Armas letais da Extrema Direita: ódio, mentira, violência e medo

Na primeira metade dos anos 80, ainda em uma época de ascenso da Teologia da Libertação, dentre suas figuras mais destacadas, estava o teólogo Franz Hinkelammert, autor de “As Armas Ideológicas da Morte” (Paulinas, 1983), no qual analisa a sociedade capitalista como arma ideológica de morte, à medida que seu modus operandi se revela eficaz, na subjetivação da mercadoria e na coisificação dos humanos, com isto alcançando enorme potencial de letalidade, a serviço do deus dinheiro.

Hoje, podemos perceber a força ainda maior de seu poder deletério, resultante da financeirização da economia e seus efeitos diretos e indiretos sobre o Planeta e da Humanidade.

Um acompanhamento crítico do cotidiano da mídia empresarial e das redes sociais bolsonaristas permite-nos identificar as armas fundamentais da extrema-direita, em sua incessante atuação, no Brasil e no mundo. Quem se dá ao trabalho de observação do dia-a-dia dos principais órgãos da mídia comercial, consegue verificar, seja pelo noticiário, seja em outras emissões televisivas, radiofônicas e impressos, as estratégias principais utilizadas, como expressão da hegemonia burguesa protagonizada pelos seus principais meios de comunicação social. 

Nas linhas que seguem, cuidamos de destacar a relevância político-ideológica de 4 estratégias bem articuladas, presentes no cotidiano de nossos principais meios de comunicação social. A despeito de, por razão didática, tratarmos em sequência dessas armas ideológicas, insistimos na necessidade da percepção de sua orgânica interconexão.

O ódio, força maligna pela qual nós humanos nos sentimos por vezes afetados, é alçado a uma condição estratégica de dominação, na sociabilidade do Capitalismo, em sua fase/face atual, razão por que se transforma em necropolítica. No Brasil e no mundo, com efeito, graças ao ascenso e práticas nazifascistas, das quais o Bolsonarismo se tem mostrado emblemático, o discurso de ódio ocupa um lugar de destaque no cotidiano da mídia empresarial e das redes sociais hegemonizadas pelo discurso de ódio, bem como revelando-se também em assombrosas manifestações ecocidas, racistas, misóginas, homofóbicas, organicamente articuladas pelas relações de classe .

Quem se dá ao trabalho espinhoso de conferir, no dia-a-dia, a programação jornalística da mídia empresarial (Sistema Globo, Band News, CNN, Estadão, Folha, Jovem Pan, entre outras) constata o pandemônio ideológico a bombardear 24 horas por dia, as mentes e corações dos seus leitores/ouvintes/telespectadores, de modo a confirmar a atualidade do manifesto do Partido Comunista, de que em toda sociedade de classes, “a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”. Isto me faz lembrar de um Congresso de Comunicação, realizado na primeira metade dos anos 80, em que um dos expositores afirmava: “Deem-me a rede Globo e farei a Revolução”… Hoje, o desafio é bem mais grave: ao sistema Globo temos que acrescentar, além dos jornais, das rádios e dos canais televisivos (que se multiplicaram), também a mídia digital da extrema-direita. Tem sido longa e frequente a lista de ocorrências graves, com feridos e mortos acontecidas no Brasil, inclusive com o incentivo nas redes sociais bolsonaristas com resultados fúnebres para nossa sociedade, não poupando sequer as crianças e as escolas. Os embates político-ideológicos, no dia-a-dia do congresso e das demais Casas Legislativas, têm sido encarniçados, com a predominância, na câmara e no senado, por parte das bancadas da ultra Direita, tornando tóxico e insuportável o discurso de ódio, ultrapassando todos os limites.

Dada a ampla predominância, nas redes sociais e na mídia empresarial, constata-se seu efeito devastador sobre enorme parcela da população, mesmo diante do governo Lula, sustentado por uma aliança vasta de Partidos.

Outro componente de forte teor deletério é o uso abusivamente reiterado da mentira como estratégia de dominação, organicamente conectada às demais armas ideológicas, aqui destacadas. Fiéis discípulos de Goebbels, ideólogo-mor do nazismo, para quem a mentira repetida com muita frequência, ganha ares de verdade, e dando sequência e fôlego nazifascista, em diferentes países ocidentais, graças ao protagonismo dos “Engenheiros do caos”, a exemplo do ideólogo Steve Bannon, a Extrema Direita têm recorrido, com sucesso, às mais avançadas tecnologias digitais, com o exclusivo intuito de propagar absurdos, graves mentiras, “Narrativas”, desinformação que, uma vez circulando amplamente, em escala exponencial é dada a forma acrítica, característica de enormes parcelas da população, acabam recebidas, como se verdades fossem.

Ainda que largamente contida pela resistência democrática,durante e após Segunda Guerra Mundial, a semente do Nazifascismo segue encontrando adeptos, mundo afora, inclusive no Brasil, especialmente nos períodos de crises mais agudas do capitalismo, em cujo seio costuma prosperar a ideologia nazifascista. Sobretudo com o golpe contra a Presidente Dilma Rousseff, em 2016, a ideologia nazifascista, em sua versão bolsonarista, tem-se agigantado sobremaneira, resultante de uma confluência de forças de extrema Direita, representadas pela ingerência do Império Americano do “Modus Operandi” da tarefa lava-jatista (liderada pelo ex-Juiz Sérgio Moro e seus acólitos), pelo, “Partido Militar”, pelo seguimento parlamentar mais extremado e pela ampla cobertura e apoio da mídia empresarial, com a participação do Poder Judiciário.

Não lhe bastassem, o ódio e a mentira, a Extrema Direita, sempre que lhe convém, não hesita em recorrer à violência, pois quando sua vontade imperial se esvazia da razão, sobra-lhe o uso da violência, tal como na famosa fábula de Esopo, “O lobo e o cordeiro”, cuja moral é assinalada por La Fontaine: “La raison du plus fort est toujours la meilleure” (A razão do mais forte é sempre a melhor)…

A eficácia das armas do Capital somente se dá graças ao recurso pelas classes dominantes à imposição do medo aos dominados. Como toda dominação é uma relação social entre A ( o polo denominador ) e B (o pólo dominado), a dominação só se completa com a aceitação passiva de B. Caso B, movido pela sua consciência crítica, sua organização e sua resistência, ouse enfrentar A, a dominação tende a não se realizar.

Neste sentido, qualquer que seja o nível de dominação cabe apenas aos “debaixo” exercitarem sua consciência de classe e, de forma organizada, enfrentarem exitosamente toda relação de dominação.

João Pessoa, 21 de Abril de 2023.             

Deixe uma resposta