Coerência

[Foto publicada nos principais jornais do País não consegue esconder o preconceito de classe que ainda domina certos setores da sociedade]

Ontem, na coluna que assino às quartas-feiras no Caderno C, suplemento cultural do Correio Popular, de Campinas, escrevi em determinado trecho:

Existe, no País, um tipo de gente que nutre profundo desprezo por tudo o que vem do povo – sua cultura, suas crenças e costumes, seus sotaques, seu jeito de amar, sofrer e festejar. O comentário de Boris Casoy repercutiu tão negativamente porque partiu de um profissional tido como modelo de ética pelas classes mais pobres. Mas a ironia do fato não deve levar o leitor a pensar que se tratou de um mero deslize ou ato falho: comentários como o proferido pelo jornalista são feitos todos os dias, entre um uísque e outro, nas rodas da alta sociedade. Comentaristas que não respeitam garis são os mesmos que transferem seu ódio para o presidente Lula – eis uma explicação para o aumento colossal de piadas preconceituosas e programas de humor baseados na humilhação dos pobres. São o tipo de gente que se pergunta, ao ver Lula abraçado a Obama ou sendo recebido respeitosamente pelos líderes dos países ricos: ´Por que não FHC? Por que aquele analfabeto?´. O vazamento de áudio do telejornal apenas escancara o pensamento que sempre vigorou nos círculos restritos frequentados por socialites“.

Houve quem manifestasse, por e-mail, seu repúdio às minhas afirmações. Vozes do conservadorismo local, como o advogado Aderbal Bacchi Bergo e o jornalista Edmilson Siqueira acusaram-me de generalizar quando me refiro aos ricos, de incitar a luta de classes no Brasil e de sair em defesa de Lula movido por razões ideológicas ou partidárias. Não me interessa saber se vestiram a carapuça. Mas, quando me deparo com as cartas dos leitores publicadas nos jornais, como esta abaixo assinada por Debora Farah (JB, 6 de janeiro), carta na qual ela se queixa da cena, para ela vergonhosa, do presidente de seu país levando um isopor à praia e, pior, levando ele próprio, tendo a cabeça como apoio, sem recorrer aos seus seguranças e serviçais (como ela acredita ser a prática normal para alguém que detenha um cargo de poder), só posso me gabar da coerência que sempre pautou a minha vida e a minha conduta.

[Visite o Botequim do Bruno]

Deixe uma resposta