Canonização de dom Hélder Câmara, patrono dos direitos humanos, avança no Vaticano

Por Lu Sodré

Após uma vida dedicada às causas sociais e à defesa dos direitos humanos, dom Hélder Câmara está cada vez mais próximo de ser considerado santo pela Igreja Católica. Vinte anos após seu falecimento, completados nesta terça-feira (27), o processo de canonização do religioso entrará na fase romana das investigações no dia 5 de setembro.

Aberto oficialmente em fevereiro de 2015, o processo conta com um dossiê de 197 páginas com a biografia do religioso e 54 depoimentos de pessoas que conviveram com dom Hélder, indicado quatro vezes ao Nobel da Paz. O documento foi organizado por Jociel Gomes, frade franciscano responsável por realizar o pedido junto à cúpula da Igreja, e sua equipe.

Caso seja considerado venerável (digno de reverência e veneração), relatos de milagres serão compilados e analisados por especialistas do Vaticano. O arcebispo se tornará beato após ter seu primeiro milagre reconhecido pela Igreja. A canonização só acontecerá quando houver a comprovação de um segundo milagre.

Trajetória

Conhecido como “mensageiro da esperança”, dom Hélder tornou-se arcebispo de Olinda e Recife em 1964 e se consolidou como referência na resistência contra a ditadura militar brasileira.

Com forte atuação em Pernambuco, o religioso foi chamado de “arcebispo vermelho” e perseguido pelos militares. Declarado como Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos em 2017 por meio da lei federal 13.581/2017, ele foi um dos grandes responsáveis por fortalecer as comunidades eclesiais de base que lutaram contra o regime.

Dom Hélder foi ordenado padre aos 22 anos. O compromisso social foi a questão central de sua atividade religiosa. Além de líder da Juventude Operária Católica, em 1933 o religioso fundou a Sindicalização Operária Feminina, entidade que lutava pelos direitos de trabalhadoras domésticas e lavadeiras.

Durante a Segunda Guerra Mundial, acolheu imigrantes e refugiados que chegavam ao território brasileiro. Tornou-se bispo em 1952, ano em que fundou a Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB).

Marcelo Barros, teólogo e monge beneditino ordenado por dom Hélder Câmara em 1969, acredita que o Vaticano apenas atestará algo que já é de conhecimento comum.

“O povo simples, as pessoas da arquidiocese de Olinda e Recife e até mesmo do Brasil, que acompanharam a vida de dom Hélder e seu trabalho, sabem que ele é santo. Dom Hélder é um exemplo de Santidade. Todos que o conheceram estão de acordo com isso. O processo de canonização vai confirmar isso oficialmente”, afirma Barros, que até 1976 trabalhou como secretário e assessor do arcebispo para assuntos ecumênicos.

Ele comemora, que devido ao processo de canonização, novas gerações poderão entrar em contato com as palavras e exemplos de dom Hélder ao lado dos mais pobres.

Barros reforça que sua luta em defesa dos direitos humanos não é apenas atual, mas urgente.

“Eu o encontrei em sua casa dez dias antes dele morrer e ele me disse: ‘Não deixe cair a profecia’. A profecia de dom Hélder, o trabalho em nome de Deus, foi esse: o de defender o direito de todos os povos, de todos os pobres, o direito da natureza. Foi testemunhar que o projeto de Deus no mundo é a Comunhão, a Justiça e a Paz”.

Edição: João Paulo Soares

Fonte: Brasil de Fato

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