Serra Pelada, a ‘oportunidade brasileira de alta qualidade’ para o capital internacional

Propaganda da canadense Colossus para investidores. Imagem: reprodução
Propaganda da canadense Colossus para investidores. Imagem: reprodução

A mensagem do título é o que você, grande investidor e representante do capital internacional, pode encontrar no site da empresa canadense CSI — a Colossus Minerals Inc. (clique aqui)

A “empresa”, na verdade, só apresenta um único projeto em seu site: Serra Pelada, em Curionópolis, no Estado do Pará, supostamente no Brasil. Sem ele, a Colossus provavelmente não existiria. As primeiras licenças brasileiras foram obtidas em 2010 e a produção deve começar no início de 2014.

A Colossus vai levar grande parte dos recursos, contratualmente, com denúncias porém de um desvio adicional de 54 milhões de reais, em um escândalo envolvendo antigos diretores da Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) — e até hoje sem solução. O resultado: violações flagrantes dos direitos humanos, incluindo assassinatos e ameaças frequentes de morte a lideranças sociais.

“A gente trabalha a vida toda e agora ficamos sem nada. Os grandes tomaram conta”, diz um senhor da região na excelente reportagem especial da TV Record.

A Colossus tinha inicialmente 51% do negócio, mas após a passagem de uma direção corrupta pela cooperativa — com evidente compra das lideranças envolvendo grandes quantias de dinheiro –, a empresa detém 75% e, desta forma, buscará enriquecer investidores estrangeiros. (acesse aqui a promessa da empresa para enriquecer o capital estrangeiro)

“Pelo relatório do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) nós percebemos que o dinheiro era canalizado primeiro para a conta de diretores (anteriores), e depois pulverizado. Além de haver saques na boca do caixa de até dois milhões de reais, o que é indicativo bem claro de lavagem de dinheiro”, disse um promotor do Ministério Público do Pará.

Com o projeto da Colossus próximo da conclusão, em agosto deste ano os garimpeiros contrários ao acordo entre a Coomigasp e a Colossus entraram em conflito com a polícia, que reagiu com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Neste vídeo é possível ver os diversos feridos da ação.

Após o conflito, a Coomigasp foi alvo de intervenção decretada pela Justiça. As lideranças reivindicam: a cooperativa é dos trabalhadores e tem de ser devolvida aos garimpeiros.

O interventor apontado pelo Ministério Público, Marcos Alexandre, é considerado por muitos garimpeiros como um “laranja” da Colossus.

Foto: arnaldojordy23.blogspot.com.br
Foto: arnaldojordy23.blogspot.com.br

Vitor Albarado, que estava à frente da cooperativa antes da intervenção, e defende o interesse real dos garimpeiros, anda com colete à prova de balas e proteção armada 24 horas por dia.

Eles querem a anulação do contrato feito em condições suspeitas e acusam o interventor de defender o mesmo na imprensa apenas para ganhar tempo, pois não há qualquer pedido sobre isso atualmente.

Atualmente, os garimpeiros se reúnem na Associação de Defesa do Patrimônio dos Garimpeiros Sócios da Coomigasp, conhecida pela sigla ADEPAG, que declarou, sobre a proposta do interventor feita na imprensa: “A ADEPAG desafia o interventor embromador a fazer o que diz”.

Os ataques covardes da polícia em agosto, em Serra Pelada. Foto: folhadobico.com.br
Os ataques covardes da polícia em agosto, em Serra Pelada. Foto: folhadobico.com.br

A associação dos garimpeiros explica: “A Colossus “cavou” a intervenção na cooperativa para arrancar de lá uma diretoria eleita e sem mácula pelo simples fato de a mesma estar determinada a ajuizar uma ação na justiça visando a anulação do contrato de parceria feita com a empresa canadense pelos mesmos motivos, bem como exigir também na justiça a retomada dos 700 hectares de propriedade da cooperativa.”

A liderança dos garimpeiros, que classifica os empresários como “mafiosos quadrilheiros canadenses”, acrescenta: “Como se observa, o anúncio feito por Marcos Alexandre não passa de uma tremenda lorota para enganar os tolos. Ele acha que o povo garimpeiro é composto por imbecis”.

Entre outras humilhações e atos autoritários, a associação denuncia que os garimpeiros não podem mais entrar na nova sede — a mudança foi determinada pelo interventor Marcos Alexandre — sem a autorização prévia do próprio interventor.

“Como pouco ele aparece para dar expediente na sede administrativa da cooperativa, a regra é cumprida por uma mulher de nome Eliane e pelo advogado Fernando.” A asssociação denuncia que recentemente um garimpeiro que esteve na cooperativa para reivindicar uma rescisão contratual pelo trabalho de vigia foi humilhado pelos dois.

Continue acompanhando a luta dos garimpeiros de Serra Pelada pela página da associação (www.adepag.com.br) ou pelo Facebook (http://on.fb.me/IxUIHz).

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