Projeto porto maravilha e seu cinismo

marcelo_bragaEm entrevista concedida ao Fazendo Media, o coordenador nacional de Movimentos Populares do Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), Marcelo Braga, conta sobre o cinismo do Projeto Porto Maravilha. Com uma proposta de revitalização da zona portuária e bairros adjacentes da cidade do Rio de Janeiro, é considerada pela prefeitura como uma das mais importantes obras apara atrair investimentos que, na realidade, só servem para beneficiar os grandes empresários e o mercado especulativo.
O Projeto de Revitalização da Zona Portuária apresentado pelo Governo Municipal contempla os anseios da população carioca?
Já começa com o problema sobre o que é a palavra revitalização. Na realidade, esta área ainda tem vida e foi abandonada pelo poder público há muitos anos, mas continua com uma população que trabalha e vive sua cultura. Por isso o governo usa a palavra revitalização para que venha um projeto de “cima para baixo”, a fim de ignorar a população que vive na Zona Portuária e transformá-la em uma região voltada para grandes empreendimentos empresariais.
Este projeto de revitalização tem como objetivo tirar o pobre, que dá vida a essa região, para colocar ocupações voltadas para outra classe. O que o poder público primeiramente necessita fazer é olhar para os casarões, cortiços, sobrados e também para o saneamento, pois a rede de esgoto é muito antiga. O que é realmente necessário para a Zona Portuária é realizar um levantamento para pensar em uma real revitalização, em que os verdadeiros anseios estão voltados para o atendimento da população mais pobre desassistida pelo poder público e também resgatar a história cultural do Rio Antigo que nasceu naquela região.
Existem moradores que foram obrigados a sair das adjacências da Zona Portuária?

Muita gente foi obrigada a sair devido à degradação do local. Na região da Pedra do Sal muitas pessoas foram despejadas pelas propriedades das Irmandades católicas. Há outro caso muito similar, como, por exemplo, o do Hotel Bragança. É uma população que vive lá há 30 anos, e em nenhum momento a prefeitura tomou qualquer atitude a fim de recuperar as moradias. Agora o local está em processo de retirar os moradores para entregar o prédio, provavelmente em algum leilão para empresários.
O FNRU tem algum informação sobre o Projeto Porto Maravilha que indique a segregação do espaço urbano?
No projeto será permitido construir construções de até 50 andares, através do CEPAC (Certificados de Potencial Adicional de Construção) – previsto no Estatuto da cidade -, que será colocado no mercado em busca de aumentar o gabarito e, consequentemente, provocar um encarecimento da terra, segregando a população mais pobre que será “expulsa” da área.
Outro problema é que no projeto original do Porto Maravilha só está previsto construções para famílias com renda de até 3 salários mínimos, somente na região perto da Central. Já nas outras construções destinadas para a Zona Portuária, estão projetadas construções para classes sociais mais altas.
Qual a proposta da FNRU para a Zona Portuária?
Nossa discussão dentro do Fórum é como evitar que essa “revitalização” sirva de instrumento para expulsar a população mais pobre. A partir disto o Fórum começou a debater, apoiado nos tratados internacionais que o Brasil tem contra despejos e nas próprias leis que existem na Constituição 1988 do direito à moradia. Inclusive a relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik, construiu um guia na intenção de prevenção de despejos com orientações. E caso aconteça alguma remoção, necessita seguir determinadas leis.
O Programa do governo federal, Minha Casa, Minha vida, prevê a recuperação de 24 imóveis antigos degradados, além da criação de 499 novas residências na Região Portuária. Qual a avaliação da FNRU para estas construções?
Nós somos sempre favoráveis à melhoria de habitação, porém precisamos primeiro ter em mente que habitação não se resume a um problema de construção de casas, pois isto é justamente o grande anseio dos empresários. O Programa Minha casa Minha Vida é muito mais um programa de socorro financeiro às construtoras do que programa real de uma política de habitação. O centro deste problema é que mais de 80% da necessidade de novos imóveis pertence à famílias com renda de até 3 salários mínimos, e as construções destinadas a estas famílias estão sendo muito pouco construídas. E quando se constrói, normalmente é afastado dos grandes centros.
No Minha casa minha vida, serão destinadas 40% das construções para famílias com renda de até 3 salários, enquanto os 60% atenderão famílias com rendas entre 3 a 6 e 6 a 10 salários. Sendo assim, o combate ao déficit habitacional é praticamente zero. E no caso do centro, o primeiro projeto teria que ser voltado para a recuperação destes imóveis sem expulsar quem mora no local.
As Olimpíadas de 2016 transformou-se em um pretexto para impulsionar as obras do Projeto Porto Maravilha. Há interesses escusos por parte dos setores empresariais?
A discussão sobre os Jogos Olímpicos é normalmente muito parecida com aquela frase típica: praticar esportes tira das drogas. Entretanto, nós sabemos que é ao contrário, no esporte é onde as drogas mais proliferam. Essa estória de que os jogos irão desenvolver a cidade é um grande engodo, pois se trata de um grande comércio, que por conseqüência da crise econômica mundial a cidade do Rio está destinada a receber grandes investimentos. Para se ter um exemplo disso, no Trem Bala está previsto um orçamento de R$ 34 bilhões e tudo gira em torno da economia. Outro exemplo, é o que se tornou a Vila Olímpica do Pan. Em nome das Olimpíadas de 2016 justifica-se tudo.
O que o FNRU entende como beneficio para as populações que moram nas regiões do Morro da Conceição, Morro da Providência e nas ruas que cercam a Zona Portuária?
Além das reformas nos casarões, cortiços e sobrados, criarem também meios para oferecer subsídios para as famílias que moram lá. Porque não adianta regular a situação de moradia acabando com o gato, cobrar imposto, se não há condição de sobrevivência ao morador que vivia antes na região.
Veja a página na internet do Fórum de Reforma Urbana em –  http://www.forumreformaurbana.org.br/_reforma/

6 comentários sobre “Projeto porto maravilha e seu cinismo”

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  2. Na realidade, acredito também na necessidade de choque em tal lugar, porém, comugo de sua preocupação. Esse choque com certeza vem com outro viés, vem com o olhar capitalista e não social. Urge a necessidade de uma união em prol destes que ali fazem moradia, moradia essa ja tão precária, pois se assim não ser, correrem-mos o risco de novamente ficar-mos no discurso. Um bom caminho seria a união ao mandato do psol ai no rio, representado pelo Dep. Marcelo Freixo. mas não foca só nele, e sim em todo segmento que possa nos apoiar nessa “empreitada”, mas com certeza é um bom começo

  3. Prezado Sr. Marcelo Braga.
    INFORME DE ESCLARECIMENTOS.
    As raizes socio-economicas e urbanas dda Regiao Portuaria da Cidade do Rio de Janeiro, iniciam-se no Brasil Colonial Escravocrata, adentrando a Republica e solidificando-se na Era moderna industrial, onde os bairros do Centro, Saude, Gamboa e Santo Cristo, sao guardioes de grandes acervos artisticos, culturais e historicos do Brasil.
    Hoje os bairros do Centro, Saude, Gamboa e Santo Cristo, somados possuem uma populacao de 36 mil moradores, e 46 mil entidades comerciais, que atuam nos segmentos de comercio, servicos e industrias diversas.
    O ¨MEGA-PROJETO PORTO MARAVILHA¨, podera ser a grande ponte de resgate socio-economico urbanistico de inclusao de moradores destas regioes, ao processo produtivo de desenvolvimento local.
    Hoje na regiao citada possuimos o CONSELHO DE GESTORES DA REGIAO PORTUARIA, que busca atraves da integracao participativa, interagir diretamente no resgate socio-economico urbano, com as seguintes iniciativas:
    INSTALACAO DE ESCOLA DE ENSINO MEDIO.
    INSTALACAO DE ESCOLA POLITECNICA PROFISSIONALIZANTE.
    INSTALACAO DE BALCAO DE EMPREGOS NA REGIAO.
    ABERTURA DA EMERGENCIA MEDICA DO HOSPITAL DOS SERVIDORES DO ESTADO.
    CRIACAO DO CORREDOR ARTISTICO E CULTURAL DA REGIAO.
    CRIACAO DO CALENDARIO ANUAL DE EVENTOS ARTISTICOS E CULTURAIS PORTUARIO.
    RESGATE ATRAVES DE OBRAS E RESTAURO DOS ACERVOS ARQUITETONICOS DA REGIAO.
    CRIACAO DA SOCIEDADE COMERCIAL E INDUSTRIAL DA REGIAO PORTUARIA DO RIO.
    CRIACAO DA UPA 24 HORAS DO BAIRRO DA GAMBOA E SAUDE.
    CRIACAO DO POLO COMERCIAL DA REGIAO PORTUARIA.
    PARCERIAS PARA HABITACAO POPULAR DA REGIAO PORTUARIA DO RIO.
    RECONSTRUCAO E AMPLIACAO DA REDE DE AGUAS E ESGOTOS DOS BAIRROS CENTRO, SAUDE, GAMBOA E SANTO CRISTO.
    NOTA: O Conselho de Gestores da Regiao Portuaria e formado por um grupo da Sociedade Civil de Empresarios, Comerciantes, Autoridades Publicas e Mobilizadfores de Desenvolvimento Social e Representacoes Locais.
    NOSSO OBJETIVO E INTEGRAR PARA O RESGATE SOCIAL DA REGIAO PORTUARIA.
    Atenciosamente.
    Gabriel Catarino Rodrigues.
    _____________________________________
    Mobilizador de Desenvolvimento Social.
    Socio-Fundador da Assoc.Morad.Amigos do Bairro da Saude.
    Ex-Diretor da Assoc. Morad. e Amigos da Saude.
    E-mail: gcr5000@yahoo.com.br

  4. PARA CONSEGUIR CADASTRAR-ME NESTE PROJETO PARA CONSEGUIR COMPRAR UM IMÓVEL É DIFICIL,PRETENDO COMPRAR NA AREA PORTUÁRIA URGENTE, COMO PROCEDER, DESDE JÁ GRATO , Mario

  5. Toda época tem sempre aquelas pessoas que param no tempo e não suportam mudanças. Sejam elas quais forem. Esse senhor aí pergunta se este projeto responde aos anseios do povo carioca.RESPONDO: SIM,SIM E SIM!…Pode não agradar à pequena população que vive nessa área, mas, quereeeedo, não se faz um bom omelete sem se quebrar os ovos. Se vc é dos que acham o centro do Rio lindo, maravilhoso, eu não sou. Eu acho pobre, feio e podre, com prédios velhos e horríveis, construindo um cenário decadente e marginal. Gosta de coisa velha, vai morar em Ouro Preto, Tiradentes, Olinda. ….Ah, só mais uma coisa, não fala mais em meu nome , enquanto carioca, não, porque não lhe outorguei este direito……FUIIIIIIIIIIIIII

  6. Então: agora virou crime fazer obras públicas, mesmo que isso inclua a construção de 500 casas populares. Tudo é plataforma de partido emergente, para fazer oposição sistemática. Até mesmo o cadastramento de gestantes para receberem um auxílio em dinheiro para poderem se deslocar ao SUS é visto com desconfiança por essa galera que se apropria da fala de todos para se erigir em defensor de minorias que muitas vezes concordam com as medidas governamentais.

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