Caso Battisti tem nova protelação

Celso Lungaretti

Desde que o capitalismo globalizado prevaleceu sobre o socialismo real e subjugou praticamente o planeta inteiro à sua lógica perversa, a política se tornou um exercício fútil de dramatização do secundário, pois o principal passou a ser intocável: a ordem econômica.

Partidos e governos usam e abusam dos modernos recursos da comunicação para tentarem diferenciar-se uns dos outros aos olhos do eleitorado, em vão; só a aparência muda, a essência é a mesma.

Estão irmanados na submissão canina a um sistema econômico que perpetua a desigualdade, a competição zoológica e o desperdício do potencial ora existente para se proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta.

Para disfarçar a irrelevância de seus enredos, os farsantes os tornam cada vez mais bombásticos. É preciso hipnotizar as massas, fazendo-as crer que presenciam duelos titânicos, como este do Caso Battisti, que choca, sobretudo, pela pouca relevância dos episódios obscuros que lhe deram ensejo, em contraste com a tempestade em copo d’água armada pelos reacionários italianos e brasileiros, como se esse homenzinho inofensivo e combalido representasse algum perigo para a sociedade.

Insuflam um ódio a Battisti que seria exagerado até mesmo no caso de um terrorista de verdade, como Osama Bin Laden.

A imprensa, pressurosa, assume o papel do tolo que espetaculariza a história, “cheia de som e fúria, significando nada”, como diria Shakespeare.

E todos os pavões aproveitam para ter seu momento de glória sob os holofotes. Inclusive os togados.

Por conta disto, a decisão simples e óbvia do Caso Battisti — o STF reconhecer, como sempre fez, sua incompetência para julgar casos em que o governo brasileiro já concedeu o refúgio humanitário — vira uma novela de gosto duvidoso e duração imprevisível: dependerá do tempo em que conseguir manter bons índices de audiência.

Depois de conceder cinco dias para a inútil e descabida manifestação da Itália no processo, o relator acaba de abrir um prazo de outros dez dias para o ministro da Justiça e a defesa de Battisti se pronunciarem sobre as ponderações indevidas italianas.

E enquanto se adia o desfecho, um cidadão italiano, azarado e sofredor, é mantido preso no Brasil por crimes que lhe são imputados alhures.

A letra da Justiça pode até estar sendo seguida, mas o espírito da Justiça, não. De maneira nenhuma.

É, como eu já disse em outro artigo, um martírio sem fim, uma via crucis que não desejaríamos para o pior de nossos inimigos.

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