Deixem o Horto em paz

Agora a inglória tarefa foi atribuída pelo jornal a um de seus mais contumazes articulistas. Cabe perguntar a quem serve O Globo nesse projeto que se dissimula e esconde sob o véu do interesse público? Ao resíduo de classe média alta suntuosamente empoleirada nas mansões do entorno? Talvez, pois são produtos da mesma matriz, e jamais protestaram, em artigos ou reportagem, contra as agressões daquela camada privilegiada à saúde ambiental do bairro. Esta é uma forte e nítida digital, mas outras há, até mais evidentes, como os anseios da indústria imobiliária, que os mais radicais chamam com boa dose de razão especulação imobiliária. Uma área como aquela, tão bem transada pela natureza, servindo de residência e domicilio a gente pobre, casas simples sem os aparatos ornamentais das moradias da classe média alta, mas casas de classe média. Sem qualquer consideração pelas favelas e pela dignidade do favelado, O Globo, por seu articulista, usa a expressão favela como insulto, sem conter o intolerável preconceito que caracteriza o jornal.
Mas enquanto seu lobo não vem, querem que o Horto valha apenas como jardim ou quintal das mansões das cercanias, cumprindo o mesquinho papel de servir ao deleite de alguns privilegiados.
Se a mal chamada Associação de Amigos do Jardim Botânico mostrasse suas entranhas, a sociedade do Rio provavelmente lá encontrasse, emcambulhados, representantes da indústria imobiliária, do sistema Globo, talvez o próprio O Globo e outros conhecidos patriotas…
É sabido que o antídoto deve ser procurado no veneno da cobra. Assim, supondo que a perseguição de O Globo, o mais vetusto representante do sistema global, fosse uma novela policial, a velha máxima do gênero (“O criminoso sempre volta ao local do crime”) ajudaria a desvendar o fato. Pois O Globo não revisitou sua antiga gente? Aconteceu sim. Em extensa matéria foi colher com os torturadores da ditadura militar o meio de agredir Dilma Rousseff quando, na verdade, quanto a Dilma só conseguiu sublinhar-lhe a postura democrática, mas, retomando a vergonhosa memória de tempos passados, revelaram com novas digitais o traço comum que o liga a todos, senhoras e senhores da alta classe média, políticos, inclusive alguns de partidos tidos como ligados ao povo, talvez o próprio O Globo, gente que se esconde sob o conceito comum de elite, um vazio cultural, sempre à disposição de qualquer uso ou subjetividade.
Mas, enfim, o projeto de regularização do Horto vem sendo processado regularmente por serviços e autoridades competentes, com a clareza de que não é absurdo compor homem e natureza, como a própria história do Horto de sobejo comprovou, e, quem sabe?, os filhos e netos dessa chamada elite, se puderem escapar dos preconceitos e rancores de pais e avós, acabem conhecendo em futura visita ao museu de percurso recentemente inaugurado a beleza dessa história.
(*) Matéria publicada originalmente na página da Associação de Moradores e Amigos  do Hortohttp://www.amahor.org.br

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