Faltam craques à seleção brasileira

A Seleção Brasileira iniciou a sua participação na Copa América com um vergonhoso 0 a 0, contra a Venezuela. Após resultados desastrosos, reaparecem os velhos e tolos discursos de que “hoje, não há mais bobo no futebol” ou “não existe mais galinha morta”. Tais bobagens são repetidas por jornalistas, jogadores e treinadores. Como se isso justificasse o futebol de baixo nível que tem sido jogado mundo afora.

Não sou tão velho, mas sou de um tempo em que o Brasil não podia sair de campo contra a Venezuela sem golear. Infelizmente, os tempos mudaram. Quanto terá evoluído a qualidade do futebol venezuelano? Em minha opinião, muito pouco ou quase nada. A verdade é que o nosso futebol é que piorou.

Esse desnível ocorreu quando os nossos técnicos passaram a copiar o estilo europeu, enquanto o Velho Continente quis aprender com o Brasil como jogar futebol. Aí se deu uma inversão de valores e conceitos. O futebol de qualidade foi deixado de lado na busca incessante pelos resultados. Há muito, o que importa é vencer. Vencer a todo custo. Até os conceitos sobre o que é uma boa partida de futebol mudaram. Qualquer jogo corrido é classificado pelos nossos comentaristas, cronistas e torcedores, como um espetáculo. Quando não o são.
Na Copa Dunga dispunha de melhores opções?

Ano passado, quando da convocação para a Copa do Mundo, Dunga foi duramente criticado por não convocar em especial três jogadores: Ganso, Neymar e Ronaldinho Gaúcho. Dunga, como sabemos, após o fracasso na Copa, foi execrado e responsabilizado pelo insucesso da Seleção. Mas será que tais jogadores teriam realmente mudado a história e o destino do time no campeonato? Será que há um ano os dois jogadores do Santos poderiam e estavam prontos para receberem

a responsabilidade de protagonistas da Seleção de maior prestígio no mundo em uma Copa? Pelo que temos visto até agora, a resposta é não.

Ronaldinho, à época no Milan, não estava jogando nada. Agora, no Flamengo, continua da

mesma forma. Mesmo que a imprensa não reconheça, Dunga estava certo. Pode ter se equivocado em outros

pontos, mas acertou ao não levar esses jogadores. Não podemos deixar de considerar que para um jogador se firmar na Seleção leva tempo. Poucos conseguem assumir a condição de titular desde as primeiras participações. Neymar e Ganso são ótimos no Santos, mas talvez ainda não estejam prontos

para serem titulares na Seleção.

O que nos falta é reconhecer que o futebol brasileiro vive um momento crítico. Sofremos com a escassez de craques. Não os temos. Kaká talvez seja o único jogador a que possamos atribuir tal adjetivo. E ele, com seguidas contusões, não consegue atingir sua melhor performance.

Podemos avaliar a mudança na forma de ver e gostar de futebol de outra maneira. O mundo mudou e os valores das pessoas também. Antes, quando um jogador era chamado para a Seleção, representava muito. Hoje nem tanto. A maioria dos atletas já é milionária, atua na Europa. Eles jogam como se fosse apenas mais uma partida, obrigação. Não têm a menor empolgação, amor então…

Nesse caso, Neymar, que é visto como craque, merece maior atenção. Como muito bem escreveu Fernando Calazans, temos de ter cuidado para ele não se tornar o novo Robinho. Pois Robinho, em 2002, tornou-se a maior esperança para o futebol brasileiro. Infelizmente, o futuro chegou e ele não foi o que todos nós esperávamos. Com toda bajulação e riqueza que o cerca, Neymar tem de ter discernimento sobre o que ele deseja para sua vida e sua promissora carreira.

O que temos visto até agora é um jogador com enorme potencial, mas que com suas atitudes infantis pode colocar tudo a perder. O que vimos nas duas partidas das finais da Libertadores, contra o Peñarol, e na estreia da Copa América, foi um alerta. Nessas partidas, ele se jogou o tempo todo, discutiu com árbitro, adversários e até com o treinador rival. Pelo Santos, ele resolveu e

conquistou. Mas se

quiser fazer o mesmo pela Seleção, terá de deixar de ser mimado, jogar bola e ter postura de homem.