Equador: nas eleições gerais de domingo se define o futuro

Foto: Contexto Nodal
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Contexto Nodal – No próximo domingo, dia 19, o Equador elegerá presidente e vice-presidente, 137 congressistas e cinco representantes do Parlamento Andino. O partido governista Aliança PAÍS apresenta Lenín Moreno como candidato para suceder Rafael Correa, enquanto que o empresário e banqueiro Guillermo Lasso aparece como o principal aspirante dentre as sete candidaturas opositoras. Simultaneamente será realizada uma consulta popular que visa proibir que as autoridades com mandato eleitoral tenham dinheiro em paraísos fiscais. Se nenhum candidato obtem 50% dos votos, ou pelo menos 40% superando o segundo por ao menos 10%, será realizado um segundo turno em 2 de abril.
Por Fander Falconí (*) – do portal Nodal – Notícias da América Latina e Caribe, de 10/02/2017 – Tradução: Jadson Oliveira
O que estará em debate nestas eleições gerais do Equador? A eleição de Lenín Moreno, por mais méritos que tenha este reconhecido cidadão, não é o mais importante para o país. O que está em debate para a cidadania equatoriana é a certeza de avançar ou o risco de retroceder; em duas palavras: o futuro.
Ainda que a direita pinte o país de antes como um paraíso, as lembranças da maior emigração de nossa história estão vivas. Todos temos um familiar ou um amigo que viajou há 17 anos à Espanha ou aos Estados Unidos ou a outros lugares, deixando sua família e sua pátria. Cuidado: com Trump expulsando latino-americanos dos Estados Unidos e a banca internacional desalojando casas na Espanha, desta vez já não teremos para onde fugir. Não queremos voltar ao passado.
Tivemos 8 presidentes em 10 anos: de 10 de agosto de 1996 ao final de dezembro de 2006; em média, quase um presidente por ano (sem contar com os autoproclamados).
Mas a tragédia começou faz 35 anos, desde os tempos de Osvaldo Hurtado e depois Febres-Cordero. Os governos neoliberais obedeceram as ordens do FMI e do capitalismo internacional. E tomaram medidas para agradar à oligarquia que lhes permitia governar: mediante a ‘sucretização’ (a moeda do país era o sucre) da dívida e a selvageria bancária (socializando as perdas) e finalmente com o feriado bancário (privatizando os lucros, impedindo que o povo retirasse suas economias, enquanto eles enviavam esse dinheiro aos paraísos fiscais).
Quando este governo chegou ao poder, os 10% mais ricos da sociedade ganhavam 42 vezes mais que os 10% mais pobres. Hoje esta relação baixou a 25 vezes. Agora os ricos pagam mais impostos, por isso querem derrubá-los. Nas próximas eleições não se disputará somente a Presidência da República ou a composição da Assembleia (Congresso) Nacional.
Se a direita voltasse ao poder, começaria por beneficiar os ricos, tirando todo subsídio aos pobres: não bônus solidários, não subsídios aos combustíveis, não subsídios à energia elétrica, não isenções de imposto sobre a renda para os mais pobres, não merenda escolar, não, não, não… Voltaríamos ao entreguismo nas relações internacionais. Regressaríamos ao Estado carente de planificação e sequestrado pelos grupos de poder (Nota do tradutor: grupos de poder de fato, não de direito, como banqueiros, latifundiários, mídia hegemônica, etc). Ou o governo do Não não investiria mais em escolas, hospitais, estradas. E não porque estaria quebrado, porque ademais contaria com outros recursos: os que viessem da privatização do setor público. Venderiam tudo. Até realizariam o velho sonho da oligarquia: privatizar a previdência social.
Educação gratuita? Nem sonhar. Pior ainda bolsas no exterior. Enquanto na Finlândia todos os colégios são de primeira, porque não há colégios de segunda, aqui voltaríamos a ter escolas de terceira, para pobres. Um milhão de empregos? Claro, com terceirização e precarização. Os neoliberais já têm experiência nisso.
Entretanto, o futuro que está em questão nestas eleições não é apenas o dos equatorianos. É o porvir latino-americano, depois dos golpes recebidos no Brasil, um virtual golpe de Estado, e na Argentina. Neste último país, as falsas promessas do presidente eleito Macri não só foram descumpridas, como em 2016 foram tomadas as piores medidas antipopulares desde o “corralito” de 2001 (equivalente ao nosso feriado bancário de 1999).
(*) Fander Falconí Benítez é economista, acadêmico e político equatoriano.

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