Mensagem do Papa Francisco

“Ângelus” – Dia 22.08.2021

O Evangelho da Liturgia de hoje nos mostra a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convida a interpretar aquele sinal e a crer nEle, que é o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida, e revelou que o pão que Ele dará é a Sua carne, é o Seu sangue. Estas palavras soam duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, tanto que, a partir daquele momento – diz o Evangelho – , muitos dos Seus discípulos voltam atrás, isto é, se indispõem a seguir o Mestre. Então, Jesus interpela os doze: “Vocês também não querem ir embora?”, e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de permanecer com Ele: “Senhor, para onde iremos? Só você tem palavras de vida eterna e nós conhecemos e cremos que você é o Santo de Deus”. Eis uma bela confissão de fé.

Aqui nos limitamos brevemente sobre a atitude de quem vai embora e decide não seguir mais a Jesus. Donde nasce tal incredulidade? Qual o motivo desta rejeição?

As palavras de Jesus provocam um grande escândalo: Ele está dizendo que Deus escolheu manifestar a Si mesmo e de realizar a salvação na fragilidade da carne humana. É o mistério da encarnação. E a encarnação de Deus é algo que provoca escândalo e que representa para aquela gente – mas tantas vezes também para nós – um obstáculo. Com efeito, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é a Sua própria carne, que, para entrar em comunhão com Deus, antes que se observem as leis ou que se satisfaçam aos preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele. Porque a salvação veio Dele, na Sua encarnação. Isto significa que não é preciso seguir a Deus em sonhos e imagens de grandeza e de poder, mas é preciso reconhecê-Lo na humanidade de Jesus e, por conseguinte, na dos irmãos e das irmãs que encontramos no caminho da vida. Deus se fez carne. E quando dizemos isto, no Credo, no dia de Natal, no dia da anunciação, nós nos ajoelhamos para adorarmos este mistério da encarnação. Deus se fez carne e sangue: Ele se abaixou tanto, a ponto de se tornar ser humano como nós, humilhou-se ao ponto de tomar sobre Si nossos sofrimentos e nossos pecados, e pede que nós O busquemos, não fora da vida e da história, mas na relação com Cristo e com os irmãos. Buscá-Lo na vida, na história, em nossa vida do dia a dia. E este, irmãos e irmãs, é o caminho para o encontro com Deus: a relação com Cristo e com os irmãos.

Hoje também a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode provocar escândalo e não é fácil a aceitar. É o que São Paulo chama de a “tolice” do Evangelho diante de quem busca os milagres e a sabedoria mundana. Esse tipo de escândalo é bem representado pelo sacramento da Eucaristia: que senso pode ter, aos olhos do mundo, ajoelhar-se diante de um pedação de pão? Por que alimentar-se assiduamente com este pão? O mundo se escandaliza.

Ante o gesto prodigioso de Jesus que, com cinco pães e dois peixes, sacia milhares de pessoas, todos o aclamam e querem carregá-lo triunfalmente, fazê-Lo rei. Mas quando Ele próprio explica que aquele gesto é sinal do Seu sacrifício, isto é, do doação de Sua vida, da Sua carne e do Seu sangue, e que, quem quiser segui-Lo, deve assimilá-Lo, a Sua humanidade dada para Deus e para os outros, então isto não agrada, este Jesus nos põe em crise. Primeiro, preocupemo-nos se isto não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos tornada insípida Sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixarmos provocar e converter pelas Suas palavras de vida eterna.

Que Maria Santíssima que carregou na própria carne o Filho Jesus e se uniu ao Seu sacrifício, nos ajude a testemunhar sempre a nossa fé com a vida concreta.

Trad: AJFC

Digitação: EAFC

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