Os Arcos da Violência

Era uma hora da manhã do dia 5 de setembro deste ano. Na antevéspera do feriado considerado a maior demonstração cívica brasileira – o 7 de Setembro -, eu, Diego Cotta, atuante há mais de 4 anos em movimentos que promovem (e tentam assegurar) os direitos humanos, fui agredido violentamente por aqueles que deveriam servir aos cidadãos de nosso estado. O jornalista que vos fala foi golpeado por duas vezes na região da coxa por estar na iminência de urinar em uma das pilastras dos arcos da Lapa, durante um movimento cultural.

Daí, falarão: “Ah! Mas foi atentado ao pudor! Ato ilícito. Mijar em espaço público…”. Nesta pilastra havia dois homens que já estavam praticando o ato de urinar. Eu me aproximei e (não nego) iria fazê-lo também. Quando de repente, sinto duas cacetadas na perna que me fizeram ver estrelas. Uma dor insuportável! Uma dor física; uma dor de impotência que no decorrer das horas iria se materializar como uma realidade.

Iniciei uma discussão infindável com um dos PMs que notoriamente não se encontrava em condições normais de trabalho. O defensor da lei urrava ameaças e erguia o cacetete a cada argumento que eu tentava expor. Amigos nos separaram e acalmaram a situação. Anotei tudo: número da viatura, placa do carro e batalhão. O nome do policial não foi possível detectar, pois quando anunciei que trabalhava na Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, ele descolou o nome de guerra do colete à prova de balas.

Homofobia Institucionalizada

É nítido que o policial em questão apenas teve este tipo de comportamento (somente) comigo por constatar minha homossexualidade, a partir de estereótipos, como timbre de voz, vestimentas e cores nos óculos. Repito: havia mais 2 homens urinando e nada ocorreu com eles.

Quando minha amiga disse que eu era seu namorado, o mesmo rebateu dizendo “deixa de ser caozeira! Isso aí é mais um viadinho aqui da lapa”. Ou seja, os “viadinhos da lapa” merecem sofrer agressão gratuitamente… Esta é a verdadeira postura de um servidor público que teoricamente deveria estabelecer a ordem e servir os cidadãos?

Não sou bandido! Sou um cidadão fluminense; pago meus impostos e quero ser tratado com respeito, independentemente de minha orientação sexual. Se o PM entendeu que eu praticava ato ilícito, ele deveria me dar voz de prisão e me levar para a delegacia e ponto! Golpear-me por 2 vezes de maneira covarde, grotesca e abusiva só legitima a falta de preparo e a truculência da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

E no quer vai dar?

Em nada! Tenho o discernimento necessário para ter a certeza de que serei mais um das estatísticas de abuso de poder da polícia Militar. Seguir em frente? Pra quê? Para sofrer retaliações, represálias? A nojenta rede de corrupção da PM do RJ me causa ojeriza e aumenta minha dor dos calombos e hematomas que latejam em minha perna. É uma ferida social que só tende a se abrir e se difundir ainda mais. Uma pena.

4 comentários sobre “Os Arcos da Violência”

  1. Caro Diego, são revoltantes estes atos de agressão. As causas, porém, devem ser buscadas no treinamento que esses policiais recebem, e na possibilidade de se agir no sentido de reverter esse tipo de agressividade que você recebeu em carne própria. Há va´rias ações em marcha nesse sentido. Uma delas, uma sensibilização na terapia comunitária e integrativa do Prof. Adalberto Barreto, qeu foi realizada com policiais em São Paulo, documentada por alguma televisora, talvez a Globo. Há outros grupos agindo para humanizar a polícia. Obrigado por abrir a boca, quantos e quantas não sofren calados!!!!

  2. Diego,
    você está coberto de razão na questão do comportamento do Policial. Isso é inadmissível.
    No entanto, você também não deve sair urinando pela ruas… só porque outros estão fazendo.

  3. Companheiro,
    O país, através de uma polícia despreparada,tem como alvo “os inimigos da paz” da burguesia, que eles julgam pela aparência.Defensores dos direitos humanos têm que registrar estes desmandos,esta guerra triste e silenciosa contra pessoas, cidadãos e cidadãs trabalhadores/as,dignos/as de respeito.Nos nossos espaços também temos obrigação de falar, expor e denunciar tamanha violência.

  4. Caro, Diego

    Também sou gay. Preocupo-me com esse cenário grotesco, repulsivo, mas é a face da realidade. Exige-se que o gay tenha comportamento impecável, que seja quase “sobre-humano” para ser aceito. Assim foi comigo no colégio e na faculdade, precisei me destacar como o melhor da turma. É triste? Exaustivo? Sem dúvida, mas aos poucos isso vai acabar e seremos iguais.

    Enquanto isso, sinceramente, não repita a atitude de mijar na rua. Espera-se isso de pessoas incultas, ignorantes, bitoladas, sem senso de preservação. Pois, por fim, poderá parecer altamente desconexa a sua exigência de “educação” e “respeito”, quando você mesmo não está compactuando com nenhum desses substantivos.

    Fica a dica!

Deixe uma resposta