Ato em defesa da educação pública leva 3 mil pessoas ao centro do Rio

Salário digno para os professores, contra as terceirizações, 10% do PIB para a educação, melhor estrutura para as escolas, contra a privatização, contra as “saunas de aula”, pelo passe livre nacional… Em apenas um dia, todas essas e muitas outras lutas estiveram misturadas. Cada um com sua bandeira, professores, animadores culturais, merendeiras, faxineiros, bibliotecários e estudantes se uniram em um movimento que não se via há muito tempo. Todos eles, unidos a diversos movimentos sociais, realizaram na última quinta-feira, 31 de março, uma passeata com cerca de 3 mil pessoas em defesa da educação pública. Cada um deles trazia seu cartaz, sua palavra de ordem, seu grito entalado na garganta. Todos em defesa de educação pública, gratuita, de qualidade e de salários dignos para os profissionais da educação. A avenida Rio Branco foi fechada por cerca de duas horas para que os manifestantes pudessem passar.
O ato público começou por volta das 10h na Candelária, onde os diversos movimentos sociais, partidos políticos e organizações sindicais começaram a concentração. Estiveram presentes o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), a Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro), o Fórum de Saúde do Rio, diversos partidos políticos. Segundo a representante do Sepe, Lidiane Lobo, a manifestação foi proposta do dia do lançamento dos princípios do Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública (Fedep). “O objetivo do ato é articular a sociedade como um todo para lutar em defesa da educação, já que esta é uma bandeira de todos e não apenas do ambiente sindical”, declarou. Afonso Teixeira, do Sinpro, destacou a importância de se discutir os problemas das parcerias público-privadas. “Essas parcerias tornaram-se uma promiscuidade, é muito dinheiro público sendo investido no setor privado sem qualquer tipo de critério ou regulamentação”, frisou.
Representando os estudantes, os grêmios estudantis do Colégio Pedro II, do CAp UFRJ e de várias escolas públicas também estavam presentes, assim como os Diretórios Centrais de Estudantes da UFF, UERJ e UFRJ, e muitos Centros Acadêmicos. O presidente do grêmio estudantil do Colégio Estadual Alfredo Baltazar, localizado em Magé, Átila Gomes, relatou as péssimas condições estruturais da escola que chegou a pegar fogo por problemas nas instalações elétricas. “Lá é tudo muito precário, a fiação elétrica da escola não agüentou a instalação dos aparelhos de ar-condicionado, e nós nos perguntados: cadê a verba da educação estadual?”, protestou Átila.
Alguns parlamentares comprometidos com a luta pela educação também estiveram presentes durante a concentração. Alessandro Molon (PT), também deputado federal, parabenizou os estudantes e profissionais da educação pela mobilização. “Sou solidário a esses profissionais, para mim, são heróis, pois lutam diariamente contra o desprezo dos governantes, muitas vezes são obrigados a pegar ônibus e trens lotados e vão corrigindo provas no colo. Nós estamos aqui hoje para exigir respeito à educação e salário digno”, declarou Molon. Estiveram presentes também o deputado estadual Paulo Ramos (PDT) e o deputado federal Chico Alencar (PSOL).

Também estiveram presentes alguns representantes do movimento Hip Hop e da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFUNK). MC Nissin cantou um rap de protesto questionando alguns acontecimentos como a vinda do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil e a falta de investimentos na educação. Mano Teko, vice-presidente da APAFUNK, falou sobre a importância de participar de manifestações como esta. “Estamos aqui aprendendo com os professores, eles sempre nos apoiaram na luta contra a criminalização do funk. Se queremos mudanças de verdade na sociedade, o primeiro passo é educação de qualidade”, declarou o funkeiro.
Muitas pessoas relembraram a recente prisão de 13 pessoas durante uma manifestação contra Barack Obama. Um dos manifestantes presos durante o ato contra Obama, Yuri Costa, militante do PSTU, lembrou a morte do estudante Edson Luís, assassinado por militares no dia do golpe militar. “Hoje, dia 31 de março, o golpe militar faz 47 anos, neste mesmo dia, Edson Luis foi morto pela repressão, ele tornou-se símbolo da repressão sofrida pelos lutadores, algo que acontece até hoje”, destacou Yuri.
Por volta das 14h, o ato saiu da Candelária. Mais de 3 mil pessoas tomaram conta da avenida Rio Branco. Do carro de som, dirigentes sindicais e estudantis puxavam palavras de ordem: “Pula, sai do chão, quem defende a educação” e “Educação na rua, Cabral, a culpa é sua”. João Pedro Accioly, estudante do Colégio Pedro II de São Cristóvão, falou também relembrou a morte de Edson Luís. “Edson Luís foi morto pela ditadura que ficou no passado, mas a repressão existe ainda hoje. Quando eu estava convidando as pessoas para vir a essa passeata, muitas disseram que não viriam por medo da polícia”, relatou o estudante. João Pedro foi o menor de idade preso no dia da manifestação contra Obama. Sobre o assunto, uma das palavras de ordem puxada pelos manifestantes era “Ô, Lula, Dilma e Cabral, prenderam inocentes para vender nosso pré-sal”. O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) falou sobre a falta de democracia nas escolas e dos direitos da juventude. “A defesa da escola pública é de todo cidadão que quer a democracia. É inaceitável não ter eleição direta pra diretor das escolas do Rio de Janeiro, escola combina com democracia. O diretor de escola, o superintendente, continua sendo fruto da indicação política, muitas vezes da própria assembleia legislativa. Investir em educação é também garantir que essa juventude possa ter transporte de qualidade, possa ter moradia e acesso aos direitos de todo cidadão”, declarou Freixo de cima do carro de som.
Uma das principais reivindicações que motivaram a manifestação era a defasagem salarial dos profissionais da educação. Bibliotecários, jardineiros e merendeiras, por exemplo, ganham menos de um salário mínimo. O reajuste salarial exigido pelos professores do estado e do município está em torno de 30%. Segundo os manifestantes, no ano de 2010, quase metade do orçamento brasileiro destinou-se ao pagamento de juros da dívida com banqueiros e empresários. Para a saúde, por exemplo, foram reservados menos de 4% do orçamento, e para a educação, a porcentagem não passou de 3%.
A chuva fina não desanimou os manifestantes, que atravessaram a Rio Branco e foram em direção à Cinelândia. O destino era a Câmara de Vereadores, onde as pessoas ocuparam as escadarias e estenderam faixas com diversas reivindicações. Lá, uma carta de exigências para uma real transformação da educação pública foi lida. Após a leitura da carta, profissionais da educação municipal e estadual reuniram-se em assembleia e decidiram que os profissionais das escolas estaduais organizarão uma paralisação no dia 12 de abril. No mesmo dia, acontecerá uma assembleia no Clube Municipal, na Tijuca. No dia 13 de abril, a rede municipal também se reunirá em assembleia, mas sem paralisação. O ato terminou por volta das 18h, mas a luta em defesa da educação pública, para os que estiveram ali, está apenas começando.
(*) Reportagem publicada originalmente na página da revista Vírus Planetário. Fotos de Mariana Gomes e Caio Amorim.

2 comentários sobre “Ato em defesa da educação pública leva 3 mil pessoas ao centro do Rio”

  1. O MA apoia essa manifestação..Assim como nós desse sofrido estado, vcs tem feito muito pela luta por uma educação de qualidade. o Estado do Maranhão chega a 53 dias de greve e a governadora Roseana Sarney sequer recebe os educadores para tentar negociar. Enquanto isso, ofecere 8milhoes de reais dos cofres públicos à Beija-flor de nilópolis….para patrocinar carnaval

  2. Os professores do Estado do Maranhão há dois anos tentam negociar com o governo a aprovação e aplicação do estatuto do educador.Desde 2009 os secretários de Educação apenas enganam a categoria.Diante disso, uma greve foi deflagrada e a governadora prefere receber pessoas ligadas aos grandes projetos e financiar outros.Além de gastar milhões com a empresa de Duda mendonça para tentar arrumar a imagem dela.Principalmente depois que o exgovernador Jackson Lago faleceu e muito se lembrou o autotarismo da oligarquia sarney.Somos todos solidários a qualquer manifestação que sirva para ecoar neste país as mazelas que todos passam pelos desmandos de grupos que ignoram as diversas necessidades sofridas por todos nós neste país!!Acoooooooooooooooorda, Maranhão! Acorda, Brasil!!!!!

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