Como é que pode o Brasil continuar mergulhado num quadro de criminalidade impune comandada ou ao menos acobertada pela própria justiça? Se não existe lei nem justiça, uma vez que os poderosos/as usam tudo ao seu favor, o que é que resta de institucionalidade no país?
Um parlamento ao menos duvidoso na sua lealdade às práticas republicanas, já sequer foi capaz de punir um dos seus membros, que defendeu a tortura em rede nacional de TV. O pior desta situação é justamente o que é duvidoso. O que parece ser mas não é.
Há uma tendência em certos segmentos da população, a um uso totalmente descuidado e irresponsável da linguagem. Não se diz claramente o que se quer dizer. Usa-se e abusa-se da ambiguidade. Ora, a dissolução da linguagem é meio caminho andado para a extinção de uma comunicação clara, ou, ainda mais, da comunicação como tal.
Algo que resulta claro é que quem desfaz a linguagem acaba sendo dissolvido por essa mesma operação. Quando eu uso as palavras de maneira maldosa e perversa, tentando confundir a quem me escuta, eu sou a primeira vítima dessa ação. Somos palavras.
Cultivar a clareza na comunicação é uma tarefa imprescindível para manter a saúde mental. Eu não posso viver mentindo, usando a lei ao meu serviço, enganando, fazendo de conta, achando que estou tapeando todo mundo, sem que isto me afete. Se não há lei nem justiça, que haja ao menos memória e ação de quem sabe o que é o que é.
Eu tenho aprendido na minha experiência, que é justamente em situações de máxima desagregação da existência, de máxima precariedade dos vínculos e do próprio estar presente, que se gera uma força resiliente capaz de abrir caminhos em direção ao que é certo e correto. Confio nessa força pessoal e comunitária.
O Brasil não é criminoso: está em mãos de criminosos institucionais. Há muitas pessoas por todo este país, que não perderam seu rumo nem a sua orientação. Sabem que há uma memória de decência que nos há de orientar em direção à reinstalação da democracia. Identidade e memória. Consciência. Não esquecer.
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