Todos os posts de Fabio Nogueira

A mão pesada do Estado sobre os mais pobres

Há quatros anos, a cidade do Rio de Janeiro foi surpreendida pela maior manifestação desde a redemocratização do país na metade da década de oitenta. O estopim foi o aumento das passagens de ônibus e outras reivindicações. Calcula-se que mais de cinquenta mil pessoas estavam espalhadas pelas principais ruas do centro da cidade. A cidade estava fora de controle: lojas, pontos de ônibus e praças foram danificadas. No final do balanço e de tanto caos, a polícia conseguiu prender uma pessoa: Rafael Braga. Sua foi o fato de ele estar portando uma embalem de pinho (detergente para limpeza doméstica) .O Estado armado tinha que mostrar sua eficiência.
Rafael Braga é morador de rua, não sabe ler e escrever, mal consegue expressar as palavras corretas. No entanto, o Estado o escolheu para ser o bode expiatório das manifestações do Rio. Ele foi sentenciado na semana passada a onze anos de prisão.
Esse exemplo da polícia dá a dimensão de como o Estado trata os desiguais desse país. Fazendo um paralelo, lembro-me que quando estudei o período Regencial, no Brasil Império, houve muito derramamento de sangue. A Regência tratou com mão de ferro as revoltas de caráter popular (Malês, Balaiada,Cabanagem e outras). Essas revoltas não chegaram a mais de quatro anos de conflito, pois o Estado agiu brutalmente. Por outro lado, a Revolta Farroupilha durou exatos dez anos de conflitos.
Aonde quero chegar ao fazer esta comparação? Conforme citado acima, o Estado sabe tratar de maneiras desiguais os atores sociais envolvidos. Quando se trata de grupos sob condições adversas, ele sabe até onde pode apertar. Rafael Braga faz parte desse grupo social que o Estado armado sabe como tratar. Aproveitando-se da pouca escolaridade do rapaz, simplesmente o poder cai em cima dele sem perdão.
Isto é uma pequena amostra. Agora amplie a sua mente, e imagine quando este aparelho opressor chega às favelas? O artigo 5º da constituição é rasgado. Nem sempre o favelado é tratado com os mesmos direitos de igualdade. Quando o problema é criminalizar a pobreza, a favela e os moradores são assistidos pelo poder .
O caso Rafael Braga é a síntese de outros descasos do poder com os mais pobres desse país. Sinto medo do Estado policialesco. Nada contra aqueles homens e mulheres que vestem a farda, sabemos que estes também são vítimas iguais aos demais. Tenho críticas sim à instituição e aos que a polícia presta serviços. Sabemos como seremos tratados.
Torço para que Rafael Braga e outros com a mesma condição tenham seus casos resolvidos. Torço também para que um dia o Estado trate todos com igualdade.

Queria entender os idólatras do Bolsonaro

Reprodução da internet.

“ Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem”
Evangelho de Mateus: Capítulo 7;Versículo 6
Não fico perdendo tempo em ouvir ou conversar com pessoas que não têm nada a acrescentar na minha vida. Não que eu seja melhor, longe disso, mas tenho uma longa caminhada para ser percorrida.
Outra ação que pratico é não misturar pensamentos políticos ideológicos com o pessoal. Minhas relações sociais sempre serão pautadas nas divergências de ideias e políticas. Em tempos de polarização, as pessoas têm misturado o pessoal e a política partidária no mesmo patamar. É lamentável.
O fenômeno político caricato de extrema direita no Brasil é o deputado federal Jair Bolsonaro. Um ex-militar do exército brasileiro, que nos últimos vinte anos tem deixado sua marca na política não com propostas para o debate ou mesmo pensamentos para reflexão. Simplesmente, o deputado lança suas polêmicas ao ar e nós que absorvemos corremos o sério risco de ficarmos com a mente lesada. Não há nada de proveitoso a ser tirado de suas falas.
Dentre milhares de “pérolas” do deputado, estão palavras que incitam a violência contra as mulheres, o estupro, torturas, xenofobia, racismo e homofobia. Há quem concorde com as suas falas, inclusive grupos que são alvos preferidos dessas ofensas.
A última “pérola” do deputado sem noção foi afirmar que os Quilombolas são inúteis em todos os sentidos. O mais contraditório foi ele dar essas e outras declarações no Clube Hebraico do Rio de Janeiro, local frequentado por descendentes de judeus. Foi l[a que ele vomitou mais uma vez o seu ódio. O mais contraditório foi ouvir risadas dos presentes ao debate, quando o deputado afirmou sua infeliz opinião. Logo num local simbólico, onde seus membros sentiram na carne o que é a intolerância e o ódio. Muito estranho.
Passa na minha cabeça aquela que é chamada Síndrome de Estocolmo. O que é esta síndrome? Em linhas gerais é quando o oprimido passa a ter afeição pelo opressor, criando laços de amizade e simpatia.
É amargoso ver que há grupos que se submetem a este tipo de sujeição a personalidades como o do deputado. Incômodo maior ainda foram as risadas dos presentes.
Estamos banalizando a violência e a intolerância?
Perder tempo ouvindo o deputado é querer maltratar a mente e ser sadomasoquista.
Trocar ideia com os diferentes é bom, não há nada mais saudável que estimular o exercício do debate. No entanto, há regras quando o debate começa a desviar para sentidos bestiais e o sentido passa a não fazer diferença.
A palavra do evangelho de Mateus afirma tudo que penso. As palavras são como pérolas e precisam ser bem lapidadas para terem mais valor. Valorize teu cérebro. Pensar é bom e gratuito.
Não quero entender a cabeça do Bolsonaro, quero entender a cabeça daqueles que acreditam nos pensamentos dele, que é ódio puro.

Getúlio Vargas, Jango, Brizola e mais golpes

Ao chegar a casa, depois de mais um dia a procurar emprego e revigorar-me nas aulas de meus professores de história, meu sobrinho deu-me a triste notícia da aprovação pela Câmara dos Deputados em Brasília (DF) do projeto que autoriza as terceirizações de todos os setores de trabalho. Falta pouco para desconstruir de vez a CLT, direitos conferidos pela luta do trabalhador desde do início do século XX e atendidas pelo então presidente Getúlio Vargas há mais de 70 anos.
Quando assisti a reportagem de uma emissora de TV, um jornalista “papagaio” vangloriava-se de alegria afirmando que foi a decisão mais justa e encontrada para a criação de novos empregos. Na mente desse jornalista, a informação era de menos importância.
A palavra flexibilização é a bola da vez. Segundo os especialistas da área neoliberal, flexibilização é o que há de mais ”moderno” no meio trabalhista. A presença do Estado não será mais necessária, pois ele é pesado na visão dos neoliberais. O trabalhador braçal, que vive trabalhando a duras penas e sob condições precárias, é o que sofrerá mais com está tal “flexibilização”.
Desde quando o patrão inescrupuloso sairá em defesa dos interesses dos trabalhadores? É justamente neste momento que o Ministério do Trabalho deve estar presente para coibir abusos, conforme veremos a partir dessas novas medidas.
No meu imaginário perverso, visualizei a “volta” de Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. Ao depararem com tanta podridão e deslealdade à memória dos anos de luta e seus legados, os três progressistas lançariam todas as pragas e as maldades neles contidas contra a corja de mercenários que há neste Congresso. Acontece que seria impossível, embora não seja má ideia petrificar esses retrógrados para sempre na história da política.
Há pouco tempo no poder, o presidente Michel Temer e sua equipe está destruindo projetos sociais que vinham sendo consolidados ao longo dos últimos anos. Dá a sensação que estamos voltando aos moldes da primeira República brasileira, o que significa opressão (sempre foi assim) e atraso.
A professora Marilena Chauí, filósofa da USP, sempre é enfática ao dizer que o grande capital assumira o poder que é concebido ao Estado. A vida do brasileiro será pautada segundo a vontade do capital especulativo, disse ela num evento sobre a crise nas universidades no início desta semana na UERJ. O único dever do Estado será a segurança (quem estuda história sabe o que é positivismo e sua influência nesse tema).
Quem um dia bateu panela pedindo moralidade na política e apoio ao golpe de película, deve estar com a consciência pesada nesse momento. Quem aderiu ao golpe e ao desmonte, tem parcela de culpa desse processo de desconstrução do bem estar social brasileiro.
Veremos quais serão os próximos capítulos desse governo golpista!

A identidade negra e os aproveitadores

Deixei a poeira baixar para poder dar minha opinião sobre o assunto mais comentado desde o início do ano: a polêmica do turbante. O advento da globalização nos trouxe a cultura de vários países. É sempre bom estarmos antenados aos eventos, às culturas de outros povos para sairmos desse mundo encasulado e olharmos para além do nosso nariz. O uso do turbante é um desses exemplos. Sou a favor da diversidade, não vejo nada demais em pessoas de outras etnias querer usar os turbantes. A cultura negra é reconhecida no mundo inteiro por esses aspectos das diversidades. E vamos que vamos!
Não posso deixar de entrar numa outra observação que tenho em relação à chamada apropriação cultural. Desde que passei a conviver com os movimentos sociais e por obrigação ler mais e mais, tenho notado que muitos acadêmicos ao longo dos anos vêm se mantendo às custas da cultura negra. Algo de errado? Não. Mas, de volta às minhas considerações, há escritores, historiadores, sociólogos e em especial antropólogos que vivem falando do negro como sendo objetos de estudos. Isto não me deixaria perturbado até a página seguinte, na qual o assunto é compartilhar direitos e igualdade. Usar a cultura negra como entretenimento é ótimo negócio, mas na hora da divisão de privilégios o assunto é outro. Escrevo com convicção e causa de luta.
Quando as políticas de cotas raciais entraram em cena no início dos anos 2000, vários daqueles que viam a cultura negra como um meio de ganhar status demonstraram incômodos quando finalmente passamos a virar protagonista. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) havia dois professores antropólogos, cujas vidas acadêmicas foram em torno do negro e da cultura deles. Com a chegada das políticas de cotas universitárias um deles fez de tudo para tocar o terror: o discurso do medo foi a construção do seu debate.
Não serei patrulheiro ideológico. Quem achar por bem usar o turbante, seja por modismo ou identificação de luta, que fique à vontade. Mas não aceitarei os aproveitadores que ganham fama e prestígios tratarem o mesmo como algo exótico, ou atores sociais (negros) sem histórico de luta e resistência.
E quando o modismo acabar? Será que aquelas mulheres negras que usam o turbante com o ideal da afirmação serão ridicularizadas?
Muitas indagações devem ser feitas.
Aceito numa boa a cultura policrômica. Só não aceito os aproveitadores que sequer nos chamam para cortar o bolo da igualdade.

O desprezo à vida

Um turista argentino é espancado saindo de uma boate no Rio de Janeiro por quatro rapazes por motivo torpe. Horas depois ele morreu em virtude das lesões.
Em menos de uma semana, três policiais foram mortos na mesma cidade. A cada ano o número de policiais mortos no Estado do Rio de Janeiro vem aumentando. A polícia do Rio de Janeiro é a que mais mata e a que mais morre no Brasil.
Num bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, uma jovem tinha milhares de sonhos como o de se tornar jogadora de basquete e dar uma vida mais digna à família. Seus sonhos foram interrompidos de modo brusco dentro da quadra da escola onde estudava. Com três tiros, morreu. O universo parecia conspirar a seu favor, conseguiu uma bolsa integral de estudo num colégio com todo o suporte para estudar e treinar com direito a ajuda de custo. Quem atirou em Maria Eduarda? Não importa. Nada consolará a família dela.
Os casos de linchamentos estão virando rotina. Qualquer delito cometido é mais um motivo para fazer justiça com as próprias mãos. Há casos de inocentes morrerem linchados, porque saiu nas redes sociais a foto de uma mulher parecida com outra que praticava crueldades contra crianças.
Quem apoia essas e outras ações similares é tão culpado quanto os praticantes, e pode tornar-se amanhã vítima ou algoz.
Volta e meia ouço aquele ufanismo afirmando que somos um país abençoado por Deus. Não temos terremoto, nem furacões. Colocamos a ideia da miscigenação como referência de nação feliz vivendo em harmonia com todos. Somos conhecidos pela alegria. Se o país é abençoado, não sei. Se foi abençoado alguma vez, Deus deve ter seus arrependimentos, pois os números de mortes por armas de fogos nos deixa entre os países mais violentos do mundo. Os números são iguais aos de países que enfrentam guerra civil.
Em geral estamos banalizando a violência de tal forma que encaramos esses fatos como normais. A indignação é momentânea, depois passa a ser mais um número para a segurança calcular quantas pessoas morrem a cada cem mil habitantes.
Onde está o erro? A instituição familiar estar em decadência? A religião que é tida como poder de transformação tem falhado na sua missão? Ou temos um Estado omisso? Nesta última opção, tenho certeza que o Estado não é omisso.
As indagações são muitas e continuarão até passarmos a reagir. Não sei qual a solução para sairmos dessa estatística sangrenta.
Em seus pensamentos, Albert Einstein disse que tinha dúvidas sobre uma terceira guerra mundial. No entanto, deu a dica que se houvesse a quarta o homem aprenderia a lutar com lança e espada.

Militares da democracia e os golpes

Graças aos meus estudos sobre história posso observar os vários lados da história, mesmo tendo um pensamento de esquerda ( as pessoas me classificam assim). Isto me deixa a vontade para fazer considerações ou mesmo críticas sobre todas as vertentes ideológicas.
Neste mês comemoramos mais um ano do golpe civil-militar que impôs ao país retocessos por duas décadas. Não fique preocupado, não vou fazer aquelas manjadas retrospectivas do golpe da direita e dos momentos de incerteza da esquerda brasileira que até hoje ainda não sabe para que veio realmente no Brasil. Claro, não posso esquecer dos verdadeiros esquerdistas que fizeram da luta por um país melhor seu meio de vida.
Não podemos deixar de citar dois momentos da história brasileira, nos quais a presença dos militares foi fundamental para a manutenção da democracia. Depois da queda do Estado Novo, de Getúlio Vargas, na metade da década de 40. E quando o Marechal Henrique Teixeira Lott foi fundamental para que Juscelino Kubitschek tomasse posse na presidência como o legítimo vencedor das eleições de 1955. Uma minoria de militares conservadores junto a Carlos Lacerda, que tinha perseguição à cor vermelha (comunismo), aliando-se ao velho jargão anticomunistas tentou impedir a entrada de JK .
Existe um quadro bem parecido hoje. O menino mimado e seus coleguinhas não se conformaram com a derrota pela terceira vez seguida nas eleições, e juntaram-se ao que há de pior no meio político conservador e empresarial para aplicar o golpe. Coincidência?
O Brasil tem sérias dificuldades no enquadramento à modernidade, o que não chega a ser nenhuma novidade. Getúlio Vargas e João Goulart passaram por este problema. Enfim a tentativa foi sufocada, o governo de Juscelino Kubitschek foi o mar de rosa. Podemos classificá-lo, de acordo com muitos historiadores, como o presidente Bossa Nova.
Henrique Teixeira Lott era o homem de confiança, a democracia e o Estado brasileiro devem agradecimentos. Até os nossos dias pouco ou quase nada fizeram para reavivar a memória do Marechal da democracia. Henrique Lott pagou caro por defender a democracia, embora não tenha ficado em desgraça foi esquecido. Existem pouquíssimos logradouros ou estabelecimentos de ensino que tenham o seu nome. Bem mais fácil encontrar nomes de opressores e golpistas nas ruas ou escolas .
O mesmo acontece com os militares junto ao Governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que detiveram outra tentativa de golpe sobre um governo legítimo em 1961. O evento marcou a história política do país e ficou conhecido como a campanha da legalidade. Foi um dos poucos momentos em que civis e militares juntaram-se para evitar um desastre contra a democracia. O personagem deste acontecimento era o comandante Machado Lopes, que evitou o banho de sangue no Palácio Piratininga ao rechaçar o bombardeio aéreo contra os legalistas do sul. O auto comando do III Exército baseado em território Gaúcho abraçou a luta contra o golpe, e enquanto isso sargentos da aeronáutica impediram a decolagem dos jatos que iriam bombardear o palácio governamental.
A democracia venceu!
A função de historiador não permite ser infiel aos acontecimentos. Poderia execrar ou demonizar as forças armadas em toda a história dela, mas não serei honesto comigo, com os demais, com as forças armadas e a História.
O momento político que atravessamos permitiu o surgimento de manipuladores históricos de todas as correntes ideológicas. Sabemos que no decorrer do tempo as duas forças políticas erraram. Não isento a transtornada direita, que nunca aceitou perder, e a esquerda não tão simpatizante da democracia .
Já combalida e com dias contatos, os dois últimos presidentes militares da ditadura começaram a pôr em prática o caminho para redemocratização do país. O Gen. Geisel revogou o Ato institucional n.5 (AI-5), mesmo contra a vontade dos militares radicais. Seguindo o processo de redemocratização do país, o Gen. João Baptista Figueiredo disse no dia da sua posse que entregaria o Brasil de volta às mãos dos civis. Os militares exaltados fizeram de tudo para não sair do poder, cometeram atos de terror em instituições como O.A.B ( Ordem dos Advogados do Brasil).
O golpe de 64 não deve ser comemorado como a vitória da democracia. Pensávamos que a ferida estivesse fechada, mas foi um erro pensarmos assim. O golpe voltou e derrubou uma chefe de governo eleita democraticamente. Só nos resta tirarmos várias lições para que outros golpes não caiam sobre nós.

País sem História: Tempos críticos

O último texto que escrevi para o Fazendo Média mostrou a minha preocupação com a reforma do ensino médio. Entre as novidades desta reforma está a não obrigatoriedade das disciplinas de História, Geografia e Educação Física.
O atual governo garante que este método dará certo em nosso país, as experiências são sucesso nos países desenvolvidos e por que não dariam certo aqui? As comparações chegam à beira do absurdo. Não há como fazer de parâmetro países onde a política de Educação é tratada como assunto de Estado, e todos os alunos são bem preparados e a qualidade é altíssima em comparação com a nossa que já nasceu atrasada e excludente.
Para esta reforma não houve consulta ou debate com as partes envolvidas: professores, diretores, coordenadores e pais. O primeiro desrespeito começa neste quesito.
Nesta semana por acaso estava lendo um artigo do pseudo historiador Leandro Narloch, no qual ele destilava o seu veneno na Escola de Samba Unidos do Tatuapé, de São Paulo. O tema era África como berço da humanidade. A falta de conhecimento do “Estoriador” referente ao continente é estarrecedora. Em linhas gerais, o pseudo afirma que o continente africano é um atraso. Pobre Estoriador. Se ele soubesse a história da África, sua contribuição para diversas áreas desde economia, filosofia, medicina e higiene pessoal, ele não falaria tanta besteira.
Se ele soubesse quem cometeu as maiores brutalidades contra a humanidade ficaria espantado. Se soubesse quem introduziu a escravidão com recorte racial ficaria surpreso. Se soubesse quem espalhou moléstia entre os índios das Américas contribuindo para o extermínio dos primeiros povos ficaria com dor de cabeça. O ato de pensar é dolorido para esses pseudos de história, porque têm distância da leitura e pesquisa.
As críticas são válidas para vermos onde estamos errando. No entanto, críticas sem base de conhecimento, sem pesquisa e sem leitura são fadadas à mentira. Não vou tomar tempo em comentar o artigo desse cidadão. Quem quiser tire suas conclusões.
Tenho temor na alma e no cérebro pela não obrigatoriedade do ensino de história nas escolas públicas de ensino médio, e o aparecimento dos notórios do saberes. Pode se alastrar a quantidade de pessoas com boa vontade e sem qualificação pedagógica. Não haverá a preocupação com a pesquisa e a leitura. O risco em dizer que as pirâmides do Egito foram construídas por extraterrestres é muito grande. A possibilidade em mencionar a ditadura militar como modelo democrático pode virar regra.
É lamentável como há alguns professores e alunos, utilizando literaturas fantasiosas passando-se de história. Um claro sinal que estamos indo para a falência do ensino público. A derrocada está a caminho. A desigualdade educacional aumentará mais e mais.
Enquanto isso, as panelas estão em silêncio, os gritos por moralidade não ecoam pelos quatros cantos do país pedindo educação de qualidade . A intranquilidade toma conta de mim. Ler e ouvir “estoriadores” como fontes a pesquisar dói demais. A função de Historiador e professor de história está perto da extinção.
Governo que não leva sério a História cometerá um crime contra a memória brasileira. Um país sem História é um país sem memória .

Tempos críticos: É proibido pensar

Como se não bastasse a educação brasileira ser excludente, na qual o aluno não se vê inserido no contexto histórico, o governo golpista dá mais um passo ao retrocesso social ampliando o fosso educacional existente no país.
O novo projeto do desgoverno é a chamada “reforma” do ensino médio. Entre as mudanças feitas, não será mais obrigatório o ensino da História e Geografia, vai depender do ponto de vista do aluno. Anteriormente, Filosofia e Sociologia ficariam de fora também, mas houve barulho por parte dos docentes das duas disciplinas e as retiradas não foram concretizadas.
Estou temeroso quanto ao silêncio dos historiadores, professores e alunos. Até onde sei, não há manifesto contra esta ação absurda. Num passado não tão distante, a disciplina de história era vista como subversiva, o perigo de comunistas e a “conversão” dos alunos. Por causa dessa ignorância, os professores de história foram severamente perseguidos pela ditadura militar. A História foi trocada por Moral Cívica e OSPB (Organização Social Política Brasileira). Essas aulas eram verdadeiras lavagens cerebrais. Em nome da ordem os alunos eram proibidos de questionar e pensar. Temas como política, identidade de gênero, racismo e heróis populares eram proibidos, algo muito semelhante aos dias de hoje. Os heróis brasileiros eram das classes dominantes, nomes como Tiradentes e Duque de Caxias eram reverenciados sem mencionar direito qual era a contribuição deles na história do Brasil. O direito de pensar era um risco.
Diante da crise política instalada no Brasil e a facilidade do golpe realizado contra a democracia, tem surgido os pseudo historiadores. Os absurdos históricos chegam a ferir os cérebros sadios daqueles que de fato levam a profissão a sério. Não há como ficar calado diante dessas sandices. Classifico-os como Estóriadores de rede social, não aceito escrever loucuras de origem duvidosa com H. Nesta altura dos acontecimentos, March Bloch* e Heródoto* devem estar se revirando nos túmulos de raiva.
São esses que incutem nas pessoas que o Nazismo era de origem socialista, o ex-presidente Getúlio Vargas era nazi-fascista, os muçulmanos são doidos varridos e comunistas devoram crianças. Está difícil de pensar neste país! Meu pai, que mal tinha o primário, morreria de vergonha ao ouvir e assistir tanta insensatez.
O governo golpista mostra para que veio e o que fará para tornar a educação do Brasil mais injusta e excludente. Um ministro da educação que recebeu um pseudo ator pornô com propostas para a educação, e a bíblia ditará a ordem dentro da sala de aula. Isto corrobora com o que o ex-presidente francês Charles De Gaulle disse na década de 60: ”_O Brasil não é um país sério”
Vamos ver qual será à próxima surpresa. Amo história. Não podemos de ficar de braços cruzados.
(*) Heródoto: Introdutor da História
(*) March Bloch : É conhecido como pai da História contemporânea .

Depressão: o mal do século

Aconteceu outro suicídio. Lamentável a morte do policial militar Douglas Vieira, de 28 anos, na cidade do Rio de Janeiro. Ele tinha uma vida pela frente, e infelizmente não suportou a pressão. O suicídio ocorre quando a pessoa está no seu limite, ninguém tira a própria vida por que quer ou gosta. São os últimos dos últimos recursos do depressivo. A depressão ainda é vista para algumas pessoas, que não sentem na pele algo parecido, como frescura, falta de caráter ou sem coragem. Para aqueles que pensam assim, não desejo a vocês passarem pela mesma experiência.
Há quatro meses escrevi um texto para o site Fazendo Media, expondo a minha luta para enfrentar esta doença. Tive ajuda e hoje estou em tratamento, a bem da verdade retornei ao tratamento depois de dois anos.
Cada vez que ouço, leio e vejo relatos de alguém com depressão me coloco no lugar dele. Há vários Douglas, Josés, Joãos, Paulos e outros clamando por ajuda neste momento. Não cogite a não ajudá-los, o ombro amigo para o desabafo será bem vindo para aliviá-lo do fardo que está carregando. Não fale nada, ouça. Evite os conselhos emocionais ou algo parecido.
Ironicamente a depressão pode ser classificada como uma doença democrática, pois para ela não há classe social, gênero, raça ou religião. A depressão não tem escolha. No entanto, não a encare sério, busque ajuda de médicos, psicólogos ou algo que você tenha fé. Lembramos que a depressão é o mal do século, o ser está perdendo as expectativas de um amanhã melhor pois o presente é sombrio.Para mais informações sobre o tema, entre no site do Centro de Valorizações a Vida.