Direita espalha que “Dulce Maia” seria codinome de Dilma… mas ela existe!

Veterana da resistência à ditadura de 1964/85, a ambientalista Dulce Maia de Souza (foto) é mais uma vítima da propaganda enganosa dos sites e correntes virtuais de extrema direita.

Tais discípulos de Goebbels não só estão recolocando em circulação as falsas acusações a ela feitas por Élio Gaspari em 2008 (que acarretaram ao jornalista/historiador uma condenação da Justiça paulista), como chegam ao cúmulo de acrescentar que Dulce não seria uma pessoa, mas sim um nome-de-guerra adotado por Dilma Rousseff. Eis um blogue, dentre muitos, em que tal falácia é mantida no ar.

Ou seja, imputam falsamente a Dilma as falsidades que Gaspari assacou contra Dulce. É a tabelinhados falsificadores da História…

Vale a pena recapitularmos o caso original, para que seja melhor entendido o protesto de Dulce.

O EPISÓDIO “ALGOZ E VÍTIMA”


Tudo começou em 12/03/2008, quando Gaspari publicou na Folha de S. Paulo uma diatribe contra a União por ter decidido pagar ao suposto algoz Diógenes Carvalho de Oliveira uma indenização duas vezes maior do que a outorgada à sua suposta vítima Orlando Lovecchio Filho.

Como o primeiro era um militante da Resistência à ditadura e o segundo, o cidadão que perdera a perna num atentado ao consulado estadunidense supostamente por ele cometido em 1968, o assunto logo transbordou do circuito habitual do Gaspari para outros jornais, revistas semanais, sites de extrema-direita e correntes de e-mails neo-integralistas.

Como de praxe, as refutações foram ignoradas pela Folha ou relegadas à seção de cartas (cortadas até se tornarem anódinas, publicadas com imenso atraso, etc.), enquanto os espaços nobres serviam para repercutir o texto de Gaspari ou trazer-lhe acréscimos, na vã tentativa de respaldar suas afirmações indefensáveis.

Tanto a Folha quanto Gaspari chegaram a reconhecer que, dos quatro militantes apontados levianamente como autores do atentado, Dulce Maia era inocente e havia sido por eles caluniada.

Mas, nem mesmo o depoimento do único participante ainda vivo desse atentado obteve o merecido destaque, apesar de provocar uma verdadeira reviravolta no caso: Sérgio Ferro, admitiu sua culpa e seus remorsos, mas desmentiu a participação de Diógenes de Carvalho e Dulce Maia, além de esclarecer que se tratou de uma ação da ALN e não (como Gaspari afirmara) da VPR.

Outra informação importantíssima que a Folha sonegara de seus leitores: Ferro foi acionado na Justiça por Lovecchio e obteve ganho de causa graças aos relatórios médicos que apresentou como prova.

O primeiro dava conta de que o ferimento de Lovecchio era grave, mas existia possibilidade de recuperação. Depois, o socorro a Lovecchio foi interrompido pelo Deops, que quis interrogá-lo, provavelmente para saber se ele era vítima do atentado ou um participante azarado. Quando os policiais afinal o liberaram, sua perna já havia gangrenado e teve de ser amputada (2º relatório).

Ora, se o algoz não era algoz, então o texto inteiro do Gaspari perdia o gancho e desabava, bem como as matérias caudatárias publicadas por outros veículos.

A consciência da vulnerabilidade de sua posição aos olhos dos (poucos) cidadãos bem informados fez Gaspari voltar ao assunto na coluna dominical de 25/03/2008. E o fez recorrendo às informações que, desde o início, foram a viga-mestra de suas perorações fantasiosas: os famigerados inquéritos inquéritos policiais-militares da ditadura, contaminados pela prática generalizada da tortura.

Como um mero araponga, ele se pôs a revolver o lixo ensanguentado da repressão, dando grande importância ao fato de que havia congruência entre os depoimentos extorquidos dos torturados e omitindo que os torturadores forçavam todos os presos a coonestarem a versão oficial, a síntese elaborada pelos serviços de Inteligência das Forças Armadas, para que o resultado final tivesse alguma verossimilhança.

Como historiador, Gspari deveria saber (ou sabia e omitiu) que os militantes eram coagidos a admitir os maiores absurdos nas instalações militares e, depois, encaminhados a delegacias civis onde deveriam repetir, sem torturas, as mesmas afirmações. Os que, pelo contrário, desmentiam tudo, eram recambiados aos quartéis e novamente submetidos a sevícias brutais, até se conformarem em obedecer ao script.

Destrambelhado, Gaspari ousou até fazer novo ataque a Dulce Maia, a quem pedira humildes desculpas no domingo anterior. Embora ela não houvesse mesmo participado do atentado contra o consulado dos EUA, Gaspari quis imputar-lhe outras ações armadas, como se isto fosse atenuante para tê-la acusado falsamente.

Sobre essa escalada de abusos, eis alguns trechos da sentença emblemática do juiz Fausto Martins Seabra, da 21ª Vara Civel Central da Capital, que condenou a Folha e Gaspari a indenizarem Dulce:

“No caso em foco não se pode esquecer que a notícia inexata foi produzida por jornalista bastante respeitado por substancial obra em quatro volumes sobre a história recente do país, o que lhe impunha maior responsabilidade na divulgação de informações sobre aquele período.

“Impossível supor que todos os leitores da notícia inexata tenham também lido as erratas e os pedidos de desculpas do articulista.

“Ter o nome associado à prática de um crime do qual não participou é suficiente para sofrer sensações negativas de reprovação social, angústia, aflição e tantas outras que consubstanciam danos morais relevantes sob o aspecto jurídico e, portanto, indenizáveis.

“(…) A notícia de que participou do atentado ao consulado norte-americano não era verdadeira e, assim, não pode prevalecer diante do direito à honra.”

A DENÚNCIA DE DULCE
Os interessados poderão ler a íntegra da mensagem de Dulce Maia no Observatório da Imprensa. Eis os principais trechos do desabafo da ambientalista, face à exumação desse artigo falacioso/desastroso de Gaspari para servir como matéria-prima para a difamação de Dilma Rousseff:

“Nos últimos meses, uma torrencial campanha caluniosa circula pela rede mundial de computadores tomando por base artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado originalmente nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo (…). Quem tiver curiosidade de buscar na internet o número de vezes que aparecem variantes da infame sentença — “Agora a surpresa: adivinhem quem é Dulce Maia? Sim, ela mesma: Dilminha paz e amor! Esse é só mais um codinome da terrorista Estela/Dilma” -– colada ao final do artigo de Gaspari – verá que estão hospedadas em mais de 500 páginas da rede.

“Ao contrário do que afirmam, Dulce Maia existe e resiste. Quem é Dulce Maia? Sou eu.

“Não pretendo polemizar com meus detratores, que ousaram decretar minha morte civil. Estes irão responder em juízo por seus atos. Não admito que queiram impor novos sofrimentos a quem já foi presa, torturada e banida do Brasil durante a ditadura. Lutarei com todas as minhas forças para garantir respeito à minha honra e à minha dignidade.

“Gostaria apenas de fazer algumas reflexões sobre essa insidiosa campanha, alicerçada nos erros cometidos pelo jornalista Elio Gaspari (…). O articulista teve quarenta anos para apurar a história. Falsamente me colocou como participante do episódio, sem nunca ter me procurado para checar a veracidade das informações que dispunha. Tomou pelo valor de face peças do inquérito policial relativo ao atentado, como declaração extraída sob tortura do arquiteto e artista plástico Sérgio Ferro.

“Se o articulista tivesse compulsado os arquivos do próprio jornal Folha de S. Paulo, facilmente encontraria entrevista de Sérgio Ferro (…). Conforme se lê no texto do repórter Mario Cesar Carvalho, publicado a 18 de maio de 1992, ‘Ferro assumiu pela primeira vez, em entrevista à Folha que ele, o arquiteto Rodrigo Lefrèvre (1938-1984) e uma terceira pessoa que ele prefere não identificar colocaram a bomba que explodiu à 1h15 do dia 19 de março de 1968 no consulado de São Paulo.

“Gaspari tinha o dever ético de me procurar para verificar se seria eu essa terceira pessoa. Além de não fazê-lo, publicou que o atentado fora cometido por cinco pessoas (entre as quais fui falsamente incluída).

“A esses erros elementares de apuração, deve se somar a relutância da Folha de S. Paulo em restabelecer a verdade. (…) O pedido de desculpas de Gaspari foi mera formalidade, sem delicadeza alguma. Sinal mais evidente do descaso do jornal foi a demora na publicação de carta de Sérgio Ferro, onde refutava categoricamente que eu tivesse participado daquela ação armada. A carta só foi publicada dois dias depois de ser divulgada no blog do jornalista Luís Nassif.

“Processado, o jornal foi condenado em primeira instância à reparação por danos morais.

“No entanto, o artigo de Gaspari voltou a circular com o espantoso adendo de que Dulce Maia não existe e que este seria apenas um codinome de Dilma Roussef. A utilização do artigo em plena campanha eleitoral mostra que setores da sociedade não têm qualquer apreço pela verdade como arma política. (…) Chama atenção, também, o silêncio de Elio Gaspari sobre o uso indevido de seu texto. Nunca li qualquer manifestação do articulista refutando o uso de seu nome em páginas que emporcalham a internet com mentiras sobre minha pessoa.

“O desrespeito é de duplo grau. Primeiro, pela reiterada circulação de informações falsas sobre o atentado ao consulado norte-americano (…). Em segundo lugar, e não menos importante, com a tentativa de me despersonalizar, como se Dulce Maia fosse apenas um codinome.

“Depois dos desaparecimentos forçados praticados pela ditadura, que impôs a aniquilação física de adversários políticos, sequazes do regime militar querem impor a aniquilação moral em plena democracia. E o fazem da forma mais vil, espalhando mentiras pela internet”.

7 comentários em “Direita espalha que “Dulce Maia” seria codinome de Dilma… mas ela existe!”

  1. fico abismado com tantas denuncias e ninguem tem coragem de fazer publicação em redes de televisão, porque acho um absurdo uma terrorista ser presidente do nosso Pais, nõa sei como, mais precisamos acabar com essa bandalheira de apadrinhamento politico.
    att.emilio

  2. João Francisco, participar da luta contra a ditadura militar foi o que de melhor o Diógenes de Carvalho fez na vida. Um povo mais apegado à liberdade, como o francês, o reconheceria como herói por isto. O lado ruim de sua biografia veio depois.

    Emílio, o absurdo é se difundirem “tantas denúncias” FALSAS contra qualquer pessoa. E a ONU não considera “terrorista” quem exerceu o legítimo direito de resistência a uma tirania. Nem o Estado brasileiro. E também não é esse o entendimento dos historiadores.

    A mistura de alhos com bugalhos (confundir resistentes com terroristas) foi um mero artifício propagandístico da ditadura brasileira. Goebbels explica…

  3. Embora não compartilhe dos pensamentos políticos de Dulce Maia, tenho por ela enorme admiração e carinho, pois além de amigos, somos primos em primeiro grau e posso atestar com absoluta fidedignidade que ela existe e é uma pessoa de bem, ambientalista conceituada e muito respeitada até pelos seus adversários políticos de hoje como o próprio Fernando Henrique Cardoso e Aloisio Nunes Oliveira. Na época da insinuação que “Dilma é a verdadeira Dulce Maia” eu esclareci imediatamente, considerando a suposição absurda até pelas diferenças éticas e morais.

  4. Primeiro Dilma não é e nunca foi terrorista, terrorismo éra praticado pelo governo militar e do DOI Cod, não concordo com o feminismo exagerado da Dilma, isso só distancia as pessoas, afinal para se obter um genero necessitamos dos dois generos, e embora ele é competente em todos os sentidos, ela só esta Presidenta graças a um homen Lula pois antes ela não era ninguem, em outra situação ficaria em ultimo lugar, muito mais conhecido é o Plinio. mas quanto Gaspari é lamentavel um ser humano chegar a este ponto de desrrespeito a outra pessoa, o processo judicial o fara refletir para que não erre mais comprometendo a imagem e vida de outras pessoas.

  5. Dulce Maia, como ela mesma disse “existe e persiste”, tive o prazer de conhece-la pessoalmente e, ela sem duvidas é uma das pessoas mais queridas e amáveis que já conheci, por tudo que ela passou, ela simplesmente é muito amável no jeito de conversar e conviver conosco.
    Realmente foi uma calunia o que disseram que ela ja havia falescido e outros…. Ela precisa agora é de respeito e muito carinho da parte de todos, uma pessoa que já lutou pelo nosso país tem que receber o respeito e as homenagens de todos os brasileiros e principalmente de quem as conhece.

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