O governo Dilma sofreu derrota acachapante no Tribunal de Contas da União, por irresponsabilidade fiscal.
Certamente sofrerá outra no Tribunal Superior Eleitoral, por financiamento ilícito da campanha presidencial de 2014.
A probabilidade de impedir que o processo de impeachment seja aberto na Câmara Federal é remotíssima.
E a economia brasileira continuará indo de mal a pior enquanto os parlamentares estiverem decidindo o impedimento ou não da presidenta. Quantos deles se manterão fiéis a um governo moribundo, arriscando-se a receberem o troco do eleitorado na eleição seguinte? Há alguma dúvida quanto ao desfecho da chanchada?
Se Dilma insistir em rumar contra a corrente, apenas aumentará sua quota de desastres e vexames, dando aos adversários a oportunidade de comemorarem outros triunfos marcantes até a apoteose final.
Deveria renunciar. Imediatamente. Pois, quanto mais tempo refugar, mais reforçará a impressão de haver sido chutada.
E a esquerda tem é de curvar-se à evidência do fato de que, depois de tantas lambanças cometidas, Dilma não tem mais salvação. Ela mesma pavimentou o caminho para seu defenestramento, principalmente ao evitar confrontos efetivos com o capitalismo mas pretender corrigi-lo em alguns detalhes, com pulos do gato que deram errado, acabando por colocar a economia em parafuso.
Depois, reelegendo-se quando a situação já era gravíssima, cometeu um erro pior ainda: acreditou que a volta à ortodoxia bastasse para fazer tudo entrar de novo nos eixos.
Mas, como já acontecera no Governo João Goulart, a guinada à direita não funcionou porque os endinheirados jamais confiariam nela plenamente e a esquerda passou a desconfiar dela por estar-se mancomunando com o grande capital.
Perdeu o apoio dos únicos que poderiam dar-lhe uma mão forte nesta hora e não ganhou nada em troca. Como eu cansei de alertar, se não demitisse o Joaquim Levy, acabaria morrendo abraçada com ele. Podem encomendar dois caixões.
O impeachment, no entanto, não é nenhum fim do mundo. Caberá à esquerda fazer um profundo processo de autocrítica, reagrupar suas forças e travar novas batalhas, como estas:
favorecer a impugnação da chapa de 2014 como um todo, para que seja convocada nova eleição presidencial ao invés de a transição ser decidida num conchavão entre PMDB, PSDB e forças subalternas;
posicionar-se frontalmente contra todas as iniciativas que visem equilibrar as contas públicas sangrando os trabalhadores, os pobres e os indefesos.
Pois, após o tsunami Dilma.2, a tendência óbvia é a de que o novo governo seja articulado pela direita. E dela só podemos esperar mais do mesmo neoliberalismo que Joaquim Levy tentou socar-nos goela adentro, com a única diferença de que provavelmente será vendido de forma mais hábil, por um economista de primeiro time, ao invés do pobre coitado que o Luís Carlos Trabuco induziu a Dilma a empossar.
Em suma, a luta continuará. Com a vantagem de que a esquerda vai poder reassumir sua verdadeira identidade, livrando-se do mico de defender o mandato de uma presidente com cuja política econômica jamais poderia compactuar.
“O PT está convicto de que, com a continuidade do nosso projeto –e não por meio de concessões às políticas de austeridade antipopulares– será possível suplantar os obstáculos atuais.“
Este é, ipsis litteris, um trecho da nota divulgada pela cúpula do Partido dos Trabalhadores nesta 5ª feira, 17. Reparem que o pacote do Levy foi qualificado de antipopular (contrário aos interesses do povo) e não apenas impopular (malquisto pelo povo).
Está corretíssimo, falta apenas acrescentar outros atributos: as políticas de austeridade são, ademais, natimortas (porque jamais sairão do papel, levados de roldão que vão ser pelo desfecho da crise de governabilidade), covardes/perversas (porque sacrificam os coitadezas e aliviam para os poderosos, principalmente os Setúbals e Trabucos da alta agiotagem) e suicidas (porque estão levando as nações à destruição, ao invés de as salvar).
O que deveria decidir o PT, se está convicto de que as medidas antipopulares são desnecessárias para suplantar os obstáculo atuais? Repudiá-las, claro!!!
Inexplicavelmente as resolveu apoiar, por 11 votos contra 4. Pior do que os 7×1 que a Alemanha sapecou no Brasil.
Não consigo sequer encontrar algum nexo nesta novo tiro no pé. Afinal, o que pretendiam os dirigentes petistas, com este inesperado rasgo de sinceridade antes de comunicarem que novamente colocaram as conveniências à frente dos princípios? Que benefício esperavam colher alegando a própria torpeza sem que isto nem de longe sirva como atenuante para a catastrófica decisão que tomaram?
Vão salvar o governo da Dilma? Não. Apenas associaram-se ao seu definitivo colapso.
Pois quem deveria representar os trabalhadores, mas se acumplicia conscientemente com políticas antipopulares, condena-se à derrocada, ao ostracismo e à irrelevância.
Que morram, pois, abraçados, antipopulares até a medula!
Octávio Frias Filho só dá duas opções a Dilma: ou aproveita a “última chance” ou deve renunciar.
Quem acompanha meu trabalho não se surpreenderá com os vários indícios de que a contagem regressiva para o defenestramento da presidenta Dilma Rousseff está chegando ao fim. Era, como sempre afirmei, a consequência óbvia dos enormes erros cometidos; e o governo, aparvalhado e impotente, não conseguiu reverter o movimento inercial que o conduzia para o mais amargo fim.
No último domingo, 13, a Folha de S. Paulo não só assumiu em editorial que tal desfecho já entrou na ordem do dia, como o fez num editorial excepcionalmente publicado na capa, com o título alarmista de Última chance:
“Às voltas com uma gravíssima crise político-econômica, que ajudou a criar e a que tem respondido de forma errática e descoordenada; vivendo a corrosão vertiginosa de seu apoio popular e parlamentar, a que se soma o desmantelamento ético do PT e dos partidos que lhe prestaram apoio, a administração Dilma Rousseff está por um fio.
A presidente abusou do direito de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir. Precisa, agora, demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no tempo que lhe resta de governo“.
Previsivelmente, o jornal pede que se reequilibrem as finanças públicas com medidas ainda mais draconianas do que as propostas por Joaquim Levy e propõe que exploradores e explorados dividam entre si o sacrifício.
Omite que os primeiros (mesmo numa perspectiva capitalista) sempre foram beneficiados demais e os segundos, prejudicados demais. Seria hora, isto sim, de reequilibrarem-se os pesos da balança, entregando a conta para os que, mesmo perdendo os anéis, ainda conservarão gordos os dedos.
E se Dilma não fizer o que a Folha exige, ou seja, a radicalização do chamado austericídio? Aí o jornal comprova mais uma vez que não ter sido casual seu apoio à dita(nada)branda:
“Serão imensas, escusado dizer, as resistências da sociedade a iniciativas desse tipo. O país, contudo, não tem escolha. A presidente Dilma Rousseff tampouco: não lhe restará, caso se dobre sob o peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e, eventualmente, o cargo que ocupa” (o grifo é meu).
Pronto, o gênio saiu da garrafa: o jornal mais influente do País já se arroga o direito de sugerir o impeachment, ao mesmo tempo que dá um ultimato velado à presidenta!
E por que o faz neste instante? A resposta está em três notícias da mesma edição dominical da Folha:
“Empresários fizeram chegar ao governo a avaliação de que, com a perda do grau de investimento do país, a presidente Dilma Rousseff precisa agir rapidamente e mostrar resultados até outubro. Caso contrário, afirmaram, ficará difícil manter o apoio do setor empresarial, um dos últimos lastros do governo petista.
A conjectura foi transmitida a interlocutores da presidente como um alerta para a necessidade da petista ser firme na definição de medidas para reequilibrar as contas públicas, a despeito de críticas ao ajuste de setores do PT e do ex-presidente Lula“. [Ou seja, os tais empresários são o sujeito oculto do editorial da Folha. O ou dá ou nós descemos foi inspirado por eles, que exigem rendição incondicional. Eu avisei que as coisas chegariam a este ponto; Dilma teria saído bem melhor na foto caso houvesse reagido antes de lhe colocarem a corda no pescoço. Demorou demais para escolher o lado certo e, agora, só salvará seu mandato se aceitar tornar-se uma fantoche explícita dos ricaços.]
“A Câmara deve começar a tratar formalmente do processo de impeachment de Dilma Rousseff nesta semana, quando deputados de oposição apresentarão requerimentos ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que ele se posicione sobre os 13 pedidos de deposição.
Cunha já avisou que pretende negar, se não todas, boa parte das ações exigindo o impeachment. Com os demais, ele continuaria protelando.
Jornal que fez editoriais similares… faliu!
O roteiro dos defensores do afastamento é então apresentar recursos questionando uma das recusas de Cunha. Assim, o caso precisaria ser submetido ao plenário. Se for aprovado por maioria simples, o processo é deflagrado“. [Ou seja, está prontinho o roteiro caso Dilma não se submeta à tutela proposta, vendendo a alma definitivamente ao diabo: deputados partidários do impeachment pedirão uma definição ao Cunha, este negará alguns pedidos e os ditos cujos colocarão tal recusa para discussão no plenário. Aí, com a popularidade da Dilma na casa de um dígito, não é difícil adivinhar qual será a decisão dos parlamentares, sabendo que marcharem contra a corrente poderá ser-lhes fatal nas eleições futuras]
“Diante do avanço do movimento pró-impeachment no Congresso, Dilma Rousseff montou nos últimos dias uma ‘força-tarefa’ integrada por ministros de sua confiança para mapear os apoios de que o governo dispõe“. [Ou seja, o próprio Palácio do Planalto, por via oblíqua, confirma que a batalha derradeira se aproxima. E, face aos resultados obtidos até agora, o que podemos esperar dos ministros de confiança da Dilma, se não novos desastres?]
De resto, não me traz satisfação nenhuma vir há bom tempo acertando todas as minhas previsões. Mas, tenho a sensação de dever cumprido. Como jornalista, informei muito bem meu público, ao contrário dos que passaram o tempo todo teclando wishful thinking.
Posse de Levy foi o começo do fim para Dilma
E como homem de ideais, há cerca de um ano venho apontando às forças de esquerda os erros que cometiam e sugerindo opções:
durante a campanha eleitoral de 2014, não desconstruírem Marina Silva, deixando para ela o mico de impor o arrocho fiscal, ou
alterarem a composição da chapa no sentido do volta, Lula!, pois Dilma claramente não estava à altura do quadro dramático que se delineava para 2015;
no primeiro trimestre de 2015, quando a economia começou a desandar, a articulação de um governo de união nacional ou a montagem de um gabinete de crise, pois assim o governo dividiria com a oposição a responsabilidade pela busca de uma saída da degringola econômica e pela adoção dos remédios amargos;
mais recentemente, quando a derrubada de Dilma passou a evidenciar-se como inevitável, a convocação um plebiscito sobre o ajuste fiscal, prevendo a renúncia dela caso o povo dissesse não! (seria uma saída mais altaneira e digna, à maneira do De Gaulle), ou
Dilma reassumir as bandeiras de esquerda, para ao menos cair pelas razões certas, não por ter pretendido governar com a direita e fracassado até nisto, ou, pelo menos,
ela renunciar antes de ser impedida, para a vitória da direita não se tornar mais triunfal ainda.
E, claro, passei o tempo todo pedindo a cabeça do Joaquim Levy, o cavalo de Troia que o Ulisses do Bradesco (Luís Carlos Trabuco) conseguiu infiltrar no reduto governista, a fim de que criasse as condições para a pior derrota da esquerda brasileira desde 1964.
Moral da História: nem sempre os que dizem verdades desagradáveis querem o mal de alguém; nem sempre os que só afagam e bajulam lhe fazem algum bem.
“Metida tenho a mão na consciência / e só falo verdades puras / que me foram ditadas pela viva experiência” –disse Camões. E digo eu.
Continuam viajando na maionese Dilma Rousseff e a ala chapa-branca do PT (aquela que não dá a mínima para as bandeiras históricas do partido e adere até ao neoliberalismo quando isto lhe convém).
A presidenta vinha evitando aparições na TV com dia e hora marcados, para que os adversários não convocassem humilhantes panelaços. Mudou de idéia e dará a luz de sua (des)graça no próximo programa do PT, que vai ao ar no dia 6, em rede nacional. Alguém dúvida de que os opositores articularão, nas redes sociais, o panelaço mais barulhento de quantos houve até agora?
Ela decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy.
Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa…
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos alvos da ofensiva dilmista e lulista, já disse que “o momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo”. Raposa velha não atira boias para inimigo que está afundando.
Enfim, o PT continua acreditando que atingiu seu pior momento em 35 anos de existência por causa da superexposição dos escândalos de corrupção na grande mídia (adversa como sempre!), de erros na forma de comunicar-se e de não haver sido suficientemente persuasivo na cooptação dos rivais.
Enquanto insistir na auto-ilusão, seguirá em direção ao abismo. A direita golpista, começando pelo Reinaldo Azevedo, exultou com a notícia de que a Dilma sairá da sua reclusão para receber mais tortas na cara. Com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos.
Vou repetir mais uma vez, talvez alguém a bordo do Titanic finalmente me escute: o iceberg que afundará o governo atende pelo nome de recessão. E recessão é o pseudônimo do Joaquim Levy. Enquanto o cidadão comum sentir-se empobrecendo dia a dia, rejeitará Dilma e o PT na mesmíssima proporção.
Então, não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será… mais da mesma rejeição estratosférica atual.
Para salvar-se, Dilma terá de devolver o Levy à sua insignificância, anunciar uma guinada de 180º na política econômica e tentar reconquistar o apoio popular.
Se depender dos banqueiros, dos ruralistas, dos grandes capitalistas em geral, das parlamentares, etc., ela não iniciará 2016 no Palácio do Planalto. Se cair nos braços do povo (como o Lula já recomendou), talvez escape da degola.
Ou, pelo menos, terá um epitáfio digno, de quem tombou defendendo os explorados, não um do tipo “aqui jaz uma presidenta que seguiu as pegadas de Margaret Thatcher e Angela Merkel, mas não possuía a competência de ambas”.
DENÚNCIA
Não sou de ficar anunciando de 10 em 10 minutos os meus artigos no Facebook e no Twitter, como vejo muitos fazerem. Posto-os apenas uma vez, pois detesto esses artifícios típicos da propaganda, “quanto mais aparecerem, maior a chance de serem notados”, etc.
Mesmo assim, há internautas com índole totalitária tentando fazer com que não apareçam sequer uma vez. Ao anunciar meu artigo deste domingo (26), fui impedido:
“essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo“.
Os mesmos que vira-e-mexe tiram o meu blogue do ar, fazendo-me perder uns 15 minutos para reativá-lo, agora empenham-se em excluí-lo do Facebook. Direitistas ou governistas dá no mesmo, têm alma de censores.
E do tipo fanáticos, como os do Santo Ofício, não meros tarefeiros na linha da dª Solange da ditadura militar.
Quanto ao Facebook, é moderninho por fora e medieval por dentro. Quer dizer que qualquer ação concertada de inimigos políticos é suficiente para tirar-se um articulista do ar, sem comunicação prévia nem chance nenhuma para apresentar defesa?!
Torquemada vive.
Obs. Por curiosidade, tentei divulgar esta denúncia e o Facebook a aceitou. Tentei novamente anunciar oartigo políticoe constatei que continua embargado. Ou seja, trata-se de um bloqueio automático, que é ativado quando existe tal ou qual palavra no texto. Qualquer semelhança com a burrice da censura dos milicos não é mera coincidência.
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Os editoriais da Folha de S. Paulo não cheiram nenhum perfume que agrade ao olfato dos melhores seres humanos; nem, na maioria das vezes, fedem. Ficam mais nas obviedades e platitudes, no nem sim, nem não, muito pelo contrário…
São raros os contundentes como o provável campeão de rejeição em todos os tempos —aquele que, baixando o cassete em Hugo Chávez, en passant minimizou o terrorismo de estado imposto ao Brasil pelos golpistas de 1964, qualificando-o de ditabranda.
Então, chama a atenção o tom exacerbado, cuspindo fogo, que a Folha adotou nesta 6ª feira (24) para deplorar o malogro do arrocho fiscal do Joaquim Levy:
“O Brasil está à deriva num mar tempestuoso. O lamentável desfecho do debate acerca das contas públicas acentuou a sensação de que ninguém controla o leme desse gigantesco transatlântico.
Acho que entendi errado aquelas teses do Friedman
Reduzir a meta de economia de gastos em 2015 foi o menor dos males, pois já estava clara a impossibilidade de o setor público destinar R$ 66,3 bilhões para abater a dívida ao final deste ano de aguda recessão. A magnitude da revisão e sobretudo o modo como se desenrolou é que recendem a capitulação.
O novo objetivo [saldo positivo de R$ 8,7 bilhões] já surge com uma cláusula que perdoa seu descumprimento e admite deficit de até R$ 17,7 bilhões.
Premia-se a irresponsabilidade do Congresso…
…à exceção do Ministério da Fazenda, os atores institucionais relevantes para a condução da política econômica se sentem livres para boicotar o ajuste.
…Perfilam-se entre os sabotadores os líderes do Congresso e do Judiciário, o ministro da Casa Civil, o titular do Planejamento e a própria presidente da República, cuja inépcia se ressalta a cada decisão importante que tem a tomar…
…Se quiser recuperar a confiança maculada, Dilma Rousseff precisa decidir-se sobre o rumo a seguir e agir resolutamente. Chega de sustentar uma equipe desarmônica de ministros. Aos sabotadores a mensagem deve ser clara: ou submetem-se ou deixam o governo“.
Ou seja, a Folha apresenta o ministro da Fazenda como uma Chapeuzinho Vermelho cercada de lobos por todos os lados. Nem uma palavra a respeito de sua falta de estatura para o cargo: Levy não passa de um economista menor, sem brilho acadêmico, que atuou quase sempre em governos e, como mero coadjuvante, em instituições como o FMI e o Banco Central Europeu, nelas aprendendo a priorizar invariavelmente os interesses do capital financeiro, em detrimento da felicidade e até da sobrevivência dos seres humanos.
Mesmo no Bradesco (cujo diretor-presidente, Luiz Carlos Trabuco, indicou-o para Dilma após recusar a proposta de ele próprio assumir a Pasta) só servia para cuidar da gestão de ativos de terceiros, um tentáculo menor do polvo.
Tem as simpatias da direita em geral por ser um neoliberal de corpo e alma, mas inspira desconfiança no chamado mercado por ter um currículo meia-boca. Se era para impor aqui uma política de austeridade igualzinha àquela que tem desgraçado nações como a Grécia, por que a Dilma não chamou logo o Delfim Netto? Seus valores ideológicos são tão execráveis quanto os do Levy, mas possui a expertise que falta ao patético e (agora) fracassado Chicago (office) boy…
Querer ficar bem com a direita…
O fiasco era a chamada caçapa cantada, não só pela resistência dos que se beneficiam do loteamento do Estado e mamam nas suas tetas, mas também por um motivo que venho apontando desde a campanha: a política econômica que os poderosos exigiam (essa que está aí) JAMAIS poderia ser implantada pelo PT, que a vinha rechaçando veementemente desde seus longínquos primórdios, na segunda metade da década de 1970, quando Lula liderava as grandes greves do ABC paulista. Não se pode pisar num passado destes, destruindo a própria identidade do petismo.
O PT poderia, simplesmente, haver disputado a eleição de forma leal, sem desconstruir Marina Silva com uma satanização de fazer inveja a Joseph Goebbels. Provavelmente perderia, deixando para sua filha pródiga a espinhosa tarefa de mergulhar o País numa recessão para fazer a vontade dos grandes capitalistas.
Ou ter, uma vez reeleita Dilma, feito exatamente o que prometera: não se vergar aos bancos e ao patronato em geral. Os austericídios já consumados são provas eloquentes de que o emagrecimento forçado proposto por Friedman e imposto por Thatcher, Reagan, Pinochet, Merkel, etc., NÃO FUNCIONA!!! Leva as nações à anorexia, mandando-as para a UTI.
…e com a esquerda não funciona mais, portanto…
Já passou da hora de os países imolados no altar do capital começarem a unir-se para reagirem, e o Brasil poderia desempenhar um papel de destaque num processo desses. Isto, sim, seria coerente com o que o partido proclamou no seu manifesto de fundação:
“O PT nasce da decisão dos explorados de lutar contra um sistema econômico e político que não pode resolver os seus problemas, pois só existe para beneficiar uma minoria de privilegiados“.
O que o PT jamais poderia é ter adotado uma retórica de esquerda para salvar (na bacia das almas) uma eleição praticamente perdida e depois aplicar a política econômica da direita mais impiedosa. É POR ISTO QUE NÃO CONSEGUE CONTROLAR O LEME DO TAL TRANSATLÂNTICO E A REJEIÇÃO A DILMA HOJE ALCANÇA NÍVEIS ESTRATOSFÉRICOS!
A melhor saída para o buraco em que se meteu será voltar a ser fiel aos seus ideais:
exonerando Levy e outros estranhos no ninho como Kátia Abreu e George Hilton;
dando uma guinada de 180º na política econômica; e
…chegou a hora de escolher um lado.
retirando a coordenação política das mãos fisiológicas de Michel Temer (Lula é o ÚNICO quadro de que o PT dispõe para exercer tal papel num momento crítico como o atual).
Desta forma, ou viraria o jogo ou, pelo menos, perderia por razões defensáveis e posicionado do lado certo, o dos explorados.
Já ser escorraçado pelo próprio povão, que a recessão do Levy está levando ao desespero, seria humilhante demais, além de tornar a reconstrução da esquerda, depois do vendaval, uma missão quase impossível.
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A ficha já deve estar caindo para os petistas que me satanizaram ou ignoraram durante a última campanha eleitoral: era eu quem via mais longe, não os jenios que dirigem o partido.
Bom conhecedor do que seja um arrocho fiscal, uma recessão e de como se comporta o povo brasileiro quando seu bolso fica vazio, eu adverti: já que lhe faltava coragem política para tentar trilhar caminho diferente do da ortodoxia econômica do capitalismo, então melhor seria o PT, pelo menos, não continuar na Presidência da República em 2015/2018, deixando para outra força qualquer o mico de acertar as contas públicas tirando o couro e o sangue dos explorados.
Surgiu uma chance de sair do Palácio do Planalto sem grandes traumas: perder para os tucanos seria duro de engolirem, mas a entrada da Marina Silva na disputa facilitava tudo.
Filha pródiga do petismo, ela não era, então, exacerbadamente hostil ao seu partido de origem, nem levava jeito de, num mandato presidencial, adquirir solidez política. Exatamente por conta do desagrado no qual incorre quem faz o serviço sujo do capitalismo, a tendência seria a de não conseguir se reeleger nem fazer seu sucessor, deixando o caminho aberto para Lula voltar garbosamente em 2018.
Sabe-se lá o porquê –suspeito que todos os bons companheiros pendurados nos infinitos cabides do governo e das estatais ou beneficiários de boquinhas hajam tido peso determinante em tal insensatez–, o PT preferiu fincar os dentes no osso, desconstruindo Marina com uma das campanhas eleitorais mais mentirosas, manipulatórias e sórdidas já vistas no Brasil.
Resultado: está tendo ele próprio de degradar-se, impondo aos brasileiros um pacote de odiosas medidas de austeridade que parecem copiadas de Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet.
Ao fazer aquilo que tanto repudiava e vinha execrando há mais de três décadas, o PT desmoralizou a si próprio e ao restante da esquerda (pois o cidadão comum dificilmente diferencia a força majoritária das outras tendências, vê tudo como uma coisa só).
Antes do 2º mandato completar um semestre, a recessão do Levy já fez a rejeição a Dilma subir aos píncaros: segundo pesquisa recém-divulgada pelo DataFolha, 65% dos brasileiros a veem como “ruim” ou “péssima”, contra míseros 10% que ainda a apoiam.
E o pior ainda está para vir. Não existe a mais remota dúvida de que a recessão vai se agravar (a única incógnita é se virará ou não depressão); nem de que a situação só vai começar a melhorar em 2017 –e isto na mais benigna das hipóteses. O período de penúria poderá durar ainda mais.
Pelo andar da carruagem, se não renunciar nem for impedida, Dilma só por milagre escapará de passar à História como campeã absoluta de impopularidade presidencial, pior ainda do que o Sarney e o Collor.
Neste momento, já é um cadáver político. Talvez o cinema se inspire nela para fazer o primeiro filme sobre presidente zumbi…
Quanto a Lula, que deveria conquistar um terceiro mandato com um pé nas costas, seu prestígio também despenca a olhos vistos. Se o 1º turno fosse hoje, tomaria uma sova do Aécio Neves: 35% a 25%, ficando a Marina com 18%.
E ainda corre o risco de dar com os costados numa prisão, pagando o preço da imprevidência: o mandato que não buscou na última eleição poderá lhe fazer muita falta. O Paulo Maluf, que agora é seu amigo desde criancinha, poderia tê-lo instruído a este respeito.
Aliás, se tal mandato fosse o presidencial, estaríamos, pelo menos, com um governante carismático e politicamente hábil, alguém que talvez conseguisse convencer o povão a suportar melhor a fase de vacas magras.
Todas as vezes em que o “volta Lula!” pareceu ganhar força, eu manifestei simpatia pela substituição da cabeça de chapa, pois via como o pior cenário possível e imaginável termos uma presidenta tão fraca num período tão complicado como o que se desenhava. Dilma quis porque quis o bis. Para quê? Para cumprir funções cerimoniais enquanto o Levy e o Temer governam? Será que seu sonho de menina era tornar-se rainha da Inglaterra?
Mais: terão os grãos petistas, no ano passado, adotado estratégias sugeridas pelo Felipão? Pois a obstinação em vencerem a qualquer preço uma eleição na qual a vitória não nada traria de bom está destruindo o partido: perdeu a classe média, o povão a está seguindo, perderá o poder, tende a encolher acentuadamente nas próximas eleições e é bem provável que sua componente de esquerda migre. A consequência desse 1×7 político e moral será sua definitiva descaracterização e a marcha para a irrelevância..
Quanto a nós, da esquerda, voltamos à estaca zero, tendo de começar de novo a empurrarmos a pedra para o topo da montanha, sem sequer sermos respeitados como éramos em 1980. É desalentador.
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