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Dissecando a algaravia de Laerte Braga (final)

Um problema das polêmicas virtuais é que são intermináveis.

A imprensa, mesmo nos tempos em que não estava tão desvirtuada, sempre permitiu que seguissem até os contendores não terem trunfos novos a apresentar, ou até a derrota de um deles se tornar inequívoca. Afinal, nela o espaço tem preço, que não é desperdiçado com meros exercícios do direito de espernear.

Já na Web, alguém pode ter sua argumentação destruída por completo e continuar nela insistindo, indefinidamente.

É como se um enxadrista, após levar xeque-mate, seguisse movimentando as peças no tabuleiro.

Então, só resta ao vencedor anotar as jogadas na papeleta e levantar-se da mesa, deixando o patético vencido a encenar a farsa de que o jogo continua.

É o que farei agora.

Na linha grosseira e falaciosa que adotou quando acabaram seus argumentos, Laerte escreveu DO A DE ALGARAVIA AO T DE TRAIDOR – OU O “O” DE OPORTUNISTA, assim mesmo, como um  foquinha que ignora o bê-a-bá do jornalismo (se colocou o “o” entre aspas, deveria tê-lo feito também com o “a” e o “t”).

Para quem atuou um dia na profissão, isto evidencia que está transtornado a ponto de esquecer o que há de mais elementar — será que ainda se lembra de vestir as calças antes de sair na rua?

E o texto todo é um tijolaço caótico e errático, sem parágrafos nem nexo, pulando de assunto a assunto (Obama, o Mossad, o aquífero guarani, Ortega, a sucessão brasileira, o Jornal Nacional, a Amazônia, o Haiti, o MST, Mirian Leitão, José Serra — panfletariamente comparado a Fernando Collor, quando poderia sê-lo, p. ex., com Carlos Lacerda, que começou na esquerda e depois endireitou — etc., etc.), sem nada aprofundar nem nada provar.

Mais um motivo para lamentarmos a perda irreparável do grande Sérgio Porto, o Stasnislaw Ponte Preta: se estivesse vivo, encontraria nesse texto a matéria-prima para criar uma versão várias vezes aprimorada do seu “Samba do Crioulo Doido”.

Tão irritado o Laerte Braga ficou quando constatei que seus textos não passam de algaravias que acaba de cometer sua pior algaravia dos últimos anos…

Ataca a Anistia Internacional como se não tivesse sido ela a exigir providências de Porfirio Lobo para a punição dos crimes praticados pela quadrilha de Roberto Micheletti, enquanto o presidente deposto Manuel Zelaya, com a boca dava declaração elogiosa à “reconciliação nacional”; e com a mão, apanhava o salvo-conduto que barganhou com Lobo.

Juntamente com um comitê hondurenho de vítimas, Laerte Braga profetiza que a Comissão da Verdade instituída por Lobo só servirá para salvar as aparências.

Não parece ocorrer ao Nostradamus de Juiz de Fora que isto significa apenas desperdiçar uma tribuna em que as mortes, torturas, estupros e intimidações do pós-golpe poderão ser veementemente denunciados, ganhando destaque na imprensa mundial.

Se, no final, a montanha parir um rato, aí sim caberão as denúncias contundentes de que Lobo, no fundo, é um continuador de Micheletti.

Fazê-las desde já só serve para desqualificar-se aos olhos dos neutros. É falar para os já convertidos (que foram insuficientes para conseguir que esta crise tivesse o desfecho correto) e esquecer a necessidade de ampliar fileiras, para obter a vitória no(s) confronto(s) seguintes(s).

Em suma, trata-se da miopia política habitual dos colecionadores de derrotas, que parecem importar-se mais com a manutenção de sua imagem junto ao próprio público do que com o resultado concreto das lutas que travam.

Quanto a depreciar o papel da Anistia Internacional com a afirmação de que ela só atua após a porta arrombada, é mais uma falácia dentre tantas. Em situações como os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, sua resposta foi imediata e dramática.

O que ela não faz é posicionar-se a partir de relatos não comprovados, como aquele em que o Laerte Braga acreditou, ao trombetear por aqui que, num único domingo, os capangas de Micheletti teriam assassinado “pelo menos” 50 manifestantes contrários ao golpe.

A AI não tem tropas para impor sua vontade a governos, seu único trunfo é a autoridade moral, INDISCUTÍVEL AOS OLHOS DOS CIVILIZADOS, que ela perderá se encampar versões exageradas de militantes.

Já o Laerte Braga não tem escrúpulo nenhum em repassar essas versões o tempo todo, como se fossem a tábua dos 10 mandamentos.

É um mero propagandista, que se norteia antes por Joseph Goebbels do que por Rosa Luxemburgo: para ele, a verdade não é revolucionária, longe disto, daí preferir martelar ad nauseam as  versões convenientes, na esperança de que acabem passando por verdadeiras.

É o que continuará fazendo em relação a mim, com a equação “Celso Lungaretti = traidor”. Escreverá isto a torto e a direito, doravante.

Prosseguirá citando o documentário Tempo de Resistência como “prova”, indiferente ao fato de que nem mesmo o Darcy Rodrigues, que aparece no filmeco fazendo tal afirmação,  ainda a sustenta. Hoje ele reconhece que eu nem sequer conhecia a localização da segunda área de treinamento guerrilheiro, onde estava Carlos Lamarca.

Fingirá ignorar que, mesmo antes de eu desmistificar as versões convenientes sobre a quase destruição da VPR em abril/1970, provando que responsabilidades alheias estavam sendo atiradas nas minhas costas para que outros posassem de heróis impolutos, nunca se cogitou traição da minha parte, mas sim que não houvesse resistido às torturas que me causaram uma lesão permanente.

Tanto isto é verdade que, já em 1974, a esquerda organizada se dispôs a me reabilitar, desde que eu me apresentasse apenas como massacrado pela repressão, omitindo que fora igualmente injustiçado e jogado às feras pela VPR. E não é afirmação sem comprovação, como os blefes ridículos do Laerte Braga; o companheiro Luiz Aparecido está aí, firme e forte, para confirmar.

E seguirá espalhando calúnias, como fez com o Raymundo Araujo, a quem acusou — igualmente sem provas — de ser um infiltrado, deixando depois o dito por não dito.

É como sempre reagem os stalinistas contra quem os contesta — vide as falácias que utilizaram para justificar o massacre de trotskistas, anarquistas, mencheviques, sociais-revolucionários e até mesmo da Velha Guarda bolchevique.

Embora lhe caiba apenas o papel de repetir a História como farsa, já que não tem estatura para protagonizar tragédias, Laerte Braga mostra ser exatamente da mesma estirpe daqueles que obrigavam revolucionários de uma vida inteira a comparecerem balbuciantes aos julgamentos de Moscou, para confessarem que, a serviço dos EUA ou da Inglaterra, haviam tentado envenenar os reservatórios de água do estado socialista.

Para ele o que importa é satanizar o adversário, fazendo dele um espantalho, como se fosse o pior dos inimigos.

Mas, nem desta vez seguirei o conselho de amigos e companheiros, que me exortam a recorrer à Justiça burguesa. Sigo meus princípios, sempre.

Minha força para sobreviver a terríveis injustiças e vencer batalhas desiguais sempre adveio de manter-me coerente com minhas convicções. Sabendo que sustento a posição correta, não me importa ter o mundo circunstancialmente contra mim.

Não será o liliputiano Laerte Braga que vai me fazer mudar a postura. Mesmo porque o julgamento dele já ocorreu, tendo como jurados os internautas.

E as atas permanecerão disponíveis na Web, de forma que, ao colocar “Laerte Braga” na busca, toda e qualquer pessoa ficará sabendo quão baixo ele desceu um dia.

Para mim, é o que basta.

Stalinista à beira de um ataque de nervos

Quanto mais se desmoraliza na guerra dos argumentos, mais Laerte Braga parte para as agressões mentirosas, delirantes e destrambelhadas, como remanescente emblemático do stalinismo que ele é.
Não vou acompanhá-lo nessa guerra de lama. Apenas, transcreverei seu comentário de ontem (05/02) no blogue Apesar de Vc… 1964/1985 e o artigo em que relatei o episódio do documentário Tempo de Resistência, ao qual ele se refere.

É o suficiente para os leitores chegarem a uma conclusão sobre quem é quem.

Tudo que eu tinha para dizer sobre os eventos de 1970, já disse no meu livro Náufrago da Utopia. Não vou passar a vida inteira restabelecendo a verdade, cada vez que algum caluniador vier me atacar, aludindo a acordos que jamais foram firmados e dos quais não pode apresentar prova nenhuma, porque inexistem.

Nem recorrerei à Justiça burguesa pois, como afirmei no artigo abaixo, não é assim que resolvo minhas pendências com a esquerda (mesmo com essa excrescência autoritária e putrefata a que se filia o Laerte).

Prefiro sempre o jogo franco, expondo aos cidadãos civilizados a mediocridade intelectual e a pequenez moral de quem encabeça campanhas de satanização de adversários políticos em pleno século XXI.

A FALÁCIA
“Eu não vou perder tempo com Celso Lungaretti. Poderia transcrever aqui um mail que atestaria o seu mau caratismo e sua pusilanimidade.

“Vou só relatar um fato – há uns meses atrás cheguei à minha casa e resolvi ver o que estava passando em alguns canais de tevê.

“Num deles, Canal Brasil, estava sendo exibido um documentário sobre o período da repressão.

“Num dado momento, ao falar sobre o grupo de Lamarca, um dos integrantes do mesmo, gente séria, referiu-se à queda do grupo por conta de um “TRAIDOR”. O nome? Celso Lungaretti.

“A diferença entre “ex-jornalista” que ele me rotula, mau caráter, é traidor e que TRAIDOR não existe ex é sempre traidor.

“Além de ter entregue os companheiros, fez um acordo com os militares e ele aceitava, como parte do acordo, aplicar choques em companheiros presos além de ter ido à tevê dizer-se arrependido.

“Só isso.”

Laerte Braga

A VERDADE

Há um mês recebi esta mensagem do valoroso companheiro Luiz Aparecido (“ex-preso politico e até hoje militante do glorioso PCdoB”, como faz questão de ressaltar):

“Acabei de assistir hoje, domingo, dia 21 de junho de 2009, no Canal Brasil da SKY e repetido por outros canais de assinatura, o documentario, ‘Tempo de Resistencia’, onde inumeros revolucionarios dão seu depoimento sobre a resistencia dos combatentes brasileiros à Ditadura. Entre os depoimentos sinceros e emocionantes (…) há tambem o de Darci Rodrigues. Este ultimo me chocou ao repetir a cantilena mentirosa e falsa, de que o campo de treinamento da guerrilha da VPR, no Vale do Ribeira no inicio dos anos 70, no interior de São Paulo, foi entregue pelo quem ele chama de traidor, Celso Lungaretti.

“É mais que a hora, de exigir dos produtores e diretores do documentario que façam, em nome da verdade histórica, o esclarecimento que historiadores como Jacob Gorender e a própria vida ja fizeram: Celso Lungaretti não foi o delator que entregou o local do treinamento para a repressão. Como esta informação se tornou publica e abrange, atraves do documentario exibido no ‘Canal Brasil’ e outros veiculos, fórum de seriedade histórica, é necessário mais uma vez isentar o Lungaretti desta perfidia e se for o caso, até entrevistarem o Celso e outros companheiros da época, para apontar o verdadeiro delator daquele fato.

“As torturas barbaras e humilhantes que nós revolucionarios fomos submetidos nos porões da ditadura, devem ser denunciadas sempre, assim como a verdade dos fatos que elas originaram. Se alguns e não foram poucos, fraquejaram e abriram companheiros e ações, os fatos devem ser esclarecidos. Mas uma mentira não pode destruir a reputação, a honra, a vida e a coragem de quem teve a audacia e o desprendimento humano de enfrentar, armados ou não, o aparato selvagem da ditadura.

“Dou meu depoimento publico da honestidade e coragem histórica de Celso Lungaretti…”.

Passei exato um mês esperando que os responsáveis pela acusação, a partir dos e-mails que lhes enviei, dessem uma solução digna ao episódio. Como nada fizeram, só me resta tornar público o que houve, deixando aos leitores as conclusões.

Preso em instalações militares e impossibilitado de me defender, fui em 1970 acusado pela Vanguarda Popular Revolucionária de haver delatado a área na região de Registro (SP) em que Carlos Lamarca e outros militantes treinavam guerrilha. A repressão deslocou milhares de soldados para lá, mas alguns companheiros escaparam como civis, outros embrenhando-se nas matas. A fuga destes últimos, comandada por Lamarca, foi, indiscutivelmente, uma das maiores proezas militares da História brasileira.

Quando fui libertado, nada havia mais a fazer. A falsidade passava por verdade e eu não tinha como conseguir provas para sustentar minha versão, nem tribunas para apresentá-la, em meio à censura e à intimidação reinantes.

Quando a engrenagem de terrorismo de estado começava a ser desmontada, fui entrevistado por veículos como a revista IstoÉ e o jornal Zero Hora (RS), relatando, então, as torturas sofridas durante os dois meses e meio que passei incomunicável nos cárceres da ditadura e que me causaram uma lesão permanente.

Mas, o foco dessas reportagens não era o episódio de Registro e, como eu ainda não conseguira nenhuma prova de minha inocência, não insisti para que delas constasse minha refutação.

Em 1994, no entanto, Marcelo Paiva fez-me tal acusação nas páginas da Folha de S. Paulo e eu não poderia deixar de exigir direito de resposta. Travamos polêmica e eu expus pormenorizadamente o que eu realmente fizera e os fatos de que tinha conhecimento.

Ainda sem provas, era minha versão bem sincera do que se passara:

  • participei da equipe precursora que foi implantar uma escola de guerrilhas à altura do km. 254 da BR-116;
  • a área foi considerada inadequada e abandonada em dezembro/1969;
  • voltei para o trabalho urbano exatamente por desconhecer a localização da área seguinte, na qual o trabalho prosseguiu (caso contrário, por motivos de segurança, não poderia ter saído de lá);
  • ao contrário do que o Lamarca me fez crer, a área 2 não se localizava a centenas de quilômetros de distância, mas apenas a 16;
  • em abril/1970, ao ser preso e muito torturado, revelei a localização da área 1, por avaliar que seria informação inútil para a repressão, mas serviria para eu me recompor e ganhar tempo, enquanto preserva informações realmente importantes;
  • talvez, como Marcelo Paiva sustentou, a partir dessa área 1 tivessem descoberto alguma ligação com a área 2, mas a responsabilidade, aí, seria de erro cometido pela própria VPR na instalação dos campos.
Em 2004, a prova que tanto me fazia falta finalmente caiu nas minhas mãos, quando Ivan Seixas, em seu site Resgate Histórico, publicou um relatório secreto de operações do II Exército, cuja existência eu desconhecia.

Dele constava, explicitamente, a informação de que duas equipes do DOI-Codi foram deslocadas para Registro a fim de apurar minha informação sobre a área 1 e voltaram relatando que não havia mais atividades no local; enquanto isso, novas informações, decorrentes de prisões posteriores, forneceram à repressão a localização exata da área 2.

Estava tudo lá, preto no branco. Meu próprio temor de haver contribuído indiretamente para a descoberta da área 2 era infundado. A coisa se passara de outra maneira, felizmente para mim.

Enviei os textos de minha polêmica com Marcelo Paiva e a cópia desse relatório para alguns historiadores. Jacob Gorender, com sua dignidade exemplar, assumiu a responsabilidade de esclarecer o episódio, a partir desse material e de outros documentos sigilosos que informou possuir.

Duas semanas depois, enviou carta à Folha de S. Paulo e a O Estado de S. Paulo, comunicando:

“Na primeira edição do meu livro ‘Combate nas Trevas’ (…) escrevi (…) que Celso Lungaretti forneceu ao Exército a primeira informação sobre um campo de treinamento de guerrilheiros da VPR em Jacupiranga, no vale do Ribeira. (…) Não obstante, no mês corrente, Celso Lungaretti contatou-me, por via telefônica, para chamar a minha atenção para o fato de que dera a aludida informação sob tortura e sabendo que o campo de treinamento onde estivera se encontrava desativado havia dois meses. O relatório do comandante do 2º Exército na época, general José Canavarro Pereira, co-assinado pelo general Ernani Ayrosa da Silva, sobre a Operação Registro (localidade do vale do Ribeira), confirma que, efetivamente, aquele campo de treinamento fora desativado. Sucede, no entanto, que, quase simultaneamente, chegaram ao 2º Exército informações procedentes do 1º Exército, com sede no Rio de Janeiro, de que um novo campo de treinamento de guerrilheiros, adjacente ao anterior, se encontrava em atividade. (…) A respeito dessa segunda área, nenhuma responsabilidade cabe a Celso Lungaretti, que ignorava a sua existência. Sua vinculação com o episódio restringiu-se, por conseguinte, à informação sobre a área que sabia desativada, fornecida, segundo afirma, sob tortura irresistível.”

A publicação desta carta do Gorender na Folha de S. Paulo (ver aqui) abriu caminho para o lançamento do meu livro Náufrago da Utopia (ver aqui). Eu considerei acertadas minhas contas com a História e passei priorizar as lutas presentes, ao invés de ficar remoendo o passado.

Aí foi lançado o documentário Tempo de Resistência, com a insólita acusação do ex-companheiro Darcy Rodrigues. Em meados da década atual, ninguém sequer cogitava traição da minha parte. Torturado com relatórios médicos e lesão para apresentar não pode ser confundido com os cabos Anselmos da vida.

Mandei mensagem ao autor do livro que serviu de base para o filme, Leopoldo Paulino ( leopoldo@leopoldopaulino.com.br ), esclarecendo não só que a acusação era infundada, como que Darcy Rodrigues tinha um motivo pessoal, não político, para fazê-la, sendo que a desavença entre nós dois era conhecida e constava até de livro de um jornalista sobre o período.

Leopoldo Paulino nada respondeu. E, como o documentário teve pouca repercussão nos cinemas, acabei deixando pra lá.

Sua exibição na TV a cabo, entretanto, está atingindo público mais amplo. Então, voltei a protestar, pedindo-lhe que fizesse algum tipo de retificação ou esclarecimento.

Também contatei o cineasta André Ristum ( andreristum@yahoo.com ), diretor do filme, que respondeu:

“Para a realização deste documentário eu e minha empresa fomos contratados pelo Leopoldo Paulino, para executar a obra baseada em seu livro.

“Assim, conforme contrato assinado entre nós, o responsável pelo conteúdo, seja do ponto de vista das informações passadas seja do ponto de vista legal, é o próprio Leopoldo Paulino.

“Eu, até pela minha pouca idade, não poderia jamais me responsabilizar por informações a respeito de uma época que não vivi e pouco conheço.

“Peço então que se comunique diretamente com o Leopoldo, ou com o Darcy…”.

Mas, em entrevista posterior à que concedeu para o filme (ver aqui), o próprio Darcy deixou de sustentar a antiga acusação:

“[Darcy] Discorre também sobre o erro de haver levado para o campo pessoas, que não estavam totalmente convencidas dessa necessidade e de outras, que não tinham conhecimento completo da organização. Cita um caso: ‘Celso Lungaretti foi para a primeira área, não se deu bem, voltou para a cidade e nem conheceu a segunda‘ [grifo meu].”

Em respeito à trajetória de luta do Darcy, optei por considerar suficiente este seu reconhecimento da minha inocência. Melhor passarmos uma borracha em acontecimentos tão distantes quanto deprimentes.

Quanto a Paulino, falhou como revolucionário, pois foi duas vezes alertado de que cometia uma injustiça contra outro revolucionário e em ambas se omitiu: nem corrigiu seu erro, nem sustentou sua posição. Apenas calou.

E falhou como escritor que pretende historiar a resistência, já que não teve a mínima preocupação prévia de ouvir quem sofria grave acusação, nem se dispôs a apresentar o outro lado quando isto lhe foi depois formalmente solicitado.

Segundo um jurista que me-é solidário, caberiam três providências legais neste caso, que poderiam até ser tomadas simultaneamente:

  1. “a formalização de um pedido de direito de resposta ao Canal Brasil, que foi o veículo pelo qual esta afronta à sua imagem foi desferida”;
  2. “o pedido judicial para que este documentário seja editado, sob pena de sua execução em território nacional ser proibida, com cominação de multa caso a ordem venha a ser descumprida”;
  3. “o pedido de reparação por danos morais, contra os produtores do documentário e o próprio difamador, já que tal veiculação já está lhe causando problemas e constrangimentos”.
Mas, depois de haver lutado tanto por uma noção mais elevada de Justiça, estaria faltando com meus princípios se recorresse a uma instância do Estado que execro, contra outro ex-militante da resistência.

É no tribunal das consciências que tais atitudes devem ser julgadas. Então, preferi apenas expor os fatos, para que cada leitor tire suas conclusões e, se quiser, tome alguma atitude.

Dissecando a algaravia do Laerte Braga

Está no Houaiss:

algaravia
2 Derivação: sentido figurado.
linguagem muito confusa, incompreensível; charabiá
3 Derivação: por extensão de sentido.
coisa difícil de entender

É como se podem qualificar todos os textos de Laerte Braga.

Diz que foi jornalista. Eu jamais o acusaria disto, face à sua estarrecedora falta de rigor na informação, clareza na expressão, perspicácia na interpretação e consistência na opinião; mistura o tempo todo alhos com bugalhos, sem a mínima noção de pertinência nem o comezinho cuidado de fornecer provas do que afirma.

Nada de links, de testemunhos, de fontes comprováveis. Apenas palavras desconexas ao vento e gracejos que beiram a puerilidade.

Chega ao cúmulo de atribuir a Rosa Luxemburgo o “não passarão!” de Dolores Ibarruri, A Pasionária. Eis o parágrafo na íntegra, mescla perfeita de ignorância política com paralelismos descabidos:

“Que Rosa de Luxemburgo tenha dito ‘não passarão’ é uma coisa. Na afirmação de Lungaretti é uma heresia. Aquele negócio de Tarzã sair de galho em galho através de cipós e com Chita nos ombros, enquanto Jane esperava para o jantar, só em cinema” (vide aqui).

Não, Laerte. Rosa de Luxemburgo afirmou que a verdade é revolucionária. Freud provavelmente avaliaria que, ao trocar as bolas, você cometeu um ato falho: sua ojeriza à verdade é tamanha que nem consegue repetir a frase que consagra seu primado sobre as versões convenientes.

Pois, nisto também você se diferencia dos verdadeiros jornalistas: ao invés de resgatar a verdade para disponibilizá-la aos leitores, você apenas a manipula e maquila para parecer corroborar a lição que desde o início queria ministrar aos devotos.

Como no domingo seguinte ao golpe contra Manuel Zelaya, quando você trombeteou que a repressão hondurenha assasinara 50 manifestantes de uma tacada só.

Depois nem lhe passou pela cabeça pedir desculpas por esse chute mirabolante, pois o exagero é a alma da propaganda… e propaganda é o que você faz.

Se não está comprometido com a verdade como (ex) jornalista, você também não o está como revolucionário (não colocarei aqui um “ex” insultuoso porque jamais pagarei insinuações ignóbeis com a mesma moeda).

Politicamente, você é expressão fiel daquela degeneração burocrática da revolução soviética que Rosa Luxemburgo captou no nascedouro e lhe inspirou a máxima imortal. Pertence à estirpe dos homens do aparelho, daqueles que acreditam em mudar a sociedade a partir dos gabinetes do poder, em cuja órbita sempre oscilam.

Antes defendia o Governo Lula até no que ele tinha de indefensável para um homem de esquerda, com obediência canina. Depois trocou de amo e senhor, repudiando Lula e erigindo Hugo Chávez em guia genial dos povos.

Não estão excluídos novos ziguezagues, mas posso apostar que você continuará sempre caudatário de algum governo.

Sua revolução cheira a mofo palaciano, Laerte. Nela não entra o ar puro da praça, que é do povo como o céu é do condor.

De resto, por mais jogo sujo e provocações que façam você e aqueles que o escalaram para atacar-me, continuarei cumprindo a missão que assumi: contribuir para a afirmação de uma esquerda libertária no Brasil.

E só o que eu tinha a lhe dizer, Laerte. Sua algaravia não justifica mais do que isto.