A vida como construção no pensamento de José Comblin

Tenho comentado, em notas anteriores, alguns aspectos do pensamento de José Comblin sobre o amor, e sobre a vida como peregrinação. Agora, gostaria de me referir a dois trechos de obras suas que me chamaram a atenção, e que tem o denominador comum de oferecerem subsídios para que a pessoa se oriente em direção às suas próprias metas, caminhado com esperança, e se conduzindo em direção à realização do seu próprio projeto de vida. São eles um parágrafo de A força da palavra, e outros de O caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus.

“O que é um homem no sentido completo da palavra? Não é somente um ser dotado de órgãos e de faculdades: inteligência, vontade, sensibilidade, etc. A soma dessas faculdades não faz um ser humano vivo e ativo. O que faz um homem é um projeto de vida, uma obra imaginada por ele e prosseguida pacientemente com constância, inteligência e ate teimosia. O que faz um homem é uma ilusão, uma utopia que persegue durante a vida toda, uma história de fracassos e êxitos na caminhada para os fins que ele se definiu…” (p.37).

Resgato aqui a palavra projeto, a noção de projeto. Existir é ir em direção a uma meta. Passemos agora ao segundo dos livros mencionados de Comblin. O autor explora o tema da esperança do peregrino, da vida como peregrinação: “Há uma esperança para o dia de hoje, outras para a semana, para o mês, para o ano, para um período da vida, para a vida inteira e para além desta vida –ou seja, para a vida eterna” (p. 68) Outra vez a noção de direção, de esforço orientado a um fim. Qual é esse fim?/O fim da vida é ser mais, não ter mais.

A “imagem da peregrinação ajuda a entender o sentido da vida. Pois, para a maioria, a peregrinação não é feita caminhando nas estradas materiais. A caminhada é interior: a pessoa vai buscar no próprio coração o seu verdadeiro ser. Por meio das experiências da vida vai se aproximando pouco a pouco da sua verdade, se uma realização mais completa de si. Pode-se realizar também a mudança, o amadurecimento de si mesmo na vida ordinária. A imagem da peregrinação ilumina essa busca até o próprio coração. A esperança parece mais abstrata, mas realiza a mesma transformação: como o peregrino, o discípulo va abandonando o seu passado, reconhecendo no presente a porta que abre para o futuro, torna-se aberto à etapa seguinte da vida. No final, ele consegue conhecer-se melhor naquilo que era o objeto da sua esperança ao iniciar a caminhada. A nova Jerusalém se encontrará finalmente dentro do coração”. (pp. 68-69)

Salienta Comblin que a caminhada nunca é solitária.

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