No Grito dos Excluídos
O trabalhador reclama
Da estrutura brasileira
Que é cruel e desumana.
Sem terra pra cultivar,
Só lhe resta enfrentar
A violência urbana
Com as terras concentradas
Nas mãos de uma minoria,
O camponês não exerce
A sua cidadania,
Vai para a cidade grande,
Sua vida não se expande,
Sofre na periferia
A concentração de terras
No Brasil gera sequelas,
Para o camponês migrante
Não se abrem as janelas.
Sem emprego e habitação
Sua única solução
É residir nas favelas.
Se o povo não lutar
A reforma agrária emperra,
Tende a se perpetuar
A concentração de terra,
Só com a mesa abastecida
Dignifica-se a vida
E a paz suplanta a guerra
Neste gigante país
Há mais de quinhentos anos
O sistema fundiário
Ao camponês só traz danos.
Ao latifúndio, opulência,
E aumento da violência
Nos grandes centros urbanos
As pequenas propriedades
Do território rural
Emprega, evidentemente,
Um grande percentual…,
Mas de setenta por cento
Produz o nosso alimento
Para o consumo local
Um tal de agronegócio
Que está sendo propalado
Traz benefício maior
Pra quem já é abastado.
Produtos pra exportação
No âmbito desta Nação
Tem efeito limitado.
Só a vinte e cinco por cento
Da população rural,
O tal do agronegócio
Garante emprego afinal.
A pequena propriedade
Na empregabilidade
Tem maior percentual
Nas terras ricas e férteis
Deste país tropical,
Trinta milhões de pessoas
Vivem na zona rural,
No entanto, a concentração
De terras nesta Nação
Representa um grande mal.
A estrutura fundiária
Expulsa gente do campo
No qual se vê grandes áreas
Cercadas de arame e grampo,
Nas enormes extensões
Não existem plantações,
Só à luz do pirilampo
Com a terra concentrada
A situação é precária
Trabalhadores do campo
Seja em qualquer faixa etária
À pátria declaram amor
E expressa o seu clamor
Por reforma fundiária
Mãe Terra tão generosa,
Sagrado seja o teu ventre
No qual a fertilidade
Faz germinar a semente
Que se transforma em rebento
E se constitui alimento
Pra vida de tanta gente
Mãe Terra gigante e fértil
De cabedal tão diverso
Degradado pelo homem
Que se mostra tão perverso.
Agressões à Natureza
Fazem surgir a Incerteza
Vindas de um falso progresso.
Levantemos a bandeira
De um profetismo exigente
Que conclama a sociedade
Pra que haja vida decente,
Se não, a Pátria se ferra
Com “tanta gente sem terra
E tanta terra sem gente”.
Patriotismo e civismo
Não são valores banais,
São traduzidos na luta
Pelos direitos iguais
Para evitar que a Nação
Aos poucos fique na mão
De grupos transnacionais.
Fazer com que nossa terra
Se pareça com o céu,
Essa é nossa utopia,
Esse é nosso papel,
Não uma terra ressequida,
Mas uma terra prometida
“Onde corre leite e mel”
O trabalhador precisa
Se organizar com firmeza
A fim de poder manter
A chama da luta acesa,
Contrapor-se à estrutura
Para que a agricultura
Possa encher de pão a mesa.
O sonho do trabalhador
É a mesa abastecida
Com os frutos recolhidos
Da Terra bela e florida
Neste pedaço de fundo
De solo rico e fecundo
Que faz brotar Margarida
A classe trabalhadora
Do Brasil não é otária,
Portanto, tem consciência
Da situação precária
Em que vive o camponês,
E clama com altivez
Por reforma fundiária.
A nossa sociedade
Vai se conscientizar
Do valor da agricultura
De cunho familiar,
Cuja sua produção
Não é para exportação
É pra nos alimentar
O verdadeiro cristão
Tem responsabilidade
De combater, irmanado,
Toda essa desigualdade.
A Terra mal repartida
É uma agressão à vida
E à nossa dignidade
Por meio do plebiscito
Busquemos dignidade,
Façamos que haja no campo
Justiça e muita equidade.
O objetivo é um só,
Garantir na lei maior
O limite da propriedade.
“Onde estão nossos direitos?”
A pergunta está no ar,
Vale a pena construir
Um projeto popular.
Para o Brasil evoluir
É preciso garantir
Vida em primeiro lugar.
Autor: João Batista da Silva
João Pessoa – Paraíba
Pingback: Tweets that mention Vida em primeiro lugar | Revista Consciência.Net: acesse a sua. -- Topsy.com
É um belo poema, só que não retrata a realidade. Meu pai sempre foi criador de boi, não um rico latifundiário, mas um pobre daqueles tem poucos terrenos e que o gado pasta na larga (solto pelas ruas com alguém olhando). Posso te garantir que o que tira o homem do campo é o pouco que as cooperativas pagam ao pequeno produtor, a medicação, arame caro.Veterinário é um luxo.E hoje ninguém quer trabalhar no campo, eu já plantei cana, quiabo, milho e se Deus quiser nunca mais faço isso na vida. Ninguém merece o cansaço extenuante, mãos feridas na colheita, sol escaldante, chuva e preços baixos. Meu pai vendeu os bois, hoje vive com um salário mínimo do auxilio idoso pois não tinha como provar que era produtor rural(não aceitaram testemunhos). Meus amigos que tem sítio dizem que os filhos não querem esta vida e que não conseguem ninguém que queira trabalhar no campo. Acho que o tempo de pequenas propriedades acabaram, a população aumentou muito, a vida na cidade, por experiência própria digo, é infinitamente melhor. Hoje só produção mecanizada, extensa, muito dinheiro para alta produção e pouco trabalho, nada de calo, nada de sofrimento. Camponês, como eu, no campo só se for com qualificação para tal e muito bem remunerado.