Internacionalização das intenções do conservadorismo batista de Curitiba

fabio pyNão sai da cabeça uma das últimas reuniões no qual participei como professor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (STBSB). Era próximo (ainda) da posse do reitor Ms. Luiz Sayão, quando sinalizou o interesse re-alocar o vinculo com o Sul dos EUA – sendo sugestionado á antiga “Junta de Missões Estrangeiras de Richmond” (“Junta de Richmond”) – hoje, International Mission Board of the Southern Baptist Mission. Falou-se até de um professor da casa ir aos EUA para estudar sobre Teologia da Libertação. Algo engraçado. Pois, o que se iria estudar sobre a corrente progressista cristã numa geografia ligada com o pensamento conversador racista americano? Logo entendi que pensam em domesticá-la sob ímpeto imperialista americano.
Grande Curitiba, organizações batistas e conservadorismo
Não acho esse caso esporádico: uma iniciativa num seminário da Convenção Batista Brasileira (CBB). Para isso, lembro de igrejas e lideranças de Curitiba até porque foi um dos últimos escritórios IMB-SBM no país. De Curitiba lembra-se que na década de 1990 como funcionava como símbolo da boa governança do PSDB. Mostrava-se como o que o PSDB poderia governar as cidades e o país. A partir desse mito chega-se a uma das maiores igrejas de Curitiba, a Primeira Igreja Batista (PIB) de Curitiba, liderada pelo pastor Paschoal Piranguini. Líder que destilou seu anti-petismo desde a década de 2000, contudo em 2010, produziu um vídeo que viralizou na internet no âmbito da campanha eleitoral, ligando a “iniqüidade” com o governo petista. Na época chegou-se á indicar que esse era o posicionamento dos próprios batistas sobre o pleito eleitoral. Em seu vídeo o pastor promovia uma leitura no mínino anacrônico-publicitária do termo, associando-o ao governo petista. Quem respondeu á época o vídeo foi o então coordenador da Faculdade Batista Equatorial (FABETE), o Dr. Manoel de Moraes Ribeiro Junior, denunciando o pastor Paschoal Piranguini de manipulação curralesca nos esclarecidos batistas. Ora, se o pastor Piranguini não conseguiu forças com seus consortes para barrar a eleição de Dilma Rousseff, por outro lado, conseguiu (no ano seguinte) voltar ao cargo de presidente da CBB, ficando no cargo por dois anos (2011-2012). Paschoal Piranguini além de pastor é professor na Faculdade Batista do Paraná (a FABAPAR) responsável também por formar intelectualmente futuro pastores da região.
Quem assumiu o cargo de presidente da CBB após os mandatos de Paschoal Piranguini, foi o pastor L. Roberto Silvato, membro da Igreja Batista de Bacacheri (Grande Curitiba), no qual ocupou a presidência da CBB entre os anos de 2013 a 2014. Parece ter sido um acordo de cavaleiros pela boa imagem da Convenção Batista do Paraná ante a CBB de um para o outro. Se alinhando com o quadro de crescimento conservador no Brasil. A igreja de Bacacheri tem vínculos com a PIB de Curitiba, quando a PIB comprou terrenos e realizou cultos na formação da igreja de Bacacheri. Sobre a política ela participou da coleta contra corrupção, contra o PT quando ao todo “foram mais de 2 milhões em todo Brasil. (…) Nós fazemos parte disso, vamos continuar manifestando apoio até que sejam aprovadas. Artistas e líderes de todo país precisam se manifestar, como o fez a atriz Maria Fernanda Cândido no vídeo abaixo”, escrito numa das postagens do pastor. A igreja também tem um manual de participação política indicando que ela “não pode deixar de se posicionar-se politicamente (não partidariamente), e ensinar os membros a respeito de suas responsabilidades cristas” (p.5). Afirmam não serem favoráveis ao “irmão vota em irmão”, contudo, acreditam que devem buscar homens que temem a Deus porque são mais confiáveis ao trabalho político. Da mesma forma que Piranguini, Silvato também leciona na FABAPAR.
Entrevista de Deltran Dallagnol a Paschoal Piragine Júnior
É nesse ambiente religioso que se move o responsável pela força tarefa da Lava Jato, Deltran Martinazzo Dallagnol. Membro da Igreja Batista de Bacacheri, homem de fé – como se define. Na apresentação do processo da Lava Jato baforou frases pouco isentas contra Lula como “comandante máximo”, “grande general” da “propinocracia” – sem provas diretas. Sua argumentação compõe-se num moralismo de tons religiosos polarizando uma eterna diferenciação evangelical entre: a “cosmovisão mundana” e a “cristã”. Arrisca uma divisão da construção social brasileira da seguinte forma “Decisões estão na esfera do livre arbítrio da pessoa (…) o universo conspirou sob ponto de vista leigo, de uma pessoa que tem uma cosmovisão mundana, sob meu ponto de vista em razão de minha cosmovisão crista me parece que Deus está abrindo uma janela de oportunidade para mudanças e que depende agora de nossa ação de nos unir ao que Deus já está fazendo para transformar, para contribuir para transformação desse pais” (como disse no programa do pastor Paschoal Piragine Júnior).
Na sua campanha nacional contra corrupção defende que ela “rouba a comida, a escola, o remédio, a corrupção mata efetivamente. Quem rouba milhões, mata milhões”. Argumenta que no Brasil provoca o decifit 200 bilhões de reais por ano. Justa medida para acabar com os problemas (mais sérios) da fome e miséria. Dá impressão de que o problema do Brasil seria a questão da corrupção, sem questionar estrutura fundiária e alimentícia. O ardor só aumenta quando o procurador quando assume que o sistema penal brasileiro é ‘ameno’ nas penas. Parece não significar nada para ele ter uma população carcerária das maiores do Mundo. Difícil de acreditar que esse senhor visite semanalmente uma das unidades prisionais.
Circulação de missionários da IMB-SBM
Contudo, não é só isso. Deltran Dallagnol exagera um pouco mais. Numa outra fala demonstra seu puritanismo ao comentar sobre as diferenças do processo de colonização Brasil e EUA. Diz que quem “veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscaram realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono”. Uma visão sobre a colonização muito simplificadora. Pois, os portugueses que cá vieram não era religiosos? Não eram formados de católicos? Também tiveram luteranos, anglicanos e presbiterianos – sem falar das demais formas religiosas. Além disso, a frase dá impressão de que a formação americana só se fez pelos puritanos ingleses. Entre eles, não haviam quem praticasse delitos? Lembrando que a ‘diversão’ principal dos colonos ingleses no território da Nova Inglaterra era praticar tiros nos índios. Parece que o procurador precisa fazer uma leitura mais atenta da formação da América, mas do que os missionários da IMB-SBM costumam detalhar.
Enfim, iniciei o texto falando sobre o que presenciei enquanto professor no STBSB, pois acredito não ser algo esporádico. Ocorre que nos últimos anos vem ocorrendo um re-agrupamento do vínculo das cúpulas batistas com os missionários americanos do Sul – fantasmas de antigos mundos racistas-escravocratas. Nisso, não se pode desprezar que Curitiba, com suas igrejas e seminário teológico se tornaram na ultima década local de circulação e produção intelectual ultra-conservador no Brasil. O dado pode ser facilmente percebido quando na FABAPAR, ministram aulas tanto os pastores Paschoal Piranguini e L. Roberto Silvato, quanto missionários americanos da IMB-SBM, como Marc Ellis e Alan A. Myatt. Para tanto, as simplificações religiosas das falas do procurador Deltran Dallagnol não são aleatórias. Fazem parte de uma forma de conservadorismo tido nas igrejas batistas da grande Curitiba, que se vinculam com o pior tentáculo do imperialismo yankee – aquele que cinicamente se notabiliza em nome do divino. Seus representantes se dizem evangelistas, contudo tratam de política em prol do gavião do norte. Lutam para criminalizar o projeto petista de apaziguamento das classes sociais, para facilitar seu imperialismo sob o país. Isso explica porque querem saber mais sobre a Teologia da Libertação. Buscam dominar a linguagem religiosa progressista latino-americana para persuadi-la: tanto mediante suas práticas em movimentos sociais, quanto, apresentando novos projetos de igrejas com (até) discurso social, mas comprometido com a verve empresarial-neoliberal.
Amigos e amigas, se me permitem, creio que Curitiba não deve ser (só) lembrada como capital/símbolo da boa governança do PSBD, mas, atualmente, deve ser celebrada como capital brasileira da chegada e circulação dos brancos, racistas e conservadores missionários da IMB-SBM. Ponta do imperialismo religioso yankee absolutamente interessando na destituição dos projetos nacionalistas, a fim de retornar seu ‘quintal de sua casa’. Por fim, é por essas (e por outras) que ouvi um burbulim de que cédulas do real aos poucos estão sendo trocadas pelo desenho do gavião americano e com o dizer na face oposta: “América para os americanos”.
(*) Artigo publicado originalmente na revista Caros Amigos.

Um comentário sobre “Internacionalização das intenções do conservadorismo batista de Curitiba”

  1. Acho que seria interessante que antes de publicar informações sobre as pessoas você no mínimo deveria fazer um pesquisa melhor para, pelo menos, escrever os nomes das pessoas de forma correta, assim como informações verídicas.
    Obs´: É Paschoal PIRAGINE, e ele não é professor da FABAPAR a mais de 6 anos, e é L. R. SilvaDo

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