Antes de que seja tarde

Os tempos mudaram e não para melhor. Enquanto não há muitos anos atrás estudava-se, pesquisava-se, liam-se livros e consultavam-se estudos e dados, nos dias de hoje qualquer coisa é dita com a maior leviandade, como se o mundo tivesse se liberado da obrigatória necessidade de ir ao encontro da verdade. A verdade foi substituída pelas opiniões, geralmente sem fundamento.

Não interessa mais a realidade, mas, sim, o que sobre ela é dito. O que acontece quando nos distanciamos da realidade, é que deixamos de viver. Passamos a vegetar, a sermos manipuladas e manipulados. O tempo vai passando e a nossa existência vai se desvanecendo em ações estranhas a nós mesmos, a nós mesmas.

Penso o que me dizem para pensar, faço o que me dizem para fazer, sinto o que me forçam a sentir. Para quem vêm desse outro tempo em que éramos obrigados e obrigadas a estudar, pesquisar, analisar, interpretar, comprovar, fundamentar, agir coerentemente, os dias de hoje se assemelham a uma espécie de enterro antecipado.

Cadáveres ambulantes que sequer sabem da sua inexistência, pululam por toda parte, de cima abaixo na pirâmide social. Baniram o pensamento, a ética, a fé, a moralidade, o respeito, a solidariedade, o compromisso com a verdade. E julgam desta forma estarem a viver no melhor dos mundos possíveis.

A descida a este nível de desumanidade não se restringe ao Brasil e ao seu atual desgoverno. Trata-se de um estado da sociedade mais abrangente. O mínimo, o próprio, o singular, o familiar, a comunidade, em suma, a vida vivida, foram preteridos do cenário da humanidade para adotar no seu lugar a vida alheia imposta.

A atual situação de pandemia, com o confinamento obrigatório, têm nos forçado a um novo olhar sobre o que realmente importa. Se não formos capazes de pôr ao nosso favor o conhecimento, a pesquisa, o estudo, a investigação e a ação, de nada terá valido toda esta sacudida.

Continuaremos manada rumo ao matadouro. Olhar para a história e para a filosofia é preciso. Respirar a arte, a poesia, a literatura, a música, a fé. Refazer a vida, dia a dia, todo dia. Antes de que seja tarde.

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