Xará, fique firme!

Marcelo Yuka
Quando assisti ao videoclipe de “Ninguém Regula a América” pela primeira vez, imaginei que ele fosse encerrar com a imagem do Che. Mas os realizadores tiveram outra idéia: terminaram com o rosto de quem havia iniciado o filme: Marcelo Yuka.
Volto a pensar no músico após conversarmos sobre aquilo tudo que sempre conversamos: política, Rio de Janeiro, violência, desigualdade social e, mais importante, como intervir na sociedade para melhorar a situação.
Aí relembro algumas de suas letras, primeiro as que compôs no Rappa. “Minha alma”, “Me deixa”, “Ninguém Regula a América”, “O que sobrou do céu”, “Pescador de Ilusões”, além da adaptação de “Hey Joe”, em que conseguiu a proeza de deixar a letra mais forte e densa que a versão original de Jimmy Hendrix – não é pouca coisa. São composições belíssimas, mesmo raras, que conseguem reunir harmonias encantadoras, mensagens importantes e algumas das levadas mais contagiantes da música brasileira.
Inevitável pensar o quanto perdeu o Rappa com a saída do Yuka. Pra ilustrar, cito apenas uma entrevista, em que os principais integrantes da banda estavam presentes. Perguntados sobre os problemas sociais, um deles responde banalidades do tipo: “do mesmo jeito que os problemas existem, há a nossa vontade de continuar tocando junto”. Lamentável… Não é difícil concluir que as novas letras da banda não chegam aos pés de um ou dois trechos de qualquer uma dessas letras criadas por Yuka. Perde o Rappa. E perde a sociedade, aliás.
Na sequencia, Yuka tentou resgatar o ativismo social no FURTO. Novas canções importantes foram compostas, como “Egocity” e “Desterro”, a primeira sobre a violência implícita nas grandes metrópoles, e a segunda sobre a violência globalizada. Em comum está o ser humano, visivelmente a preocupação central do músico. Não sei por que razões, mas o FURTO foi interrompido. A tempo.
Depois disso, dois anos atrás, Yuka esteve à frente do Manifesto Contra a Política de Extermínio, lançado na esteira do rastro de sangue deixado pela mega-operação policial no Complexo do Alemão. Na época, o secretário de Segurança do RJ José Mariano Beltrame acusou o manifesto de “míope e deslocado da realidade” – pra quem acha que no Rio não há violência, até que faz sentido…

Atualmente, Marcelo Yuka desenvolve o projeto “Outdoor Humano”, estamparia de camisas com mensagens políticas, além de produzir bandas e artistas em seu estúdio. É dele a idéia das “Olimpíadas Sociais”, com os arcos olímpicos em forma de algemas, entre outras.
Pra resumir: o Rio de Janeiro tem, ali na Tijuca, uma mente brilhante. E um coração extremamente carinhoso. E uma visão que alcança muito além do horizonte. Alguém preocupado com a cidade, o país, o planeta. E preocupado também com os sentimentos de cada ser humano. Uma pessoa assim é fundamental para todos os que tremem diante de toda injustiça cometida em qualquer lugar do mundo. Donde se vê que eu não estava enganado quando pensei na imagem do Che para o final do clipe de “Ninguém Regula a América”. Alguma coisa me diz que muitas composições do Yuka ainda vêm por aí, talvez as melhores. Xará, fique firme!

4 comentários em “Xará, fique firme!”

  1. Marcelo, este video clip tá disponível prá gente ver?
    No youtube tem vários desta música, mas o Yuka nao aparece!
    Salve o grande Marcelo Yuka!
    O Rappa ficou quase acéfalo depois de sua saida.

  2. marcelo,
    parabéns pela ótima fala e boas respostas hoje na semana de comunicação da uff. você e o gustavo barreto brilharam e espero que aqueles futuros jornalistas tenham absorvido no mínimo a metade da lição dita por vocês. se isso aconteceu teremos em breve mais jornalistas éticos e com compromissos com a vida….
    parabéns. faça seu relato desse dia aqui para quem nao teve o prazer de ouvi-los…

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