cada vez mais nossa pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, exigirá concessões das várias partes, pois nenhuma é forte o suficiente para impor sua hegemonia.

Então, trago aqui um roteiro plausível para tanto, de antemão reconhecendo que os péssimos atores que dominam a cena política dificilmente terão grandeza e despojamento para assumirem suas responsabilidades. Mas, temos sempre de tentar:

  • a fratura exposta da total discordância do Partido dos Trabalhadores com a política econômica neoliberal ora praticada deveria ser levada à consequência óbvia, com o PT anunciando sua saída do governo e a disposição de encabeçar a oposição de esquerda à presidente Dilma Rousseff;
  • Dilma, por sua vez, ficaria com as mãos livres para apoiar-se nas forças que têm real afinidade ideológica com suas diretrizes econômicas, o PSDB e o PMDB (mais os coadjuvantes de sempre, que gravitam automaticamente na órbita do poder);

  • neste sentido, ela poderia deixar o PT e, p. ex., reingressar no PDT, que certamente receberia de braços abertos a caneta presidencial, mesmo sabendo que Leonel Brizola estaria se revirando na cova.

Ou seja, sem renúncia, sem impeachment nem golpe (seja ele branco ou sanguinário), o Brasil se desvencilharia das amarras dos liliputianos, passando a cuidar do que realmente importa para o povo sofredor: o reaquecimento da economia. [Tenho ouvido rumores de que, depois de 970 mil trabalhadores terem perdido o emprego entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, a divulgação dos dados do terceiro trimestre trará números ainda mais acachapantes, com cerca de 1,4 milhão de pobres coitados atirados na rua da amargura. Num país pobre como o nosso, algo assim desgraça e mata muita gente.]

O PT resgataria sua alma, livrando-se do mico de ser obrigado a respaldar medidas econômicas das quais é ferrenho adversário desde o nascedouro. E sua volta à oposição recolocaria Lula na disputa presidencial de 2018, pois a atual derrocada econômica está pulverizando suas chances.

O PSDB e o PMDB conquistariam o que sempre quiseram, o poder. Talvez adiante percebessem que administrar uma economia em frangalhos não é exatamente um grande negócio…

Dilma obteria o que mais tem buscado nos últimos meses, sua prioridade máxima e praticamente única: escapar do impeachment e terminar o seu mandato. Teria, claro, de conformar-se com a redução do seu poder real, mas seria o preço justo a pagar por tê-lo exercido de forma tão atabalhoada e incompetente. Na condição de rainha da Inglaterra, desempenharia um papel à altura dos seus predicados e não teria como causar maiores estragos.

Dilma e o dilúvio

Dilma não pede mais a benção do padrinho … 

Na semana passada, o que há de mais representativo e influente no PT fritou Joaquim Levy como nunca. Ainda assim, Dilma Rousseff declarou que o manterá como ministro da Fazenda. Por quê?

Porque os interesses do partido e da presidenta são conflitantes neste momento.

Como o Juquinha que só pensava em sexo, a Dilma só pensa em evitar o impeachment. Seu ego descomunal impregna cada decisão que toma. Pactuará com o pior demônio do inferno, se for necessário. Mas não admite a perspectiva sair do Palácio do Planalto pela porta dos fundos.

Então, com a popularidade no fundo do poço e cada vez mais mal amada pela esquerda, agarra-se como uma náufraga na única boia que julga poder salvá-la: o grande capital.

Foram os endinheirados que exigiram o arrocho fiscal e Dilma teme que, expelido Levy, parte deles cerre fileiras com a oposição e a outra parte apenas assista ao espetáculo, não movendo uma palha para evitar o impedimento presidencial. Então, ela bate o pé: que fique Levy e que se dane o povo brasileiro!

 Pois a recessão não cessará de agravar-se enquanto não for retirado o bode da sala… quer dizer, do governo. Um milhão de coitadezas foram para a rua da amargura. Quantos mais terão de pagar pela irredutibilidade da Dilma?
…e desautorizou publicamente Rui Falcão.

Já o Lula e o Rui Falcão, ao abrirem o jogo (e o fogo) contra Levy, priorizam a sobrevivência do PT, pois a recessão o está destruindo. Quanto mais tempo persistir a indefinição atual, maior será o estrago.

Ser identificado pelos trabalhadores como o partido responsável pela pior penúria das últimas décadas deverá causar verdadeiros desastres eleitorais. A perda da hegemonia nas ruas foi só um trailer do que está para vir.

Então, os grãos petistas estão fazendo pressão máxima para que a Dilma desista da guinada à direita e reassuma as bandeiras históricas do partido, mesmo que isto venha a ser a gota d’água para o impeachment.

E a presidenta a eles resiste porque coloca sua autoimagem acima do País, do partido, do seu ídolo de ontem e do seu padrinho de hoje, dos ideais que longinquamente a levaram a pegar em armas, dos clássicos marxistas que leu e esqueceu, das agruras dos desempregados e do desespero dos miseráveis, acima até de Deus (caso nele acredite).

PT admite que o novo pacote de arrocho fiscal é “antipopular”, mas mesmo assim lhe declara apoio!!!

O PT está convicto de que, com a continuidade do nosso projeto –e não por meio de concessões às políticas de austeridade antipopulares– será possível suplantar os obstáculos atuais.

Este é, ipsis litteris, um trecho da nota divulgada pela cúpula do Partido dos Trabalhadores nesta 5ª feira, 17. Reparem que o pacote do Levy foi qualificado de antipopular (contrário aos interesses do povo) e não apenas impopular (malquisto pelo povo).

Está corretíssimo, falta apenas acrescentar outros atributos: as políticas de austeridade são, ademais, natimortas (porque jamais sairão do papel, levados de roldão que vão ser pelo desfecho da crise de governabilidade), covardes/perversas (porque sacrificam os coitadezas e aliviam para os poderosos, principalmente os Setúbals e Trabucos da alta agiotagem) e suicidas (porque estão levando as nações à destruição, ao invés de as salvar).

O que deveria decidir o PT, se está convicto de que as medidas antipopulares são desnecessárias para suplantar os obstáculo atuais? Repudiá-las, claro!!!

 

Inexplicavelmente as resolveu apoiar, por 11 votos contra 4. Pior do que os 7×1 que a Alemanha sapecou no Brasil.

Não consigo sequer encontrar algum nexo nesta novo tiro no pé. Afinal, o que pretendiam os dirigentes petistas, com este inesperado rasgo de sinceridade antes de comunicarem que novamente colocaram as conveniências à frente dos princípios? Que benefício esperavam colher alegando a própria torpeza sem que isto nem de longe sirva como atenuante para a catastrófica decisão que tomaram?

Vão salvar o governo da Dilma? Não. Apenas associaram-se ao seu definitivo colapso.

Pois quem deveria representar os trabalhadores, mas se acumplicia conscientemente com políticas antipopulares, condena-se à derrocada, ao ostracismo e à irrelevância.

Que morram, pois, abraçados, antipopulares até a medula!

Ultimato da ‘Folha’ à Dilma: arroche os brasileiros ou renuncie!

Octávio Frias Filho só dá duas opções a Dilma: ou aproveita a “última chance” ou deve renunciar.

Quem acompanha meu  trabalho não se surpreenderá com os vários indícios de que a contagem regressiva para o defenestramento da presidenta Dilma Rousseff está chegando ao fim.  Era, como sempre afirmei, a consequência óbvia dos enormes erros cometidos; e o governo, aparvalhado e impotente, não conseguiu reverter o movimento inercial que o conduzia para o mais amargo fim.

 No último domingo, 13, a Folha de S. Paulo não só assumiu em editorial que tal desfecho já entrou na ordem do dia, como o fez num editorial excepcionalmente publicado na capa, com o título alarmista de Última chance :

Às voltas com uma gravíssima crise político-econômica, que ajudou a criar e a que tem respondido de forma errática e descoordenada; vivendo a corrosão vertiginosa de seu apoio popular e parlamentar, a que se soma o desmantelamento ético do PT e dos partidos que lhe prestaram apoio, a administração Dilma Rousseff está por um fio.

A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir. Precisa, agora, demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo.

Previsivelmente, o jornal pede que se reequilibrem as finanças públicas com medidas ainda mais draconianas do que as propostas por Joaquim Levy e propõe que exploradores e explorados dividam entre si o sacrifício.

Omite que os primeiros (mesmo numa perspectiva capitalista) sempre foram beneficiados demais e os segundos, prejudicados demais. Seria hora, isto sim, de reequilibrarem-se os pesos da balança, entregando a conta para os que, mesmo perdendo os anéis, ainda conservarão gordos os dedos.

E se Dilma não fizer o que a Folha exige, ou seja, a radicalização do chamado austericídio? Aí o jornal comprova mais uma vez que não ter sido casual seu apoio à dita(nada)branda:

Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa” (o grifo é meu).

Pronto, o gênio saiu da garrafa: o jornal mais influente do País já se arroga o direito de sugerir o impeachment, ao mesmo tempo que dá um ultimato velado à presidenta!

E por que o faz neste instante? A resposta está em três notícias da mesma edição dominical da Folha:

Empresários fizeram chegar ao governo a avaliação de que, com a perda do grau de investimento do país, a presidente Dilma Rousseff precisa agir rapidamente e mostrar resultados até outubro. Caso contrário, afirmaram, ficará difícil manter o apoio do setor empresarial, um dos últimos lastros do governo petista.

A conjectura foi transmitida a interlocutores da presidente como um alerta para a necessidade da petista ser firme na definição de medidas para reequilibrar as contas públicas, a despeito de críticas ao ajuste de setores do PT e do ex-presidente Lula[Ou seja, os tais empresários são o sujeito oculto do editorial da Folha. O ou dá ou nós descemos foi inspirado por eles, que exigem rendição incondicional. Eu avisei que as coisas chegariam a este ponto; Dilma teria saído bem melhor na foto caso houvesse reagido antes de lhe colocarem a corda no pescoço. Demorou demais para escolher o lado certo e, agora, só salvará seu mandato se aceitar tornar-se uma fantoche explícita dos ricaços.]

A Câmara deve começar a tratar formalmente do processo de impeachment de Dilma Rousseff nesta semana, quando deputados de oposição apresentarão requerimentos ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que ele se posicione sobre os 13 pedidos de deposição.

Cunha já avisou que pretende negar, se não todas, boa parte das ações exigindo o impeachment. Com os demais, ele continuaria protelando.

Jornal que fez editoriais similares… faliu!

O roteiro dos defensores do afastamento é então apresentar recursos questionando uma das recusas de Cunha. Assim, o caso precisaria ser submetido ao plenário. Se for aprovado por maioria simples, o processo é deflagrado. [Ou seja, está prontinho o roteiro caso Dilma não se submeta à tutela proposta, vendendo a alma definitivamente ao diabo: deputados partidários do impeachment pedirão uma definição ao Cunha, este negará alguns pedidos e os ditos cujos colocarão tal recusa para discussão no plenário. Aí, com a popularidade da Dilma na casa de um dígito, não é difícil adivinhar qual será a decisão dos parlamentares, sabendo que marcharem contra a corrente poderá ser-lhes fatal nas eleições futuras]

Diante do avanço do movimento pró-impeachment no Congresso, Dilma Rousseff montou nos últimos dias uma ‘força-tarefa’ integrada por ministros de sua confiança para mapear os apoios de que o governo dispõe[Ou seja, o próprio Palácio do Planalto, por via oblíqua, confirma que a batalha derradeira se aproxima. E, face aos resultados obtidos até agora, o que podemos esperar dos ministros de confiança da Dilma, se não novos desastres?]

De resto, não me traz satisfação nenhuma vir há bom tempo acertando todas as minhas previsões. Mas, tenho a sensação de dever cumprido. Como jornalista, informei muito bem meu público, ao contrário dos que passaram o tempo todo teclando wishful thinking.

Posse de Levy foi o começo do fim para Dilma

E como homem de ideais, há cerca de um ano venho apontando às forças de esquerda os erros que cometiam e sugerindo opções:

  • durante a campanha eleitoral de 2014, não desconstruírem Marina Silva, deixando para ela o mico de impor o arrocho fiscal, ou
  • alterarem a composição da chapa no sentido do volta, Lula!, pois Dilma claramente não estava à altura do quadro dramático que se delineava para 2015;
  • no primeiro trimestre de 2015, quando a economia começou a desandar, a articulação de um governo de união nacional ou a montagem de um gabinete de crise, pois assim o governo dividiria com a oposição a responsabilidade pela busca de uma saída da degringola econômica e pela adoção dos remédios amargos;
  • mais recentemente, quando a derrubada de Dilma passou a evidenciar-se como inevitável, a convocação um plebiscito sobre o ajuste fiscal, prevendo a renúncia dela caso o povo dissesse não! (seria uma saída mais altaneira e digna, à maneira do De Gaulle), ou

  • Dilma reassumir as bandeiras de esquerda, para ao menos cair pelas razões certas, não por ter pretendido governar com a direita e fracassado até nisto, ou, pelo menos,
  • ela renunciar antes de ser impedida, para a vitória da direita não se tornar mais triunfal ainda.

E, claro, passei o tempo todo pedindo a cabeça do Joaquim Levy, o cavalo de Troia que o Ulisses do Bradesco (Luís Carlos Trabuco) conseguiu infiltrar no reduto governista, a fim de que criasse as condições para a pior derrota da esquerda brasileira desde 1964.

Moral da História: nem sempre os que dizem verdades desagradáveis querem o mal de alguém; nem sempre os que só afagam e bajulam lhe fazem algum bem.

“Metida tenho a mão na consciência / e só falo verdades puras / que me foram ditadas pela viva experiência” –disse Camões. E digo eu.

CPMF: requiescat in infernum.

Por que a popularidade da presidenta Dilma Rousseff despencou a ponto de torná-la ainda mais malquista do que os calamitosos Sarney e Collor?

 Creio que a já fracassada (o governo acaba de desistir) tentativa de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira ajuda a equacionar a questão.

Até agora, eram vistos como vilões maiores a recessão econômica e o mar de lama que as investigações do mensalão e do petrolão escancararam. O estelionato eleitoral de 2014 parecia ter ficado para trás.

 No entanto, a extrema repulsa com que foi unanimemente recebida a ideia de ressuscitar a CPMF dá o que pensarmos.

Em 1993, ela foi vendida como uma solução para o custeio da Saúde Pública, com o respeitável doutor Adib Jatene emprestando ingenuamente sua imagem ilibada para uma pilantragem a mais dos políticos, sempre à cata de novos pretextos para tosquiarem os cidadãos.

O povo engoliu de boa fé a patranha e ficou espumando de raiva quando lhe caiu a ficha de que o objetivo real da patifaria jamais fora o de melhorar a Previdência Social, mas sim o de rechear os cofres do governo.

Ainda assim, o mesmo peixe podre foi vendido novamente no período 1997/2007, só que ninguém mais o comprou por livre e espontânea vontade. Foi enfiado goela dos governados adentro.

Extinta para alívio geral, esta herança maldita do FHC continuou atraente para os governos petistas, que a quiseram exumar em 2008, 2011 e, agora, em 2015. Negativo. O povo não é bobo, acreditou uma vez e nunca mais! Detesta os que tentam engambelá-lo de novo.

Seria interessante uma pesquisa que avaliasse o quanto pesa, na rejeição de Dilma, o fato de ela haver vencido a eleição de 2014 fazendo alarmismo a respeito da política econômica dos seus dois principais rivais, tendo depois adotado exatamente o mesmo receituário neoliberal.

Quem votou contra o arrocho fiscal ao votar em Dilma, agora percebe que foi feito de bobo e jogou seu voto no lixo. Fustigado pela inflação, pelo aumento das tarifas, pelo desemprego, pela perda de poder aquisitivo, em quem há de colocar a culpa?

Na Dilma, claro, pois foi ela quem prometeu mantê-lo a salvo de todos esses fantasmas.

Cujo arrastar de correntes é cada vez mais insuportável.

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Se plantar mais do mesmo, Dilma colherá mais do mesmo.

Continuam viajando na maionese Dilma Rousseff e a ala chapa-branca do PT (aquela que não dá a mínima para as bandeiras históricas do partido e adere até ao neoliberalismo quando isto lhe convém).

A presidenta vinha evitando aparições na TV com dia e hora marcados, para que os adversários não convocassem humilhantes panelaços. Mudou de idéia e dará a luz de sua (des)graça no próximo programa do PT, que vai ao ar no dia 6, em rede nacional. Alguém dúvida de que os opositores articularão, nas redes sociais, o panelaço mais barulhento de quantos houve até agora?

Ela decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy.

Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa…

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos alvos da ofensiva dilmista e lulista, já disse que “o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo”. Raposa velha não atira boias para inimigo que está afundando.

Enfim, o PT continua acreditando que atingiu seu pior momento em 35 anos de existência por causa da superexposição dos escândalos de corrupção na grande mídia (adversa como sempre!), de erros na forma de comunicar-se e de não haver sido suficientemente persuasivo na cooptação dos rivais.

Enquanto insistir na auto-ilusão, seguirá em direção ao abismo. A direita golpista, começando pelo Reinaldo Azevedo, exultou com a notícia de que a Dilma sairá da sua reclusão para receber mais tortas na cara. Com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos.

Vou repetir mais uma vez, talvez alguém a bordo do Titanic finalmente me escute: o iceberg que afundará o governo atende pelo nome de recessão. E recessão é o pseudônimo do Joaquim Levy. Enquanto o cidadão comum sentir-se empobrecendo dia a dia, rejeitará Dilma e o PT na mesmíssima proporção.

Então, não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será… mais da mesma rejeição estratosférica atual.

Para salvar-se, Dilma terá de devolver o Levy à sua insignificância, anunciar uma guinada de 180º na política econômica e tentar reconquistar o apoio popular.

Se depender dos banqueiros, dos ruralistas, dos grandes capitalistas em geral, das parlamentares, etc., ela não iniciará 2016 no Palácio do Planalto. Se cair nos braços do povo (como o Lula já recomendou), talvez escape da degola.

Ou, pelo menos, terá um epitáfio digno, de quem tombou defendendo os explorados, não um do tipo “aqui jaz uma presidenta que seguiu as pegadas de Margaret Thatcher e Angela Merkel, mas não possuía a competência de ambas”.

DENÚNCIA

Não sou de ficar anunciando de 10 em 10 minutos os meus artigos no Facebook e no Twitter, como vejo muitos fazerem. Posto-os apenas uma vez, pois detesto esses artifícios típicos da propaganda, “quanto mais aparecerem, maior a chance de serem notados”, etc.

Mesmo assim, há internautas com índole totalitária tentando fazer com que não apareçam sequer uma vez. Ao anunciar meu artigo deste domingo (26), fui impedido:

essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo.

Os mesmos que vira-e-mexe tiram o meu blogue do ar, fazendo-me perder uns 15 minutos para reativá-lo, agora empenham-se em excluí-lo do Facebook. Direitistas ou governistas dá no mesmo, têm alma de censores.

E do tipo fanáticos, como os do Santo Ofício, não meros tarefeiros na linha da dª Solange da ditadura militar.

Quanto ao Facebook, é moderninho por fora e medieval por dentro. Quer dizer que qualquer ação concertada de inimigos políticos é suficiente para tirar-se um articulista do ar, sem comunicação prévia nem chance nenhuma para apresentar defesa?!

Torquemada vive.

Obs. Por curiosidade, tentei divulgar esta denúncia e o Facebook a aceitou. Tentei novamente anunciar o artigo político e constatei que continua embargado. Ou seja, trata-se de um bloqueio automático, que é ativado quando existe tal ou qual palavra no texto. Qualquer semelhança com a burrice da censura dos milicos não é mera coincidência.

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