Tenho lido algumas passagens do livro do Padre José Comblin, O Caminho. Ensaio sobre o seguimento de Jesus, que me tocaram profundamente. Um deles, fala sobre a simplicidade da mensagem de Jesus, que Comblin afirma estar para nós como a cidade no cume do monte. Muitas vezes tenho refletido sobre essa simplicidade da mensagem de Jesus, e creio que alguma luz vem se fazendo, e gostaria de partilhar com os leitores e leitoras.
Em um dos Evangelhos, Jesus fala sobre o Reino de Deus, dizendo que está no meio de nós. Isto para mim tem um significado literal, significa que está dentro de cada um de nós, e também, que está entre nós. Uma vez, Dom Fragoso me disse, quando lhe perguntei o que era o Reino de Deus: “é isto”.
Eu somente estou começando a perceber a realidade destas afirmações agora, neste mesmo tempo em que partilho estas coisas. Se o Reino de Deus está no meio de nós, entre nós, e se o Reino de Deus é isto, tudo que está aqui, então tudo é sagrado, é sagrada a vida, a terra e tudo que ela contém, a vida toda de todas as espécies. No livro O Caminho, ainda o Padre Jose. Comblin reflete sobre a vida como uma peregrinação. Algo inacabado, algo cujo sentido estamos sempre buscando.
Diz que, diferentemente das peregrinações anteriores, a partir de Jesus, a peregrinação não tem mais o sentido de ter, e sim, de ser. Não se faz mais a peregrinação ara se obter alguma coisa, mas para se ser mais, para se ser quem se é de verdade. Ressalto aqui uns parágrafos que me parecem muito claros, acerca da vida cotidiana como campo desta nova peregrinação, inaugurada com o Evangelho, a anunciação do Reino de Deus por Jesus Cristo.
“A peregrinação é uma imagem. Poucos tem a oportunidade de viver toda a vida como peregrinos – tal qual o peregrino russo. Poucos tem a oportunidade de ser peregrinos durante anos, ainda que o número historicamente não seja desprezível. Os modernos meios de transporte mudaram radicalmente o sentido atual da peregrinação: muitos vão de trem, de carro, de ônibus ou de avião para chegar ao ponto final da peregrinação. Falta-lhes a própria peregrinação.
Essa imagem da peregrinação ajuda a entender o sentido da vida. Pois, para a maioria, a peregrinação não é feita caminhando nas estradas materiais. A caminhada é interior: a pessoa vai buscar no próprio coração o seu verdadeiro ser. Por meio das experiências da vida vai se aproximando pouco a pouco da sua verdade, de uma realização mais completa de si. Pode-se realizar a mudança, o amadurecimento de si mesmo dentro da vida ordinária. A imagem da peregrinação ilumina essa busca até o próprio coração. A esperança parece mais abstrata, mas realiza a mesma transformação: como o peregrino, o discípulo vai abandonando seu passado, reconhecendo no presente a porta que abre para o futuro, torna-se aberto à etapa seguinte da vida. No final, ele consegue conhecer-se melhor naquilo que era o objeto da sua esperança ao iniciar a caminhada. A nova Jerusalém se encontrará finalmente dentro do seu próprio coração.”
Outra reflexão importante do Pe. José Comblin neste livro, refere-se ao amor, como aquela parte nossa que não morre. A ela ire me referir em outra oportunidade, mas apenas gostaria de partilhar aqui, que essas palavras tem dado muita solidez à minha vida, confirmando sentimentos de jovem que perduraram até hoje.
José Comblin, O caminho, ensaio sobre o seguimento de Jesus (São Paulo: Ed. Paulus, 2004) pp. 68-69.

Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/