Os segredos que os livros guardam

Ainda espero poder compreender melhor a influência dos livros em nossas vidas.

Não falo, aqui, do conhecimento que estes trazem. Da possibilidade que nos dão de viajar sem sair do lugar. Ou ainda da vantagem que nos proporcionam ao nos tornarmos, por meio deles, pessoas bem informadas e prontas a nos adaptar a esse mundo em permanente transição.

Falo do objeto livro.

Porque, para além do conhecimento, o que me atrai no livro é, curiosamente, o próprio objeto.

Em um formato que não mudou em séculos de experiência, os livros nos dão esse sentido histórico tão em falta hoje em dia, ao nos trazer uma experiência vivida tanto por Umberto Eco quanto por Galileu. Por Santo Agostinho ou Luis Fernando Verissimo. E por nós, todos nós. Aqui reside um senso um tanto quanto democrático.

Ler é, também, hoje, um ato de resistência. Ainda estamos por avaliar as relações entre o uso excessivo das redes sociais e a dificuldade frequente que temos em achar tempo para ler. Ou talvez a nossa relação com o tempo, o tempo perdido, que nos dificulta a leitura desinteressada.

Assim, eu amo tanto o ato de ler quanto o objeto livro. E é um prazer conviver com tantas gerações de pensadores em um minúsculo espaço reservado, a biblioteca.

Penso que, ao se estudar biografias, a primeira coisa a se perguntar é: como era a biblioteca pessoal do biografado? Sem julgamentos, apenas a título de informação.

O livro, sua morada (a biblioteca) e seu guardião (a pessoa que lê) são peças-chave de uma história que não precisa de introdução nem conclusão. É história contínua, perene, escondida numa prateleira. Como um segredo bem guardado. Um segredo que se basta, e por isso não precisa ser desvelado.

5 comentários sobre “Os segredos que os livros guardam”

  1. Difícil resistir à tentação de voltar a este texto. Como outros de Gustavo Barreto, têm a virtude de dizer muito com poucas palavras. É uma arte rara. É o que julgo seja uma das características da poesia. No caso particular deste escrito, ele me remonta à minha infância, percorrendo todas as etapas da minha vida, até o momento presente. Vida de livros. Toca agora reunir, juntar, resumir. Bela provocação positiva!

    1. Querido Rolando, obrigado pelos comentários. O curioso é que minha vida de livros, lembro bem, começou na universidade. Eu comecei a me interessar por todos, e parecia que havia algo de atrasado, então buscava devorá-los, tê-los ao meu lado, e mesmo senti enorme necessidade de fazê-los eu mesmo (foram 3 até agora!). Os livros são uma terapia pra mim. E que luxo a terapia trazer embutido tanto conhecimento!

  2. Que texto precioso, Gustavo! Não bastassem a relevância e a oportunidade do tema, principalmente nesses dias sombrios, você nos brinda com uma textura criativa e edificante, a ressaltar aspectos instigantes do ato de ler e do livro como objeto de nossa curiosidade.
    Ao saudá-lo pelo retorno em grande estilo ao contribuir com “consciência” – da qual você é fundador -, expresso-lhe o desejo de prosseguir escrevendo com regularidade. Você continuará fazendo-nos um bem enorme!
    Viva o livro!
    Grande abraço,
    Alder

  3. Venho com alegria, reincidir nos ecos que o seu precioso escrito suscitaram em mim, Gustavo. Um deles, é a dimensão histórica, tão importante para que não percamos a noção da continuidade de que fazemos parte. Um outro, se refere à temporalidade. O que acontece conosco ao lermos um livro? É um tempo para o prazer e o desfrute. É uma integração com experiências de outras pessoas de outras latitudes, que nos enriquece. E finalmente, mas não menos importante, o fato de que hoje o tempo para ler nos orienta a uma leitura no mínimo duvidosa e descartável, a do que se veicula pelas redes chamadas sociais. O livro, ao contrário, nos põe em contato com uma sedimentação de conhecimento. Há história, memória, culturas, diversidade, riqueza nos livros. Não importa se são livros de contos ou de poemas, narrativas novelescas. Mais uma vez, bem-vindo de volta à sua casa com este texto que tanto diz de você, o seu autor! Gerações se associam na construção de sonhos coletivos.

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