Mia Couto: A adiada enchente

A adiada enchente
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.

Me  tornei  antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E  eu a esperei
como  um  rio  aguarda  a  cheia.

Gravidez de fúrias e cegueiras,
os bichos perdendo o pé,
eu perdendo as palavras.

Simples espera
daquilo que não se conhece
e, quando se conhece,
não se sabe o nome.

Mia Couto, em “Idades cidades divindades”. Lisboa: Editorial Caminho, 2007.

Fonte: Templo Cultural Delfos

Deixe uma resposta