O que um incêndio não destrói

Após uma live, esqueci de apagar o abajur. 15 minutos depois iniciou um incêndio em meu apartamento. Apesar da intervenção dos bombeiros tive perda total. Toda a minha biblioteca com seus livros e meus diplomas viraram cinzas.

Fui avisado sobre o incêndio e solicitado a minha presença, quando estava dando uma palestra para as líderes Empresárias femininas do CDL. O título era a “arte de viver e ser feliz.” Aquela notícia aumentou as batidas do meu coração, mas iluminou minha percepção de que eu estava vivendo na pele o tema que eu estava refletindo com aquelas senhoras empresárias.

A vontade de voltar imediatamente ao meu apartamento era muito grande. Mas o senso de responsabilidade e de coerência entre teoria e prática foram maiores e me acalmaram. Decidi continuar a palestra e só retornei ao meu apartamento duas horas depois, quando o incêndio tinha sido debelado pelos bombeiros. A cena era caótica: cinzas, entulhos e um odor muito forte que me deixou afônico uns 3 dias. O que me ajudou a superar este trauma? Por em pratica o que sempre falo para os outros:” para cada destruição material, precisamos fazer uma construção simbólica”.

Fui então vivenciar esta verdade. Com a notícia do incêndio se expandindo pelas redes sociais passei a receber mensagens de apoio de amigos e de pessoas que até então não estavam na minha lista de amigos. Uns ofereceram acolher em suas casas, outros se dispuseram a me ajudar financeiramente, outros se propuseram a me ajudar na limpeza, outros ainda se solidarizavam com minhas perdas. Pude perceber com todos os meus sentidos que eu não estava só, que existia uma rede de afeto mais poderosa que o fogo destruidor do incêndio. Para cada perda procurei ver um ensinamento: meus livros viraram cinzas, mas o que aprendi com eles estão vivos em minha mente e norteiam minha vida; meus diplomas e títulos viraram fumaça, mas eu não sou um título um doutor e sim um ser humano e eu estava vivo e sou valorizado pelo que sou e não pelos meus títulos. Meus vizinhos de apartamento que tiveram avarias foram extremamente compreensivos com meus prejuízos; enfim foi uma oportunidade para rever meus valores, o sentido de minhas opções de vida.

Passei a entender e vivenciar o sentido do desapego, de que posso perder muitas coisas materiais, mas jamais me perder com elas. Eu não sou meu apartamento. Eu não sou um diploma. Eu não sou minha empresa. Posso perdê-los e continuar vivendo. O que me faz ser o que sou, são valores herdados de meus antepassados que cultivo, são pessoas que me apoiam e constituem a família que escolhi. Vão-se os anéis, ficam os dedos.

Deixe uma resposta